Confrontos de Odesa em 2014

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Edifício Profsojuz incendiado em Odessa

Os Confrontos de Odessa em 2014 foram enfrentamentos que ocorreram na cidade de Odessa, no sul da Ucrânia, entre 26 de janeiro e 2 de maio de 2014, entre apoiadores da Maidan (favoráveis à integração da Ucrânia à Europa) e seus oponentes (favoráveis à integração com a Rússia), .

Diferentemente dos protestos da Maidan, quando os choques envolveram principalmente ativistas e a polícia (ou titushki), em Odessa defrontaram-se pessoas com diferentes visões políticas sobre o futuro da Ucrânia, após a revolução de fevereiro e a destituição do presidente eleito, Viktor Yanukovych. Ao contrário do que ocorreu nos protestos da Maidan, em Kiev, em Odessa a polícia foi passiva e não conseguiu garantir a segurança dos manifestantes.

A violência culminou no dia 2 de maio, quando uma passeata "Ucrânia Unida" foi atacada por separatistas pró-Rússia. Pedras, coquetéis molotov e pólvora foram usados por ambos os lados; dois ativistas pró-Maidan e quatro ativistas pró-Rússia foram mortos a tiros.[1][2][3][4] Os manifestantes pró-Maidan se deslocaram então para a Praça Koulikovo (Kulykové Polé), a fim de desmantelar um acampamento de manifestantes pró-Rússia, o que fez com que alguns dos acampados buscassem abrigo na vizinha Casa dos Sindicatos. Tiros foram disparados de ambos os lados, Os manifestantes pró-Maidan tentaram invadir o prédio, que pegou fogo quando os dois grupos jogaram coquetéis molotov.[5][6][7]

De forma documentada e verificável, os confrontos em Odessa deixaram 48 pessoas mortas, sendo que 46 eram ativistas pró-Rússia.[8] Cerca de 42 das mortes aconteceram no massacre na Casa dos Sindicatos e 200 pessoas ficaram feridas.[9] Foi o conflito civil mais sangrento na região desde a Revolta bolchevique de Odessa de 1918.[10] Embora vários supostos perpetradores tenham sido acusados, ainda não houve um julgamento.[11] Há alegações de que alguns policiais conspiraram com ativistas pró-Rússia nos confrontos de rua iniciais.[12] Em 2015, o Painel Consultivo Internacional do Conselho da Europa concluiu que a independência da investigação foi prejudicada por "provas indicativas de cumplicidade policial"[13] e que as autoridades falharam em investigar minuciosamente os eventos.[14]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

De novembro de 2013 a janeiro de 2014, as manifestações em Odessa ocorreram sem demonstrações evidentes de violência: os apoiadores do Euromaidan eram a favor de uma mudança de regime, do fim da perseguição à oposição [15] e da integração europeia da Ucrânia, enquanto os oponentes eram a favor da restauração da ordem no país, do estreitamento das relações com a Rússia (inclusive no âmbito da União Aduaneira) e contra o extremismo e os grupos radicais de direita.

Em meados de janeiro de 2014, a situação em Odessa esquentou, assim como em Kiev, com um crescente descontentamento quanto à inclinação pró-Russia do governo Yanukovych.[16] Houve confrontos entre manifestantes e forças de segurança e uma onda de apreensões de prédios administrativos no oeste da Ucrânia. Os choques entre oponentes e apoiadores do Euromaidan, perto do prédio da administração estadual regional de Odessa, bem como a formação de "vigilantes do povo" por organizações anti-Euromaidan, remontam a essa época.

