Collybia cirrhata

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaCollybia cirrhata

Classificação científica
Reino: Fungi
Divisão: Basidiomycota
Classe: Agaricomycetes
Ordem: Agaricales
Família: Tricholomataceae
Gênero: Collybia
Nome binomial
Collybia cirrhata
(Schumach.) Quél. (1879)
Sinónimos[1][2]
  • Agaricus amanitae Batsch (1786)
  • Agaricus amanitae subsp. cirrhata Pers. (1800)
  • Agaricus cirrhatus Schumach. (1803)
  • Sclerotium truncorum (Tode) Fr. (1822)
  • Microcollybia cirrhata (Schumach.) Georges Métrod (1952)
  • Microcollybia cirrhata (Schumach.) Lennox (1979)
  • Collybia amanitae (Batsch) Kreisel (1987)

Collybia cirrhata é uma espécie de fungo pertencente à família Tricholomataceae, da ordem de Agaricales, descrita pela primeira vez na literatura científica em 1786, mas que só foi nomeada em 1803. Encontrada na Europa, no norte da Eurásia e na América do Norte, a espécie situa-se em habitats temperados, boreais, alpinos ou árticos. Assim como todas as espécies remanescentes do gênero, C. cirrhata é sapróbica, que se alimenta de matéria orgânica de outros cogumelos em decomposição. Seus corpos frutíferos são pequenos com um píleo convexo achatado e esbranquiçado, podendo medir até onze milímetros de diâmetro. Suas lamelas são brancas e estreitas, enquanto seu estipe é esbranquiçado e delgado, podendo chegar até 25 milímetros de comprimento e 2 milímetros de espessura. C. cirrhata distingue-se das demais espécies de seu gênero pela ausência de um esclerócio na base do estipe. O cogumelo, apesar de não ser venenoso, não é considerado comestível em razão do seu minúsculo tamanho.

Taxonomia e filogenia[editar | editar código-fonte]

Collybia tuberosa

Collybia cookei

Collybia cirrhata

Clitocybe dealbata

Dendrocollybia racemosa

Clitocybe connata

Hypsizygus ulmarius

Lepista nuda

Filogenia e relações de D. racemosa e fungos relacionados baseados em sequências de ADN ribossômico.[3]

August Johann Georg Karl Batsch foi o responsável pela primeira descrição desta espécie na literatura científica em 1786, sob o nome de Agaricus amanitae;[4] um de seus sinônimos,[2] Agaricus amanitae subsp. cirrhatus foi proposto por Christian Hendrik Persoon em 1980.[5] Posteriormente, uma combinação baseada neste nome, Collybia amanitae, foi publicada por Hanns Kreisel em 1987.[6] No entanto, Kreisel observou que a combinação é "ined",[7] indicando que ele não acreditava que o nome fosse validamente publicado, de acordo com o artigo 34.1 do Código Internacional de Nomenclatura Botânica, que afirma: "Um nome não é validamente publicado... quando não é aceito pelo autor na publicação original."[8]

O primeiro nome correto foi veiculado em 1803 por Heinrich Christian Friedrich Schumacher, que chamou a espécie de Agaricus cirrhatus.[9] Setenta e seis anos depois, o micologista francês Lucien Quélet transferiu a espécie para o gênero Collybia,[10] resultando no nome binomial pelo qual é atualmente conhecida. Em 1952, a espécie foi transferida para o gênero Microcollybia por Georges Métrod;[11] contudo, essa modificação foi considerada nomen nudum e, portanto, inválida segundo o código de nomenclaturas. Como consequência, ela foi novamente transferida para Microcollybia por Lennox em 1979.[12] Este último gênero, por sua vez, já foi envolto em Collybia.[13]

A filogenética molecular mostrou que C. cirrhata forma um clado monofilético com as duas espécies restantes de Collybia. Como C. cirrhata é a única das três espécies de seu gênero que não possuem escleródios, foi sugerido que esse traço de caráter é uma anapomorfia - isto é, característica única daquela espécie dentro de um clado.[3]

O epíteto específico é derivado do latim cirrata, que significa "enrolada".[14] Charles Horton Peck chamou a espécie de "Collybia de franjas enraizadas".[15] No Reino Unido, é comumente conhecido como "shanklet combinado".[16]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Os pequenos corpos frutíferos normalmente crescem em aglomerados densos

