Etnografia de salvaguarda: diferenças entre revisões
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Surge como prática de [[antropologia]], sob a influência de [[Franz Boas]] ([[1858]]—[[1942]]), que desenvolve trabalho tanto na área da [[antropologia física]] como na da [[linguística]] teórica e descritiva. |
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* Fazer uma abordagem [[holística]] do objecto, com o entendimento da [[língua]], do [[folclore]], da [[mitologia]], da [[religião]], da vida [[social]], do [[parentesco]], da [[economia]], da [[política]] da [[cultura]]. |
* Fazer uma abordagem [[holística]] do objecto, com o entendimento da [[língua]], do [[folclore]], da [[mitologia]], da [[religião]], da vida [[social]], do [[parentesco]], da [[economia]], da [[política]] e da [[cultura]]. |
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[[Robert Lowie]] ([[1883]] - [[1957]]) ([[:en: Robert Lowie]]) foi um dos primeiros a aplicar técnicas de etnologia de salvaguarda ao concluir estudos sobre a [[cultura]] dos índios Crow ([[:en: Crow Nation]]). A sua ideia era «preservar um registo daquilo que resta de uma cultura antes de ela desaparecer» (''to salvage a record of what was left of a culture before it disappeared''). Esta questão tinha particular importância na época (século XVIII e inicio do sé. XIX) visto os nativos dos Estados Unidos estarem a ser afastados das suas terras e da sua [[cultura]]. |
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Lowie formou-se em [[Nova Iorque]] com o antropólogo [[Franz Boas]], líder do projecto «Tribos norte-americanas em extinção» (''Vanishing Tribes of North America'' – 1899 / 1906), quando trabalhava no Museu Americano de História Natural (''American Museum of Natural History''). O projecto consistia em documentar as tribos norte-americanas do [[Oceano Pacífico]], comparando-as com as da [[Ásia]]. |
Lowie formou-se em [[Nova Iorque]] com o antropólogo [[Franz Boas]], líder do projecto «Tribos norte-americanas em extinção» (''Vanishing Tribes of North America'' – 1899 / 1906), quando trabalhava no Museu Americano de História Natural (''American Museum of Natural History''). O projecto consistia em documentar as tribos norte-americanas do [[Oceano Pacífico]], comparando-as com as da [[Ásia]]. |
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Lowie era acompanhado nessa prática por outros antropólogos profissionais, artistas e fotógrafos. Antropólogos tais como [[Alfred Louis Kroeber]] ([[1876]]—[[1960]]) começaram a reunir material etnográfico, numa aproximação multi-direccionada na recolha de informação linguística básica, bem como .na recolha de narrativas de [[tradição oral]] e de objectos próprios de uma '''cultura material de grupo'''. |
Lowie era acompanhado nessa prática por outros antropólogos profissionais, artistas e fotógrafos. Antropólogos tais como [[Alfred Louis Kroeber]] ([[1876]]—[[1960]]) começaram a reunir material etnográfico, numa aproximação multi-direccionada na recolha de informação linguística básica, bem como .na recolha de narrativas de [[tradição oral]] e de objectos próprios de uma '''cultura material de grupo'''. |
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[[Frances Densmore]] ([[1867]]—[[1957]]), foi um importante etnomusicólogo que se dedicou à etnologia de salvaguarda, gravando os [[cântico]]s e registando a [[lírica]] dos nativos americanos com o intuito de os preservar para sempre |
[[Frances Densmore]] ([[:en: Frances Densmore]]) ([[1867]]—[[1957]]), foi um importante etnomusicólogo que se dedicou à etnologia de salvaguarda, gravando os [[cântico]]s e registando a [[lírica]] dos nativos americanos com o intuito de os preservar para sempre. |
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Artistas completavam o trabalho dos antropólogos nessa época. Precedido pelo pintor [[George Catlin]] ([[1796]]—[[1872]]), o fotógrafo [[Edward S. Curtis]] ([[1868]]—[[1952]]) tentava recolher as tradições dos índios norte-americanos que achavam estar em via de extinção. Tanto Curtis como Catlin foram acusados de liberdades artísticas embelezando cenas ou fazendo parecer autênticas certas coisas do tal índio norte-americano. |
