Dungeon crawler
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| Jogos de RPG |
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Dungeon crawler é um tipo de cenário em jogos de fantasia do tipo RPG (em inglês: role-playing games; "jogo de interpretação de papéis" ou "jogo de representação") em que os heróis navegam por ambientes como cavernas, ou labirintos, denominados dungeons (em português: masmorras, ou calabouços)[a] — compostos por salas e corredores que as conectam, podendo haver também passagens secretas —, lutando contra vários monstros, evitando armadilhas, resolvendo quebra-cabeças e saqueando qualquer tesouro que encontrem.[3]
Os jogos eletrônicos e de tabuleiro que apresentam elementos predominantemente ligados à exploração de masmorras são considerados um gênero.[3][4][5]
Jogos de tabuleiro
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O jogo de RPG de mesa surgiu na década de 1970, como uma evolução dos jogos de guerra com miniaturas, tais como Chainmail. Inicialmente focados em batalhas militares estratégicas, tais jogos passaram a enfatizar o dungeon crawling, ou seja, aventuras em masmorras, em que os jogadores buscavam recompensas dentro do jogo. Os primeiros jogos desta natureza ainda mantinham elementos dos jogos com miniaturas, mesmo apresentados como algo novo e diferente.[6]
O conceito de dungeon crawling em jogos de tabuleiro remonta ao lançamento de Dungeon!, em 1975.[7] Primeiro de uma nova geração de jogos de tabuleiro, e o primeiro com a temática de exploração de masmorras, assemelhava-se aos jogos mais tradicionais, de rolar dados e mover peças, porém incorporando tanto os elementos de combate e a estratégia de KriegSpiel, quanto a narrativa e o desenvolvimento de personagens existente em Dungeons & Dragons.[8] Ao longo dos anos, muitos jogos se basearam nesse conceito.[7] Um dos jogos de tabuleiro mais aclamados do final da década de 2010, Gloomhaven, é um jogo de exploração de masmorras.[5][9]
Jogos eletrônicos
[editar | editar código]O surgimento dos dungeon crawlers para computador
[editar | editar código]Conforme os computadores pessoais começaram a se tornar mais frequentes nas residências e universidades, foi natural que os programadores, muitos deles ávidos jogadores de RPGs de mesa, buscassem recriar suas experiências em formato digital.[10]
O final da década de 1970 e o início da década de 1980 testemunharam o início da comercialização de CRPGs (em inglês: Computer Role-Playing Games; ou role-playing games para computador),[11] jogos que não contavam com os gráficos de última geração atuais, nem com narrativas cinematográficas, mas que procuravam traduzir as principais mecânicas existentes nos RPGs de mesa, encontrando formas para representar as estatísticas dos personagens, o combate e a exploração dentro das limitações tecnológicas iniciais dos computadores.[10]

O gênero viria a se tornar um elemento básico dos jogos de computador a partir de meados da década de 1980.[11] Ao contrário dos jogos de aventura de ficção interativa em texto, que replicavam os aspectos narrativos do jogo de mesa Dungeons & Dragons, os RPGs para computador apresentavam sistemas robustos para combate simulado com monstros ou outros inimigos. Isso levou ao mesmo estilo de jogabilidade "hack-and-slash" visto nos jogos de rede PLATO, inspirados em Dungeons & Dragons, da década de 1970. Os primeiros role-playing games para computador, embora apresentassem combates mais intensos, contavam com um ritmo mais metódico, semelhante ao de um jogo de tabuleiro, em vez da hipervelocidade comparativamente alta dos jogos de arcade mais recentes.[11]
A jogabilidade, assim como no caso dos RPGs de mesa, possuía uma ordem pré-estabelecida: criação de um personagem ou grupo de personagens, compra de equipamentos e suprimentos, descida a uma masmorra e combate com monstros. Frequentemente, os jogos incorporavam uma perspectiva em primeira pessoa, com gráficos simples representando corredores retangulares. Os jogadores, percorrendo os espaços, criavam mapas em papel milimetrado, dado que os computadores da época geralmente possuíam recursos limitados. Essa forma de jogo se tornou tão universal que os RPGs de mesa também acabaram se tornando conhecidos pelo termo "dungeon crawl".[11]
O primeiro jogo eletrônico de dungeon crawling (em português: exploração de masmorras) baseado em computador foi o pedit5, desenvolvido em 1975 por Rusty Rutherford no sistema educacional interativo PLATO. Embora este jogo tenha sido rapidamente removido do sistema, vários outros semelhantes surgiram, incluindo dnd e Moria.[3]
Jogos e séries de jogos de computador da década de 1980, tais como Rogue, The Bard's Tale, Cosmic Soldier, Dungeon Master, Gauntlet, Madō Monogatari, Megami Tensei, Might and Magic, Legend of Zelda, Phantasy Star, Ultima, e Wizardry, ajudaram a estabelecer os padrões do gênero. Seus gráficos primitivos eram propícios ao estilo, devido à necessidade de padrões repetitivos ou gráficos de aparência similar usados para a criação de labirintos eficientes. Matt Barton, do website Game Developer, descreveu Telengard (1982) como um "explorador de masmorras puro", por sua falta de distrações, destacando as masmorras expansivas como "um ponto de venda fundamental".[12]
Alguns dungeon crawlers desta época também empregavam combate de RPG de ação, tais como Dragon Slayer,[13] e The Tower of Druaga.[14] Jogos que se desenvolveram a partir deste estilo também são considerados exploradores de masmorra, no sentido de que embora o jogador fique limitado ao confinamento das paredes da masmorra, ele ainda pode desfrutar de sistemas complexos, construídos ao redor de combate, comportamento do inimigo, e pilhagem, além de contar com o potencial para partidas multijogador e aquelas disputadas online.Gauntlet, Diablo, The Binding of Isaac e Enter the Gungeon são exemplos típicos destes dungeon crawlers.[15]

