Jacinto de Matos

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Jacinto de Matos
Jacinto de Matos
Nascimento 1864
Porto
Morte 1948
Cidadania Reino de Portugal, Portugal
Ocupação arquiteto paisagista

Jacinto de Matos, também grafado Jacintho de Mattos, (Porto, 1864 - Porto, 1 de agosto 1948) foi um horticultor e jardineiro-paisagista português do final do século XIX e primeira metade do século XX. Suas obras comtemplavam a mistura do modelo clássico e formalista com modelos românticos, naturalistas e pitorescos, aderindo ao estilo Arts and Crafts e inaugurando a experimentação dos jardins rebaixados (sunken gardens) em Portugal.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Pouco se sabe sobre a infância e juventude de Jacinto de Matos. Segundo Abel Magro, em seu artigo "Um jardineiro de mérito" (1950), Matos possuia uma incrível sensibilidade artística e grande paixão por flores.[3] Viagens pela Bélgica, Holanda, Alemanha, Inglaterra e França, lhe deram a oportunidade de aprender sobre floricultura e a arte da jardinagem.[2]

Em 1870, Jacinto de Matos herdou um horto fundado por seu pai, Zeferino de Mattos, no Porto. Após a morte de seu pai, em 1878, o horto designou-se "Viúva de Zeferino de Mattos", pertencendo à sua mãe e sendo ele director. Em 1900, ele se torna proprietário.[2]

O seu estabelecimento (a Quinta dos Salgueiros, na região de Antas) era um grande viveiro com estufas e armações de jardim. Possuia também um departamento técnico para o desenho de jardins e parques. Alguns dos viveiros eram situados em Vila Nova de Gaia.[2]

O Parque das Pedras Salgadas em 1889 é considerado o seu primeiro projeto de um percurso que integra 50 jardins públicos e mais de 650 parques e jardins privados.[2]

Horto de Jacinto de Matos no Porto, foto de Augusto Chaim publicada na Ilustração Católica (Braga), 6 de dezembro de 1913

Em 1898, Jacinto de Matos foi sócio fundador, em Lisboa, da Sociedade Nacional de Horticultura de Portugal. Em 1899, participou à fundação da União dos Jardineiros do Porto enquanto presidente da assembleia geral (sendo reeleito em outubro de 1901).[1]

Em 1903, Jacinto de Matos presidia (com Jeronimo Monteiro da Costa e José Duarte Oliveira) a reuniões da Sociedade de Horticultura do Porto, a primeira sociedade hortícola em Portugal (1897), onde eram apresentadas espécies ornamentais e frutos para avaliação pelos membros. Embora não tendo realizado a sua formação neste estabelecimento, Jacinto assume um protagonismo significativo nas actividades da Sociedade associadas à homenagem póstuma a Marques Loureiro, demonstrando que, também ele, teria sido, de algum modo, marcado pelo ‘decano da horticultura portuguesa’.[1]

Na sessão de 6 de Junho de 1899 da Sociedade de Horticultura do Porto, Jacinto de Matos informou que, em Julho, partia em viagem de estudo pelos principais centros hortícolas da Europa. A Sociedade de Horticultura deu-lhe plenos poderes para que ele a pudesse representar no estrangeiro e relacioná-la com todas as sociedades congéneres.[1]

Exposição de Flores organizada por Jacinto de Matos no Casino Peninsular da Figueira da Foz em junho de 1905. Foto publicada na Ilustração Portuguesa de 24 de julho de 1905

A partir de 1882, organizou e participou em diversas exposições no Palácio de Cristal do Porto e no Ateneu Portuense. Participou também numa exposição de fruticultura em Alcobaça; outra de flores e fruticultura na Cúria; três exposições de crisântemos e fruticultura na Galiza, (Pontevedra e Vigo); uma exposição de rosas por si organizada em Vigo; e uma exposição de flores na Figueira da Foz.[2]

No livro Jardins Históricos do Porto (Ed. Inapa, 2001), Teresa Andresen e Teresa Portela Marques enumeram alguns dos jardins e parques projectados por Jacinto de Matos em todo o país: Parque de São Roque, jardim da Ordem dos Médicos (à Arca d'Água), Parque da Curia, Parque das Pedras Salgadas, espelhos de água dos jardins da Presidência do Conselho de Ministros, Jardim da Fundação Eng. António de Matos, jardim da Ordem dos Médicos, Jardim municipal de Nisa, e, ainda existentes no Porto, a Quinta de S. Roque da Lameira e o jardim da Casa Allen (Casa das Artes) e a Quinta dos Salgueiros no Porto, onde do antigo arvoredo, sobrevivem ainda camélias, pinheiros, cedros, ciprestes-do-Buçaco, bétulas, prunus, magnólias, grevíleas, carvalhos-americanos e uma imponente faia. Foi ainda autor do Jardim do Cardal e do Jardim da Várzea, em Pombal.[4]

Expedição de Plantas na Quinta dos Salgueiros em Antas (Porto). ‘Catálogo Geral de Plantas e Sementes nº 28 (1910)’ de Jacinto de Matos

Obra (por ordem geográfica)[editar | editar código-fonte]

Em 2009, Teresa Dulce Portela Marques[1] estabeleceu a seguinte lista para os parques e jardins da sua autoria:

Catálogo de Jardins e Parques[editar | editar código-fonte]

Parque das Pedras Salgadas, Vila Pouca de Aguiar, 1889[editar | editar código-fonte]

Palácio da Brejoeira, Monção, 1901-1910[editar | editar código-fonte]

