Pasquale Paoli

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Pasquale Paoli
Pasquale Paoli
Nascimento 6 de abril de 1725
Morosaglia (República de Gênova)
Morte 5 de fevereiro de 1807 (81 anos)
Londres
Cidadania Corsican Republic, República de Gênova
Ocupação político, oficial
Prêmios

Pasquale Paoli (Morosaglia, 6 de abril de 1725 - Londres, 5 de fevereiro de 1807), também conhecido pela versão galicizada do seu nome Pascal Paoli, patriota corso que liderou os levantamentos populares em oposição à dominação genovesa e depois francesa na ilha. É considerado o babbu di a Patria (o pai da pátria) corsa e o grande obreiro da independência corsa do século XVIII. Foi um dos homens mais influentes do seu tempo, inspirando, com a aprovação da sua constituição democrática da Córsega e com a afirmação do direito à autodeterminação dos povos, o movimento independentista norte-americano, razão pela qual é lembrado na toponímia de muitas cidades americanas. É dos poucos estrangeiros a ser honrado com um cenotáfio na abadia de Westminster.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Pasquale Paoli nasceu na aldeia de La Stretta, comuna de Morosaglia, a 5 de abril de 1725, filho mais novo de Denise Valentini e do patriota corso Giancintu Paoli (também grafado Giacinto Paoli ou Hyacinthe Paoli).

A sua infância desenrola-se num tempo conturbado de fome, grande instabilidade social e revoltas constantes. Ele tem quatro anos quando eclode no Boziu, em novembro de 1729, o primeiro grande levantamento popular corso, dando origem ao incidente que ficou conhecido pela revolta dos dois seini (os seini eram a moeda genovesa então em uso na ilha).

Apesar das causas imediatas poderem ser atribuídas à recusa de pagar um imposto, numa situação em que a carga fiscal era excessiva em tempo de crises alimentares cíclicas causadas pela fraca produção agrícola, coexistia na ilha um enorme mal-estar causado pela insegurança, já que abundavam os bandidos armados e as quadrilhas audaciosa, e pela falta de justiça nas punições infligidas pelas expedições militares genovesas. Um pedido para que fosse autorizado o porte de armas para autodefesa, interpretado como um acto de desafio, é uma das claras manifestações deste ambiente pré-insurreccional.

A partir da região de Boziu a rebelião estende-se a Castagniccia, Casinca e, depois, a Niolo. Em fevereiro de 1730 Bastia é saqueada; em dezembro desse ano reúne-se uma consulta nacional em San Pancraziu, que nomeou Andréa Colonna-Ceccaldi, Luigi Giaffieri e o abade Raffaelli como chefes da nação corsa.

Face ao alastrar da sublevação, Génova pede ajuda a Carlos VI, o imperador sacro-romano-germânico, o qual envia tropas. Contudo, estas foram inicialmente rechaçadas em meados de 1731, mas uma nova investida, umas semanas mais tarde, submeterá os principais focos rebeldes.

Em junho de 1733, com a garantia do imperador Carlos VI, Génova cede a um conjunto de reivindicações corsas, procurando o apaziguamento. Contudo, as cedências não foram consideradas suficientes e alguns meses mais tarde a rebelião reacende-se, tendo agora entre os seus líderes Giancintu Paoli, o pai de Pasquale.

Quando a revolta é esmagada por nova intervenção genovesa com o apoio de forças imperiais, Giancintu Paoli, depois de um período aventuroso de semi-clandestinidade, é obrigado a procurar o exílio. Parte para Nápoles a 7 de julho de 1739, levando consigo o filho mais novo Pasquale, então com 14 anos de idade, e deixando os negócios familiares entre ao filho mais velho, Clemente Paoli (ou Chilimentu Paoli, em corso).

A juventude em Nápoles (1739-1755)[editar | editar código-fonte]

Foi em Itália, na cidade de Nápoles, para onde se exilou aos 14 anos de idade com seu pai, que recebeu o essencial da sua formação. Pascal Paoli teve uma educação esmerada, sendo conhecedor dos clássicos e obtendo fluência, para além do corso e do italiano, suas línguas maternas, nas línguas francesa e inglesa. Leu os filósofos da época, em especial os franceses, interessando-se profundamente pela filosofia política e pelas novas ideias democráticas que brotavam da França pré-revolucionária, com destaque para as de Jean-Jacques Rousseau, de Voltaire e de Montesquieu.

