Reino Greco-Báctrio

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Reino Greco-Báctrio

250 a.C. – 125 a.C.
Localização de Reino Greco-Báctrio
Localização de Reino Greco-Báctrio
Dimensões aproximadas do Reino Greco-Báctrio em sua dimensão máxima, cerca de 180 a.C.
Continente Ásia
Região Ásia Central
País Afeganistão
Paquistão
Uzbequistão
Tajiquistão
Capital Báctra (atual Balkh)
Língua oficial Grego Antigo e Bactriano
Religião Politeísmo e Budismo
Governo Monarquia
Período histórico Antiguidade
 • 250 a.C. Fundação
 • 125 a.C. Formação do Reino Indo-Grego
Moeda Dracma

O Reino Greco-Báctrio foi um reino localizado na Ásia Central, compreendido entre as regiões da Báctria e Sogdiana, que compreende aos atuais Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Tajiquistão, até o noroeste da atual Índia. Existiu durante o período compreendido entre 250 a.C. e 125 a.C., até a expansão e conquista da Índia. Tal conquista viria a formar o Reino Indo-Grego.

Formação

Moeda selêucida confeccionada durante o reinado de Antíoco I Sóter. Efígie de Diódoto enquanto sátrapa de um lado e Zeus e a águia, símbolo deste deus, em seu outro lado, com os dizeres: BAΣIΛEΩΣ ANTIOXOY (BASILEUS ANTIOKOY - Rei Antíoco)

A fundação do reino foi realizada por Diódoto I Soter, sátrapa da Báctria, então região do Império Selêucida. Em 250 a.C., durante o reinado de Antíoco II a satrapia da Báctria se torna independente, levando à formação do reino greco-báctrio e à coroação de Diodoto I da Báctria como seu primeiro rei.

Na época de sua formação, o recém-formado reino foi considerado como um dos mais ricos e urbanizados do Oriente (como cita Justino, no epítome de Pompeu Trogo, "o mais próspero império das mil cidades")[1]

Após a secessão, o reino passa a expandir-se em direção ao leste de sua localização inicial, passando a ocupar a maior parte da atual Ásia Central e chegando às proximidades da atual Índia.[2] Estrabão descreve tal expansão em sua obra da seguinte forma:

Os gregos que causaram a revolta na Báctria tornaram-se tão poderosos por conta da fertilidade de sua localidade que vieram a tornar-se mestres, não apenas de Ariana mas de toda a Índia, conforme relata Apolodoro de Artemita: " ...e mais tribos foram subjugadas por eles que por Alexandre - por Menandro em particular (...), sendo muitos pessoalmente por este e outros por Demétrio, filho de Eutidemo. Eles tomaram posse não apenas de Patalena, mas também de todo o resto da costa dos conhecidos reinos de Saraosto e Sigerdis.""
— Estrabão

Império Parta e Isolamento Geográfico

Em 247 a.C., o Egito Ptolemaico, sob o comando de Ptolomeu III Evérgeta, capturou Antioquia, então capital do Império Selêucida. Com esta derrota em batalha, os selêucidas sofreram um enfraquecimento temporário, que deu margem à secessão da sátrapa da Pártia e a subsequente formação do Império Parta. O então sátrapa da Pártia declara-se rei, passando então a nomear-se Ársaces I da Pártia.

Com o surgimento do Império Parta, a região da Báctria acaba por ficar isolada geograficamente do restante do mundo grego, o que acabou por reduzir drasticamente o comércio com os demais reinos por meio terrestre. Contudo, neste mesmo período, o comércio marítimo com o Egito Ptolemaico teve um aumento considerável.

Coroação e Deposição de Diódoto II

Moeda com efígie de Diódoto II da Báctria.

Com o fim do reinado de Diódoto I, seu filho Diódoto II assume como rei. Durante seu reinado, este firmou uma aliança com Ársaces, rei dos Partos. Tal aliança tinha como objetivo evitar o avanço de Seleuco II sob seus respectivos reinos.[3] Diz o texto de Justino:

Em seguida, com a morte de Diódoto I, Ársaces selou a paz e concluiu sua aliança com o filho deste, também chamado Diódoto; algum tempo depois, eles batalharam contra Seleuco, que veio com o intuito de punir os rebeldes, mas foi derrotado: os partas passaram a celebrar este dia como o princípio de sua liberdade.
— Marco Juniano Justino

Seu reinado durou até 220 a.C., quando Diódoto II foi assassinado e sucedido por Eutidemo, então sátrapa da Sogdiana, que inicia então sua própria dinastia.

