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Sociedade e cultura[editar | editar código-fonte]

Apesar da reprodução ser um fenómeno essencialmente biológico, existem muitos fatores sócio-culturais influenciam o sucesso reprodutivo e o prognóstico da gravidez. Entre os fatores mais importantes estão a estrutura familiar e a situação conjugal. No entanto, esta estrutura familiar varia imenso consoante a época e a região. Em muitos países industrializados, a estrutura familiar tem-se alterado significativamente nas últimas décadas. Existe uma tendência para maior informalidade e instabilidade nas relações e para o aumento da idade do primeiro filho. O número de gravidezes de mães não casadas tem aumentado significativamente e é cada vez maior o número de crianças nascidas fora do casamento.[1]

Laços afetivos[editar | editar código-fonte]

Durante a gravidez começam-se a desenvolver os laços afetivos entre a mulher e o filho, principalmente após a observação da primeira ecografia e a sensação dos primeiros movimentos do bebé entre as 18 e as 25 semanas. Acredita-se que o feto em desenvolvimento é capaz de ouvir a voz e batimento cardíaco da mãe, podendo responder com pontapés ou movimentos voluntários. Ao sétimo mês de gravidez, dois terços das mães indicam possuir já uma forte ligação com o bebé.[2] Nem todas as novas mães sentem um amor intenso e imediato pelo filho. Nestes casos, os laços afetivos vão-se fortalecendo ao longo do tempo. Os laços afetivos maternos são uma experiência que se vai desenvolvendo gradualmente e que pode demorar dias, semanas ou meses para se desenvolver.[3]

O apoio do pai e a relação estreita com a mãe desempenham um papel significativo no bem-estar da gravidez, na saúde do feto, na paternidade, no ajustamento do casal e no desenvolvimento da criança. Apesar disso, o pai é frequentemente marginalizado da saúde reprodutiva e só muito recentemente é que o seu papel tem sido valorizado durante a gravidez e parto. O envolvimento paterno pode ter uma influência positiva durante a gravidez, podendo ser uma fonte de apoio. Os pais presentes. Em termos biológicos, os pais atravessam diversas alterações relacionadas com a gravidez ao nível da prolactina, cortisol e testosterona, que contribuem para o sentimento de fazer parte da gravidez. A presença, envolvimento e responsabilidade do pai tem impacto no desenvolvimento da cognição e linguagem da criança. Hoje em dia, em alguns países, os futuros pais são encorajados a acompanhar a mãe nas consultas pré-natais e a estarem presentes no parto e são propostas medidas que eliminem barreiras ao envolvimento paterno durante a gravidez e nascimento.[4]

Gravidez indesejada[editar | editar código-fonte]

A gravidez indesejada pode ter várias causas, incluindo a não utilização, utilização incorreta ou falha nos métodos contracetivos.[5] Por sua vez, a não utilização ou utilização incorreta de contracetivos podem ser causadas por falta de conhecimento sobre saúde reprodutiva, incluindo crenças erradas, a falta de disponibilidade, a crença equivocada de que a mulher é infértil. A gravidez indesejada pode também ser o resultado de coerção e violência contra a mulher, incluindo violação e gravidez forçada, que muitas vezes ocorre no contexto de violência doméstica.[6]

Religião[editar | editar código-fonte]

Muitas religiões associam à gravidez um significado espiritual profundo enquanto realização do mais elementar propósito do matrimónio. Neste processo de santificação, a gravidez é muitas vezes descrita como uma "bênção de Deus", "milagrosa" ou "divina". A maior parte dos casais religiosos considera o casamento e a gravidez imbuídos de características sagradas.[7]

Infertilidade[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Infertilidade
As técnicas de reprodução medicamente assistida, como a inseminação artificial e a fertilização in vitro (imagem) ajudam os casais com problemas de fertilidade a engravidar.

Na mulher, infertilidade é a incapacidade de engravidar ou de prosseguir uma gravidez até ao termo. No homem, é a incapacidade de fecundar o óvulo. Existem várias causas para infertilidade, incluindo algumas que podem ser tratadas através de reprodução medicamente assistida.[8] Embora o intervalo de tempo para que se possa diagnosticar infertilidade possa variar entre países, a Organização Mundial de Saúde define infertilidade como a incapacidade de conceber uma gravidez clínica após doze ou mais meses de relações sexuais desprotegidas, sem que haja outros problemas de saúde.[9] A infertilidade pode ter várias causas: infecções sexualmente transmissíveis que afetam o aparelho reprodutor como a clamídia, gonorreia, sífilis ou Mycoplasma genitalium;[10][11] causas genéticas;[12] e ambientais, como os danos ao ADN provocados pelo stress oxidativo ou pelo tabagismo.[13]

