Fanta Régina Nacro

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Fanta Régina Nacro
Fanta Régina Nacro
Nascimento 04 de novembro de 1962 (61 anos)
Tencodogo, Burkina Faso
Nacionalidade  Burquina Fasso
Educação Instituto Africana de Educação Cinematográfica (INAFEC)
Ocupação Cineasta
Principais trabalhos A Noite da Verdade (filme)

Fanta Régina Nacro (Tenkodogo, 1962 - presente), realizadora, produtora e argumentista do Burkina Faso, conhecida por ter sido a primeira mulher do país a realizar um filme de ficção e uma longa-metragem. É uma das fundadoras da Associação Africana de Directores e Produtores de Cinema. [1][2][3][4][5][6][7][8]

Ela é uma das representantes da “Nouvelle Vague Africana”. Os seus filmes tendem a questionar as tradições do Burkina Faso, enquanto explora a relação entre tradição e modernidade no mundo actual. [9][10][11]

Percurso[editar | editar código-fonte]

Fanta nasceu no dia 4 de Setembro de 1962, em Tenkodogo, uma região rural do Burkina Faso e pensava ser parteira. Cresce rodeada de contadores de histórias e isso desperta a sua vontade de fazer filmes. Segundo ela, ficou a saber da existência da escola de cinema, o Instituto de Educação Cinematográfica de Ouagadougou (INAFEC) através de um vizinho, desiste de ser parteira e vai estudar para lá. [6][9][12][10][11][13]

A sua primeira experiência cinematográfica surgiu enquanto estudava no INAFEC. O departamento de cinema havia feito uma parceria com o da Universidade Howard liderado pelo professor Abiyi Ford, é nesta altura que conhece a cineasta Zeinabu Davis. Segundo ela, esta experiência ajudou-a a definir o seu futuro papel na indústria cinematográfica. [14]

Licencia-se em 1986 no INAFEC e recebe o diploma em ciências e técnicas audiovisuais. De seguida trabalha como anotadora no filme Yam Daabo (A escolha) do realizador Idrissa Ouedraogo que conhecera enquanto estudava. Depois parte para Paris onde tira o mestrado em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais, e licencia-se em Cinema na Sorbonne.[6][4][12][3][13]

A sua primeira curta metragem, Un Certain Matin de 1991, é considerada a primeira ficção cinematográfica realizada por uma mulher africana e estreou nas Jornadas Cinematográficas de Cartago. [6][12][15][16]

Em 1993 ela cria a sua produtora Les Films du Défi, através da qual procura produzir, criar e distribuir filmes para além de apoiar novos realizadores e despertar a atenção para os filmes produzidos e realizados no continente africano. [10][12]

Em 1999, criou com Jean-Marie Teno e Balufu Bakupa-Kanyinda, a Associação Africana de Realizadores e Produtores de Cinema com o objectivo de expandir o trabalho dos realizadores africanos. Esta organização tem feito esforços para chamar a atenção para o cinema africano de maneira a apoiar a indústria. [17][18]

As suas curtas e médias metragens que se sucedem, reforçam a sua notoriedade, principalmente Le truc (1998) uma comédia que advoga a utilização do preservativo. A curta Bintou é seleccionada para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e é premiada com o prémio de melhor curta metragem no FESPACO em 2001. Em 2004 a sua longa metragem La Nuit de la vérité, onde aborda os conflitos étnicos também chama a atenção. [9][4][19][10]

Selecção de Filmes[editar | editar código-fonte]

O seu primeiro filme foi a curta intitulada de Un Certain Matin (1992), a primeira ficção cinematográfica realizada por uma mulher africana. Desde então ela produziu várias curtas, abordando de forma humorística, as tradições do seu país e as complexas relações entre estas e a modernidade. [15]

A sua curta Bintou ganhou mais de 20 prémios internacionais e ganhou o prémio de melhor curta no FESPACO em 2001. [9][20]

Puk Nini, que significa “abre os teus olhos”, é uma curta em que Nacro brinca com o tema do adultério apresentando o ponto de vista das mulheres e dos homens. Os seus filmes  encorajam a independência feminina e desafia muitos das estruturas de  poder tradicionais que existem entre mulheres e homens, tanto no contexto africano como no de Hollywood. [17][21]