O píleo é convexo quando jovem e, posteriormente, torna-se convexo a achatado ou ligeiramente deprimido no centro, atingindo um diâmetro de 3 a 11 milímetros. A margem do píleo começa enrolada ou curvada para dentro, mas se endireita conforme o amadurecimento do fungo; a superfície do mesmo varia de seca a úmida, lisa a coberta com finos cabelos esbranquiçados e contém sulcos radiais translúcidos na margem. O fungo também apresenta sub-higrofaneidade, obtendo uma coloração laranja-acinzentada quando aguado ou na fase idosa, e geralmente é branco com um fraco rubor rosado quando fresco. A carne, por sua vez, é esbranquiçada, muito fina e não tem sabor ou odor característico. As lamelas são adnatas a arqueadas ligeiramente (curvadas na forma de um arco) com um dente (o que significa que as lamelas se curvam para se juntarem ao estipe, mas então, muito próximo deste, a borda das lamelas se curva novamente).[17] Existem entre 12 e 20 lamelas que se estendem completamente desde a borda do píleo até o estipe, e de três a cinco camadas de lamélulas (lamelas mais curtas que não se estendem completamente até o estipe).[7] Em geral, elas são finas, estreitas a moderadamente largas e com uma coloração branca a rosada. As bordas branquiais são uniformes e de mesma cor das faces.[18]

O comprimento do estipe varia entre 8 a 25 milímetros, enquanto sua espessura pode atingir até 2 milímetros, sendo equivalente ao longo de toda a largura, ligeiramente ampliada para baixo. Ele também é flexível e filamentoso, mas não frágil, e apresenta uma superfície seca, esbranquiçada a laranja-acinzentada e que, às vezes, pode apresentar minúsculos pelos na parte superior que se tornam mais grossos perto da base. Esta, por sua vez, frequentemente possui cordões semelhantes a rizomorfos ou copiosos micélios esbranquiçados. Ao contrário das outras duas espécies do gênero, o estipe não se origina de um esclerócio; este, à medida que amadurece, torna-se oco.[18] Embora não seja considerado venenoso, o fungo é muito pequeno e insubstancial para ser considerado comestível.[17]

Características microscópicas[editar | editar código-fonte]

Em depósitos, os esporos mostram-se brancos.[7] Em perfil, por sua vez, os esporos individuais são elipsoides em forma de lágrima, enquanto que na face ou na vista traseira eles são obovoides a elipsoides ou aproximadamente cilíndricos, com dimensões de 4,8 a 6,4 por 2 a 2,8 (às vezes até 3,5) micrômetros. Os esporos são lisos, inamiloides e acianófilos (não reativos à coloração com reagente de Melzer e azul de metila, respectivamente). Os basídios (células portadoras de esporos do himênio) têm aproximadamente a forma de um taco, medem 17,5 a 21 por 4,8 a 5,6 micrômetros e contêm quatro esporos. As lamelas não possuem células cistídias. O tecido branquial, por sua vez, é feito de hifas entrelaçadas a aproximadamente paralelas e inamiloides, que medem 2,8 a 8,4 micrômetros de diâmetro e são lisas. O tecido do píleo também é feito de hifas entrelaçadas sob o centro do píleo, mas radialmente orientadas sobre as lamelas; também são inamiloides e lisas, mas medem 3,5 a 8,4 micrômetros de diâmetro e possuem paredes irregularmente espessadas. A cutícula do píleo é ixocútis - uma camada gelatinizada de hifas que fica paralela à superfície do píleo. As hifas que compreendem esta camada têm 2,8 a 6,4 micrômetros de diâmetro, são lisas e de paredes finas. Elas são cobertas com protuberâncias dispersas e curtas. A cutícula do estipe é uma camada de hifas paralelas e orientadas verticalmente; as hifas desta camada medem 3,5 a 4,2 micrômetros e são lisas, de paredes levemente espessas e de coloração marrom-amarelada pálida em solução alcalina. Elas dão origem a uma cobertura de caulocistídeos (cistídios no caule/estipe) emaranhados e ramificados, que possuem múltiplos septos. Os caulocistídeos têm de 2,8 a 4,8 micrômetros de diâmetro, são lisos, com paredes finas e possuem a forma de cilindros contorcidos. Fíbulas estão presentes nas hifas de todos os tecidos.[18]

Espécies semelhantes[editar | editar código-fonte]