Termas de Caldelas, 1918-1923[editar | editar código-fonte]

Termas da Curia, Anadia, 1913-1926[editar | editar código-fonte]

Parque de Santa Cruz / Jardim da Sereia, Coimbra (requalificação)[editar | editar código-fonte]

Penedo da Saudade, Coimbra, 1930[editar | editar código-fonte]

Parque Municipal Infante D. Pedro, Aveiro, 1925-1927[editar | editar código-fonte]

Jardins Públicos[editar | editar código-fonte]

Aspectos arquitectónicos e espécies vegetais[editar | editar código-fonte]

O bem conservado jardim da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos,[7] junto à Arca d’Água, pertenceu à família Riba d’Ave.[7] Possui lago, gruta e miradouro decorados com os tradicionais motivos naturais em cimento armado, para além de várias esculturas modernas. A vegetação inclui um Cedro-do-Atlas e um Tulipeiro, ambos classificados em 2011, ciprestes, araucácias, rododendros, magnólias, palmeiras, camélias e uma monumental araucária-do-Brasil. Destacam-se ainda as 13 magnólias e os plátanos monumentais, coreto, lago, gruta e subterrâneos/reservatórios de águas.

O Parque Manuel Braga em Coimbra começou a ser construído nos meados da década de 20 do século passado e foi inaugurado em 1927. Destacam-se várias espécies de árvores, tais como os plátanos, tílias, olaias, castanheiros-da índia e ulmeiros, entre outras. Notáveis são igualmente os belos canteiros ajardinados, onde sobressaem desenhos com buxos e flores compondo o brasão da Rainha Isabel de Aragão, padroeira da cidade, e o escudo de Coimbra, além de um emblema do Clube de Futebol União de Coimbra e um outro da Associação Académica.

No parque natural de Pedras Salgadas, descobre-se o denso e valioso património arbóreo, com exemplares notáveis de sequoia-sempre-verde (Sequoia sempervirens), sequoia-gigante (Sequoiadendron giganteum), abeto-de-Douglas (Pseudotsuga menziesii), cedro-do-Atlas (Cedrus atlântica), cipreste-do-Buçaco (Cupressus lusitanica), calocedro (Calocedrus decurrens), faia (Fagus sylvatica), ou exemplares admiráveis de espécies raras como a cuningamia (Cunninghamia lanceolata), ou a metasequoia (Metasequoia glyptostroboides). Os jardins do parque adquiriram o desenho de caráter marcadamente romântico com Jacinto de Matos, surpreende com os pequenos recantos e grutas, a água que corre nas fontes ou as antigas casas de pássaros e o observatório meteorológico, que guardam lembranças do passado. Existem dois pequenos jardins formais: o Jardim do Casino, com topiárias de buxo (Buxus microphylla), e o Roseiral, construído nos anos 1950, recentemente recuperado.[8]

A Casa Nova, que alberga a Fundação Engenheiro António de Almeida,[9] foi construída nos anos trinta do século XX tendo os seus jardim sido desenhado pelo horticultor e paisagista portuense, que segundo o livro Jardins Históricos do Porto, o jardim da Casa Nova, um dos últimos da grande tradição dos jardins portuenses. É, acima de tudo, um jardim para a disposição de plantas e, ainda hoje, é notável a diversidade arbórea e arbustiva. Entre os arbustos, cabe destacar as azáleas, os rododendros e a variada colecção de camélias; e, entre as numerosas árvores hoje adultas, de assinalar a alameda de tulipeiros e várias faias, liquidâmbares e carvalhos de avantajado porte.

À obra de Jacinto Matos há que acrescentar a colaboração com seu amigo José Zagalo Ilharco (1860-1910) na criação do Parque Zagalo Ilharco, jardim que rodeava a vivenda mandada construir por este último em 1902 na Avenida da Boavista, no Porto.

Referências

  1. a b c d e MARQUES, Teresa Dulce Portela (2009). Dos jardineiros paisagistas e horticultores do Porto de oitocentos ao modernismo na arquitectura paisagista em Portugal. [S.l.]: Universidade Técnica de Lisboa / Instituto Superior de Agronomia 
  2. a b c d e f Andresen Guedes, Joana (2022) [2021]. «Jacinto de Matos – a Portuguese garden designer with a passion for camellia» (PDF). The International Camellia Society. International Camellia Journal (53). ISSN 0159-656X. Consultado em 22 de janeiro de 2023. Arquivado do original (PDF) em 13 de março de 2022 
  3. MAGRO, Abel. (1949). Um jardineiro de mérito. In “O Tripeiro”, Ano 5, nº 10. Fevereiro de 1950, pp.231-233.
  4. Andresen, Teresa; Marques, Teresa Portela; Mayor, João Paulo Sotto (2001). Jardins históricos do Porto. Col: Colecção Portucale. Lisboa: Ed. Inapa 
  5. «Parque da Villa Buenos-Aires (Aguas Minerales Lerez) de Casimiro Gomez» (em espanhol) 
  6. «Na Galiza, à descoberta do tesouro botânico de Lourizán». Público. 21 de outubro de 2023 
  7. a b Almeida, Maria. «CONVITE | Rota das Árvores do Porto | Árvores de Jacinto | 14 de maio». FUTURO - Projeto das 100 mil árvores. Consultado em 19 de julho de 2023 
  8. admina (9 de maio de 2014). «PEDRAS SALGADAS SPA & NATURE PARK». Revista FRONTLINE. Consultado em 19 de julho de 2023 
  9. «Conferência e visita guiada por Teresa Andresen». Consultado em 19 de julho de 2023