Invasão Selêucida e Expansão Geográfica

Batalha de Ário
Data 210 a.C.
Local Ário (Atual Rio Hari, Afeganistão)
Desfecho Vitória Selêucida
Beligerantes
Império Selêucida Reino Greco-Báctrio
Comandantes
Antíoco III Magno Eutidemo I
Forças
Cavalaria Leve (Quantidade Desconhecida), 10.000 Peltastas 10.000 Cavaleiros
Cerco de Bactra
Data 208 a.C. - 206 a.C.
Local Bactra (Atual Balkh, Afeganistão)
Desfecho Vitória do Reino Greco-Báctrio
Beligerantes
Império Selêucida Reino Greco-Báctrio
Comandantes
Antíoco III Magno Eutidemo I
Moeda com efígie de Eutidemo I.

Eutidemo, que segundo Políbio era nativo da Magnésia, lar da antiga tribo dos magnetes[4], cunhado do rei assassinado e então sátrapa da Sogdiana, assume o reino em cerca de 220 a.C. fundando uma nova dinastia. Durante seu período, expande seus domínios aos limites do então reino de suas fronteiras da Ásia Central, até Alexandria Éscate (atual Khujand), na região de Fergana.[5] Estrabão diz:

E este também possuía a Sogidiana, situada logo acima da Báctria, ao leste do rio Oxus, que marcava a fronteira entre estas províncias, e o rio Jaxartes, sendo este último a marcação da fronteira entre a Sogdiana e as tribos nômades.
— Estrabão

Em cerca de 210 a.C., os selêucidas, então liderados por Antíoco III, realizam um novo ataque. Eutidemo, ainda que contando inicialmente com uma cavalaria de cerca de 10.000 homens, perde sua primeira batalha em Ário e é obrigado a se retirar até a capital, Bactra. Antíoco então realiza um cerco, que dura três anos, após os quais se retira e reconhece o reino e seu líder. Em 206 a.C. a paz é selada, contando inclusive com o oferecimento da mão de uma das filhas de Antíoco a Demétrio, filho de Eutidemo, como prova de seu reconhecimento. O episódio é relatado por Políbio:

Eutidemo foi realmente um magnete e respondeu ao emissário dizendo que "Antíoco estava tentando injustamente expulsá-lo de seu reino. Ele não seria o sujeito da revolta, mas derrotado o descendente dos revoltosos e obtido então para si o reino da Báctria." Após adicionar mais alguns argumentos que surtissem o mesmo efeito, ele influenciou Teleas para que agisse como sincero mediador de paz, estimulando Antíoco a não guardar rancor de sua realeza e dignidade "pois se ele não atendesse a esta exigência, ambos não estariam seguros: tendo em vista que grandes hordas de nômades se avizinhavam e eram um perigo para ambos; e se estas ocupassem seus territórios, estes certamente seriam completamente barbarizados." Com estas palavras, ele envia Teleas de volta a Antíoco.
— Políbio

Após a vitória sobre os selêucidas, o reino greco-báctrio vive um novo período de expansão, quando volta-se em direção ao Extremo Oriente e ao subcontinente indiano, chegando a ocupar territórios do atual oeste da China[6] e norte e nordeste da Índia.

Contato com a China

Desde 220 a.C., expedições faziam contatos entre os chineses e os gregos, sobretudo com objetivos econômicos, tendo feito contato com a Dinastia Han, na rota comercial que se tornou conhecida como Rota da Seda. Segundo o historiador chinês Sima Qian, o embaixador chinês Zhang Qian teria constatado uma grande quantidade de mercadores chineses em sua visita à Báctria.[7] No Livro de Han (Hanshu), Sima Qian relata que Zhang Qian informa ao então imperador Wu o alto nível de sofisticação encontrado nas províncias.[8] Tais contatos efetuados com o reino greco-báctrio foram importantíssimos para o desenvolvimento acentuado ocorrido da Rota da Seda ao longo do século II a.C.. Expedições militares ao território chinês permitiram que o reino conseguisse expandir-se aos territórios da Serica e Phryni (ambas as cidades correspondem ao atual Xinjiang).[9]

