Camaiurás: diferenças entre revisões

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{{minidesambig|pela língua da família lingüística tupi-guarani, falada pelos Camaiurás|Língua camaiurá}}
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Os [[Camaiurás]] ( também grafados como '''Kamaiurás''' ou, de forma menos intensa, '''Kamayurás''' )<ref>{{Citar web|url = http://www.sil.org/americas/brasil/LangPage/PortKMPg.htm| titulo =Kamayurá|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref> constituem uma etnia indígena [[brasil]]eira. Habitantes do [[Parque Indígena do Xingu]]<ref> {{cite web| title= Xingu - Villas Bôas| url=http://www.estadao.com.br/villasboas/parque.htm| date=[[27 de julho]] de [[2000]]}}</ref>, mais precisamente na zona de confluência entre os rios [[Rio Kulene|Kulele]] e [[Rio Xingu|Xingu]], os camaiurás possuem uma [[cultura]] bastante aberta, o que facilita o processo de [[matrimônio]] intertribal e torna tal fenômeno bastante comum entre os indígenas desta [[etnia]]<ref>{{Citar web|url = http://www.klickeducacao.com.br/2006/enciclo/encicloverb/0,5977,IGP-5003,00.html| titulo =Klickeducação|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. Moram em [[oca]]s comunitárias, dispostas ao redor de um praça para onde convergem os caminhos <ref>{{Citar web|url = http://www.fclar.unesp.br/soc/revista/artigos_pdf_res/10/01-junqueir.pdf| titulo = Doenças Espirituais|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. Falam uma língua [[Tupi-guarani]] hononíma, unanimimente utilizada na comunicação diária, sendo poucos os que conseguem se expressar também em [[português]].
Os [[Camaiurás]] ( também grafados como '''Kamaiurás''' ou, de forma menos intensa, '''Kamayurás''' )<ref>{{Citar web|url = http://www.sil.org/americas/brasil/LangPage/PortKMPg.htm| titulo =Kamayurá|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref> constituem uma etnia indígena [[brasil]]eira. Habitantes do [[Parque Indígena do Xingu]]<ref> {{cite web| title= Xingu - Villas Bôas| url=http://www.estadao.com.br/villasboas/parque.htm| date=[[27 de julho]] de [[2000]]}}</ref>, mais precisamente na zona de confluência entre os rios [[Rio Kulene|Kulene]] e [[Rio Xingu|Xingu]] <ref>{{Citar web|url = http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kalapalo/print| titulo =Kalapalo|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>, os camaiurás possuem uma [[cultura]] bastante aberta, o que facilita o processo de [[matrimônio]] intertribal e torna tal fenômeno bastante comum entre os indígenas desta [[etnia]]<ref>{{Citar web|url = http://www.klickeducacao.com.br/2006/enciclo/encicloverb/0,5977,IGP-5003,00.html| titulo =Klickeducação|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. Moram em [[oca]]s comunitárias, dispostas ao redor de um praça para onde convergem os caminhos <ref>{{Citar web|url = http://www.fclar.unesp.br/soc/revista/artigos_pdf_res/10/01-junqueir.pdf| titulo = Doenças Espirituais|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. Falam uma língua [[Tupi-guarani]] hononíma, unanimimente utilizada na comunicação diária, sendo poucos os que conseguem se expressar também em [[português]].


== Língua ==
== Língua ==
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Um sistema [[ritual]] e [[religião|religioso]] semelhante é praticado pela grande maioria dos [[indígenas]] da região do alto - Xingu. [[Festival|Festivais]] inter-tribos são bastante comuns,e, de freqüência esporádica, servem como meio de integração e aprofundamento dos laços de solidariedde entre grupos Xinguanos distintos. Tais celebrações se devem, em parte, pela grande proximidade cultural entre estes povos, e são mais expressivamente representados pelo [[Quarup]] e o Moitará.
Um sistema [[ritual]] e [[religião|religioso]] semelhante é praticado pela grande maioria dos [[indígenas]] da região do alto - Xingu. [[Festival|Festivais]] inter-tribos são bastante comuns,e, de freqüência esporádica, servem como meio de integração e aprofundamento dos laços de solidariedde entre grupos Xinguanos distintos. Tais celebrações se devem, em parte, pela grande proximidade cultural entre estes povos, e são mais expressivamente representados pelo [[Quarup]] e o Moitará.