Aos 16 anos de idade Pasquale alista-se no exército napolitano como cadete, sendo integrado no mesmo regimento onde seu pai servia. Entre 1742 e 1743 é colocado em Gaeta, regressando a Nápoles em finais deste último ano.

Em Nápoles passa a frequentar a Academia Real de Artilhariam preparando-se para uma carreira de oficial daquela arma. Apesar disso, mantém-se atento ao evoluir do pensamento europeu, lendo os filósofos franceses e ingleses. Também se mantém bem informado sobre a evolução dos acontecimentos na sua ilha natal, de onde o irmão Clemente lhe envia notícias detalhadas da evolução social e política.

Entre as influências filosóficas que se apontam a Paoli estão as obras de Montesquieu, em especial a sua teoria da separação dos poderes, Nicolau Maquiavel e de Antonio Genovesi (1713-1769), professor de Ética da Universidade de Nápoles.

Em 1754 é nomeado oficial no Regimento Real Farnese e colocado primeiro em Siracusa e depois na ilha de Elba. Contudo, a sua carreira militar será breve, pois em inícios de 1755 pede a sua demissão, chamado à Córsega pelo por notícias vindas do seu irmão Clemente, que o informavam que um novo levantamento popular estava em curso.

Paoli como Capu Generale di a Nazione (1755-1769)[editar | editar código-fonte]

Busto de Pasquale Paoli, L'Île-Rousse.

Chegado à ilha em meados de 1755, é chamado pelos principais chefes do levantamento popular contra a dominação da República de Génova para comandar a milícias então formadas. Era um desafio quase impossível este que Pasquale Paoli, agora com 30 anos, era chamado a assumir.

Pasquale Paoli aceitou, e apesar da oposição de algumas figuras importantes do movimento corso, como Mario Emanuele Matra, torna-se em pouco tempo o líder de facto do movimento nacional corso.

A sua posição de liderança foi legitimada a 14 de julho de 1755, depois de uma reunião da liderança da revolta, a ‘’Cunsulta Generale’’, que se realizou no convento de San’Antone della Casabianca, em Orezza. Paoli é então eleito Capu Generale di a Nazione ou Capo Generale puliticu e ecunumicu, numa eleição disputada contra Mario Emanuele Matra.

A partir desse momento cabe-lhe dirigir todas as operações, assumindo simultaneamente a responsabilidade pela condução militar e política da revolta.

O desafio que se lhe apresenta é formidável. Como dirá mais tarde: Fazer de uma colónia em revolta um Estado soberano, reconhecido pelas potências estrangeiras, forjar do interior os recursos do poder, manter a desorganização no exterior, e tudo isto no meio de facciosismos e de guerras, é bem a ocasião de um "principe nuovo" demonstrar as suas virtudes.

A sublevação domina rapidamente o interior da ilha, deixando apenas nas mãos dos genoveses as principais cidades costeiras. Assim, apesar de não dominar completamente o território da ilha, os corsos estão em condições de proclamar a sua independência. Nasce assim o Reino da Córsega, uma entidade política ‘’sui generis’’, pois apesar de ser formalmente um reino, reserva a posição de chefe de estado perpétuo à Virgem Maria, organizando toda a sua estrutura política como se de uma república se tratasse.

Para consolidar a estrutura de poder da estrutura política corsa, era necessário a aprovação de uma constituição, já que nas palavras de Pasquale Paoli: A nossa administração deve ser tão clara como um cristal, cada zona de sombra favorecendo a arbitrariedade e a desconfiança do Povo.

A Constituição de 1755[editar | editar código-fonte]

Tendo derrotado os genoveses, Paoli organiza o seu próprio governo. Admirador de Montesquieu, faz votar, em 17 de novembro de 1755 uma constituição de cariz republicano, apesar de manter formalmente o Reino da Córsega tendo como rainha a Virgem Maria. Foi uma das primeiras constituições democráticas e igualitárias da História, definindo com razão de ser o direito dos povos a dispor do seu próprio futuro ou seja os hoje denominados princípios do direito à autodeterminação dos povos e da soberania popular.