A tensão se intensificou entre o final de fevereiro e o início de março de 2014, quando a destituição do presidente Yanukovych levou a mudanças políticas em todo o país, e o Oblast de Odessa passou a ser dirigido por representantes da nova liderança. Tudo isso foi agravado pela intensificação do movimento de protesto no sudeste da Ucrânia (Donetsk) e pela anexação da Crimeia pela Federação Russa. Os Antimaidan também vieram à tona, reivindicando a preservação do status do idioma russo, a federalização (descentralização do poder) da Ucrânia (a que os pró-Maidan se opunham), a proteção dos direitos da minoria de língua russa, a consideração dos interesses do sudeste da Ucrânia na política nacional, a restauração das relações de boa vizinhança com a Rússia e a repulsa ao extremismo de direita. As tensões em Odesa aumentaram após 19 de fevereiro de 2014, quando um grupo de manifestantes "pró-unidade" locais foram expulsos por grupos organizados em frente à Administração Estatal Regional de Odessa. Durante os meses de março e abril de 2014, no entanto, os dois grupos rivais realizaram comícios em Odessa, todas as semanas, sem violência significativa.[11]

Massacre na Casa dos Sindicatos[editar | editar código-fonte]

O dia começou com os opositores ao governo ucraniano se reunindo em tendas, no centro de Odessa, para coletar assinaturas em favor de um referendo para um sistema federal na Ucrânia. Essa reunião foi então atacada por grupos que haviam sido trazidos, de ônibus, das cidades de Kiev e Kharkov, armados com porretes, escudos e pistolas .

Para escapar ao ataque, os ativistas anti-Kiev se retiraram para o prédio central do Sindicato da cidade. O prédio foi então cercado pela multidão, que bloqueou as portas. Berrando “queima!”, um nacionalista ateou fogo na frente do prédio com coquetéis molotov. A polícia ucraniana assistiu e não fez nada para conter o ataque. No entanto, policiais prenderam 130 dos manifestantes anti-Kiev e todos os sobreviventes do massacre. Não houve prisão de nenhum dos invasores do prédio do sindicato.[17]

Inicialmente, a mídia informou que o total de cerca de 40 vítimas do massacre morreu diretamente como resultado do incêndio – por inalação de fumaça ou por ferimentos sofridos quando pularam das janelas.[18][19] A mídia ucraniana manteve um silêncio total sobre as fotos horríveis tiradas dentro do prédio após o incêndio que indicam que os que conseguiram entrar no prédio e executar sistematicamente aqueles que estavam dentro, incluindo uma mulher grávida estrangulada curvada para trás sobre uma mesa.[20] O ministro das Relações Exteriores da Suécia, Carl Bildt, postou no Twitter no mesmo dia do massacre, observando: “Horrível com pelo menos 38 mortos em Odessa. Parece ter começado com a tentativa pró-Rússia de obter o controle dos edifícios…..”[21][22][23]

A polícia chegou notou que os indivíduos “pró-unidade” destruíram o campo e os partidários “pró-federalismo” se barricaram na Casa dos Sindicatos e na Casa dos Sindicatos em chamas. Os bombeiros do Serviço de Emergência do Estado chegaram, cerca de quarenta e cinco minutos após a primeira chamada, quarenta e duas pessoas perderam a vida (34 homens, 7 mulheres e um menino). Algumas pessoas das que foram salvas do prédio foram fortemente espancados por apoiadores “pró-unidade”.[11]

