Freddie Perdigão Pereira
Freddie Perdigão Pereira | |
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Pseudônimo(s) | Dr. Nagib; Dr. Roberto |
Nascimento | 1936 Rio de Janeiro, Brasil |
Morte | 1996 Rio de Janeiro, Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | militar |
Freddie Perdigão Pereira (Rio de Janeiro, 1936 — Rio de Janeiro, 1996) foi um militar brasileiro, integrante do Centro de Informações do Exército (CIE) e do SNI, e um dos mais atuantes oficiais do Exército Brasileiro no aparelho do governo militar.
Carreira
[editar | editar código-fonte]Cadete formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1958,[1] Perdigão participou do golpe militar de 1964 como tenente. Na manhã de 1.° de abril comandava cinco tanques M-41 que guardavam o Palácio Laranjeiras no Rio de Janeiro, onde deveria chegar o presidente João Goulart. Questionado por um major sobre ainda não ter se juntado ao movimento, explicou que sua unidade continuava leal ao governo e que temia a reação dos quatro sargentos do seu pelotão. Depois de breve negociação, chegou-se a um acordo: os sargentos voltariam ao quartel em um tanque, enquanto os outros quatro, tripulados por cabos, iriam ao Palácio da Guanabara para guarnecer o governador Carlos Lacerda.[2]
Em 1968 era militante da conexão clandestina do Centro de Informações do Exército e participou de pelo menos um atentado a bomba, contra o depósito de papel do Jornal do Brasil. O grupo paramilitar de extrema-direita de que fazia parte foi responsável por dezoito dos vinte atentados a bomba daquele ano.[3] É deste ano o primeiro depoimento de um preso político que afima ter sido torturado por ele. Em novembro do mesmo ano, assassinou com tiros na cabeça o casal Catarina Abi-Eçab e João Antônio Santos Abi-Eçab, dois estudantes de Filosofia da USP, integrantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), presos pela equipe dele em Vila Isabel, torturados numa chácara da Baixada Fluminense, mortos e depois colocados num carro cheio de explosivos no km 69 da BR-116, próximo a Vassouras, RJ, que foi explodido contra um caminhão. A morte do casal num acidente de carro seguido de explosão foi a causa mortis oficial dos dois por mais de 40 anos, até ser esclarecida pelo ex-soldado Valdemar Martins de Oliveira em depoimento à Comissão da Verdade, em 2013.[4]
Em 1970, participava de uma equipe que fazia uma blitz no trânsito na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Um fusca vermelho foi parado na barreira e dentro dele estavam três guerrilheiros da ALN. Um deles, Carlos Frederico Fayal, saiu atirando e acertou dois tiros em Perdigão, um na barriga e outro na perna. Dali em diante ele passou a mancar pelo resto da vida.[5] Foi acusado de torturar sistematicamente a guerrilheira Tânia Fayal, uma das capturadas por ele no elevador do edifício onde ela morava, em Copacabana, onde chegou a ser pendurada de cabeça para baixo da janela do apartamento, sem querer nenhuma informação, apenas por ódio, do dia da prisão dela até o dia em que foi banida do país em troca do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben.[6]
Foi um dos militares integrantes da Casa da Morte, na cidade de Petrópolis, local onde funcionava um centro clandestino de tortura e assassinatos criado pelos órgãos de repressão da ditadura militar brasileira, onde usava a alcunha de Dr. Roberto.[7] Lá, diversos presos políticos capturados foram torturados e assassinados por militares no começo da década de 70.