Variações do tropo de exploração de masmorras podem ser encontradas em outros gêneros de jogos eletrônicos. No início da década de 2010, houve um modesto ressurgimento de sua popularidade, principalmente no Japão, em grande parte devido ao sucesso da série Etrian Odyssey, da Atlus.[16]
Exploradores de masmorras em grupo e em primeira pessoa
[editar | editar código]Este subgênero consiste em jogos de representação de papeis onde o jogador lidera um grupo de aventureiros em perspectiva de primeira pessoa, normalmente em um ambiente baseado em grade. Exemplos incluem as séries Wizardry, Might and Magic e Bard's Tale, já mencionadas; bem como as séries Etrian Odyssey e Elminage. Jogos desse tipo também são conhecidos como "blobbers", já que o jogador tem a capacidade de mover todo o grupo pelo campo de jogo como uma única unidade, ou "blob".[17][18]
Muitos "blobbers" são baseados em turnos, como o jogo de cartas Heroic Fantasy, embora alguns títulos, tais como Dungeon Master, Legend of Grimrock e a série Eye of the Beholder sejam jogados em tempo real. Os primeiros jogos desse gênero não possuíam um recurso de mapa automático, forçando seus jogadores a desenharem seus próprios mapas se quisessem acompanhar seu progresso. Quebra-cabeças espaciais são comuns, e nestes jogos é possível que seja necessário que o jogador mova uma pedra em uma parte do nível para abrir um portão em outra parte do nível.[carece de fontes]
Ver também
[editar | editar código]Notas
[editar | editar código]- ↑ As palavras dungeon (prisão subterrânea) e donjon (torre interna de um castelo) têm origem comum no francês medieval donjon, derivado provavelmente do latim falado domnio, que por sua vez vem de dominus ("senhor"). O sentido original de domnio seria algo como "torre dominante", refletindo a posição estratégica do donjon como ponto mais seguro e protegido do castelo — local onde os moradores podiam se refugiar em caso de invasões. No inglês, desde os anos 1300, dungeon referia-se inicialmente à torre principal do castelo. Com o tempo, a parte subterrânea dessa torre também passou a ser chamada de dungeon, mas com o sentido específico de prisão escura e úmida.[1][2]
Referências
- ↑ «Dungeon». The Merriam-Webster English Dictionary
- ↑ Elwes, Alfred (1884). A Dictionary of the Portuguese Language, in Two Parts ... (em inglês). [S.l.]: C. Lockwood and son. p. 394. Consultado em 25 de setembro de 2025
- ↑ a b c Brewer, Nathan (7 de julho de 2016). «Going Rogue: A Brief History of the Computerized Dungeon Crawl». IEEE-USA InSight (em inglês). Consultado em 25 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 10 de janeiro de 2020
- ↑ «Category: Dungeon Crawler». BoardGameGeek (em inglês). Consultado em 25 de setembro de 2025
- ↑ a b Reuben, Nic (22 de junho de 2020). «10 best dungeon-crawler games you should delve into next». Dicebreaker (em inglês). Consultado em 25 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 26 de junho de 2020
- ↑ Kline, Daniel T. (11 de setembro de 2013). Digital Gaming Re-imagines the Middle Ages (em inglês). [S.l.]: Routledge. p. 17. Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ a b «Chronological List of Dungeon Crawlers». BoardGameGeek (em inglês). Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ Rogers, Scott (27 de setembro de 2023). Your Turn!: The Guide to Great Tabletop Game Design (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons. ISBN 9781119981602. Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ Theel, Charlie (13 de outubro de 2021). «Gloomhaven's digital adaptation is a marvelous turn-based dungeon crawler». Polygon (em inglês). Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ a b Parker, Ethan (31 de março de 2025). Tabletop RPG Influence (em inglês). [S.l.]: Publifye AS. 63 páginas. ISBN 9788235292834. Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ a b c d Williams, Andrew (16 de março de 2017). History of Digital Games: Developments in Art, Design and Interaction (em inglês). [S.l.]: CRC Press. p. 120. Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ Barton, Matt (23 de fevereiro de 2007). «The History of Computer Role-Playing Games Part 1: The Early Years (1980-1983)». Game Developer (em inglês). Consultado em 26 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2021
- ↑ «Dragon Slayer – Hardcore Gaming 101» (em inglês). Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ Parish, Jeremy (30 de julho de 2012). «What Happened to the Action RPG? from 1UP.com». 1Up.com. Consultado em 26 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 3 de outubro de 2018
- ↑ Stuart, Keith (11 de outubro de 2021). «Dungeon crawler or looter shooter? Nine video game genres explained». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ Parish, Jeremy (15 de setembro de 2011). «Beyond the Labyrinth Preview for Nintendo 3DS from 1UP.com». 1Up.com. Consultado em 26 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 28 de novembro de 2011
- ↑ Cobbett, Richard (5 de dezembro de 2016). «The RPGs of 2017». Rock, Paper, Shotgun (em inglês). Consultado em 26 de setembro de 2025
- ↑ Pepe, Felipe (25 de junho de 2015). «CRPG History Abridged - 21 RPGs that brought something new to the table». Game Developer (em inglês). Consultado em 26 de setembro de 2025

