Cine-Theatro Central

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Cine-Theatro Central
Cine-Theatro Central
Vista da fachada Cine-Theatro Central.
Tipo
Estilo dominante Arquitetura eclética
Art Déco
Arquiteto Raphael Arcuri
Inauguração 30 de março de 1929 (95 anos)
Proprietário atual Universidade Federal de Juiz de Fora
Website
Geografia
País Brasil
Coordenadas 21° 45' 41" S 43° 20' 52" O

O Cine-Theatro Central[1] é um teatro localizado na cidade mineira de Juiz de Fora. Projetado pelo arquiteto Raphael Arcuri, no estilo arquitetônico eclético, possui fachada com referências ao art déco e ornamentação interna neoclássica com inspirações muralistas italianas de autoria do pintor Angelo Bigi. Inaugurado em 30 de março de 1929, é considerado um dos cartões postais da cidade, localizado na Praça João Pessoa - na principal rua comercial do município, a rua Halfeld.

Idealizado para atender aos desejos da elite juiz-forana por um espaço cultural grandioso, a proposta é de autoria da Companhia Central de Diversões, uma sociedade, formada em 1927, por Francisco Campos Valadares, Chimico Corrêa, Diogo Rocha e Gomes Nogueira [1]. A construção do Cine-Theatro Central foi, portanto, um marco para a cidade, que até o século XIX contava apenas com tablados improvisados ou casas com infraestrutura precária, onde se apresentavam grupos mambembes.

O edifício é considerado Patrimônio Cultural Brasileiro, tendo sido tombado em 1994 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) [2]. Em 1996, o teatro foi completamente restaurado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com projeto da Espaço-Tempo de Belo Horizonte. Além de sua importância arquitetônica, o teatro também possui notabilidade histórica, pois, entre os anos 1960 e 1970, foi palco do Festival de Música Popular Brasileira de Juiz de Fora e do Festival de Cinema Brasileiro, além de inúmeros shows, exibições e espetáculos históricos.

O Cine-Theatro Central, desde 1994, é um equipamento cultural pertencente à UFJF, que cuida de sua manutenção e de sua gestão desde então. Em 2006, com a criação da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT/UFJF), passou a ser administrada por esta.

História[editar | editar código-fonte]

Idealização, construção e inauguração[editar | editar código-fonte]

Havia há pouco terminado a Belle Époque, era de ouro em que, progredindo a passos largos e com um perfil industrial e cosmopolita tão inusitado para um município da Minas agrária e barroca, a cidade inspirara comparações desbragadas a poetas e intelectuais de passagem por suas plagas: era a Manchester Mineira, graças ao ritmo frenético de suas fábricas; a Atenas Mineira, em função de sua efervescência cultural e artística; e ainda a Barcelona Mineira, por seu comércio pujante. A proximidade com a capital do país – o Rio de Janeiro afrancesado do início do século XX – foi circunstância geográfica determinante para o espírito moderno, empreendedor e sofisticado de Juiz de Fora naquela época. Fazia parte do roteiro de programação chique da sociedade elegante frequentar os teatros para assistir a óperas, concertos e apresentações de companhias dramáticas. Idealizado pela elite desta sociedade e com sua beleza clássica, o Cine-Theatro Central foi a mais perfeita tradução da imagem em alta conta que os próprios juiz-foranos tinham de si mesmos.

O primeiro passo para a construção foi a fundação, pela sociedade formada por Francisco Campos Valadares, Chimico (Químico) Corrêa, Diogo Rocha e Gomes Nogueira, em junho de 1927, da Companhia Central de Diversões. Um ano antes, eles adquiriram o barracão de ferro e telhas de zinco do Polytheama, outro precário teatro da cidade, instalado no terreno entre a rua São João e a antiga rua da Califórnia, hoje Halfeld, e demolido para ceder lugar ao Central.

Coube à companhia construtora Pantaleone Arcuri, que já começara a mudar a face arquitetônica de Juiz de Fora, fazer o projeto do novo teatro. Assim, teve início a construção do Central, empreitada que tomaria um ano e quatro meses de obras.

Em sua inauguração, no dia 30 de março de 1929, o Cine-Theatro Central abriu suas portas com uma capacidade total de 2160 lugares. No evento inaugural figuras da alta sociedade local e autoridades como o presidente da província em pessoa, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, prestigiaram a solenidade que contou com apresentação de orquestra e a exibição do filme mudo, em oito atos, “Esposa Alheia”. A festa repercutiu além dos limites do município. O momento que entrou para a história da cidade foi devidamente registrado na Revista Central, uma edição comemorativa que saudou a suntuosidade, a “acústica formidável”, a segurança e o conforto finalmente colocados à disposição do exigente espectador juiz-forano.