Artistas completavam o trabalho dos antropólogos nessa época. Precedido pelo pintor [[George Catlin]] ([[1796]]—[[1872]]), o fotógrafo [[Edward S. Curtis]] ([[:en: Edward S. Curtis]]) ([[1868]]—[[1952]]) tentava recolher as tradições dos índios norte-americanos que achavam estar em via de extinção. Tanto Curtis como Catlin foram acusados de liberdades artísticas embelezando cenas ou fazendo parecer autênticas certas coisas do tal índio norte-americano. |
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Edward S. Curtis refere-se assim à questão na introdução da sua série «O índio norte-americano» (''North American Indian'') : «A informação reunida (…) relativa a uma das maiores raças da Humanidade tem de ser feita já, ou perde-se a oportunidade» (''The information that is to be gathered ... respecting the mode of life of one of the great races of mankind, must be collected at once or the opportunity will be lost''). A afirmação reflecte a preocupação paternalista de documentar a cultura dos nativos americanos e ilustra o sentimento da época, tanto o popular como o académico. |
Edward S. Curtis refere-se assim à questão na introdução da sua série «O índio norte-americano» (''North American Indian'') : «A informação reunida (…) relativa a uma das maiores raças da Humanidade tem de ser feita já, ou perde-se a oportunidade» (''The information that is to be gathered ... respecting the mode of life of one of the great races of mankind, must be collected at once or the opportunity will be lost''). A afirmação reflecte a preocupação paternalista de documentar a cultura dos nativos americanos e ilustra o sentimento da época, tanto o popular como o académico. |
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Estes registos iriam inspirar o [[cinema]], quer pelo que tinham de [[ficção]] quer pelo que tinham de [[documentário]]. A ficção implícita inspirou o [[western]] americano e o implícito documentário várias correntes do [[filme etnográfico]], que se desenvolveu tanto nos EU como noutros países. |
Estes registos iriam inspirar o [[cinema]], quer pelo que tinham de [[ficção]] quer pelo que tinham de [[documentário]]. A ficção implícita inspirou o [[western]] americano e o implícito documentário várias correntes do [[filme etnográfico]], que se desenvolveu tanto nos EU como noutros países. |
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Aplicada como simples [[filme documentário]] por [[Robert Flaherty]] desde [[1922]], a etnologia de salvaguarda começa a ser usada metodicamente enquanto [[antropologia visual]] e [[filme etnográfico]] a partir dos anos cinquenta por cineastas como [[Jean Rouch]] em [[África]], que a teoriza, e por [[Michel Brault]] e [[Pierre Perrault]] no [[ |
Aplicada como simples [[filme documentário]] por [[Robert Flaherty]] desde [[1922]], a etnologia de salvaguarda começa a ser usada metodicamente enquanto [[antropologia visual]] e [[filme etnográfico]] a partir dos anos cinquenta por cineastas como [[Jean Rouch]] em [[África]], que a teoriza, e por [[Michel Brault]] e [[Pierre Perrault]] no [[Canadá]], ou por [[António Campos]] em Portugal (inícios de [[1960]]), que a praticam sem base teórica. O que de inovador ela tinha está directamente relacionado com o uso de câmaras leves de [[16 mm]], filmando com som síncrono, que surgiram nessa época. A partir dessa data e até ao início da de dos anos oitenta irá florescer em Portugal a sua prática. Com algum avanço, [[António Campos]] será seguido por cineastas como [[Manuel Costa e Silva]], [[Ricardo Costa]], [[Noémia Delgado]], [[António Reis (cineasta)|António Reis]] e [[Margarida Cordeiro]], todos seus contemporâneos. É considerável o número de filmes então realizados. |
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==Etnografia de salvaguarda em Portugal== |
==Etnografia de salvaguarda em Portugal== |
