Jakobea

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Jakobida
Quatro espécies de jacobídeos, mostrand o sulco e os flagelos: Jakoba libera (vista ventral), Stygiella incarcerata (vista ventral), Reclinomonas americana (vista dorsal) e Histiona aroides (vista ventral).
Quatro espécies de jacobídeos, mostrand o sulco e os flagelos: Jakoba libera (vista ventral), Stygiella incarcerata (vista ventral), Reclinomonas americana (vista dorsal) e Histiona aroides (vista ventral).
Classificação científica
Domínio: Eukariota
Clado: Diphoda
Clado: Discoba
Classe: Jakobea
Cavalier-Smith 1997 emend. 2003[1]
Ordem: Jakobida
Cavalier-Smith, 1993
Famílias
Sinónimos

Jakobea é um clado de microorganismos heterotróficos flagelados, geralmente considerado no nível taxonómico de classe ou de filo, pertencentes ao supergrupo Excavata. Os membros do agrupamento são pequenos eucariotas de vida livre (menos de 15 μm) encontrados em ambientes aeróbicos e anaeróbicos.[3][4][5] Estão validamente descritas pelo menos 22 espécies.

Descrição[editar | editar código-fonte]

A ordem Jakobida, que se acredita ser monofilética, consiste em apenas 20-22 espécies, tendo sido classificada como um grupo em 1993.[3][5][6] Existem ainda algumas incertezas sobre os genomas mitocondriais dos jakobídeos, que são extraordinariamente grandes e semelhantes a bactérias, evidência de que os jakobídeos podem ser importantes para a história evolutiva dos eucariotas.[4][7]

Evidências obtidas com recurso às tecnicas da filogenética molecular sugerem fortemente que os jakobídeos estão fortemente relacionados com Heterolobosea (Percolozoa) e Euglenozoa[8] do que com qualquer outro agrupamento taxonómico.

Morfologia[editar | editar código-fonte]

Os jakobídeos apresentam dois flagelos, inseridos na extremidade anterior da célula, e, como outros membros do agrupamento Excavata, têm um sulco de alimentação ventral associado a um citoesqueleto de suporte.[9] O flagelo posterior possui uma palheta dorsal e está alinhado dentro do sulco ventral, onde gera uma corrente que a célula utiliza para a ingestão de alimentos.[7][9]

O núcleo está geralmente na parte anterior da célula e possui um nucléolo. A maioria dos jakobídeos conhecidos tem uma mitocôndria, novamente localizada anteriormente, que em diferentes géneros pode ter cristas achatadas, tubulares ou ausentes. Os vacúolos alimentares estão localizados principalmente na parte posterior da célula e, na maioria dos jacobídeos, o retículo endoplasmático está distribuído por toda a célula.[6]

Os Histionidae, que são organismos sésseis e loricados, e ocasionalmente os nadadores livres da espécie Jakoba libera (Jakobidae), apresentam extrussomas sob a membrana dorsal, organelos que teoricamente são estruturas defensivas.[3][6]

DNA mitocondrial[editar | editar código-fonte]

Como os Jokobea não têm uso económico conhecido, a maioria da investigação sobre o grupo esteve concentrada sobre o seu significado evolutivo. O DNA mitocondrial dos jakobídeos é o mais parecido com uma bactéria de todos os DNA mitocondriais eucarióticos conhecidos, sugerindo que os genomas mitocondriais dos jakobídeos podem estar próximos do genoma mitocondrial ancestral.[6]

O DNA mitocondrial de Jakobea é substancialmente diferente da maioria dos outros eucariotas, especialmente em termos de número de genes (quase 100 em algumas espécies) e na presença de elementos semelhantes a genes de bactérias nos seus genomas.[5][6] Nove dos genes nunca foram encontrados no DNA mitocondrial eucariótico. Excepcionalmente, os genomas mitocondriais dos jakobídeos codificam para o tipo bacteriano da RNA polimerase, em oposição ao típico RNA polimerase eucariótico mitocondrial, referido como “tipo fago”, que parece ser de origem viral.[6]

Essas características não significam necessariamente que os jakobídeos são basais para a filogenia dos eucariotos. Enquanto as mitocôndrias dos jakobídeos têm características genéticas que parecem terem sido desenvolvidas a partir de bactérias, e aparentemente não possuem RNA do tipo fago, é possível que outros clados eucarióticos tenham independentemente perdido as características bacterianas.[10]

Foram propostas várias possibilidades para explicar as características bacterianas do DNA mitocondrial deste grupo. Uma delas é que os jakobídeos divergiram muito cedo do resto dos eucariotas. Essa hipótese depende de se comprovar que os jakobídeos são realmente basais para todos os eucariotas vivos, mas ainda não há evidências para apoiar essa sugestão.[6]