Arquitetura e ornamentações[editar | editar código-fonte]

O projeto arquitetônico do prédio ficou por conta de Raphael (Raffaele) Arcuri, que não economizou na grandiosidade e o orçamento acabou ultrapassando as possibilidades financeiras da companhia idealizadora da proposta, obstáculo superado com uma medida providencial – a entrada do próprio patriarca dos Pantaleone Arcuri na sociedade. Não seria o edifício mais alto de Juiz de Fora, nem a primeira construção em concreto armado, mas, sem dúvida, foi um empreendimento ousado, em que se destaca o amplo vão sem pilastras da plateia, sustentado por uma estrutura metálica vinda da Inglaterra, que atemorizou os menos informados sobre essa solução arquitetônica arrojada – um “triunfo da técnica”, como viria a ser saudada.

O edifício de linhas sóbrias e retas, e fachada discreta, ganhou suntuosa ornamentação artística interna, assinada pelo pintor italiano Angelo Bigi, radicado no Brasil. Bigi pressentiu que aquela seria a sua grande obra. Legou ao Central uma decoração de sabor de antiguidade clássica, com cenas de ninfas e faunos em jardins românticos e paradisíacos, uma Arcádia mitológica que exala paz, harmonia e felicidade. Ao centro, medalhões com as efígies de grandes mestres da música: Wagner, Verdi, Beethoven e o brasileiro Carlos Gomes. O ponto de partida para a construção do Cine-Theatro foi a fundação da "Companhia Central de Diversões", em junho de 1927, pela sociedade formada por Chimico (Químico) Corrêa, Francisco Campos Valadares, Diogo Rocha e Gomes Nogueira. O local escolhido foi entre as ruas São João e Califórnia (hoje Halfeld), onde se situava o teatro Polytheama, demolido para ceder lugar ao Central.

Cinema[editar | editar código-fonte]

Saída de sessão de cinema no Central.

Foi com apresentação de orquestra e estreia do filme mudo “Esposa Alheia”, que o Cine-Theatro Central foi inaugurado em 30 de março de 1929. Durante as duas décadas seguintes, ir ao cinema era um programa elegante, para o qual homens e mulheres se vestiam com apuro. Os cavalheiros muniam-se de chapéu, acessório indispensável. As damas trajavam luvas e deixavam um rastro de perfume ao final da exibição. Não era difícil as sessões ocuparem todos os lugares da plateia.

A solenidade do momento era acentuada pela execução da opereta “Cavalleria Rusticana”, do italiano Pietro Mascagni, que se tornou o prefixo das sessões no Central. No início, era tocada ao vivo pela orquestra do Cine-Theatro, que, na época dos filmes mudos, recebia o público no foyer e depois acompanhava a sessão fazendo fundo sonoro para a fita. Havia a “soirée” feminina, exibições de filmes românticos, dramas e musicais com meia entrada para mulheres. E matinês aos domingos para as crianças.

Tombamento e restauro[editar | editar código-fonte]

Com o público de cinema caindo progressivamente, e, embora ainda fosse palco de apresentações de teatro e música, o Central passou por um período de abandono. A situação se agravou no início da década de 1980, época de plateia vazia apesar das sessões duplas do tipo filme bom/outro medíocre a preço de ingresso único. O juiz-forano não ficou indiferente à situação de seu grande espaço cultural e um movimento de revalorização do espaço teve início com o tombamento do prédio como bem do patrimônio cultural do município, em 1983. A administração municipal, porém, não tinha os recursos necessários para uma recuperação. A solução, depois de muitas negociações com a Companhia Franco-Brasileira, então proprietária do Central, foi a mobilização de lideranças locais no Governo Federal e a aquisição do imóvel pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), através de recursos do Ministério da Educação, em 1994. Nesse mesmo ano, o Central seria tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O resgate de um patrimônio como esse era algo complexo e demandava mão de obra especializada e recursos que só seriam reunidos com o empenho de muitas fontes. O caminho encontrado foi a inclusão do espaço cultural no Programa de Incentivo à Cultura, a Lei do Mecenato, o que possibilitou o apoio financeiro de grandes empresas ao projeto de restauração, beneficiando-se, em contrapartida, de incentivos fiscais. Não demorou para que toda a verba fosse captada e a reforma, orçada em aproximadamente R$ 2 milhões, tivesse início em janeiro de 1996. A recuperação ficou sob o encargo da empresa especializada Espaço-Tempo, de Belo Horizonte, vencedora da licitação realizada para contratar a restauração. Durante mais de oito meses, quatro restauradores profissionais coordenaram as células de trabalho de equipes formadas por professores de estudantes de artes, arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, que se equilibraram sobre uma plataforma de 500 metros quadrados para a tarefa de limpeza, fixação e restauração das pinturas de Angelo Bigi.