Embora vários supostos perpetradores tenham sido processados, ainda não houve julgamento.[11] Em 2015, o Painel Consultivo Internacional do Conselho da Europa concluiu que a independência da investigação foi prejudicada por "evidências indicativas de cumplicidade policial"[24] e que as autoridades ucranianas não investigaram muitos eventos.[25]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Chronology of events May 2, 2014 in Odessa (em inglês). Part 1». Группа 2 мая. (the 2 May Group). Consultado em 1 de maio de 2017. Cópia arquivada em 7 de março de 2017 
  2. «Хронология событий 2 мая 2014 года в Одессе (на русском языке, уточненная). Часть 1» [Chronology of events on May 2, 2014 in Odessa (in Russian, corrected). Part 1]. May 2 Group. Consultado em 30 de abril de 2017. Cópia arquivada em 19 de outubro de 2017 
  3. «Трагедия 2 мая в Одессе. Реконструкция. Часть 2 — столкновение» [Tragedy on May 2 in Odesa. Reconstruction. Part 2 - collision]. Таймер. 28 de abril de 2017. Consultado em 30 de abril de 2017. Cópia arquivada em 2 de maio de 2017 
  4. «Accountability for killings in Ukraine from January 2014 to May 2016» (PDF). UN OHCHR. Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights. Consultado em 1 de maio de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 13 de dezembro de 2016 
  5. «How did Odessa's fire happen?». BBC News. 4 de maio de 2014. Consultado em 4 de maio de 2014. Cópia arquivada em 11 de setembro de 2019 
  6. «Dozens killed in Odessa fire amid clashes». BBC News. 2 de maio de 2014. Consultado em 2 de maio de 2014. Cópia arquivada em 3 de maio de 2014 
  7. «Dozens killed in building fire in Odessa, ministry says». The Guardian. 2 de maio de 2014. Consultado em 2 de maio de 2014. Cópia arquivada em 27 de outubro de 2014 
  8. Hale, Henry E.; Shevel, Oxana; Onuch, Olga (2018). «Believing Facts in the Fog of War: Identity, Media and Hot Cognition in Ukraine's 2014 Odesa Tragedy». Geopolitics. 23 (4). 851 páginas. ISSN 1465-0045. doi:10.1080/14650045.2018.1465044 
  9. International Advisory Panel Report (Relatório). Conselho da Europa. Novembro de 2015. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada em 21 de abril de 2022 
  10. Dibrov, Sergiy (4 de maio de 2014). «What really happened in Odessa: A step-by-step reconstruction of a tragedy that killed 46 people». Kyiv Post. Consultado em 5 de maio de 2015. Cópia arquivada em 4 de maio de 2014 
  11. a b c d Bogner, Matilda (30 de abril de 2021). «"7 years with no answers. What is lacking in the investigations of the events in odesa on 2 May 2014?"». Kiev, Ucrânia: Nações Unidas. Cópia arquivada em 5 de maio de 2022 
  12. International Advisory Panel Report (Relatório). Conselho da Europa. Novembro de 2015. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada em 21 de abril de 2022 
  13. International Advisory Panel Report (Relatório). Conselho da Europa. Novembro de 2015. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada em 21 de abril de 2022 
  14. International Advisory Panel Report (Relatório). Conselho da Europa. Novembro de 2015. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada em 21 de abril de 2022 
  15. Активисты Евромайдана сообщают о преследованиях со стороны властей [Ativistas da Euromaidan relatam assédio das autoridades]. Por Oleksandr Savitsky. DW, 17 de dezembro de 2013.
  16. Ukraine, Russia sign economic deal despite protests. Por Laura Smith-Spark. Marie-Louise Gumuchian e Diana Magnay. CNN, 23 de janeiro de 2014.
  17. «HUDOC - European Court of Human Rights». hudoc.echr.coe.int. Consultado em 3 de maio de 2022 
  18. Pregnant woman killed in Odessa, consultado em 15 de junho de 2022 
  19. Sakwa, Richard (18 de dezembro de 2014). Frontline Ukraine: Crisis in the Borderlands (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing 
  20. Очевидец Одесса 02 05 2014 Odessa Ukraine eyewitness of the slaughter, consultado em 3 de maio de 2022 
  21. Author Andrew Sullivan (2 de maio de 2014). «Escalation In Ukraine». The Dish (em inglês). Consultado em 3 de maio de 2022 
  22. «What took place in Odessa on May 2?». World Socialist Web Site (em inglês). Consultado em 3 de maio de 2022 
  23. Mikovic, Nikola (29 de março de 2022). «Russia takes a fateful step back at Turkey talks». Asia Times (em inglês). Consultado em 3 de maio de 2022 
  24. «International Advisory Panel Report». 21 de abril de 2022 
  25. «International Advisory Panel Report (Report).» 
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