Outra hipótese é que a RNA polimerase do tipo fago passou de um grupo de eucariotas para outro via transferência lateral de genes, substituindo a enzima do tipo bacteriano, e simplesmente não atingiu os jakobídeos. Isso não dependeria de os jakobídeos serem basais para os eucariotas como um todo, mas a questão não foi amplamente estudada e permenece incerta.[6]

Uma terceira possibilidade é o inverso das outras, sugerindo que a RNA polimerase do tipo fago é a basal. Nesse cenário, os jakobídeos adquiriram a RNA polimerase do tipo bacteriano muito mais recentemente e que então se espalharam por transferência lateral de genes.[6] No entanto, o arranjo génico do DNA mitocondrial dos jakobídeos sugere uma origem ancestral da polimerase de RNA do tipo bacteriano como uma divergência mais recente.[5][6]

Um dos cenários propostos sugere que o ancestral comum dos eucariotas tinha duas polimerases de RNA mitocondrial, tanto do tipo fago quanto do tipo bactéria, e os jakobídeos perderam a polimerase do tipo fago, enquanto o restante dos eucariotas perdeu o tipo de bactéria, possivelmente várias vezes.[6][11] Tal modelo elimina a necessidade de os jakobídeos serem verdadeiramente basais. Um estudo propôs que as polimerases do tipo fago e do tipo bactéria, quando presentes na mesma mitocôndria, desempenhavam funções diferentes, da mesma forma que os organelos das plantas terrestres têm duas enzimas RNA polimerase diferentes que transcrevem genes diferentes.[6]

Ecologia[editar | editar código-fonte]

Os jakobídeos têm uma ampla distribuição natural, tendo sido encontrados no solo, água doce e em diversos habitats marinhos, mas geralmente não são comuns.[4][7][6][12] Contudo, estudos de DNA ambiental sugerem que os Stygiellidae são abundantes em habitats marinhos anóxicos.[6][13]

Alguns membros deste agrupamento são capazes de sobreviver em ambientes hipersalinos e anóxicos, embora os histionídeos tenham sido encontrados apenas em ecossistemas de água doce, onde se ligam a algas ou zooplâncton.[6] Fora das espécies sésseis obrigatórias, muitas espécies de jakobídeos podem-se fixar temporariamente sobre superfícies, usando um dos dois flagelos ou o próprio corpo celular.[13]

Todos os jakobídeos conhecidos são organimsos heterotróficos que vivem como alimentadores de suspensão.[4][6] Acredita-se que as suas presas primárias sejam bactérias, embora uma espécie tenha sido observada ingerindo células eucarióticas extremamente pequenas (< 1 µm).[5][14] Os jakobídeos são geralmente nadadores lentos, com baixas taxas de depuração em relação a organismos semelhantes.[6] Nenhum estudo sugeriu que os jakobídeos possam ser patogénicos ou tóxicos para humanos e para a macrofauna.[6]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

Jakobídeos são um grupo monofilético e estão filegeneticamente mais intimamente relacionados com os Euglenozoa e Heterolobosea.[5][6][10] Na sua presente circunscrição taxonómica, o agrupamento Jakobida contém cinco famílias que consistem principalmente em géneros de natação livre: Jakobidae, Moramonadidae, Andaluciidae e Stygiellidae.[6] A sexta família, Histionidae, é amplamente dominada por géneros sésseis loricados e inclui os primeiros jacobídeos que foram descritos.[6] Uma possível taxonomia e cladograma para o grupo são os seguintes:

 Ophirinina
 Ophirinidae

 Ophirinia

 Andaluciina
 Andaluciidae

 Andalucia

Stygiellidae

 Stygiella

 Histionina
 Moramonadidae

 Moramonas

 Seculamonas

 Jakobidae

 Jakoba

 Histionidae

 Reclinomonas

 Histiona


Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Cavalier-Smith T (2003). «The excavate protozoan phyla Metamonada Grassé emend. (Anaeromonadea, Parabasalia, Carpediemonas, Eopharyngia) and Loukozoa emend. (Jakobea, Malawimonas): their evolutionary affinities and new higher taxa». International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology. 53: 1741–1758. doi:10.1099/ijs.0.02548-0 
  2. Cavalier-Smith T (1997). «Amoeboflagellates and Mitochondrial Cristae in Eukaryote Evolution: Megasystematics of the New Protozoan Subkingdoms Eozoa and Neozoa». Archiv für Protistenkunde. 147: 237–258 
  3. a b c O'Kelly, Charles J. (1993). «The Jakobid flagellates: structural features of Jakoba, Reclinomonas, and Histonia and implications for the early diversification of eukaryotes». Journal of Eukaryotic Microbiology. 40 (5): 627–636. doi:10.1111/j.1550-7408.1993.tb06120.x 
  4. a b c d Strassert, Jürgen F. H.; Tikhonenov, Denis V.; Pombert, Jean-François; Kolisko, Martin; Tai, Vera; Mylnikov, Alexander P.; Keeling, Patrick J. (2016). «Moramonas marocensis gen. nov., sp. nov.: a jakobid flagellate isolated from desert soil with a bacteria-like, but bloated mitochondrial genome». Open Biology. 6 (2). 150239 páginas. PMC 4772810Acessível livremente. PMID 26887409. doi:10.1098/rsob.150239 
  5. a b c d e f Burger, Gertraud; Gray, Michael W.; Forget, Lise; Lang, B. Franz (2013). «Strikingly Bacteria-Like and Gene-Rich Mitochondrial Genomes throughout Jakobid Protists». Genome Biology and Evolution. 5 (2): 418–438. PMC 3590771Acessível livremente. PMID 23335123. doi:10.1093/gbe/evt008 
  6. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u Simpson, Alastair G. B. (2017). «Jakobids». In: Archibald, John M.; Simpson, Alastair G. B.; Slamovits, Claudio H. Handbook of the Protists. [S.l.]: Springer, Cham. pp. 973–1003. ISBN 978-3-319-28147-6. doi:10.1007/978-3-319-28149-0_6 
  7. a b c Lara, Enrique; Chatzinotas, Antonis; Simpson, Alastair G. B. (2006). «Andalucia (n. gen.)—the Deepest Branch Within Jakobids (Jakobida; Excavata), Based on Morphological and Molecular Study of a New Flagellate from Soil». Journal of Eukaryotic Microbiology. 53 (2): 112–120. PMID 16579813. doi:10.1111/j.1550-7408.2005.00081.x 
  8. Hampl V, Hug L, Leigh JW, Dacks JB, Lang BF, Simpson AG, Roger AJ (fevereiro de 2009). «Phylogenomic analyses support the monophyly of Excavata and resolve relationships among eukaryotic "supergroups"». Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 106 (10): 3859–64. Bibcode:2009PNAS..106.3859H. PMC 2656170Acessível livremente. PMID 19237557. doi:10.1073/pnas.0807880106Acessível livremente 
  9. a b Simpson, Alastair G. B.; Patterson, David J. (2001). «On Core Jakobids and Excavate Taxa: The Ultrastructure of Jakoba incarcerata». Journal of Eukaryotic Microbiology. 48 (4): 480–492. PMID 11456326. doi:10.1111/j.1550-7408.2001.tb00183.x 
  10. a b Rodriguez-Ezpeleta, Naiara; Brinkmann, Henner; Burger, Gertraud; Roger, Andrew J.; Gray, Michael W.; Philippe, Herve; Lang, B. Franz (2007). «Toward Resolving the Eukaryotic Tree: The Phylogenetic Positions of Jakobids and Cercozoans». Current Biology. 17 (16): 1420–1425. PMID 17689961. doi:10.1016/j.cub.2007.07.036Acessível livremente 
  11. Stechmann, Alexandra; Cavalier-Smith, Thomas (2002). «Rooting the Eukaryote Tree by Using a Derived Gene Fusion». Science. 297 (5578): 89–91. Bibcode:2002Sci...297...89S. PMID 12098695. doi:10.1126/science.1071196 
  12. Lara, Enrique; Berney, Cedric; Ekelund, Flemming; Harms, Hauke; Chatzinotas, Antonis (2007). «Molecular comparison of cultivable protozoa from a pristine and a polycyclic aromatic hydrocarbon polluted site» (PDF). Soil Biology and Biochemistry. 39 (1): 139–148. doi:10.1016/j.soilbio.2006.06.017 
  13. a b c Pánek, Tomáš; Táborský, Petr; Pachiadaki, Maria G.; Hroudová, Miluše; Vlček, Čestmir; Edgcomb, Virginia P.; Čepička, Ivan (2015). «Combined Culture-Based and Culture-Independent Approaches Provide Insights into Diversity of Jakobids, an Extremely Plesiomorphic Eukaryotic Lineage». Frontiers in Microbiology. 6: art. 1288. PMC 4649034Acessível livremente. PMID 26635756. doi:10.3389/fmicb.2015.01288Acessível livremente 
  14. Christaki, Urania; Vázquez-Domínguez, Evaristo; Courties, Claude; Lebaron, Phillipe (2005). «Grazing impact of different heterotrophic nanoflagellates on eukaryotic (Ostreococcus tauri) and prokaryotic picoautotrophs (Prochlorococcus and Synechococcus)». Environmental Microbiology. 7 (8): 1200–1210. PMID 16011757. doi:10.1111/j.1462-2920.2005.00800.x