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A etnografia de salvaguarda em Portugal é iniciada por [[Leite de Vasconcelos]], ([[1858]] — [[1941]]), que a pratica em estudos da linguagem, com relação implícita com a [[etnologia]] vista em sentido lato, numa perspectiva de algum modo clássica da [[antropologia]]. Prosseguindo nessa linha, [[Viegas Guerreiro]] |
A etnografia de salvaguarda em Portugal é iniciada por [[Leite de Vasconcelos]], ([[1858]] — [[1941]]), que a pratica em estudos da linguagem, com relação implícita com a [[etnologia]] vista em sentido lato, numa perspectiva de algum modo clássica da [[antropologia]]. Prosseguindo nessa linha, [[Manuel Viegas Guerreiro]] <ref>[http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/manuel-viegas-guerreiro.html#.VkvQH3bhCJA artigo]</ref>, faz pesquisa sistemática no terreno, em particular no domínio da [[tradição oral]], com um olhar [[humanista]], iluminado por convicções teóricas. |
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[[Ernesto Veiga de Oliveira]] ([[1910]]—[[1990]]) - ver [http://www.attambur.com/OutrosSons/Portugal/giacometti.htm artigo]), que desenvolve uma profunda relação de trabalho e de amizade com Jorge Dias, fará com ele um vasta recolha no terreno para estudo e conservação. Com [ |
[[Ernesto Veiga de Oliveira]] ([[1910]]—[[1990]]) - ver [http://www.attambur.com/OutrosSons/Portugal/giacometti.htm artigo]), que desenvolve uma profunda relação de trabalho e de amizade com Jorge Dias, fará com ele um vasta recolha no terreno para estudo e conservação. Com Margot Dias <ref>[https://www.publico.pt/2016/08/06/culturaipsilon/noticia/margot-diasviver-ate-ao-fim-entre-os-macondes-1740100 Margot Dias: Viver até ao fim entre os macondes], artigo no jornal Público, 6 de agosto 2016</ref> e Benjamim Pereira <ref>[http://journals.openedition.org/etnografica/366 Entrevista a Benjamim Pereira: Uma aventura prodigiosa], Paulo Ferreira da Costa, Cláudia Jorge Freire e Benjamim Pereira, « Entrevista a Benjamim Pereira: “Uma aventura prodigiosa” », Etnográfica [Online], vol. 14 (1) | 2010, Online desde 21 Maio 2012, consultado em 05 Abril 2018. URL : http://journals.openedition.org/etnografica/366 ; DOI : 10.4000/etnografica.366</ref> Veiga de Oliveira forma a equipe pioneira que fundará o Centro de Estudos de Etnologia ([[1947]]), que renovará em Portugal os estudos etnográficos e, a partir de [[1963]], terá papel importante no Centro de Antropologia Cultural e sobretudo do [[Museu de Etnologia]], «criado segundo uma concepção inovadora da museologia, que restará como a expressão mais acabada da sua obra». <ref>[http://www.fcsh.unl.pt/hp/Unidades/CEEP.HTM Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa]</ref> |
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Vindo também das letras clássicas, [[Jorge Dias]] ([[1907]]—[[1973]] - ver [http://folclore-online.com/pessoas/aj_dias.html artigo]), docente na Faculdade de Letras de Coimbra, especializa-se na Alemanha e faz doutoramento, em [[1944]], na Universidade de [[Munique]], com uma tese |
Vindo também das letras clássicas, [[Jorge Dias]] ([[1907]]—[[1973]] - ver [http://folclore-online.com/pessoas/aj_dias.html artigo]), docente na Faculdade de Letras de Coimbra, especializa-se na Alemanha e faz doutoramento, em [[1944]], na Universidade de [[Munique]], com uma tese intitulada "Vilarinho das Furnas, Uma Aldeia Comunitária" <ref>[http://www.livraria-varadero.com/info/DIAS-JORGE-VILARINHO-DA-FURNA-UMA-ALDEIA-COMUNIT%C3%81RIA--5483.html Vilarinho das Furnas, Uma Aldeia Comunitária]</ref> (ver [[Vilarinho das Furnas]]), factos que marcam «o renascimento do interesse científico pelas tradições nacionais e pela discussão do conceito de cultura na sua universidade». Faz, em [[1957]], sob a ditadura de [[António de Oliveira Salazar]], levantamentos etnológicos nas colónias e torna-se responsável pelo Centro de Estudos de Antropologia Cultural, que inclui o Museu de Etnologia do Ultramar <ref>[http://worldcat.org/identities/lccn-n95038400/ Museu de Etnologia do Ultramar]</ref>, que nos deixará imagens marcantes de África, vista na óptica do [[regime]], e certos retratos, por vezes grotescos, do colonizado. Na área da etno-musicologia, associando-a à tradição oral, [[Michel Giacometti]], francês que se apaixona por Portugal, fará um trabalho de decisiva importância durante mais de trinta anos, desde 1959 até à sua morte. |