A curta Le truc de Konaté, realizada por ela em 1997, aborda os vários mitos por detrás da utilização do preservativo, da sexualidade, da sida, da poligamia e o tema da mudança numa cidade do Burkina Faso. Ela mistura elementos humorísticos com informativos para transmitir informação importante sobre a importância da protecção durante o acto sexual e a necessidade de as mulheres se emanciparem, principalmente em questões de saúde.[21]

Realiza a sua primeira longa-metragem em 2004, La Nuit de la vérité é o primeiro filme realizado por mulher que aborda os conflitos étnicos em África. [9][22]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Na sua filmografia encontram-se várias curtas e uma longa metragem: [2][23][11]


Curtas

  • 1991 : Un Certain Matin
  • 1993 : L’École au cœur de la vie
  • 1995 : Puk Nini
  • 1997 : Femmes capables
  • 1997 : La Tortue du Monde
  • 1998 : Le Truc de Konaté
  • 1999 : Florence Barrigha
  • 2000 : Relou
  • 2000 : Laafi Bala
  • 2001 : La bague au doigt
  • 2001 : Une volonté de fer
  • 2001 : La voix de la raison
  • 2001 : Bintou
  • 2002 : En parler ça aide
  • 2003 : Vivre positivement

Longa Metragem

  • 2004 : La Nuit de la vérité

Prémios[editar | editar código-fonte]

Fanta Régina Nacro é uma realizadora reconhecida e premiada internacionalmente, no total ganhou mais de 20 prémios e várias nomeações, entre as quais se detacam:[10][24]

  • Pela a sua curta-metragem, Un Certain Matin, Nacro recebeu:[24]

1992 - O Tanit d'Or para melhor curta metragem no Festival internacional de Cinema de Cartagena

1992- O Licorne d'Or para melhor curta-metragem no Festival Internacional de Cinema de Amiens

1993 - Ganhou o prémio de melhor curta no Festival internacional de Cinema de Fribourg

  • Por Bintou, outra das suas curtas, recebeu vários prémios, nomeadamente: [20][24][12]

2001 - Licorne d’Or no Festival Internacional de Cinema de Amiens

2001- Recebeu o Prémio Kodak para curtas-metragens no Festival de Cannes

2001- Recebeu o Prémio de Melhor curta no Festival Internacional de Cinema das Bermudas

2001- Prémio para Melhor Curta no Festival Internacional de Cinema de Marraquexe

2001- Recebeu vários prémios no FESPACO

2002 - Recebeu o Prémio do Júri no Festival Internacional de Curtas Metragens de Clermont-Ferrand

  • A sua longa-metragem La Nuit Verité recebeu vários prémios internacionais, nomeadamente:[2][3][24][25]

2004 - O prémio Montblanc para Melhor Argumento no Festival International de San Sebastian

2004- O Prémio  Sceau de la Paix, no Festival des Films de femmes em Florença (Itália)

2005 - Grand Prix no Festival International de Films de Fribourg (Suíça)

2005 - Ganhou o prémio TV5 no FESPACO (Festival Panafricano do Cinema et de la Televisão de Ouagadougou, Burkina Faso)

2005 - Prémio do Público no Festival Internacional de Primeiros Filmes d’Annonay (França)

2005- Prémio do Público no Festival Panafricana, em Roma (Itália)

2006 - Ganhou o Python Royal, o Grand Prix do Festival Quintessence, em Ouidah (Benim)


Em 2005 foi nomeado para o Festival de Cinema de Tribeca e em 2006 integrou o catalogo do programa Global Film Initiative.[25][26]

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Fanta Régina Nacro é uma das realizadoras homenageadas no documentário Sisters of the Screen de Beti Ellerson, ao lado de Sarah Maldoror, Ngozi Onwurah, Safi Faye (Senegal) e Anne Mungai. [27]

Em 2020 foi uma das realizadoras convidadas para participar numa conversa sobre o cinema Africano no ciclo Storytelling and West African Cinema, organizado pela curadora Yaëlle Biro do departamento de Artes Africanas do museu MET. [28]

O seu trabalho tem sido alvo de estudo, nomeadamente o seu filme La Nuit de la verité (The night of truth) analisado em vários artigos académicos. [22][29][30]

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]

Entrevista com Fanta Régina Nacro sobre o seu filme La nuit de la verité

Filme africano em português, English subtitles: Chapéus fora !