Quando estive na Daxia (nome atribuído pela dinastia Han para o território da Báctria)", Zhang Qian reportou: "Eu avistei bambu de Qiong (atual Hainan) e tecidos da província de Shu (atual Sichuan). Quando perguntava às pessoas como haviam adquiridos tais artigos, elas respondiam: "Nossos mercadores vão comprá-los nos mercados de Shendu (atual Sind)."
— Sima Qian
O filho do céu, ao ouvir tudo isso, assim fundamentou: Dayuan (Fergana) e os territórios da Daxia (Báctria) e de Anxi (Pártia) são grandes países, repletos de artigos raros, com uma população vivendo em residências fixas e com ocupações muitas vezes idênticas aquelas encontradas no povo chinês, dando também grande valor à rica produção da China.
— Livro de Han

Demétrio I da Báctria e a expansão à Índia

Moeda com efígie de Demétrio I Aniceto (em grego: Ανίκητος; romaniz.:Aníketos; lit. "invencível").

Após a morte de Eutídemo, Demétrio assume o trono em 200 a.C., denominando-se a partir de então Demétrio I da Báctria.

Em 180 a.C., inicia-se a invasão da Índia, então governada por Pusiamitra Sunga, da recém criada dinastia Sunga, surgida da queda do Império Máuria, ocorrida após a morte de Asoca. A motivação oficial de tal invasão é desconhecida; entretanto, escrituras budistas sugerem que Demétrio tenha agido de forma a dar suporte ao Império Máuria, considerado um aliado desde os tempos de Asoca.[10] Outra motivação teria sido a necessidade de garantir a proteção do mundo grego.[11]

As expedições de Demétrio teriam seguido Índia adentro, até as cercanias da cidade de Pataliputra (atual Patna), quando seu exército teria se retirado de modo a evitar um embate direto com o rei Karavela, que expandia-se junto à sua crença jainista ao longo do trecho mais ao sul do subcontinente indiano. O sucesso de sua campanha na Índia rendeu-lhe a alcunha de Aniceto (Ανίκητος), que significa "invencível".

Demétrio reinou até 180 a.C., quando faleceu de causas desconhecidas.

Usurpação e Dinastia Eucrátida

Moeda de ouro com efígie de Eucrátides I. Maior exemplar do tipo na Antiguidade, pesando 169,2 gramas e medindo 58 milímetros de diâmetro

Após a morte de Demétrio I, o reino passou por dez anos de co-regências e guerras civis, em que diversos descendentes da dinastia até então vigente governaram de forma simultânea ou sucessiva.

Dez anos após a morte de Demétrio, em 170 a.C., Eucrátides destrona Antímaco I e usurpa o trono do reino greco-báctrio, formando uma nova dinastia. Demétrio II, filho do falecido rei e regente naquele momento dos territórios recém-conquistados da Índia, forma uma ofensiva de modo a retomar o trono de seu pai para si, mas foi derrotado e morto em batalha, unificando o reino sob a coroa de Eucrátides.[12]

Ver Também

Referências

  1. opulentissimum illud mille urbium Bactrianum imperium - Marco Juniano Justino, Historiarum Philippicarum Libri. XLI, 1.
  2. Estrabão, Geographia, XI, XI, 1.
  3. Marco Juniano Justino. Historiarum Philippicarum Libri. XLI, 4.
  4. Políbio. Histórias. XI, 34.
  5. Estrabão, Geographia. XI, XI, 2.
  6. Estrabão, Geographia, XI, XI, 11.
  7. Sima Qian. Shiji (史記), 123.
  8. Ban Gu. Hanshu, 6
  9. Estrabão, Geographia, XI, XI, 6.
  10. Tarn, W. W. The Greeks in Bactria & India. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-890-05524-6
  11. Lamotte, Éttienne. Histoire du Bouddhisme Indien. 1958 (edição trad. 1988)
  12. Marco Juniano Justino. Historiarum Philippicarum Libri. XLI, 6.

Bibliografia

  • Bopearachchi, Osmund. Monnaies Gréco-Bactriennes et Indo-Grecques, Catalogue Raisonné. Bibliothèque Nationale de France. 1991.
  • Estrabão. Geographia. Perseus Digital Library.
  • Polibio. Histórias. Perseus Digital Library.
  • Tarn W. W. The Greeks in Bactria & India. Cambridge University Press.

Ligações Externas