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===Filme etnográfico=== |
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Certa juventude universitária dos anos sessenta e alguns curiosos cultos interessam-se em Portugal por questões de [[antropologia]]. [[Jean Rouch]] é visto nas telas dos cineclubes da época, junto com [[Robert Flaherty]] e com alguns filmes da [[vanguarda russa]], que os marcarão tanto pelo conteúdo como pela [[estética]]. |
Certa juventude universitária dos anos sessenta e alguns curiosos cultos interessam-se em Portugal por questões de [[antropologia]]. [[Jean Rouch]] é visto nas telas dos cineclubes da época, junto com [[Robert Flaherty]] e com alguns filmes da [[vanguarda russa]], que os marcarão tanto pelo conteúdo como pela [[estética]]. |
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O espírito da tese de Jorge Dias sobre [[Vilarinho das Furnas]] apropria-se de algum modo do cineasta [[António Campos]], que resolve filmar a aldeia antes de ser submersa. Com esta e outras obras, inicia-se em Portugal a prática da [[antropologia visual]] na perspectiva da salvaguarda. É feita com novas ferramentas : as do [[cinema directo]], num registo de [[cinema verdade]], coisa a que a sensibilidade não é alheia. |
O espírito da tese de Jorge Dias sobre [[Vilarinho das Furnas]] apropria-se de algum modo do cineasta [[António Campos]], que resolve filmar a aldeia antes de ser submersa. Com esta e outras obras, inicia-se em Portugal a prática da [[antropologia visual]] na perspectiva da salvaguarda. É feita com novas ferramentas : as do [[cinema directo]], num registo de [[cinema verdade]], coisa a que a sensibilidade não é alheia. Como meio de salvaguarda e modo adequado de dar a ver as coisas nisso implicadas, de mostrar, com imagem e som, certas verdades inadiáveis, o [[filme etnográfico]] terá em Portugal produção notável e continuada. |
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===Etnomusicologia=== |
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É também na década de sessenta que etnomusicólogos pioneiros fundam a tradição em Portugal. A |
É também na década de sessenta que etnomusicólogos pioneiros fundam a tradição em Portugal. A "Antologia da Música Regional Portuguesa" ([[1960]] - [[1970]]) <ref>[http://mmp.cm-cascais.pt/museumusica/mg/arquivos/listagem.htm Antologia da Música Regional Portuguesa]</ref>, da autoria de [[Michel Giacometti]] e de [[Fernando Lopes-Graça]] será paradigma no género, mas teve precursores como [[Armando Leça]], que fez o primeiro levantamento de música tradicional portuguesa, [[Virgílio Pereira]] (Cancioneiros de Arouca, Cinfães e Resende), [[Fernando Lopes-Graça]] ([[Beira Baixa]] e [[Alentejo]]), [[Artur Santos]] ([[Beira Baixa]], [[Beira Alta]] e [[Açores]]), [[Ernesto Veiga de Oliveira]], «autor do mais importante estudo organológico do nosso país, com gravações resultantes da pesquisa de campo» e [[Armando Leça]], o menos conhecido. |
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===Artesanato=== |
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Uma das personalidades mais empenhadas na prática da etnologia de salvaguarda em Portugal, também na década de sessenta, é outro pioneiro, [[José Ernesto de Sousa]], pioneiro também do [[Novo Cinema]] português. É ele quem primeiro estuda e recolhe exemplares das artes artesanais do barro e da madeira, em particular a representação humana. Descobre e dá a conhecer artistas como a [[Rosa Ramalho]], o Mistério, o [[Franklin Vilas Boas]]. Torna-se com ele evidente que [[artesanato]] pode ser [[arte]], que a [[arte popular]] existe. |