Foi na Constituição Corsa de 1755 que se introduziu pela primeira vez num documento legal a separação de poderes e o verdadeiro voto universal, nele se incluindo as mulheres e os estrangeiros residentes.

A Córsega torna-se assim no primeiro Estado democrático europeu do Século das Luzes, suscitando a admiração de filósofos como Rousseau e Voltaire. Na sua obra Do contrato social Rousseau afirma: Existe ainda na Europa um país com legislação capaz: é a ilha da Córsega […]. Tenho o pressentimento que, um dia, esta pequena ilha espantará a Europa.

A Constituição corsa foi escrita por juristas corsos que acompanhavam Paoli. Um projecto constitucional, da autoria de Rousseau, não foi adoptado por parecer pouco adequado às realidades da ilha. A Constituição corsa, e o seu apelo ao direito dos povos escolherem o seu futuro, serviu de inspiração à Constituição dos Estados Unidos da América. É por essa razão que o nome de Paoli aparece na toponímia de múltiplas povoações norte-americanas como Paoli City em Indiana, Paoli City no Colorado e Paoli City na Pennsylvania (local da cruenta batalha de Paoli, durante a guerra civil americana).

O governo de Paoli[editar | editar código-fonte]

Nomeado chefe do executivo, instala a capital da ilha na cidade bastião de Corté, instalando aí a sede do poder corso, já que as principais cidades costeiras continuam sob domínio genovês. Governa segundo a orientação liberal, embora se comporte mais como um "déspota esclarecido".

Uma das suas primeiras medidas foi a introdução da imprensa na ilha, através de uma imprensa nacional fundada em Campoloro, nas imediações de Oletta, no ano de 1758. Nela é publicada a obra Giustificazione della Rivoluzione de Corsica e impresso o primeiro periódico corso, intitulado Ragguagli dell’Isola di Corsica (ou seja Notícias da Ilha da Córsega), uma espécie de jornal oficial.

Em maio de 1764 funda em Corté uma Universidade, a qual logo em novembro desse ano tem o seu programa de estudos aprovado. Apesar de ter sido fechada em 1769, com a queda da cidade sob o domínio francês, é antecessora directa da actual Università di Corsica-Pasquale Paoli, fundada em 1981 e hoje com mais de 4 000 alunos.

Adepto do fisiocratismo, Paoli introduz a cultura da batata na ilha logo no ano de 1766 e funda o porto fortificado de L'Île-Rousse (1758) com o objectivo de fazer face aos presídios genoveses que mantinham sob ocupação os portos de Algajola e de Calvi. Fez cunhar moeda com a efígie da nação corsa em Murato no ano de 1762.

Decide também adquirir uma marinha de guerra, para perturbar o comércio genovês e para obter o reconhecimento do novo pavilhão corso, a cabeça de mouro com a banda branca, pelas potências estrangeiras. Apesar da dificuldade de construir navios credíveis, consegue manter as costas livres de assaltos genoveses, chegando a conquistar a ilha de Capraia.

A experiência democrática corsa impressiona vivamente a intelectualidade progressista europeia, a qual considera a ilha como um exemplo a seguir. Tanto na Europa como nas então colónias inglesas da América do Norte, o nome de Pasquale Paoli é venerado. Foi neste ambiente que Rousseau aconselha o jovem escocês James Boswell a efectuar uma visita à Córsega para descrever a nova experiência governativa.

O governo corso mantém relações amigáveis com o governo francês, o qual assume uma posição de neutralidade face ao conflito com a República de Génova.

Por volta de 1765 a posição da Sereníssima República de Génova na Córsega está reduzida a alguns enclaves costeiros, controlando apenas as cidades estratégicas de Calvi e Bastia. Por seu lado, a França começa a olhar a Córsega como uma posição estratégica no Mediterrâneo, capaz de contribuir para contrabalançar a crescente presença britânica na zona. Assim, apesar de se manterem as relações entre a França e o governo corso, os interesses franceses são cada vez mais poderosos e influentes na ilha.

Quando em 1764 forças francesas se instalam em Bastia, elas mantêm a sua neutralidade em relação ao conflito entre Córsega e Génova. Nesta fase, Paoli e o secretário de estado francês Étienne François de Choiseul mantêm uma correspondência cordial, com este último a afirmar por diversas vezes que a França não alberga intenções belicosas contra o Reino da Córsega.