Teria participado do atentado que provocou o acidente de carro que resultou na morte da estilista Zuzu Angel em 1976; sua foto foi publicada na edição do jornal O Globo no dia do acidente mas Perdigão não havia sido identificado até as investigações da Comissão da Verdade.[8] O grupo de extrema-direita de que participava voltou a agir a partir deste ano. Sequestraram, pintaram de vermelho e espancaram o bispo de Nova Iguaçu Dom Adriano Hipólito e explodiram seu carro em frente à CNBB, e, segundo um dos próprios integrantes do grupo, planejaram, sem chegar a realizar, um atentado contra o presidente Ernesto Geisel.[5]
Migrou para o Serviço Nacional de Informações e chegou a tenente-coronel na década de 1980.[3] Em 2015, a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio), identificou Perdigão como o responsável pela carta bomba enviada à Ordem dos Advogados do Brasil que matou Lyda Monteiro da Silva, em 27 de agosto de 1980 e era endereçada ao presidente da entidade, Eduardo Seabra Fagundes.[9] Em 30 de abril de 1981, com o codinome de ‘Aloisio Reis’, comandou e participou do Atentado do Riocentro, atirando uma bomba na casa de força do pavilhão, onde encontravam-se milhares de jovens assistindo a um show comemorativo do Dia do Trabalhador.[7] Seu nome foi encontrado anos depois na caderneta de telefone do sargento Guilherme do Rosário, morto no atentado que pretendia realizar, como integrante de um "Grupo Secreto". Para ser promovido a general deveria comandar uma tropa, lhe ofereceram uma em São Paulo, mas como não queria se mudar do Rio de Janeiro, pediu transferência para a reserva.[3] Foi logo em seguida recontratado pelo SNI: permaneceu no Rio e acumulou o salário com a pensão do exército, recebendo mais que um general de exército.[3] Em 1982, assassinou a tiros o jornalista, empresário e informante do SNI Alexandre von Baumgarten e sua mulher, segundo depoimento de outro notório e confesso torturador, o ex-coronel Paulo Malhães, à Comissão da Verdade em 2014.[10]
Desprestigiado após o fracasso do atentado no Riocentro, passou a dar apoio ao bicheiro e ex-militar Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães, para firmar-se como a mais bem estruturada organização criminosa da história do país. A partir de 1987, além de proteção ele passou a se envolver diretamente com o jogo do bicho, ao lado do Capitão Guimarães, que havia assumido a presidência da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Com o apoio financeiro e logístico de Guimarães, o coronel montou uma loja para fornecer produtos de carnaval para as escolas de samba e assumiu a chefia da segurança de empresas de ônibus ligadas aos bicheiros da Baixada Fluminense.[11]
Perdigão chegou a abrir “uma mesa de jogos de azar" na região da cidade de Cabo Frio, com o apoio do Capitão Guimarães. Uma desavença financeira com o bicheiro Anísio Abraão David provocou o afastamento entre Perdigão e o Capitão Guimarães. Este ficou com o chefão do jogo do bicho e abandonou o ex-chefe no sistema militar.[11] Morreu em 1996, aos 60 anos, durante uma operação de apêndice.[6]
Pelos serviços prestados recebeu a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.[3]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «FREDDIE PERDIGÃO». memoriasdaditadura.org.br. Consultado em 16 de julho de 2017
- ↑ Gaspari, Elio (2014). A Ditadura Envergonhada 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca. 431 páginas. ISBN 978-85-8057-397-8
- ↑ a b c d e Gaspari, Elio (2014). A Ditadura Escancarada 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca. 526 páginas. ISBN 978-85-8057-408-1
- ↑ «Ex-soldado denuncia coronel Perdigão na Comissão da Verdade». Associação Brasileira de Imprensa. Consultado em 16 de julho de 2017
- ↑ a b Gaspari, Elio. «Uma patifaria da história: tudo começou (e acabou) com Perdigão». Folha de S.Paulo. Consultado em 16 de julho de 2017
- ↑ a b «Quem era o Perdigão do Riocentro ?». Conversa Afiada. 26 de abril de 2011. Consultado em 7 de março de 2017
- ↑ a b Gaspari, Elio. «A Ditaura Acabada». Consultado em 14 de julho de 2017
- ↑ Jornal O Globo: Comissão da Verdade diz que foto comprova envolvimento de militares na morte de Zuzu Angel - Jornal O Globo, acesso: 5/8/2015
- ↑ «Secretária da OAB morta em 1980 foi vítima de agentes do Exército, diz comissão». EBC. Consultado em 16 de julho de 2017
- ↑ «Coronel revela assassino de jornalista ligado ao SNI». O Estado de São Paulo. Consultado em 16 de julho de 2017
- ↑ a b «Livro diz que capitão do Exército modernizou o jogo do bicho e produziu uma máfia tropical». Jornal Opção. 5 de dezembro de 2015. Consultado em 7 de março de 2017