Uma das personalidades mais empenhadas na prática da etnologia de salvaguarda em Portugal, também na década de sessenta, é outro pioneiro, [[José Ernesto de Sousa]], pioneiro também do [[Novo Cinema]] português. É ele quem primeiro estuda e recolhe exemplares das artes artesanais do barro e da madeira, em particular a representação humana. Descobre e dá a conhecer artistas como a [[Rosa Ramalho]], o Mistério, o [[Franklin Vilas Boas]]. Torna-se com ele evidente que [[artesanato]] pode ser [[arte]], que a [[arte popular]] existe. |
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Após a [[Revolução dos Cravos]] renovam-se na etnologia portuguesa os critérios e as personalidades, também ela se liberta do antigo regime. Criam-se meios que permitirão salvaguardar património, inventariar, ensinar, educar. O [[Museu Nacional de Etnologia]] cresce e terá um período áureo, com o esforço de [[Joaquim Pais de Brito]] que, no meio universitário, junto com outros, faz recolha, estudo e preservação. |
Após a [[Revolução dos Cravos]] renovam-se na etnologia portuguesa os critérios e as personalidades, também ela se liberta do antigo regime. Criam-se meios que permitirão salvaguardar património, inventariar, ensinar, educar. O [[Museu Nacional de Etnologia]] cresce e terá um período áureo, com o esforço de [[Joaquim Pais de Brito]] ([https://escritores.online/escritor/joaquim-pais-brito/ Joaquim Pais de Brito]) que, no meio universitário, junto com outros, faz recolha, estudo e preservação. |
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===Fundadores=== |
===Fundadores=== |
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* [[Leite de Vasconcelos]] |
* [[Leite de Vasconcelos]] |
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* Viegas Guerreiro <ref>[http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/1998-65/65_02.pdf Manuel Viegas Guerreiro, invocação de um mestre e amigo]</ref> |
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* Veiga de Oliveira <ref> [http://alfarrabio.di.uminho.pt/arqevo/textospa/html/evo/evobiobi.htm Ernesto Veiga de Oliveira], artigo</ref> |
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* [[Jorge Dias]] |
* [[Jorge Dias]] <ref>[http://folclore-online.com/pessoas/aj_dias.html António Jorge Dias (1907-1973], artigo])</ref> |
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==Bibliografia== |
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* Carter, Edward, ed. "Surveying the Record: North American Scientific Exploration to 1930." Philadelphia, American Philosophical Society. 1999. ISBN 0-87-169231-7 |
* Carter, Edward, ed. "Surveying the Record: North American Scientific Exploration to 1930." Philadelphia, American Philosophical Society. 1999. ISBN 0-87-169231-7 |
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==Ligações internas== |
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* [http://www.adiaspora.com/_port/etnogra/index.htm Etnografia] – em Diáspora |
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* [http://mnetnologia.blogspot.com/2008/07/histria-do-museu-nacional-de-etnologia.html Museu Nacional de Etnologia] |
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* [http://www.ceep.fcsh.unl.pt/ Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa] |
* [http://www.ceep.fcsh.unl.pt/ Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa] |
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* [http://www.cm-cascais.pt/Cascais/Cascais/Patrimonio/Museus/Museu_Cultura.htm Museu da Música Portuguesa] ([[Cascais]]) |
* [http://www.cm-cascais.pt/Cascais/Cascais/Patrimonio/Museus/Museu_Cultura.htm Museu da Música Portuguesa] ([[Cascais]]) |
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Revisão das 00h18min de 6 de abril de 2018
Etnografia de salvaguarda (en: Salvage ethnography) é um ramo da etnografia que se aplica na salvaguarda de registos daquilo que resta de uma cultura antes que desapareça. [1]
Surge como prática de antropologia, sob a influência de Franz Boas (1858—1942), que desenvolve trabalho tanto na área da antropologia física como na da linguística teórica e descritiva.