Collybia cirrhata pode ser confundida com os membros remanescentes de Collybia, que têm uma aparência externa similar. No entanto, C. tuberosa distingue-se pela sua esclerótica castanha-avermelhada escura que se assemelha a sementes de maçã, enquanto C. cookei tem escleróticas enrugadas, muitas vezes de forma irregular, de cor amarelo pálido a laranja.[19] Outros cogumelos semelhantes incluem Baeospora myosura e espécies do gênero Strobilurus, mas estas crescem apenas em pinhas.[20]

Habitat e distribuição[editar | editar código-fonte]

Collybia cirrhata cresce nos restos em decaimento de outros fungos como Bovista dermoxantha (esquerda) e Meripilus giganteus (direita).

Assim como todas as espécies remanescentes do gênero, C. cirrhata é sapróbica, e tipicamente encontrada nos restos decaídos ou enegrecidos de outros cogumelos;[19] ocasionalmente os corpos frutíferos podem ser encontrados crescendo em musgo ou solo sem qualquer conexão aparente com o processo de putrefação,[21] embora essas observações possam representar casos em que o tecido hospedeiro remanescente - possivelmente de uma estação anterior - decaiu de tal forma que fragmentos permanecem enterrados no substrato.[3] Seus hospedeiros conhecidos incluem Lactarius, Russula, Meripilus giganteus e Bovista dermoxantha.[7][22]

Conhecida a partir de habitats temperados, boreais e alpinos ou árticos, o fungo possui uma distribuição difundida na Europa,[23] incluindo Bulgária,[24] Dinamarca,[25] Alemanha,[26] Grécia,[21] Letônia,[27] Escandinávia,[28] Eslováquia,[29] Suíça,[22] Turquia[30] e Reino Unido.[31] Também é comum nas regiões montanhosas boreais da América do Norte e na Groenlândia[19][22] e foi relatada na Coreia e na prefeitura japonesa de Hokkaido.[32]