Estima-se que um em cada sete casais tenha problemas de fertilidade.[14] A infertilidade pode ter consequências psicológicas e sociais, como o aumento da ansiedade e dificuldades matrimoniais entre o casal, depressão, estigma social e disfunções sexuais. No entanto, os progressos na reprodução medicamente assistida oferecem uma esperança para muitos casais, embora existam barreiras em termos económicos e de disponibilidade em muitos países.[15] O tratamento depende da causa de infertilidade, mas pode incluir aconselhamento profissional, medicação de fertilidade, cirurgia ou tratamentos de fertilidade, como a fertilização in vitro e a inseminação artificial. Os casais são geralmente aconselhados a procurar ajuda profissional ao fim de dois anos a tentar engravidar ou ao fim de um ano caso a mulher tenha mais de 30 anos de idade.[14]

Gravidez na adolescência[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Gravidez na adolescência

Embora as adolescentes grávidas enfrentem os mesmos desafios do que as restantes mulheres, existem riscos médicos acrescidos para as grávidas com idade inferior a 15 anos[16] e riscos associados a fatores socioeconómicos para as mães entre os 15 e 19 anos de idade.[17] Em países desenvolvidos, a gravidez na adolescência está muitas vezes associada a problemas sociais, incluindo menor nível de educação e maior pobreza, e ocorre geralmente fora do casamento, o que pode constituir um estigma social em muitas comunidades e culturas.[18] A gravidez na adolescência é prevenida com educação sexual abrangente e acesso a métodos contracetivos. A educação sexual baseada apenas na abstinência sexual não aparenta ser eficaz.[19][20]

Aborto[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Aborto

Aborto é a interrupção voluntária da gravidez através da remoção do feto ou do embrião do útero antes do momento de viabilidade fetal, ou do momento em que é capaz de sobreviver fora do útero. O aborto pode ocorrer de forma involuntária e espontânea, sendo denominado aborto espontâneo ou interrupção involuntária da gravidez, ou pode ser induzido, sendo nesse caso denominado aborto induzido ou interrupção voluntária da gravidez. O uso do termo "aborto" geralmente refere-se a este último caso.[21] Os métodos modernos recorrem a medicamentos abortivos ou cirurgia para induzir o aborto. Durante o primeiro trimestre, é comum a utilização de mifepristona e prostaglandina.[22] Embora durante o segundo semestre os medicamentos sejam igualmente eficazes,[23] a cirurgia apresenta menor risco de efeitos adversos.[24] Uma vez realizado um aborto, os métodos contracetivos podem ser retomados de imediato.[24] Quando permitido pela legislação, o aborto em países desenvolvidos é uma das intervenções médicas mais seguras que existem.[25][26] Um aborto sem complicações não causa qualquer problema mental ou físico a longo prazo.[27]

A Organização Mundial de Saúde recomenda que todas as mulheres tenham acesso a abortos legais e seguros.[28] Todos os anos, os abortos feitos de forma insegura causam a morte a mais de 47 000 grávidas e são responsáveis por 5 milhões de entradas no hospital.[27][29] No entanto, as perspetivas legais, culturais ou religiosas sobre o aborto são diferentes em todo o mundo. Enquanto em alguns países o aborto é legal, em outros é legal apenas em casos especiais como violação, malformações do feto, pobreza, risco para a saúde da mãe ou incesto.[30] Existe um debate contínuo sobre os problemas morais, éticos e legais do aborto. As pessoas que se opõem ao aborto alegam que um embrião ou um feto é um ser humano com direito à vida.[31] Por outro lado, os apoiantes mencionam os direitos humanos e o direito à mulher tomar as decisões sobre o seu próprio corpo.[32][28]

Direitos[editar | editar código-fonte]

A discriminação laboral na gravidez e na maternidade é uma situação frequente em vários locais no mundo. Entre algumas formas de descriminação estão a decisão de não contratar uma grávida apesar de ser a pessoa mais qualificada para determinado posto de trabalho, a decisão de não renovar um contrato por razões relacionadas com a gravidez ou perder o direito a bónus do emprego devido a complicações da gravidez ou à licença de maternidade. Também é comum algumas seguradoras terem um período de carência relativamente grande em situações de gravidez. Nos últimos vinte anos tem vindo a ser aprovada, principalmente na União Europeia, legislação e iniciativas de combate à descriminação da gravidez.[33] A licença parental é um direito no emprego existente em praticamente todos os países. A convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres determina que, após o parto, todas as mulheres têm direito a uma licença remunerada sem o risco de perder o posto de trabalho, a antiguidade no emprego ou prestações sociais.[34] A Convenção da Proteção da Maternidade, adotada em 2000 pela Organização Internacional do Trabalho, determina uma duração mínima de 14 semanas para a licença de maternidade.[35][36] A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia determina que a licença parental remunerada e a proteção do posto de trabalho a seguir à maternidade são direitos humanos.[33]

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