O Tratado de Versalhes de 1768[editar | editar código-fonte]

Tudo isto muda, quando, por um tratado, assinado em Versalhes a 15 de maio de 1768, a República de Génova cede à França a soberania sobre a Córsega como garantia das suas dívidas. Apesar de não ser uma venda, antes oferecendo a ilha como penhor, o Tratado foi imediatamente denunciado como sendo a venda da Córsega à França.

Na Córsega a notícia rebenta como uma bomba, e a 22 de maio, na Consulta de Corté, Paoli proclama um levantamento geral contra a França.

Logo em julho imediato tropas francesas ocupam Cap Corse e um mês mais tarde o marquês Armand de Chauvelin desembarca à frente de um numeroso contingente militar. Mesmo assim, em outubro os franceses são derrotados em Borgo, mas tal não impede que na primavera de 1769 o conde de Vaux, desembarque à frente de mais 20 000 homens.

Paoli tenta travar o seu passo das forças francesas, mas foi batido na batalha de Ponte Novu (ou seja da Ponte Nova), travada a 8 de maio de 1769. Retira para Corte, mas pouco depois a cidade é obrigada a render-se aos franceses.

Derrotado e perseguido pelas forças francesas, teve de procurar o exílio. Parte para Londres a 13 de junho desse mesmo ano.

O exílio em Londres (1769-1790)[editar | editar código-fonte]

Paoli é aclamado como um herói em todos os países que atravessa, da Itália à Grã-Bretanha, passando pela Áustria e pelos Países Baixos. O seu combate, e a sua Constituição eram conhecidos em toda a Europa graças à obra de James Boswell, Account of Corsica, entretanto publicada e recebida com grandes laudas por toda a Europa e América cultas.

Em Londres é recebido com todas as honras, sendo-lhe concedido uma residência e uma generosa pensão. Fixa-se na cidade, aproveitando o tempo para ler os mais recentes trabalhos dos filósofos franceses e ingleses.

Graças aos textos publicados por James Boswell, e à amizade que os ligava desde a passagem deste pela Córsega, a vida social de Paoli em Londres é fácil. É introduzido por sir Joshua Reynolds no prestigioso Literary Club e pouco depois na Royal Society of Finest Art. Em 1778, foi iniciado na Maçonaria, sendo apresentado por sir John Pringle, o médico pessoal da rainha.

Paoli cria rapidamente um círculo social que abrangia a melhor intelectualidade britânica. Nesse círculo conhece Maria Cosway, de origem italiana e esposa do pintor Richard Cosway, que na altura pintava um retrato de Paoli. Entre eles desenvolve-se um amor platónico que os acompanhará até à morte de Paoli, que nunca casou.

Aproveita o tempo para estabelecer uma teia de relações com a intelectualidade britânica, que farão dele um dos homens mais influentes do seu tempo, e um dos poucos estrangeiros a quem foi concedido um cenotáfio na Abadia de Westminster.

Em 4 de julho de 1776 as colónias britânicas no leste da América do Norte declaram a sua independência, abrindo caminho para o nascimento dos Estados Unidos da América. Paoli, visto pelos independentistas como um precursor e um herói, está agora em Inglaterra, dependente da boa vontade real para eventualmente poder libertar a Córsega. Reage com prudência, deixando os seus amigos americanos desapontados.

Após a Revolução Francesa a posição de Paoli em relação à França altera-se, o mesmo acontecendo com a posição do novo governo francês face a Paoli. Agora, pelo menos nominalmente, a França partilha dos mesmos ideais que tinham norteado a independência corsa.

Na sua sessão de 30 de novembro de 1789, é lida na Assembleia Constituinte uma carta da municipalidade de Bastia, questionando o parlamento sobre o futuro da ilha, já que, de acordo com o Tratado de 1768, a soberania fora apenas cedia pela República de Génova à França como garantia de uma dívida e não de forma definitiva. A Assembleia decide então, por decreto daquele dia, integrar a Córsega no Império francês.