O [[Quarup]] é um [[ritual]] de homenagem aos mortos ilustres, centrado na figura de Mawutzinin, o demiurgo e primeiro [[homem]] do mundo da sua mitologia. [[Quarup]] também é o nome de uma madeira de lei, venerado pelos '''caimaiurás''' como árvore sagrada.
O [[Quarup]] é um [[ritual]] de homenagem aos mortos ilustres, centrado na figura de Mawutzinin, o demiurgo e primeiro [[homem]] do mundo da sua mitologia. [[Quarup]] também é o nome de uma madeira de lei, venerado pelos '''caimaiurás''' como árvore sagrada <ref>{{Citar web|url = http://www.terrabrasileira.net/indigena/povos/cotidiano.html| titulo =Parintins|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>.


Tipicamente, o [[ritual]] inicia com a chegada de grupos de [[índios]] de outras [[aldeia]]s, que ocorre em meio a muitas [[dança]]s <ref>{{Citar web|url = http://www.jangadabrasil.com.br/revista/novembro72/fe72011b.asp| titulo = Festança|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. Logo após, um grupo pré-estabelecido de índigenas vão à [[floresta]] e cortam um [[tronco]] de Quarup, o qual fincam frente à certa estrutura religiosa conhecida por '''casa das flautas'''. A seguir o tronco recebe decoração e pintura festiva, acompanhada de cantoria que elogia o aspecto formoso do [[chefe]] homenageado.
Tipicamente, o [[ritual]] inicia com a chegada de grupos de [[índios]] de outras [[aldeia]]s, que ocorre em meio a muitas [[dança]]s <ref>{{Citar web|url = http://www.jangadabrasil.com.br/revista/novembro72/fe72011b.asp| titulo = Festança|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. Logo após, um grupo pré-estabelecido de índigenas vão à [[floresta]] e cortam um [[tronco]] de Quarup, o qual fincam frente à certa estrutura religiosa conhecida por '''casa das flautas'''. A seguir o tronco recebe decoração e pintura festiva, acompanhada de cantoria que elogia o aspecto formoso do [[chefe]] homenageado <ref>{{Citar web|url = http://www.sitecurupira.com.br/indios/kuarup.htm| titulo = Site Curupira|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>.


À [[noite]] acontece o momento de ressurreição simbólica do ente homenageado, sendo um momento de comoção coletiva. As carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos. Aos primeiros raios do [[sol]] do dia seguinte, o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens, conhecidas por ''huka-huka''.
À [[noite]] acontece o momento de ressurreição simbólica do ente homenageado, sendo um momento de comoção coletiva. As carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos <ref>{{Citar web|url = http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1293/kuarup| titulo =Kuarup III|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. Aos primeiros raios do [[sol]] do dia seguinte, o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens, conhecidas por ''huka-huka''.


A luta ritual, o ''huka-huka'', possui simbolismo competitivo, onde a [[força]] e [[virilidade]] dos jovens é testado. A [[arte marcial]] está inserida num amplo contexto de competições realizadas em virtude do ''Quarup''. Também representada neste universo de celebrações, está o ''moitará'' ou a ''festa das trocas''.
A luta ritual, o ''huka-huka'', possui simbolismo competitivo, onde a [[força]] e [[virilidade]] dos jovens é testado <ref>{{Citar web|url = http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1293/kuarup| titulo =Huka-Huka - Jogos e Competições|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. A [[arte marcial]] está inserida num amplo contexto de competições realizadas em virtude do ''Quarup''. Também representada neste universo de celebrações, está o ''moitará'' ou a ''festa das trocas''.


Muitos dos bens trocados no moitará são referentes às especializações de cada etnia. Nesse sistema, a produção de [[arco]]s era atribuída aos Kamaiurá, exímios em sua fabricação. Mas a introdução de armas de [[fogo]] na área afetou bastante a utilidade de tal ferramenta.
Muitos dos bens trocados no moitará são referentes às especializações de cada etnia. Nesse sistema, a produção de [[arco]]s era atribuída aos Kamaiurá, exímios em sua fabricação. Mas a introdução de armas de [[fogo]] na área afetou bastante a utilidade de tal ferramenta.
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A cultura '''caiamurá''' é bastante complexa, e assemelha-se, em muitos aspectos, à outras [[índios|culturas]] do alto-Xingu e demais integrantes da família [[tupi-guarani]]. As tradições ancestrais regem a vida de todo integrante da [[etnia]], existindo rituais específicos pra cada fase da vida.
A cultura '''caiamurá''' é bastante complexa, e assemelha-se, em muitos aspectos, à outras [[índios|culturas]] do alto-Xingu e demais integrantes da família [[tupi-guarani]]. As tradições ancestrais regem a vida de todo integrante da [[etnia]], existindo rituais específicos pra cada fase da vida.


