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Gavião-pega-macaco

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Gavião-pega-macaco em reabilitação em Porto Iguaçu, na Argentina
Gavião-pega-macaco em reabilitação em Porto Iguaçu, na Argentina
Espécime predando roedor
Espécime predando roedor
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Accipitriformes[2]
Família: Accipitridae
Género: Spizaetus
Espécie: S. tyrannus
Nome binomial
Spizaetus tyrannus
(Wied, 1820)
Distribuição geográfica
Distribuição do gavião-pega-macaco no Brasil e países da América Latina
Distribuição do gavião-pega-macaco no Brasil e países da América Latina

O gavião-pega-macaco,[3] também designado como apacanim, cutiú-preto, gavião-de-penacho, papa-mico, uiruucotim, urubutinga ou urutaurana[4][5] (nome científico: Spizaetus tyrannus), é uma águia da família dos acipitrídeos (Accipitridae) que ocorre do México à Argentina e em todo o Brasil.[6] O gavião-pega-macaco, o gavião-pato e o gavião-de-penacho são as únicas três espécies de águias-açores presentes no Brasil.[7]

"Gavião-pega-macaco", "papa-mico", "papa-macaco" e "pega-macaco" são referências à sua predileção por se alimentar de macacos. "Uiruucotim" é uma palavra de origem tupi.[8] Segundo o Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi (DHPT), apucanim tem provável origem tupi a partir de yapaka'ni, que também originou o designativo japacanim, aplicado a outras aves. Foi citado a primeira vez em 1777 como yapacani e em 1783 como japocani.[9] Cutiú-preto, segundo Antenor Nascentes, derivou do tupi kuti'u, no sentido de "gavião preto do Amazonas", e -una (que pode variar para -m ou -u), que significa "preto".[10] Urubutinga, por sua vez, derivou de uruwu'tinga, < uru'wu, no sentido de urubu, e -tinga, no sentido de branco. Foi registrado em 1594 como urubutĩga e 1610 como urubatinga.[11]

O gavião-pega-macaco tem de 58 a 70 centímetros (23 a 28 polegadas) de comprimento e pesa cerca de 900 a 1 300 gramas (2 a 2,9 libras). Tem plumagem preta com padrões variados em suas asas e corpo, e manchas brancas em alguns lugares. Tem as asas barradas, de forma ligeiramente elíptica, e uma cauda longa e estreita que raramente é abanada. As quatro barras cinzentas na cauda são distintivas do gavião-pega-macaco, assim como a linha branca vista ligeiramente acima do olho do pássaro. Durante o voo, a largura e a brevidade das asas tornam-se aparentes,[12] e sua cauda é normalmente mantida fechada.[13]

Embora leve e pequeno em comparação com outras águias, o gavião-pega-macaco é um poderoso predador que frequentemente caça presas relativamente grandes. Alimenta-se principalmente de grandes roedores, gambás e macacos, bem como, ocasionalmente, morcegos, pássaros e alguns répteis.[14] As aves que captura podem ser bem grandes, como tucanos e Ortalis.[13] Robinson (1994) registrou um gavião-pega-macaco capturando esquilos do gênero Sciurus a dois metros do solo. Há também registros de captura de pequenos pássaros como o bentevizinho-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis). Como a fêmea é maior que o macho, as presas capturadas por eles são de tamanhos diferentes, de modo que não competem entre si por comida, podendo permanecer na mesma área, o que facilita o encontro para o cruzamento. Funes et al. (1992) registraram 75 tipos de presas entregues a fêmeas e filhotes em dois ninhos no Parque Nacional de Tikal, Guatemala. Os pesquisadores descobriram que 68% das presas eram mamíferos (14 esquilos pequenos, oito gambás da América Central (Caluromys derbianus), um esquilo de tamanho médio e cinco mamíferos não identificados), 2,6% eram aves (duas aves não identificadas) e 29,3% eram presas não identificadas.[15]