Apesar dos subsequentes protestos genoveses, e corsos, aquele decreto de 30 de novembro de 1789, marca a integração oficial da Córsega na França.

Na sequência da aprovação do decreto de integração, e por proposta de Honoré Gabriel Riqueti de Mirabeau, é também aprovado um decreto de amnistia aos sublevados corsos, que abrange Paoli. Logo de seguida, diversas personalidades francesas convidam-no a regressar à Córsega.

Pasquale Paoli acede, tendo escrito uma missiva à Assembleia, datada de 11 de dezembro de 1789, onde diz: [ … ] Ao admitir a Córsega ao perfeito gozo de todas as vantagens que resultam da feliz constituição que acaba de ser estabelecida, a França encontra enfim o meio mais seguro de assegurar a afeição e a fidelidade dos seus habitantes.

A 3 de abril de 1790 Paoli chega a Paris, onde é recebido por diversas delegações vindas da Córsega. A batalha de Ponte Novu parece agora nunca ter existido, tal é o fervor revolucionário que une os antigos inimigos.

No dia 8 de abril Paoli é apresentado ao rei Luís XVI da França pelo Marquês de La Fayette, sendo-lhe concedidas as honras de um estadista; a 22 de abril a delegação corsa é recebida na Assembleia, cabendo a Paoli fazer uma intervenção perante a Câmara, sendo longamente aplaudido. Nessa intervenção, Paoli expressa, em termos claros, a sua aprovação à integração corsa na França, afirmando que tinha deixado a sua pátria subjugada e agora tinha o gosto de a encontrar livre.

Depois de uma estadia em Paris, a 14 de julho de 1790 embarca em Toulon em direcção à Córsega.

O regresso à Córsega (1790-1796)[editar | editar código-fonte]

Recebido como um herói na Córsega, logo a 9 de setembro de 1790, a ‘’Cunsulta Generale’’, novamente reunida no convento de San’Antone della Casabianca, em Orezza, nomeia-o presidente do directório departamental da Córsega e comandante da Guarda Nacional, cargos que aceita.

Cenotáfio de Pasquale Paoli, na Abadia de Westminster (Londres).

Inicia-se uma nova fase na vida de Paoli. Volta a ter poder executivo, mas agora restrito pela presença francesa na ilha, tendo algumas das suas decisões suscitado protestos e suspeições, que chegam à Assembleia em Paris.

Com o passar do tempo, o entusiasmo inicial vai-se esvaindo perante a contestação de que afinal a sonhada liberdade não tinha realmente chegado à ilha pela via da integração em França.

Aparecem movimentos contra-revolucionários na ilha e Paoli tenta a via da conciliação e depois da repressão. Desconfiando dos clubes revolucionários, dificulta a sua acção, no que é apoiado pela Assembleia. Contudo, as dificuldades em manter a ordem pública continuam, mostrando as divisões profundas existentes na sociedade corsa.

A 21 de setembro de 1792 é proclamada a República Francesa, e o processo revolucionário ganha novo ímpeto e nova direcção. O jacobinismo domina e é crescente a vontade centralizadora e a pressão para uniformizar a administração francesa. Com essa tendência começa a rápida erosão da autonomia corsa.

Discordando da perda de autonomia, Paoli a partir de 1793 opõem-se à tendência centralizadora dos jacobinos e procura, agora com o apoio britânico, obter a secessão da ilha.

A Convenção acusa-o então de conivência com o inimigo e por decreto de 17 de julho de 1793 declara Paoli como proscrito e inimigo da República Francesa e prepara-se para assumir directamente o poder na Córsega.

A 25 de agosto de 1793 Paoli escreve ao almirante Samuel Hood, comandante-em-chefe das forças navais britânicas no Mediterrâneo solicitando ajuda contra a Convenção. Sem esperar a conclusão de um acordo, as forças britânicas intervêm, colaborando com os nacionalistas na luta contra os franceses. A 4 de Janeiro de 1794, Paoli escreve novamente a Hood, manifestando-lhe o seu desejo pessoal e do povo corso de se colocar sob a protecção de Sua Majestade Britânica.

Pedra tumular de Pasquale Paoli na capela da sua casa natal

Face a essa missiva, e tendo em conta o interesse estratégico da ilha, logo a 16 de Janeiro Paoli encontra-se com Sir Gilbert Elliot para acordarem um enquadramento constitucional para a criação de um Reino Anglo-Corso, na realidade um protectorado britânico na ilha.

