Fernanda de Paiva Tomás

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Fernanda de Paiva Tomás
Dados pessoais
Nome completo Maria Fernanda de Paiva Tomás
Nascimento 8 de janeiro de 1928
Mortágua, Portugal
Morte 15 de setembro de 1984 (56 anos)
Nacionalidade portuguesa
Cônjuge Julieta Gandra, Joaquim Augusto Cruz Carreira
Partido Partido Comunista Português
Ocupação Política

Maria Fernanda de Paiva Tomás (Mortágua, Viseu, 8 de Novembro de 1928 – 15 de Setembro de 1984) foi uma política portuguesa revolucionária anti-fascista militante do Partido Comunista Português, encarcerada por quase dez anos como prisioneira política pelo regime do Estado Novo entre 1961 e 1970, do qual era opositora. Foi uma das mulheres militantes do PCP que mais tempo ficaria encarcerada por motivos políticos.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Oriunda de uma família de apoiantes do partido Comunista Português, casa com Joaquim Augusto Cruz Carreira, também ele militante comunista.[1][2]

Militante do Partido Comunista Português[editar | editar código-fonte]

Fernanda Tomás foi detida pela polícia por duas vezes quando ainda estudava por participar em manifestações contra a guerra. A primeira destas, por ter deixado flores no memorial às vítimas da Primeira Guerra Mundial. Passa à clandestinidade junto do PCP com 23 anos, em 1952, trabalhando com o Movimento de Unidade Democrática, do qual o PCP era membro. O seu marido é preso por motivos políticos em 1958 e condenado a 4 anos de prisão.

Com os pseudónimos "Ana" e "Marques", foi funcionária do partido responsável da administração central da Organização Regional de Lisboa do PCP, sendo a sua tarefa a supervisão da zona Oriental de Lisboa, região operária, nomeadamente nos bairros de Xabregas ou Marvila. Fez parte da equipa de organização do V Congresso do PCP, com o pseudónimo "Maria". É nomeada membro suplente do Comité Central do PCP em 1960. Durante nove anos trabalha na redação de O Militante, a revista interna do PCP.

Prisão Política[editar | editar código-fonte]

É detida por motivos políticos pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado a 6 de Fevereiro de 1961. Presa na Prisão de Caxias, é torturada, e em dois períodos é-lhe imposta a privação do sono, primeiro durante 80 e depois por 94 horas consecutivas. É deixada incomunicável por 20 dias, sem autorização de mudar de roupa ou acesso a higiene, como chantagem para que confessasse a localização do futuro Congresso do PCP.[3] Os agentes da PIDE colocam-lhe a alcunha de «A Passionária». De acordo com os autos do seu julgamento, ao ser admoestada pelo juiz João António Silva Caldeira por desrespeito ao tribunal, que ordena o seu encarceramento nos calabouços, Fernanda de Paiva Tomás terá erguido o seu punho e exclamado «Viva o PCP! Viva o Povo Português, que um dia julgará este Tribunal!».

Obra Escrita[editar | editar código-fonte]

Fernanda de Paiva Tomás é a autora de uma das treze cartas no Manifesto de Caxias, distribuído clandestinamente a partir da prisão em Maio de 1961, dirigido às "organizações democráticas de mulheres de todo o mundo", nas quais denunciava as torturas e condições às quais eram sujeitos os opositores ao regime do Estado Novo.[2][4]

Vida Pessoal[editar | editar código-fonte]

Na prisão conhece a militante comunista Julieta Gandra, também presa política, com quem inicia uma relação amorosa dentro da prisão, assumida perante as demais prisioneiras e perante as autoridades. Com ela viverá anos mais tarde, quando ambas são libertas da prisão.[5]

Libertação[editar | editar código-fonte]

Condenada a oito anos de prisão, quando tinha já servido por oito anos e seis meses, a libertação de Fernanda de Paiva Tomás estava marcada para Setembro de 1969, tendo contudo a sentença sido arbitrariamente prolongada por a PIDE ter considerado que esta era uma prisioneira de alto risco. Em 1970 o seu filho de 15 anos, Alberto, escreve ao presidente Marcelo Caetano, protestando a detenção de sua mãe após cumprida a pena a que fora condenada. Três semanas depois, a 19 de Novembro de 1970, é libertada em liberdade condicional e vai residir em Mortágua. Em 1972, muda-se para Lisboa.

Após a Revolução dos Cravos[editar | editar código-fonte]

Depois da Revolução dos Cravos em 1974, parte em 1975 com Julieta Gandra para Angola. Gandra fora convidada pelo governo do país recém-independente para coordenar a criação do serviço nacional de saúde angolano. Em Angola, Fernanda de Paiva Tomás trabalha no Ministério da Educação. Viria a falecer precocemente em 1984 de um tumor cerebral.

Referências

  1. Memorial aos presos e perseguidos políticos (22 de Novembro de 2020). «Fernanda de Paiva Tomás». memorial2019.org. Consultado em 15 de março de 2021 
  2. a b Memorial aos presos e perseguidos políticos (22 de Novembro de 2020). «Feminae – Dicionário Contemporâneo». Faces de Eva. Consultado em 15 de março de 2021 
  3. José Pacheco Pereira (9 de Junho de 2006). «Fernanda de Paiva Tomás». Estudos sobre O Comunismo. Consultado em 15 de março de 2021 
  4. Elas estiveram nas prisões do fascismo. Unión de Resistentes Antifascistas Portugueses 1a edição ed. Lisboa: [s.n.] 2021. OCLC 1258022426 
  5. São José Almeida (17 de Julho de 2009). «Amor numa cadeia da PIDE». Jornal Público. Consultado em 15 de março de 2021