Automedicação

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Medicamentos

A automedicação é a prática de ingerir medicamentos sem o aconselhamento ou acompanhamento de um profissional de saúde qualificado. Em outras palavras, é a ingestão de medicamentos por conta e risco por um indivíduo.[1] É um procedimento realizado pelo o próprio indivíduo ou por seu responsável, com o propósito de obter benefícios no tratamento da doença ou alívio de sintomas[2]

Cultura da automedicação[editar | editar código-fonte]

A cultura da automedicação, somada a engenhosidade do marketing, expõem inúmeras pessoas ao perigo. Pesquisa feita pelo Ministério da Saúde em novembro de 2008 relata que apenas 30% dos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva conseguiram absorver os princípios ativos que necessitavam.[3]

Em 2004, o Brasil era o primeiro país do mundo na venda de medicamentos. A abertura comercial, devido o Plano Real proporcionou ao país importações de vitaminas, sais minerais e complementos alimentares.[4]

Os medicamentos são comprados por indicações de amigos, matérias de jornais, revista, Internet ou indicação do balconista. O culto à beleza impulsionou as vendas de medicamentos para emagrecer e vitaminas. A onda das psicoses, fez a classe média consumir antidepressivos sem recomendação médica.[4] Antitérmicos, Anti-inflamatório e analgésicos são os medicamentos mais utilizados, sem qualquer tipo de orientação.[2]

Em um estudo sobre os principais fatores que levam as pessoas a se automedicar, foi constatado que um dos mais comuns é achar que o ato será isento de consequências, resultando em grande risco à própria saúde. Destaca-se a relevância das propagandas publicitárias na influência do consumo de medicamentos, sendo a classe terapêutica mais utilizada no grupo pesquisado a de: analgésicos, antitérmicos,  anti-inflamatórios, vitaminas e antiespasmódicos.[5] O que sugere um reflexo do termo “medicalização da vida”, que é decorrente de uma percepção cultural, em que há crença na existência de solução rápida dos problemas enfrentados no dia a dia, sejam eles físicos ou psicológicos, como o exemplo de uma “bala mágica”.[6]

Automedicação como problema de saúde pública[editar | editar código-fonte]

Fatores econômicos, políticos e culturais contribuíram para o crescimento e disseminação mundial da automedicação. Destaca-se a falta de informação, uso de propagandas e a maior acessibilidade de consumo de tais produtos. Como efeitos propulsores do problema relacionado aos fatores econômicos globais, o pensamento de lucratividade na saúde e a construção da “familiarização” do uso do medicamento pela população.[2]

No Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (ABIFARMA), existem aproximadamente 80 milhões de pessoas que se automedicam.[7] Ademais, de acordo com uma pesquisa científica realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) se automedicar é um hábito diário comum a 77% dos brasileiros, sendo que quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e 25% faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana. [8]

Dentre as causas da automedicação enquanto problema de saúde pública, pode ser citado o uso incorreto das substâncias medicamentosas. Entre as consequências do uso exacerbado de medicamentos,  destaca-se: a perturbação do sistema imune que  facilita as intoxicações, hipersensibilidade, resistência de organismos nocivos, insuficiência renal, produção de efeitos secundários, riscos inaceitáveis na visão terapêutica e mascaramento ou impedimento da identificação correta ao diagnóstico. [6][8] Sobre o uso indiscriminado de medicamentos, destacam-se os  antibióticos, que  podem acarretar em uma pressão seletiva não natural sobre as bactérias. Isso ocorre quando há eliminação das bactérias menos resistentes, conduzindo na possibilidade das bactérias que são mais resistentes de permanência e multiplicação.[9] [10] Como efeito, gera-se a resistência antimicrobiana que é uma ameaça na saúde global, por reduzir a eficácia de antibióticos no tratamento e prevenção de doenças. Além disso, estima-se que a morte por infecção de bactéria resistente irá ultrapassar doenças malignas na quantidade de morte até 2050 e podem custar US $ 100 trilhões para a economia global.[10] Por esse motivo, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em Outubro de 2010, modificou algumas regras para a aquisição de antibióticos, que passaram a ser vendidos em farmácias e drogarias apenas com retenção de receita médica.