Objectivos
Alguns dos principais objetivos da salvaguarda etnográfica incluem :
- Mostrar aspectos corretos e objetivos de um modo de vida humano diferente ou particular.
- Fazer uma abordagem holística do objecto, com o entendimento da língua, do folclore, da mitologia, da religião, da vida social, do parentesco, da economia, da política e da cultura.
Fundadores
Robert Lowie (1883 - 1957) (en: Robert Lowie) foi um dos primeiros a aplicar técnicas de etnologia de salvaguarda ao concluir estudos sobre a cultura dos índios Crow (en: Crow Nation). A sua ideia era «preservar um registo daquilo que resta de uma cultura antes de ela desaparecer» (to salvage a record of what was left of a culture before it disappeared). Esta questão tinha particular importância na época (século XVIII e inicio do sé. XIX) visto os nativos dos Estados Unidos estarem a ser afastados das suas terras e da sua cultura.
Lowie formou-se em Nova Iorque com o antropólogo Franz Boas, líder do projecto «Tribos norte-americanas em extinção» (Vanishing Tribes of North America – 1899 / 1906), quando trabalhava no Museu Americano de História Natural (American Museum of Natural History). O projecto consistia em documentar as tribos norte-americanas do Oceano Pacífico, comparando-as com as da Ásia.
Lowie era acompanhado nessa prática por outros antropólogos profissionais, artistas e fotógrafos. Antropólogos tais como Alfred Louis Kroeber (1876—1960) começaram a reunir material etnográfico, numa aproximação multi-direccionada na recolha de informação linguística básica, bem como .na recolha de narrativas de tradição oral e de objectos próprios de uma cultura material de grupo.
Frances Densmore (en: Frances Densmore) (1867—1957), foi um importante etnomusicólogo que se dedicou à etnologia de salvaguarda, gravando os cânticos e registando a lírica dos nativos americanos com o intuito de os preservar para sempre.
Artistas completavam o trabalho dos antropólogos nessa época. Precedido pelo pintor George Catlin (1796—1872), o fotógrafo Edward S. Curtis (en: Edward S. Curtis) (1868—1952) tentava recolher as tradições dos índios norte-americanos que achavam estar em via de extinção. Tanto Curtis como Catlin foram acusados de liberdades artísticas embelezando cenas ou fazendo parecer autênticas certas coisas do tal índio norte-americano.
Edward S. Curtis refere-se assim à questão na introdução da sua série «O índio norte-americano» (North American Indian) : «A informação reunida (…) relativa a uma das maiores raças da Humanidade tem de ser feita já, ou perde-se a oportunidade» (The information that is to be gathered ... respecting the mode of life of one of the great races of mankind, must be collected at once or the opportunity will be lost). A afirmação reflecte a preocupação paternalista de documentar a cultura dos nativos americanos e ilustra o sentimento da época, tanto o popular como o académico.
Estes registos iriam inspirar o cinema, quer pelo que tinham de ficção quer pelo que tinham de documentário. A ficção implícita inspirou o western americano e o implícito documentário várias correntes do filme etnográfico, que se desenvolveu tanto nos EU como noutros países.