A maioria das presas eram pequenos mamíferos noturnos, sugerindo que a espécie tem maior preferência por mamíferos do que o gavião-de-penacho. J. Luís Rangel-Salazar encontrou um ninho em 7 de março de 1991 em Iucatã, recolheu restos de presas e os tucanos-de-peito-amarelo (Ramphastos sulfuratus) foram as presas mais abundantes; mamíferos (guaxinins e esquilos) representaram 17,6% do total de presas.[16] Skutch (1960) registrou a predação desta espécie sobre os filhotes de um casal de bentevizinho-de-penacho-vermelho. No Panamá, segundo Wetmore (1965), o colecionador E. A. Goldman pegou um pássaro perto de Gatun enquanto estava sentado no topo de uma árvore alta comendo uma iguana (Iguana iguana). Smith (1970) observou adultos alimentando jovens com duas iguanas, cada uma com aproximadamente 25 centímetros de comprimento, uma cobra (Oxybelis sp.), um gaio-de-peito-preto (Cyanocorax affinis) e um esquilo Sciurus granatensis. No Peru, um gavião-pega-macaco foi observado nas proximidades de Cocha Cashu, Parque Nacional de Manu, carregando um grande lagarto (30-35 centímetros), que de repente mergulhou do dossel para capturar um esquilo (Sciurus sp.), atacando araras em uma árvore e carregando um roedor não identificado (Robinson 1994).[14]

O comportamento reprodutivo do gavião-pega-macaco é pouco conhecido. Em um estudo realizado na Guatemala pelo The Peregrine Fund, quatro ninhos foram documentados. A altura média dos ninhos foi de 25,5 metros e os ninhos foram todos construídos em galhos laterais afastados do centro da árvore. Todos os pares reprodutores conhecidos, tanto na natureza quanto em cativeiro, colocaram ninhadas de ovos únicos e o período de incubação estimado é de 44 dias.[17] Em El Salvador, West (1988) viu um ninho putativo desta espécie localizado a 15 metros de altura em uma nespereira de 20 metros (Manilkara chicle) no Bosque El Impossible. A árvore do ninho estava localizada em uma encosta, com vista para um vale.[18]

Na Guatemala, um ninho com um ovo foi achado em 29 de abril de 1992 no Parque Nacional de Tikal, e o filhote eclodiu em 5 de maio e emplumou em 15 de julho. Outro ninho com um filhote de seis semanas foi encontrado em 3 de julho de 1992. O ninho no Parque Nacional de Tikal estava localizado a 27 metros acima do solo em uma árvore Brossimum alicastrum de 30 metros de altura e estava em um emaranhado de trepadeiras sustentado por dois galhos secos a trinta pés do tronco principal. Outro ninho tinha 28 metros de altura em uma árvore Bucida buceras, e também estava em um emaranhado de trepadeiras sustentado por dois galhos a cerca de 3 metros do tronco principal.[15] No Panamá, Smith (1970) encontrou dois juvenis em um ninho na Zona do Canal em fevereiro de 1965 e um juvenil emplumado próximo ao mesmo ninho em agosto de 1968.[19]

Duas subespécies de gavião-pega-macaco são conhecidas:[20]

  • Spizaetus tyrannus serus - do sul do México ao nordeste da Argentina e Brasil; ilha da Trindade.
  • Spizaetus tyrannus tyrannus - do leste e sul do Brasil ao extremo nordeste da Argentina (Misiones).

Conservação

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Espécime avistado em pleno voo no Panamá

Estima-se que a população de gavião-pega-macaco esteja dentro da faixa de 50 e 500 mil indivíduos em toda sua extensão. É sabido que está com uma moderada tendência de declínio, porém os dados são insuficientes. Um estudo de sensoriamento remoto descobriu que a floresta dentro de seu alcance foi perdida a uma taxa de 8% ao longo de três gerações. Se essa taxa perdurar, a espécie diminuirá 10% ao longo de três gerações. Por sua grande população e ampla área de ocupação, e apesar de seu declínio, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / ICUN) classificou o gavião-pega-macaco como uma espécie pouco preocupante.[1] Em 2005, foi listada como vulnerável na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[21] em 2010, foi classificado como em perigo na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais[22] e quase ameaçado no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná;[23] em 2011, como vulnerável na Lista das Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção em Santa Catarina;[24] em 2014, como em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo[25] e sob a rubrica de "dados insuficientes" na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Rio Grande do Sul;[26][27] e em 2018 como pouco preocupante na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (IMCBio).[28][29]