A formação camaiurá exige um perído de clausura iniciado com a [[puberdade]]. Durante este tempo, os jovens [[indígenas]] são submetidos ensinamentos sistemáticos, onde são instruídos acerca da realização de tarefas específicas à seu [[sexo]]. O período de reclusão é igualmente [[sexo|sexuado]]: enquanto não passa de um [[ano]] no caso das garotas, para os [[Juventude|jovens]] camaiurás pode se prolongar por até cinco anos, dependendo do ''status'' social que o [[adolescência|adolescente]] possua. Ao completar o tempo pré-estabelecido, é dado um [[nome]] definitivo ao aldeão, que substitui o nome infantil que recebeu em virtude de seu nascimento.
A formação camaiurá exige um perído de clausura iniciado com a [[puberdade]]. Durante este tempo, os jovens [[indígenas]] são submetidos ensinamentos sistemáticos, onde são instruídos acerca da realização de tarefas específicas à seu [[sexo]]<ref>{{Citar web|url = http://www.funai.gov.br/projetos/Plano_editorial/Pdf/REP1-1/7-Din%E2mica%20cultural%20-%20Carmen%20Junqueira.pdf| titulo =Dinâmica cultural|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. O período de reclusão é igualmente [[sexo|sexuado]]: enquanto não passa de um [[ano]] no caso das garotas, para os [[Juventude|jovens]] camaiurás pode se prolongar por até cinco anos, dependendo do ''status'' social que o [[adolescência|adolescente]] possua. Ao completar o tempo pré-estabelecido, é dado um [[nome]] definitivo ao aldeão, que substitui o nome infantil que recebeu em virtude de seu nascimento <ref>{{Citar web|url = http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1664522-4005-0-0-09122007,00.html| titulo = NOTÍCIAS - O ritual das meninas da tribro dos Kamaiurás|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>.


Outra prática cultural camaiurá importante é o [[infanticídio]]. Tal pena é aplicada em diversos casos, e traz consigo grande polêmica. Filhos de [[mãe]] solteira, possuidores de má-formação congênita e [[gêmeos]], são os principais alvos deste [[ritual]], que, embora seja bastante irraizado no contexto de tradições, gera divergências entre os próprios membros da aldeia.
Outra prática cultural camaiurá importante é o [[infanticídio]]. Tal pena é aplicada em diversos casos, e traz consigo grande polêmica. Filhos de [[mãe]] solteira, possuidores de má-formação congênita e [[gêmeos]], são os principais alvos deste [[ritual]], que, embora seja bastante irraizado no contexto de tradições, gera divergências entre os próprios membros da aldeia <ref>{{Citar web|url = http://www.direito2.com.br/acam/2007/set/3/infanticidio-em-terra-indigena-sera-debatido-em-audiencia| titulo =Infanticídio en terras indígenas será debatido|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>.


=== Jogos e atividades lúdicas ===
=== Jogos e atividades lúdicas ===
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A alimentação tradicional dos '''Camaiurás''' está intrissecamente relacionada aos preceitos [[religião|religiosos]], especialmente no que diz respeito ao consumo proteico. Segundo a crença, a ingestão de um [[animal]] de '''mamaé''' maligno, traria infortúnios e males mortais a quem come.
A alimentação tradicional dos '''Camaiurás''' está intrissecamente relacionada aos preceitos [[religião|religiosos]], especialmente no que diz respeito ao consumo proteico. Segundo a crença, a ingestão de um [[animal]] de '''mamaé''' maligno, traria infortúnios e males mortais a quem come.