Outro exemplo importante a se analisar é a utilização de propagandas para incentivar o consumo de remédios. Na pandemia da Covid-19, percebeu-se um favorecimento e facilitação do consumo descontrolado de medicamentos, e dentre as possíveis razões para o aumento do consumo, destacam-se: a avalanche de informações, desinformação, incertezas, a histeria coletiva e o ampliamento do medo pelos diversos meios de comunicação.[11] Dessa forma, percebe-se que uma “Infodemia” - termo relacionado ao compartilhamento excessivo de informações ainda não apuradas oficialmente , ocorreu em resposta a uma situação grave, como o sentimento de desestabilidade ocasionado na pandemia. Por esse motivo, gera-se a necessidade de resposta do indivíduo ao problema enfrentado. Assim, todos os fatores citados anteriormente poderiam explicar o comportamento da utilização e da combinação de medicamentos sem evidências científicas, como: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, ivermectina, nitazoxanida e suplementos alimentares, como: zinco, vitamina C e vitamina D.  [11]

Um grupo etário que possui vulnerabilidade de epidemia em relação a automedicação é a população idosa. Devido à baixa escolaridade, falta de informação sobre os perigos de se automedicar e o preço acessível de medicamentos que possuem eficácia no controle dos sintomas e dores. Em um estudo realizado em 2014 na cidade de Anápolis, destaca que nenhum estabelecimento farmacêutico informou a população idosa sobre os perigos da automedicação, podendo ser relacionado ao fato que os atendes eram pessoas treinadas a venderem medicamentos.[12] Tendo em vista que, o uso indiscriminado de medicamentos constitui um problema para a saúde dos idosos, sua ocorrência tem como cenário o aumento exponencial da prevalência de doenças crônicas e das sequelas advindas do avanço da idade. Aliado a isso, o poder da indústria farmacêutica e do marketing dos medicamentos na formação dos profissionais da saúde tem uma influência qualificada e não ética, na prescrição e utilização de forma exagerada de medicação para as pessoas dessa faixa etária. [12]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Automedicação, no http://www.portalfarmacia.com.br ; Acesso em 12 de Dez 2008
  2. a b c Loyola Filho, Antônio Ignácio de; Uchoa, Elizabeth; Guerra, Henrique L; Firmo, Josélia O A; Lima-Costa, Maria Fernanda (fevereiro de 2002). «Prevalência e fatores associados à automedicação: resultados do projeto Bambuí». Revista de Saúde Pública (1): 55–62. ISSN 0034-8910. doi:10.1590/s0034-89102002000100009. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  3. «Os perigos da automedicação». 18 de janeiro de 2009. Consultado em 18 de janeiro de 2009 
  4. a b «O Brasil se entope de remédios». Consultado em 18 de janeiro de 2009 
  5. Munhoz, Rodrigo F; Gatto, Adriano M; Fernandes, Ana Regina C (setembro de 2010). «Automedicação em profissionais das áreas de enfermagem e farmácia em ambiente hospitalar na cidade de São José do Rio Preto-SP». Arq. ciênc. saúde (3): 133–139. ISSN 1807-1325. Consultado em 26 de novembro de 2021 
  6. a b Silva, Gilberto Marcelo Sperandio; Almeida, Andreia da Cruz; Mello, Natalia Rezende de Santiago; Oliveira, Rafaela Neves; Oliveira, Thayenne Brito; Pereira, Vanessa da Nóbrega Moura; Pinheiro, Roberta Olmo. «ANÁLISE DA AUTOMEDICAÇÃO NO MUNICÍPIO DE VASSOURAS - RJ». Infarma: 59 -62 
  7. Arrais, Paulo Sérgio D; Coelho, Helena Lutéscia L; Batista, Maria do Carmo D. S; Carvalho, Marisa L; Righi, Roberto E; Arnau, Josep Maria (fevereiro de 1997). «Perfil da automedicação no Brasil». Revista de Saúde Pública (1): 71–77. ISSN 0034-8910. doi:10.1590/s0034-89101997000100010. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  8. a b «Automedicação é um habito comum a 77% dos brasileiros». G1. 13 de maio de 2019 
  9. «Uso de antibióticos». Biblioteca Virtual em Saúde MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dezembro 2009 
  10. a b Kotwani, Anita; Joshi, Jyoti; Lamkang, Anjana S.; Sharma, Ayushi; Kaloni, Deeksha (21 de março de 2021). «Knowledge and behavior of consumers towards the non-prescription purchase of antibiotics: An insight from a qualitative study from New Delhi, India». Pharmacy Practice (1). 2206 páginas. ISSN 1886-3655. doi:10.18549/pharmpract.2021.1.2206. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  11. a b Melo, José Romério Rabelo; Duarte, Elisabeth Carmen; Moraes, Marcelo Vogler de; Fleck, Karen; Arrais, Paulo Sérgio Dourado (2021). «Automedicação e uso indiscriminado de medicamentos durante a pandemia da COVID-19». Cadernos de Saúde Pública (4). ISSN 1678-4464. doi:10.1590/0102-311x00053221. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  12. a b Silva Lima, Rosa; Rocha Rodrigues, Maria Jéssica; Rodrigues da Silva, Thatiane; Novais, Celice; Naves, Plinio (20 de agosto de 2015). «Uso indiscriminado de diclofenaco de potássio pela população idosa na cidade de Anápolis, no estado de Goiás, Brasil em 2014.». Revista Colombiana de Ciencias Químico Farmacéuticas (2): 179–188. ISSN 1909-6356. doi:10.15446/rcciquifa.v44n2.56292. Consultado em 25 de outubro de 2021 
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