Trailer do filme - La nuit de la verité

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. AdoroCinema. «Fanta Régina Nacro». AdoroCinema. Consultado em 27 de julho de 2020 
  2. a b c «Fanta Régina Nacro». IFFR (em inglês). 4 de setembro de 2015. Consultado em 27 de julho de 2020 
  3. a b c «Films from Africa: Personen-Details». www.filme-aus-afrika.de. Consultado em 27 de julho de 2020 
  4. a b c «Fanta Régina Nacro Archives». Directors' Fortnight (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  5. «Pionera Fanta Régina Nacro». Mostra Internacional de Films de Dones de Barcelona (em espanhol). 20 de setembro de 2019. Consultado em 27 de julho de 2020 
  6. a b c d «FCAPA les réalisateurs : Fanta Régina NACRO». www.africapt-festival.fr. Consultado em 27 de julho de 2020 
  7. «Fanta Régina Nacro». MUBI. Consultado em 27 de julho de 2020 
  8. PeoplePill. «Fanta Régina Nacro: Burkinabé film director (1962-) | Biography, Filmography, Facts, Career, Wiki, Life». PeoplePill (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  9. a b c d e «Personnes». Africultures (em francês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  10. a b c d e «Are you looking for Virtual Programming?». www.wmm.com (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  11. a b c «Fanta Régina Nacro». IMDb. Consultado em 27 de julho de 2020 
  12. a b c d e «La biographie complète de Fanta Régina Nacro réalisatrice et scénariste». www.filmsdefi.com. Consultado em 27 de julho de 2020 
  13. a b Encendida, La Casa. «La nuit de la verité, de Fanta Régina Nacro. Burkina Faso. 2004. 95. VOSE». www.lacasaencendida.es (em espanhol). Consultado em 27 de julho de 2020 
  14. Ellerson, Beti (2000). Sisters of the Screen: Women of Africa on Film, Video and Television (em inglês). [S.l.]: Africa World Press 
  15. a b admin. «Fanta Régina Nacro». The Film Study Center at Harvard University (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  16. Encendida, La Casa. «La nuit de la verité, de Fanta Régina Nacro. Burkina Faso. 2004. 95. VOSE». www.lacasaencendida.es (em espanhol). Consultado em 27 de julho de 2020 
  17. a b Thackway, Melissa (2003). Africa Shoots Back: Alternative Perspectives in Sub-Saharan Francophone African Film (em inglês). [S.l.]: Indiana University Press 
  18. «A Certain Morning / Un Certain Matin». African Film Festival, Inc. (em inglês). 13 de fevereiro de 2012. Consultado em 28 de julho de 2020 
  19. Videau, André (2005). «La nuit de la vérité Film burkinabé de Fanta Régina Nacro». Hommes & Migrations. 1257 (1): 138–139 
  20. a b «Zimmedia » Awards» (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  21. a b Tomondji, Serge Mathias (19 de novembro de 2017). «Fanta Régina Nacro: dix films pour combattre les violences faites aux femmes». FASOZINE:Quotidien Burkinabè de linformation (em francês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  22. a b Bisschoff, Lizelle (30 de outubro de 2012). Bisschoff, Lizelle; Van De Peer, Stefanie, eds. «Reconciling the African nation: Fanta Regina Nacro's La Nuit de la Vérité». I.B. Tauris (em inglês). 21: 213–230. ISBN 978-1-84885-692-9 
  23. «Fanta Régina Nacro». BFI (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  24. a b c d «Prémios - Fanta Régina Nacro». IMDb. Consultado em 28 de julho de 2020 
  25. a b «The Night of Truth». Acrobates Films (em inglês). Consultado em 28 de julho de 2020 
  26. «Global Lens 2006». catalogue.globalfilm.org. Consultado em 28 de julho de 2020 
  27. «Sisters of the Screen African Women in the Cinema African Women in the Cinema». www.wmm.com (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2020 
  28. «Storytelling and West African Cinema no MET». www.metmuseum.org. 2020. Consultado em 27 de julho de 2020 
  29. Schurmans, Fabrice (2010). «O genocídio do Ruanda no cinema: ausência, representação, manipulação» (PDF). Oficina do CES. Consultado em 27 de julho de 2020 
  30. Dipio, Dominica; Dipo, Oumar (2015). «Art's subtle, liberating ways: Violence, trauma and agency in Fanta Regina Nacro's The Night of Truth». Journal of African Cinemas. Consultado em 27 de julho de 2020