O Visconde de Bragelonne

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Le Vicomte de Bragelonne
Autor(es) Alexandre Dumas, pai com a colaboração de Auguste Maquet
Idioma Francês
País  França
Gênero Romance histórico
Série Les Mousquetaires
Editora Le Siècle
Lançamento 1847
Cronologia
Vingt ans après
Palácio de Versailles, residência do rei Luís XIV

O Visconde de Bragelonne é um romance histórico escrito por Alexandre Dumas, pai. É a terceira e última etapa da saga de d'Artagnan e dos três mosqueteiros, Athos, Porthos e Aramis. Este volume da trilogia foi escrito de 1847 a 1850, com a colaboração de Auguste Maquet. Aparece inicialmente na forma de folhetim no jornal "Le Siècle". Essa aparição em capítulos foi interrompida diversas vezes, devido à Revoluções de 1848 e a malograda candidatura de Dumas às eleições legislativas.

Por se tratar de um livro extenso (algumas edições chegam a 10 volumes de 254 páginas cada) o autor narra diversas tramas simultaneamente. Dentre elas, a história de Raoul, o próprio Visconde de Bragelonne, filho do mosqueteiro Athos; a história do rei Luis XIV e sua amante, Louise de La Vallière; a história da retomada do trono inglês pelo príncipe Carlos II, após a derrota de Oliver Cromwell e, a não menos importante história do irmão gêmeo de Luis XIV, Phillipe que foi trancado em uma masmorra com uma máscara de ferro. Apesar de ocupar apenas parte do romance, é este último episódio, o do Prisioneiro da Máscara de Ferro, o mais conhecido e o que originou o maior número de adaptações extraídas do livro.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A ação desenrola-se entre 1660 e 1673.

Em "O Visconde de Bragelonne", os heróis dos dois primeiros volumes da trilogia envelheceram bastante. D'Artagnan, agora capitão dos mosqueteiros, o mais jovem dos quatro, tem então cinquenta anos. Porthos é barão desde o volume precedente. Aramis é cada vez mais poderoso: torna-se bispo de Vannes e Superior Geral dos Jesuítas.

Luís XIV em 1661

O tom deste terceiro romance é melancólico: sente-se chegar o fim. Traições, desilusões e intrigas fazem parte integrante de uma sociedade em que o valor fundamental não é mais a honra e não é senão sombra da que a precedeu.

Raoul, o visconde de Bragelonne, filho de Athos, morre em batalha. Teria sido quase um suicídio devido à dor causada pela traição de sua noiva, Louise de La Vallière, agora amante do Rei Luís XIV de França. A notícia de sua morte leva seu pai, Athos, para a tumba. Porthos, o gigante, fiando-se na enorme confiança que deposita em Aramis, junta-se à rebelião contra o rei e morre esmagado por enormes blocos de rocha quando do assalto das forças do rei a Belle-Île-en-Mer. Por fim, D'Artagnan é o último a morrer, morto por uma bala no campo de batalha, segurando o bastão de marechal que vem finalmente recompensar sua bravura e lealdade, porém já tarde demais.

Aramis fica sozinho: o mais ambíguo dos mosqueteiros é o único a saber adaptar-se ao mundo de intrigas em que se torna mestre. Com efeito, o romance retrata o declínio da nobreza de espada, representada pelos mosqueteiros, e o aparecimento de uma nobreza de Corte, que o jovem Luís XIV pretende controlar. As pessoas não ganharão mais a atenção do soberano por suas empreitadas armadas, e sim pela intriga e pela bajulação.

No entanto, é interessante notar que, ao longo das 2.500 páginas do livro, em nenhum momento os quatro amigos reúnem-se, como se Dumas não ousasse mais reunir em um mesmo aposento Aramis e os outros três ; como se considerasse que Aramis poderia contaminar o coração puro de Athos, Porthos e d'Artagnan.

A frase de d'Artagnan é inclusive inequívoca : "Athos, Porthos, até mais ver! Aramis, para sempre, adeus!"