Aplicada como simples filme documentário por Robert Flaherty desde 1922, a etnologia de salvaguarda começa a ser usada metodicamente enquanto antropologia visual e filme etnográfico a partir dos anos cinquenta por cineastas como Jean Rouch em África, que a teoriza, e por Michel Brault e Pierre Perrault no Canadá, ou por António Campos em Portugal (inícios de 1960), que a praticam sem base teórica. O que de inovador ela tinha está directamente relacionado com o uso de câmaras leves de 16 mm, filmando com som síncrono, que surgiram nessa época. A partir dessa data e até ao início da de dos anos oitenta irá florescer em Portugal a sua prática. Com algum avanço, António Campos será seguido por cineastas como Manuel Costa e Silva, Ricardo Costa, Noémia Delgado, António Reis e Margarida Cordeiro, todos seus contemporâneos. É considerável o número de filmes então realizados.
Etnografia de salvaguarda em Portugal
A etnografia de salvaguarda em Portugal é iniciada por Leite de Vasconcelos, (1858 — 1941), que a pratica em estudos da linguagem, com relação implícita com a etnologia vista em sentido lato, numa perspectiva de algum modo clássica da antropologia. Prosseguindo nessa linha, Manuel Viegas Guerreiro [2], faz pesquisa sistemática no terreno, em particular no domínio da tradição oral, com um olhar humanista, iluminado por convicções teóricas.
Ernesto Veiga de Oliveira (1910—1990) - ver artigo), que desenvolve uma profunda relação de trabalho e de amizade com Jorge Dias, fará com ele um vasta recolha no terreno para estudo e conservação. Com Margot Dias [3] e Benjamim Pereira [4] Veiga de Oliveira forma a equipe pioneira que fundará o Centro de Estudos de Etnologia (1947), que renovará em Portugal os estudos etnográficos e, a partir de 1963, terá papel importante no Centro de Antropologia Cultural e sobretudo do Museu de Etnologia, «criado segundo uma concepção inovadora da museologia, que restará como a expressão mais acabada da sua obra». [5]
Vindo também das letras clássicas, Jorge Dias (1907—1973 - ver artigo), docente na Faculdade de Letras de Coimbra, especializa-se na Alemanha e faz doutoramento, em 1944, na Universidade de Munique, com uma tese intitulada "Vilarinho das Furnas, Uma Aldeia Comunitária" [6] (ver Vilarinho das Furnas), factos que marcam «o renascimento do interesse científico pelas tradições nacionais e pela discussão do conceito de cultura na sua universidade». Faz, em 1957, sob a ditadura de António de Oliveira Salazar, levantamentos etnológicos nas colónias e torna-se responsável pelo Centro de Estudos de Antropologia Cultural, que inclui o Museu de Etnologia do Ultramar [7], que nos deixará imagens marcantes de África, vista na óptica do regime, e certos retratos, por vezes grotescos, do colonizado. Na área da etno-musicologia, associando-a à tradição oral, Michel Giacometti, francês que se apaixona por Portugal, fará um trabalho de decisiva importância durante mais de trinta anos, desde 1959 até à sua morte.
Filme etnográfico
Certa juventude universitária dos anos sessenta e alguns curiosos cultos interessam-se em Portugal por questões de antropologia. Jean Rouch é visto nas telas dos cineclubes da época, junto com Robert Flaherty e com alguns filmes da vanguarda russa, que os marcarão tanto pelo conteúdo como pela estética.
O espírito da tese de Jorge Dias sobre Vilarinho das Furnas apropria-se de algum modo do cineasta António Campos, que resolve filmar a aldeia antes de ser submersa. Com esta e outras obras, inicia-se em Portugal a prática da antropologia visual na perspectiva da salvaguarda. É feita com novas ferramentas : as do cinema directo, num registo de cinema verdade, coisa a que a sensibilidade não é alheia. Como meio de salvaguarda e modo adequado de dar a ver as coisas nisso implicadas, de mostrar, com imagem e som, certas verdades inadiáveis, o filme etnográfico terá em Portugal produção notável e continuada.