Basicamente, alimentam-se de mandioca sob a forma de [[beiju]] ou [[mingau]], além de consumi-la, também, cozida e temperada com pimenta. Consomem, ainda, vários tipos de tubérculos como a [[batata doce]] e a [[taioba]], além de frutas nativas da região. Os [[peixe]]s são a principal fonte de [[proteína]]s, e podem, esporadicamente, serem substituídos por certos tipos de [[ave]]s. O consumo de mamíferos é bastante restrito, apesar de serem consumidas algumas espécies de [[inseto]]s e larvas de besouro. O [[mel]] é batante apreciado, embora a sua dificuldade de obtenção o faça uma mercadoria rara.
Basicamente, alimentam-se de mandioca sob a forma de [[beiju]] ou [[mingau]], além de consumi-la, também, cozida e temperada com pimenta. Consomem, ainda, vários tipos de tubérculos como a [[batata doce]] e a [[taioba]], grãos diversos e alguns [[colmo]]s, além de frutas nativas da região. Os [[peixe]]s são a principal fonte de [[proteína]]s, e podem, esporadicamente, serem substituídos por certos tipos de [[ave]]s <ref>{{Citar web|url = http://www.semira.go.gov.br/index.php?idMateria=41156| titulo =SEMIRA - Portal da Mulher|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>. O consumo de mamíferos é bastante restrito, apesar de serem consumidas algumas espécies de [[inseto]]s e larvas de besouro. O [[mel]] é batante apreciado, embora a sua dificuldade de obtenção o faça uma mercadoria rara.<ref>{{Citar web|url = http://www.terrabrasileira.net/indigena/povos/cotidiano.html| titulo =Cotidiano no Xingu|acessodata=[[1 de Dezembro]] de 2008}}</ref>


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Revisão das 16h21min de 1 de dezembro de 2008

Índios Camaiurá tocando flauta
 Nota: Se procura pela língua da família lingüística tupi-guarani, falada pelos Camaiurás, veja Língua camaiurá.

Os Camaiurás ( também grafados como Kamaiurás ou, de forma menos intensa, Kamayurás )[1] constituem uma etnia indígena brasileira. Habitantes do Parque Indígena do Xingu[2], mais precisamente na zona de confluência entre os rios Kulene e Xingu [3], os camaiurás possuem uma cultura bastante aberta, o que facilita o processo de matrimônio intertribal e torna tal fenômeno bastante comum entre os indígenas desta etnia[4]. Moram em ocas comunitárias, dispostas ao redor de um praça para onde convergem os caminhos [5]. Falam uma língua Tupi-guarani hononíma, unanimimente utilizada na comunicação diária, sendo poucos os que conseguem se expressar também em português.

Língua

A língua original dos Camaiurás, o Camaiurá, faz parte da família lingüística tupi-guarani, apresentando grandes similaridades com o Guarani, o Nheengatu e a Língua Tupi. Seu sistema sistema vocálico, é bastante rico e diverso, apresentando seis vogais orais e correspondentes nasais. Os fonemas vocálicos descrevem-se a partir dos traços de nasalidade, posição, altura e arredondamento. A fonologia consonantal do idioma, pode ser percebido na tabela abaixo.

Fonemas consonantais do Camaiurá[1]
Bilabial Dental Alveloar Palatal Velar Glotal
Oclusiva p t k ʔ
Africada c
Fricativa w y h
Nasal m n ŋ
Flape r

O idioma, bastante caracterizado pela nazalização freqüente, pelo uso de consoantes não-sonoras e formação de palavras polissilábicas, é predominantemente aglutinante, e, embora tenha uma origem ágrafa, um sistema de escrita semelhante ao português foi desenvolvido, possibilitando o registro escrito do Camaiurá.

Sociedade

A sociedade camaiurá é organizada em estamentos patriarcais e, em geral, hereditários, com certa flexibilidade entre as classes. O chefe da aldeia, representa o status máximo atingível, e serve aos papéis de mediador e regulador de conflitos. Habitam em ocas familiares, geralmente centradas em torno de um grupo de irmãos que pode ou não estar acompanhado por primos e ascendentes paralelos. O líder do espaço doméstico, conhecido como dono da casa (camaiurá: morerekwat), é o encarregado da distribuição dos afazeres cotidianos entre os clãs periféricos. A poligamia é bastante comum e aceita, uma vez que um números elevados de esposas indica, também, um elevado status social.

Tradicionalmente, os jovens recém-casados devem residir por um período pré-estabelecido de tempo junto aos sogros, realizando favores em agradecimento à cessão da filha. Cumprido o acordo, o casal pode escolher em qual residência se estabelecer, que em geral é a casa de origem do marido.