Os personagens[editar | editar código-fonte]

  • O triângulo amoroso:
    • Raoul de Bragelonne: «Era um rapaz de vinte e quatro para vinte e cinco anos, grande, destemido, carregando com graça sobre os ombros a encantadora farda militar da época [..] Com uma de suas mãos finas e nervosas parava o cavalo no meio do pátio, e com a outra levantava o chapéu de longas plumas que sombreava sua fisionomia ao mesmo tempo grave e ingênua.» Bragelonne era filho do Conde de La Fère, Athos, e da Duquesa de Chevreuse. No início do romance está a serviço do Grande Condé e vem à Blois solicitar a hospitalidade de Gastão d'Orléans para o rei e sua comitiva que estão a caminho para a fronteira espanhola onde os aguarda Maria Teresa de Espanha, noiva de Luís XIV. Apesar de dando seu nome ao romance, Raoul de Bragelonne não é senão mais um dos inúmeros protagonistas, estando ao final menos presente que Luís XIV, d'Artagnan ou Fouquet. O personagem de Raoul é inspirado, de forma distante, em Nicolas de Bragelonne, primo de Louise de La Vallière e apaixonado por esta última, que morreu de tristeza ao saber de sua ligação com o rei.[1]
      Louise de La Vallière e seus filhos
    • Louise de La Vallière: «esta bela moça loira» é filha de M. de Saint Remy, intendente do Duque de Orléans. Apaixonada por Raoul, um amigo de infância, esquece-o assim que cruza com o Rei Luís XIV. No entanto, tem o cuidado de prevenir o rapaz que não compartilha mais os sentimentos que este sente por ela. Pode então confessar ao rei um amor único e absoluto. Raoul, criado pelo Conde de La Fère no respeito pelos valores que agora parecem ultrapassados de lealdade e fidelidade (recusa-se a servir Condé quando este opõe-se ao rei), ficará com o coração partido. La Vallière é a verdadeira heroína do romance, um personagem feminino positivo, ao contrário de sua amiga Montalais.[1]
    • Luís XIV: « O rei era de porte pequeno [..]; mas sua juventude ainda fazia desculpar este defeito, ainda compensada por uma grande nobreza em todos os seus movimentos e por uma certa habilidade em todos os exercícios físicos ». O romance segue sua transformação de jovem soberano tímido e inseguro de si, em monarca absoluto, e de rei caprichoso em grande político. Luís XIV é um personagem ambíguo: algumas vezes justo, outras cruel e impiedoso (como é testemunha a conclusão do episódio do irmão gêmeo ou a ingratidão para com Fouquet), o rei conhece uma evolução importante, ajudado nisto pela provas por que passa. Ainda dominado por Mazarino no início do romance, Luís XIV aprende verdadeiramente, após a morte deste último, o cargo de rei e as responsabilidades que o acompanham, para afirmar-se ao final como futuro grande soberano. Dumas descreve no entanto com certa amargura seu egoísmo pessoal, inerente ao cargo. Apesar de sensível, como são testemunhas seu amor por Maria Mancini, e depois por Louise de la Vallière, Luís XIV é inconstante e o romance encerra-se no momento em que La Vallière está a ponto de ser suplantada por Madame de Montespan. Para Jean-Yves Tadié, a tomada de poder por Luís XIV e sua afirmação como soberano são o verdadeiro tema do romance.[1]
  • Os mosqueteiros:
    • D'Artagnan: o único dos quatro amigos a permanecer mosqueteiro, d'Artagnan está à frente dos guardas do rei. No início do romance, desapontado pela falta de autoridade e segurança do jovem Luís XIV, pede demissão de seu cargo. É como independente, com a ajuda financeira de seu antigo escudeiro Planchet, que põe em execução a operação que vai levar à restauração de Carlos II da Inglaterra no trono inglês: D'Artagnan rapta Monck e o persuade a fazer um acordo com o soberano exilado. Tornando-se rico com a recompensa recebida de Carlos II, d'Artagnan entedia-se e aceita finalmente retomar seu cargo quando Luís XIV, já mais seguro de suas funções, o chama para junto de si. É ele a quem o rei encarrega, como na história real, de prender Nicolas Fouquet. Ao final do livro, é encarregado da missão dolorosa de prender Aramis e Porthos, e recusa-se. Desejando novamente abandonar seu posto, acaba por convencer-se da futura grandeza de Luís XIV e permanece a serviço do rei.