Referências

  1. «Collybia cirrhata (Schumach.) Quél.». Species Fungorum (em inglês). International Mycological Association. Consultado em 2 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2019 
  2. a b «Collybia cirrhata (Schumach.) Quél. 1872». MycoBank (em inglês). International Mycological Association. Consultado em 19 de dezembro de 2010. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2019 
  3. a b c Hughes KW, Petersen RH, Johnson JE, Moncalvo J-E, Vilgalys R, Redhead SA, Thomas T, McGhee LL (2001). «Infragenic phylogeny of Collybia s. str. based on sequences of ribosomal ITS and LSU regions». Mycological Research. 105 (2): 164–72. doi:10.1017/S0953756200003415 
  4. Batsch AJGK. (1786). Elenchus fungorum. Continuatio prima (em latim e alemão). [S.l.: s.n.] p. 109. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2019 
  5. Persoon CH. (1799). Observationes Mycologicae (em latim). 2. Lípsia: [s.n.] p. 53 
  6. Kreisel H. (1987). Pilzflora der Deutschen Demokratischen Republik (em alemão). [S.l.]: Gustav Fischer Verlag Jena. p. 47. ISBN 978-3-334-00025-0 
  7. a b c d Kasuya T, Sato S (2009). «Fructification of Collybia cirrata on mummified gleba of Bovista dermoxantha in Hokkaido, Northern Japan». Mycotaxon. 107: 81–86. doi:10.5248/107.81 
  8. «Division II. Rules and Recommendations. Chapter IV. Effective and Valid Publication Section 2. Conditions and Dates of Valid Publication of Names». International Code of Botanical Nomenclature (Vienna code). International Association for Plant Taxonomy. 2006. Consultado em 2 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2019 
  9. Schumacher HCF. (1801). Enumeratio Plantarum, in Partibus Sællandiae Septentrionalis et Orientalis Crescentium (em latim). [S.l.: s.n.] p. 308 
  10. Quélet L. (1872). «Les Champignons de Jura et des Vosges». Mémoires de la Société d'Émulation de Montbéliard. II (em francês). 5: 96 
  11. Métrod G. (1952). «Les Collybies». Revue de Mycologie (em francês). 17: 60–93 
  12. Lennox JW. (1979). «Collybioid genera in the Pacific Northwest». Mycotaxon. 9 (1): 117–231. Cópia arquivada em 23 de julho de 2008 
  13. Kirk PM, Cannon PF, Minter DW, Stalpers JA (2008). Dictionary of the Fungi 10.ª ed. Wallingford, Reino Unido: CABI. p. 424. ISBN 978-0-85199-826-8 
  14. Rea C. (1922). British Basidiomycetae: a Handbook to the Larger British Fungi. Cantabrígia, Reino Unido: Cambridge University Press. p. 334 
  15. Peck CH. (1896). «Report». Annual Report of the State Botanist of the State of New York. 55: 41 
  16. «Recommended English Names for Fungi in the UK» (PDF). British Mycological Society. Consultado em 24 de setembro de 2010. Arquivado do original (PDF) em 16 de julho de 2011 
  17. a b Miller HR, Miller OK (2006). North American Mushrooms: a Field Guide to Edible and Inedible Fungi. Guilford, Connecticut: Falcon Guide. p. 136. ISBN 0-7627-3109-5 
  18. a b c Halling RE (14 de julho de 2009). «Collybia sensu stricto». A revision of Collybia s.l. in the northeastern United States & adjacent Canada (em inglês). Consultado em 20 de dezembro de 2010. Cópia arquivada em 10 de janeiro de 2019 
  19. a b c Kuo M. (agosto de 2003). «Collybia cirrhata». MushroomExpert.Com (em inglês). Consultado em 21 de dezembro de 2010. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2019 
  20. Ammirati J, Trudell S (2009). Mushrooms of the Pacific Northwest: Timber Press Field Guide (Timber Press Field Guides). Portland, Oregon: Timber Press. p. 116. ISBN 0-88192-935-2 
  21. a b Dimou DM, Zervakis GI, Polemis E (2008). «Mycodiversity studies in selected ecosystems of Greece: IV. Macrofungi from Abies cephalonica forests and other intermixed tree species (Oxya Mt., central Greece): Supplementary material» (PDF). Mycotaxon. 104: 1–52 
  22. a b c Hughes KW, Peterson RH (2006). «Relationships among Collybia s. str. from Greenland, North America and Eurasia». Meddelelser om Grønland. 56: 99–105 
  23. Noordeloos ME. (1995). «Collybia». In: Bas C, Kuyper Th W, Noordeloos ME, Vellinga EC, van Os J. Flora Agaricina Neerlandica. 3. Boca Raton, Florida: CRC Press. pp. 106–23. ISBN 90-5410-616-6 
  24. Denchev CM, Assyov B (2010). «Checklist of the larger basidiomycetes in Bulgaria». Mycotaxon. 111: 279–82. doi:10.5248/111.279 
  25. «Silke-Fladhat (Collybia cirrhata) - Foto/billede fra Mogenstrup Gl. Grusgrav taget af Hanne Farnæs». Fugleognatur.dk. Consultado em 2 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2019 
  26. Gerhardt E. (1990). «Checkliste der Großpilze von Berlin (West) 1970-1990». Englera (13): 3–5, 7–251. JSTOR 3776760 
  27. Kļaviņš A. «Collybia cirrhata (I. H. Schum.) P. Kumm». Latvijas Daba. Consultado em 2 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 21 de janeiro de 2019 
  28. Papetti CEG. (1999). «Scandinavia: sulle orme dei grandi naturalisti nordici, a contatto con una natura incontaminata – Parte I» [Scandinavia: in the footsteps of the great Nordic naturalists, in touch with uncontaminated nature – Part I]. Rivista di Micologia (em italiano). 42 (2): 119–39. ISSN 0394-9486 
  29. Baranovič R. (2008). «Peniazovka štetinkatá Collybia cirrhata (Schumach.) P. Kumm.». www.nahuby.sk. Consultado em 2 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2019 
  30. Yağiz D, Afyon A (2005). «The macrofungi of Karabük Province» (PDF). Turkish Journal of Botany. 29: 345 53. Arquivado do original (PDF) em 20 de janeiro de 2019 
  31. «NBN Gateway: Piggyback Shanklet (Collybia cirrhata) grid map». National Biodiversity Network. Consultado em 2 de janeiro de 2011 
  32. Kim Y-S, Seok S-J, Park Y-H, Cha D-Y, Min K-H, Yoo K-H (1994). «Fungal flora of Mt. Chiak (I): Agaric fungi». Korean Journal of Mycology. 22 (4): 410–20. ISSN 0253-651X 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Collybia cirrhata