Sob nada menos do que sete camadas de tinta, os restauradores localizaram, no foyer do teatro, quatro figuras femininas que integravam a ornamentação artística original, de autoria de Bigi, mas há muito encobertas e, portanto, desconhecidas do público atual. A retirada de pinturas das paredes também revelou desenhos decorativos do artista italiano nas escadas, no balcão e na boca de cena.

Todo o trabalho, que foi acompanhado atentamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), incluiu obras de recuperação do prédio, com troca de telhado, reforma de instalações elétricas, de poltronas e camarotes, instalação de equipamentos e mecânica cênica, que colocaram a engrenagem do velho teatro em funcionamento outra vez. Em 14 de novembro de 1996, o Cine-Theatro foi oficialmente reinaugurado, com uma ocupação máxima de 1851 pessoas, capacidade essa que se reduziria após modificações estruturais impostas por novas regras do Corpo de Bombeiros. Atualmente, o espaço conta com 1751 poltronas divididas em: Plateia A (572), Plateia B (660), Balcão Nobre (269), Camarotes (120) e Galeria (130)[3] .

Festival de Música Popular de Juiz de Fora[editar | editar código-fonte]

Os concursos de canções inéditas e autorais ocorreram no país no contexto histórico da ditadura militar brasileira, entre os anos de 1965 e 1985, consolidados como a chamada “Era dos Festivais”, essencial para o impulsionamento e fortificação da música brasileira. As apresentações aconteciam no formato de competições – transmitidas para todo o Brasil pela TV – em que um corpo de jurados e o voto popular decidiam as pontuações e premiavam artistas, os quais visavam a oportunidade de lançar ou estimular suas carreiras artísticas.

Em Juiz de Fora, a primeira realização de um festival do gênero aconteceu em 1968, criado pela administração de Itamar Franco, idealizado pelo secretário Mauro Durante e coordenado pela secretaria de Educação e Cultura, que tinha à frente o professor Murílio Hingel. Desde então, artistas que viriam a se tornar influentes na MPB foram evidenciados nos concursos locais. O festival juiz-forano teve seis edições – cinco delas realizadas no Cine-Theatro Central e a última, em 1973, no ginásio do Sport. A de maior repercussão foi a concorrida quinta edição, em 1972, no Central, que revelou grandes composições e intérpretes, como Clara Nunes, Luiz Gonzaga Júnior (Gonzaguinha) e o compositor juiz-forano Luiz Armando Aguiar (Mamão).

Cumprindo papel fundamental em descobrir novos talentos e disponibilizar espaço para que artistas da região pudessem participar de fato do cenário cultural, o Central foi um dos palcos principais em que a geração de 1972 estreou, fazendo música de transição entre as tendências do pop internacional da época, do tropicalismo e da MPB. A cantora mineira Clara Nunes, por exemplo, foi ovacionada ao interpretar “Tristeza pé no chão”, composta por Mamão, que até hoje leva o título de compositor de uma das músicas mais consagradas da artista.

Dias atuais e projetos institucionais da UFJF[editar | editar código-fonte]

Apresentação do artista Guilherme Veroneze no projeto Palco Central.

Desde 2006, o Cine-Theatro Central é um dos equipamentos culturais vinculados à Pró-reitoria de Cultura da UFJF. Ao longo dos anos vêm sendo desenvolvidas ações como o Luz da Terra, voltado para a valorização de produtores locais, sendo que as propostas também visam a democratização do acesso ao espaço, com diferentes projetos, como o Palco Central , iniciativa que incentiva produções artísticas, valoriza as artes, incrementa atividades que aproximem a universidade da comunidade. Além disso, o projeto Visita Guiada oferece ao público a oportunidade de visitar o espaço e conhecer a história e a beleza arquitetônica e artística do local.

No equipamento cultural também são realizadas as cerimônias da colação de grau unificada da UFJF, além de outros eventos institucionais gratuitos como concertos da Orquestra Sinfônica Pró-Música - UFJF, Coral da UFJF, Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga e recitais de formatura do curso de música da Universidade.

Acervo do Cine-Theatro Central[editar | editar código-fonte]

O projeto “Acervo do Cine-Theatro Central”, selecionado no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Artística 2022/2023 (PIBIART-UFJF), desenvolve um trabalho de gestão, organização e catalogação das obras, imagens e documentos históricos do espaço cultural.

O layout desta página é o resultado de um trabalho do bolsista e criador do projeto Hugo Tardivo, sob orientação de Isabela Veiga e Luiz Cláudio Ribeiro, com participação da equipe do Central.

Visite os catálogos virtuais do Cine-Theatro Central:

Referências

  1. Como sinal de tradição, mantém-se a grafia original, cine-theatro ao invés de cineteatro, com hífen e "th", como em sua fachada.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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