Religião

“Criação do mundo segundo a cosmologia Camaiurá:
Podemos saber como a humanidade foi criada, nos
reportando à mitologia, que é o conjunto de narrativas que sintetiza de modo exemplar os principais marcos da tradição indígena. Segundo consta, há muito tempo atrás, o mundo era bastante parecido com o que é hoje, com a mata, as águas, os bichos, as aves, os peixes e outras inúmeras formas de vida, exceto a humana. Mavutsinin, o primeiro, que tem a mesma idade do universo e se criou a si próprio, enamorou-se de uma concha e com ela teve um filho [...}

Nessa época, o relacionamento entre os seres era estreito. Casavam-se, selavam amizade e aliança ou entravam em conflito e brigas. O próprio filho de Mavutsinin, que trazia o mesmo nome do pai, depois de ameaças e atritos com a onça, tornou-se seu sogro, dando a ela suas duas filhas em casamento. Dessa importante união nasceram os dois meninos gêmeos: Sol (Kwat) e lua (lay). ”

Carmen Junqueira in: Os índios de Ipavu

Toda a cosmologia camaiurá centra-se ao redor de Mavutsinin, o demiurgo e primeiro homem do mundo da sua mitologia [6]. Este teria sido o responsável pela introdução da festa do Quarup, do uso dos arcos, do consumo de peixes, beijus e de uma lista infindável de bens entre os quais batata-doce e grilos. Mavutsinin, apesar de divino, não exigiria nenhum tipo de adoração, uma vez que sua memória seria perpertuada através do Quarup e festas diversas de outras etnias Xinguanas.

Os Camaiurás acreditam na existência de um tipo específico de energia espiritual conhecida como mamaé [7]. O Mamaé, presente em animais de diversas naturezas, seria o responsável majoritário de uma série de malefícios ou fortúnios, distintos de acordo com a espécie do ser [8]. Um pequeno beija-flor nativo da região xinguana, por exemplo, é constantemente associado à doenças terríveis, enquanto que vários tipos de peixes trariam, de modo oposto, poder curativo.

Tradicionalmente oral, a continuidade da tradição religiosa é resguardada os mais velhos, uma vez que estes são os principais detentores dos contos rituais e cosmológicos da cultura Camaiurá. Dentre os relatos míticos, a criação do mundo e da organização social da etnia, possuem os maiores valores rituais, e são imprecindíveis para a manutenção do estilo de vida original do povo Camaiurá.

Rituais festivos

Um sistema ritual e religioso semelhante é praticado pela grande maioria dos indígenas da região do alto - Xingu. Festivais inter-tribos são bastante comuns,e, de freqüência esporádica, servem como meio de integração e aprofundamento dos laços de solidariedde entre grupos Xinguanos distintos. Tais celebrações se devem, em parte, pela grande proximidade cultural entre estes povos, e são mais expressivamente representados pelo Quarup e o Moitará.

O Quarup é um ritual de homenagem aos mortos ilustres, centrado na figura de Mawutzinin, o demiurgo e primeiro homem do mundo da sua mitologia. Quarup também é o nome de uma madeira de lei, venerado pelos caimaiurás como árvore sagrada [9].

Tipicamente, o ritual inicia com a chegada de grupos de índios de outras aldeias, que ocorre em meio a muitas danças [10]. Logo após, um grupo pré-estabelecido de índigenas vão à floresta e cortam um tronco de Quarup, o qual fincam frente à certa estrutura religiosa conhecida por casa das flautas. A seguir o tronco recebe decoração e pintura festiva, acompanhada de cantoria que elogia o aspecto formoso do chefe homenageado [11].

À noite acontece o momento de ressurreição simbólica do ente homenageado, sendo um momento de comoção coletiva. As carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos [12]. Aos primeiros raios do sol do dia seguinte, o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens, conhecidas por huka-huka.

A luta ritual, o huka-huka, possui simbolismo competitivo, onde a força e virilidade dos jovens é testado [13]. A arte marcial está inserida num amplo contexto de competições realizadas em virtude do Quarup. Também representada neste universo de celebrações, está o moitará ou a festa das trocas.

Muitos dos bens trocados no moitará são referentes às especializações de cada etnia. Nesse sistema, a produção de arcos era atribuída aos Kamaiurá, exímios em sua fabricação. Mas a introdução de armas de fogo na área afetou bastante a utilidade de tal ferramenta.

Cultura

A cultura caiamurá é bastante complexa, e assemelha-se, em muitos aspectos, à outras culturas do alto-Xingu e demais integrantes da família tupi-guarani. As tradições ancestrais regem a vida de todo integrante da etnia, existindo rituais específicos pra cada fase da vida.