Etnomusicologia
É também na década de sessenta que etnomusicólogos pioneiros fundam a tradição em Portugal. A "Antologia da Música Regional Portuguesa" (1960 - 1970) [8], da autoria de Michel Giacometti e de Fernando Lopes-Graça será paradigma no género, mas teve precursores como Armando Leça, que fez o primeiro levantamento de música tradicional portuguesa, Virgílio Pereira (Cancioneiros de Arouca, Cinfães e Resende), Fernando Lopes-Graça (Beira Baixa e Alentejo), Artur Santos (Beira Baixa, Beira Alta e Açores), Ernesto Veiga de Oliveira, «autor do mais importante estudo organológico do nosso país, com gravações resultantes da pesquisa de campo» e Armando Leça, o menos conhecido.
Artesanato
Uma das personalidades mais empenhadas na prática da etnologia de salvaguarda em Portugal, também na década de sessenta, é outro pioneiro, José Ernesto de Sousa, pioneiro também do Novo Cinema português. É ele quem primeiro estuda e recolhe exemplares das artes artesanais do barro e da madeira, em particular a representação humana. Descobre e dá a conhecer artistas como a Rosa Ramalho, o Mistério, o Franklin Vilas Boas. Torna-se com ele evidente que artesanato pode ser arte, que a arte popular existe.
Após a Revolução dos Cravos renovam-se na etnologia portuguesa os critérios e as personalidades, também ela se liberta do antigo regime. Criam-se meios que permitirão salvaguardar património, inventariar, ensinar, educar. O Museu Nacional de Etnologia cresce e terá um período áureo, com o esforço de Joaquim Pais de Brito (Joaquim Pais de Brito) que, no meio universitário, junto com outros, faz recolha, estudo e preservação.
Fundadores
- Leite de Vasconcelos
- Viegas Guerreiro [9]
- Veiga de Oliveira [10]
- Jorge Dias [11]
Bibliografia
inglês
- Conn, Steven. "History's Shadow: Native Americans and Historical Consciousness in the Nineteenth Century." Chicago, University of Chicago Press. 2004. ISBN 0-226-11494-5.
- Smith, Sherry. "Reimagining Indians: Native Americans Through Anglo Eyes, 1880-1940." Oxford, Oxford University Press. 2000. ISBN 0-19-515727-3.
- Carter, Edward, ed. "Surveying the Record: North American Scientific Exploration to 1930." Philadelphia, American Philosophical Society. 1999. ISBN 0-87-169231-7
Referências
- ↑ Etnografia – em Diáspora
- ↑ artigo
- ↑ Margot Dias: Viver até ao fim entre os macondes, artigo no jornal Público, 6 de agosto 2016
- ↑ Entrevista a Benjamim Pereira: Uma aventura prodigiosa, Paulo Ferreira da Costa, Cláudia Jorge Freire e Benjamim Pereira, « Entrevista a Benjamim Pereira: “Uma aventura prodigiosa” », Etnográfica [Online], vol. 14 (1) | 2010, Online desde 21 Maio 2012, consultado em 05 Abril 2018. URL : http://journals.openedition.org/etnografica/366 ; DOI : 10.4000/etnografica.366
- ↑ Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa
- ↑ Vilarinho das Furnas, Uma Aldeia Comunitária
- ↑ Museu de Etnologia do Ultramar
- ↑ Antologia da Música Regional Portuguesa
- ↑ Manuel Viegas Guerreiro, invocação de um mestre e amigo
- ↑ Ernesto Veiga de Oliveira, artigo
- ↑ António Jorge Dias (1907-1973, artigo])
Ligações internas
Ligações externas
- Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa
- Museu da Música Portuguesa (Cascais)
- Michel Giacometti – Biografia
- Michel Giacometti (1929-1990) – Dilemas de um colector – artigo de Luísa Tiago de Oliveira