Referências

  1. a b BirdLife International (2020). «Spizaetus tyrannus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2020: e.T22696193A168672294. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T22696193A168672294.enAcessível livremente. Consultado em 20 de abril de 2022 
  2. «Raptors». IOC World Bird List (em inglês). Consultado em 15 de Outubro de 2010 
  3. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 154. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  4. Ferreira, A. B. H. (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 841 
  5. «Gavião-pega-macaco». Michaelis. Consultado em 20 de abril de 2022 
  6. Menq, Willian (20 de abril de 2020). «Águias brasileiras». Aves de Rapina Brasil. Consultado em 20 de abril de 2022. Cópia arquivada em 30 de agosto de 2021 
  7. Menq, Willian (2018). «Gavião-pega-macaco Spizaetus tyrannus (Wied, 1820)». Aves de Rapina Brasil. Consultado em 20 de abril de 2022. Cópia arquivada em 20 de abril de 2022 
  8. Ferreira, A. B. H. (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 733 
  9. Grande Dicionário Houaiss, verbete apacanim
  10. Grande Dicionário Houaiss, verbete cutiú-preto
  11. Grande Dicionário Houaiss, verbete urubutinga
  12. Hilty, Steven L. (2003). Birds of Venezuela. Londres: Christopher Helm. ISBN 0-7136-6418-5 
  13. a b «Black Hawk-Eagle». Consultado em 20 de abril de 2022. Cópia arquivada em 7 de janeiro de 2022 
  14. a b «Spizaetus tyrannus». The Peregrine Fund - Global Raptor Information Network. Consultado em 20 de abril de 2022. Cópia arquivada em 19 de abril de 2021 
  15. a b Gerhardt, Richard P.; Harris, Paula M.; Marroquin, Miguel Angel Vasquez (1993). «Food Habits of Nesting Great Black Hawks in Tikal National Park, Guatemala». Biotropica. p. 349. ISSN 0006-3606. doi:10.2307/2388794 
  16. Quintero, I.; Jácome, A. (2011). Schulenberg, T. S., ed. «Black Hawk-Eagle (Spizaetus tyrannus), version 1.0.». Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia. Neotropical Birds Online. doi:10.2173/nb.blheag1.01 
  17. Whitacre, David F. «Neotropical Birds of Prey- Black Hawk-eagle». p. 185-202 
  18. West, Jane Noll (1988). Raptors of El Imposible Forest, El Salvador, C.A. Washington: Universidade Central de Washington. OCLC 20642069 
  19. Smith, Neal G. (1970). «Nesting of King Vulture and Black Hawk-Eagle in Panamá» (PDF). The Condor. 72 (2): 247-248. ISSN 0010-5422. doi:10.2307/1366655 
  20. Clements, J. F.; Schulenberg, T. S.; Iliff, M. J.; Roberson, D.; Fredericks, T. A.; Sullivan, B. L.; Wood, C. L. (2018). The eBird/Clements checklist of birds of the world. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia 
  21. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  22. «Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais» (PDF). Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM. 30 de abril de 2010. Consultado em 2 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 21 de janeiro de 2022 
  23. Livro Vermelho da Fauna Ameaçada. Curitiba: Governo do Estado do Paraná, Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná. 2010. Consultado em 2 de abril de 2022 
  24. Lista das Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção em Santa Catarina - Relatório Técnico Final. Florianópolis: Governo do Estado de Santa Catarina, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, Fundação do Meio Ambiente (FATMA). 2010 
  25. Bressan, Paulo Magalhães; Kierulff, Maria Cecília Martins; Sugleda, Angélica Midori (2009). Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo - Vertebrados (PDF). São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA - SP), Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 25 de janeiro de 2022 
  26. de Marques, Ana Alice Biedzicki; Fontana, Carla Suertegaray; Vélez, Eduardo; Bencke, Glayson Ariel; Schneider, Maurício; Reis, Roberto Esser dos (2002). Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Rio Grande do Sul - Decreto Nº 41.672, de 11 de junho de 2002 (PDF). Porto Alegre: Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; PANGEA - Associação Ambientalista Internacional; Fundação Zoo-Botânica do Rio Grande do Sul; Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA); Governo do Rio Grande do Sul. Consultado em 2 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 31 de janeiro de 2022 
  27. «Decreto N.º 51.797, de 8 de setembro de 2014» (PDF). Porto Alegre: Estado do Rio Grande do Sul Assembleia Legislativa Gabinete de Consultoria Legislativa. 2014. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 16 de março de 2022 
  28. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  29. «Spizaetus tyrannus Linnaeus». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 20 de abril de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022 
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