A formação camaiurá exige um perído de clausura iniciado com a puberdade. Durante este tempo, os jovens indígenas são submetidos ensinamentos sistemáticos, onde são instruídos acerca da realização de tarefas específicas à seu sexo[14]. O período de reclusão é igualmente sexuado: enquanto não passa de um ano no caso das garotas, para os jovens camaiurás pode se prolongar por até cinco anos, dependendo do status social que o adolescente possua. Ao completar o tempo pré-estabelecido, é dado um nome definitivo ao aldeão, que substitui o nome infantil que recebeu em virtude de seu nascimento [15].

Outra prática cultural camaiurá importante é o infanticídio. Tal pena é aplicada em diversos casos, e traz consigo grande polêmica. Filhos de mãe solteira, possuidores de má-formação congênita e gêmeos, são os principais alvos deste ritual, que, embora seja bastante irraizado no contexto de tradições, gera divergências entre os próprios membros da aldeia [16].

Jogos e atividades lúdicas

A cultura Kamaiurá, semelhantemente a dos Bororos [2], é bastante lúdica, sendo os jogos de cunho não-ritual, parte importante da vida diária dos membros da etnia. Tais atividades, geralmente praticadas pelos homens e crianças da aldeia, exibem níveis diversos de organização formal, podendo ser apresentadas tanto sob a forma de brincadeiras espontâneas e de semi-improviso quanto em ritos pomposos, de grande rigor tradicional.

No ano de 2004, um grupo de antropólogos em parceria como a Bosh, realizou um grande levantamento das atividades lúdicas presentes em várias etnias indígenas do Brasil, dentre as quais, os Camaiurás. A grande profusão de jogos encontráveis no sistema cultural da etnia, pode ser expressa pela listagem realizada em virtude da pesquisa de campo realizada no projeto, onde pode-se destacar:

  • Mojarutap Myrytsiowit [3][4]: O Jogo da cama de gato, como é conhecida em português, consiste na produção de figuras diversas utilizando-se, apenas, de dois cordões fibrosos enrolados entre os dedos.
  • Jawari [5]: Usando uma espécie de zarabatana, especialmente produzida para este fim, um grupo de competidores lançam artefatos pontudos em direção de uma cerca de varas previamente organizadas. Detrás da cerca, enfileram-se os demais brincantes, de forma que esta funcione como escudo contra as lanças arremeçadas pelos competidores. A medida que as lanças atigem os paus que formam muro vacilante, os índios originalmente atrás desta, devem desviar-se das setas, sem, contudo, moverem os pés.

Dieta

A alimentação tradicional dos Camaiurás está intrissecamente relacionada aos preceitos religiosos, especialmente no que diz respeito ao consumo proteico. Segundo a crença, a ingestão de um animal de mamaé maligno, traria infortúnios e males mortais a quem come.

Basicamente, alimentam-se de mandioca sob a forma de beiju ou mingau, além de consumi-la, também, cozida e temperada com pimenta. Consomem, ainda, vários tipos de tubérculos como a batata doce e a taioba, grãos diversos e alguns colmos, além de frutas nativas da região. Os peixes são a principal fonte de proteínas, e podem, esporadicamente, serem substituídos por certos tipos de aves [17]. O consumo de mamíferos é bastante restrito, apesar de serem consumidas algumas espécies de insetos e larvas de besouro. O mel é batante apreciado, embora a sua dificuldade de obtenção o faça uma mercadoria rara.[18]

Referências

  1. «Kamayurá». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  2. «Xingu - Villas Bôas». 27 de julho de 2000 
  3. «Kalapalo». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  4. «Klickeducação». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  5. «Doenças Espirituais» (PDF). Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  6. «Jangada Brasil». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  7. «Kwarup - Parte IV». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  8. «Estudos Avançados - Pajés e feiticeiros». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  9. «Parintins». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  10. «Festança». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  11. «Site Curupira». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  12. «Kuarup III». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  13. «Huka-Huka - Jogos e Competições». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  14. «Dinâmica cultural» (PDF). Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  15. «NOTÍCIAS - O ritual das meninas da tribro dos Kamaiurás». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  16. «Infanticídio en terras indígenas será debatido». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  17. «SEMIRA - Portal da Mulher». Consultado em 1 de Dezembro de 2008 
  18. «Cotidiano no Xingu». Consultado em 1 de Dezembro de 2008