Depois desse entendimento, a 21 de abril Hood e Elliot escrevem a Paoli reafirmando a aceitação britânica de uma união perpétua com a Córsega, e pedindo uma formalização desse entendimento. No entretanto as forças britânicas tinham capturado Saint Florent, a 17 de fevereiro de 1794.

A 9 de maio de 1794 são convocadas eleições, as quais se realizam a 25 de maio. A Assembleia eleita reúne a 10 de junho. Nesse mesmo dia é proclamada solenemente a separação da Córsega em relação à França e a 19 de junho a nova Constituição é aprovada, por unanimidade, estabelecendo o Reino Anglo-Corso. Entretanto, a 21 de maio, a cidade de Bastia é capturada pelos britânicos e a 20 de julho, Horatio Nelson distingue-se na captura de Calvi.

A Constituição cria um lugar de vice-rei, que aparentemente Paoli esperava ocupar. Mas os britânicos, que tinham assumido então a ilha como um protectorado, designam como vice-rei a sir Gilbert Elliot.

Desapontado, Paoli sente-se cada vez mais isolado, sendo acusado por Elliot de entravar o governo e de conspirar. A tensão entre os dois vai subindo até que Paoli se vê obrigado a procurar novamente o exílio em Londres.

Deixa a Córsega, onde não mais voltará, a 14 de outubro de 1795, perante a indiferença geral. A sua carreira política tinha acabado.

Em 1796, tropas francesa, com ajuda corsa, expulsaram os britânicos da ilha. Nesta altura já Napoleão Bonaparte se preparava para governar a França. Ficava assim completo o turbulento processo da integração corsa na França.

Dr. Samuel Johnson, escritorJames Boswell, biógrafoSir Joshua Reynolds, anfitrião, pintorDavid Garrick, atorEdmund Burke, estadistaPasqual Paoli, político corsoCharles Burney, historiador musicalThomas Warton, poetaOliver Goldsmith, escritorProvavelmente ''The Infant Academy'' (1782)Um gnomo, por Joshua Reynoldsretrato descolhecidoCriado, possivelmente sucessor do Dr. JohnsonUse o botão para ampliar ou use os hiperlinks
Uma festa literária na casa de Sir Joshua Reynolds[1] (use o cursor para identificar cada membro).

Os anos finais (1796-1807)[editar | editar código-fonte]

Chega a Londres em finais de 1795, enfraquecido mas ainda atento à vida política, embora agora apenas como mero observador. Dedica os últimos anos da sua vida a cuidar da educação dos seus sobrinhos netos, numa pacatez que pouco teve em comum com o resto do seu percurso.

Faleceu em Londres a 5 de fevereiro de 1807, sendo enterrado no cemitério de Saint Pancras, também em Londres.

A seu corpo foi trasladado em 1889 para a capela de família existente em Morosaglia, onde também hoje existe uma casa museu que o recorda. Na abadia de Westminster um cenotáfio, contendo um busto da autoria de John Flaxman (1755-1826) e um epitáfio, recordam-no como estadista e precursor do direito dos povos.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. 'A literary party at Sir Joshua Reynolds's, D. George Thompson, publicado por Owen Bailey, depois James William Edmund Doyle, publicado em 1 de outubro de 1851

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Antoine-Marie Graziani, Pascal Paoli, Père de la patrie corse, Tallandier, 2002
  • Georges Oberti, Pasquale de Paoli, Editions Pasquale de Paoli, 1990
  • James Boswell, An Account of Corsica … and Memoires de Pascal Paoli, Londres, 1768.
  • Jean-Baptiste Marchini, Pasquale Paoli, correspondance (1755-1769), la Corse : Etat, nation, histoire, Serre, 1985
  • M. Bartoli, Pasquale Paoli, Corse des Lumières, DCL Editions, 1999 (dernière édition)
  • Michel Vergé-Franceschi, Paoli, un Corse des Lumières, Fayard, 2005
  • Paul-Michel Villa, L'autre vie de Pascal Paoli, Alain Piazzola, 1999

Ligações externas[editar | editar código-fonte]