    • Athos: Já idoso, o Conde de la Fère só intervém eventualmente no romance. Participa também da restauração de Carlos II da Inglaterra. Seu filho Raoul de Bargelonne é seu maior motivo de alegria e orgulho; Athos não sobrevive ao anúncio da morte deste último.
    • Porthos: Muito rico, o Barão du Vallon de Bracieux de Pierrefonds visa o cargo de Duque. Apreciado por Luís XIV a quem é apresentado por d'Artagnan, perde-se nas tramas em que enredado por Aramis. Acreditando ingenuamente lutar contra um usurpador, Porthos participa do sequestro de Luís XIV. É em seguida perseguido pelo exército do rei e, após um combate heróico, morre ao final do episódio da gruta de Locmaria.
    • Aramis: Feito Bispo de Vannes, o Cavaleiro d'Herblay descobre a existência de um irmão gêmeo de Luís XIV. O conhecimento deste segredo permite-lhe ascender ao cargo de Superior Geral dos Jesuítas. Amigo de Nicolas Fouquet, decide ajudá-lo contra Luís XIV e Colbert. Tanto para salvar Fouquet quanto para tornar-se a verdadeira Eminência Parda da França, organiza, com a ajuda de Porthos, o sequestro do rei e sua substituição por seu irmão gêmeo escondido. Mas a operação fracassa quando Fouquet recusa-se a participar e liberta o rei da Bastilha. Aramis precisa fugir e exila-se na Espanha, onde assume as funções de diplomata. Anos mais tarde é perdoado por Luís XIV e pode voltar à França.
  • Outros personagens:
    • Nicolas Fouquet: O Superintendente das Finanças é descrito com simpatia por Dumas, que defende a tese de sua inocência. Ameaçado pelas manobras de Colbert, Fouquet arruina-se organizando festas suntuosas para agradar ao rei. Recusa-se a participar do complô de Aramis para substituir o rei por seu gêmeo e liberta o soberano da Bastilha. Porém, Luís XIV, ingrato, ressente-se ainda mais por Fouquet ser testemunha de sua humilhação ; faz prender o superintendente por d'Artagnan.
    • Philippe: O irmão gêmeo de Luís XIV, que ignora sua existência. Durante toda a sua vida foi mantido em segredo. No início do romance, é prisioneiro da Bastilha, sob o nome de "Marchiali". Aramis tenta colocá-lo no trono sequestrando Luís XIV. Philippe é rei de França durante algumas horas, antes de ser desmarcarado por Luís XIV, solto da prisão. É novamente aprisionado e seu rosto coberto, por ordem do rei, com uma máscara de ferro.
    • Jean-Baptiste Colbert: Representado por Dumas como um personagem antipático, Colbert é inimigo de Fouquet e suas manobras para suplantar o Superintendente de Finanças e assegurar a queda deste último ocupam uma parte do romance. A conclusão mostra, no entanto, anos mais tarde, um Colbert envelhecido, mudado e mais benevolente, transformado em grande ministro. O tratamento de Colbert por Dumas é prova da ambiguidade deste romance que, ao contrário das obras precedentes da trilogia, não apresenta os personagens "maldosos" integralmente maus.

Adaptações[editar | editar código-fonte]

Teatro[editar | editar código-fonte]

O próprio Alexandre Dumas adaptou seu romance para o teatro em 1861, numa peça intitulada "Le Prisonnier de la Bastille, Fin des Mousquetaires" ((em português) "O Prisioneiro da Bastilha, Fim dos Mosqueteiros"), que trata apenas do episódio do irmão gêmeo de Luís XIV. Raoul de Bragelonne é mencionado, mas não aparece em cena.[2]

Cinema[editar | editar código-fonte]

A história de Raoul de Bragelonne pouco inspirou os realizadores; por outro lado, o episódio da "Máscara de Ferro" deu lugar a numerosas adaptações para o cinema, muitas vezes bastante livres :

Referências

  1. a b c Prefácio e anotações de J-Y Tadié ao Visconde de Bragelonne, Edições Gallimard, 1997
  2. O Prisioneiro da Bastilha, Fim dos Mosqueteiros - (em francês)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]