Maria Letícia Bonaparte
Maria Letícia Bonaparte | |
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Duquesa de Aosta | |
Duquesa de Aosta | |
Reinado | 11 de setembro de 1888 a 18 de janeiro de 1890 |
Antecessor(a) | Maria Vitória dal Pozzo |
Sucessor(a) | Helena de Orleães |
Nascimento | 20 de novembro de 1866 |
Palais Royal, Paris, França | |
Morte | 25 de outubro de 1926 (59 anos) |
Moncalieri, Itália | |
Sepultado em | Basílica de Superga, Turim |
Nome completo | |
em francês: Marie Laetitia Eugénie Catherine Adélaïde | |
Cônjuge | Amadeu, Duque de Aosta |
Descendência | Humberto, Conde de Salemi |
Casa | Bonaparte (por nascimento) Saboia (por casamento) |
Pai | Napoleão José Carlos Paulo Bonaparte |
Mãe | Maria Clotilde de Saboia |
Religião | Católica |
Maria Letícia Eugênia Catarina Adelaide Bonaparte (Palais Royal, 20 de novembro de 1866 - Moncalieri, 25 de outubro de 1926) foi a filha mais nova do príncipe Napoleão e da sua esposa, a princesa Maria Clotilde de Saboia. Casou-se com o seu tio materno, o príncipe Amadeu, duque de Aosta, antigo rei de Espanha, em 1888.[1] Maria Letícia tornou-se duquesa de Aosta, um título que Amadeu já possuía antes de se tornar rei e manteve depois da sua abdicação. O casamento foi instrumental para fazer renascer as esperanças do regresso da dinastia Bonaparte ao trono para uma posição de poder semelhante à dos dias de Napoleão III.
Família e primeiros anos
[editar | editar código-fonte]O pai de Maria Letícia, Napoleão José, era sobrinho do imperador Napoleão Bonaparte e filho de Jerónimo Bonaparte, rei da Vestefália. A sua mãe, Maria Clotilde de Saboia, era filha do rei Vítor Emanuel II da Itália. Através desta ligação, Maria Letícia era sobrinha do rei Humberto I de Itália e da rainha Maria Pia de Portugal.
Maria Letícia nasceu no Palais Royal em Paris, a 20 de novembro de 1866, durante os últimos anos do Segundo Império Francês.[2] Cresceu entre Paris, Roma e Itália com os seus dois irmãos mais velhos, Vítor e Luís. Após a queda do Império Francês, em 1870, a família mudou-se para uma bonita propriedade perto do lago Léman.[3]
Estado do casamento dos pais
[editar | editar código-fonte]principalmente porque Clotilde preferia levar uma vida mais calma e preenchida por deveres, que achava ser a ideal para o casal, enquanto Napoleão José preferia o estilo de vida mais frenético e cheio de entretenimento da corte francesa. Outro factor que contribuiu para a infelicidade do casal estava relacionada com as circunstâncias que levaram à sua união. Clotilde tinha apenas quinze anos quando se casou, enquanto o seu marido tinha trinta-e-sete. A princesa não se queria casar e apenas concordou para cumprir a vontade do pai. A união tinha sido negociada unicamente por razões políticas durante a conferência de Plombières que se realizou em Julho de 1858. Uma vez que, nesta altura, Clotilde era ainda demasiado nova, Napoleão José teve de esperar até ao ano seguinte; foi criticado por muitos por ter levado a sua noiva de Turim demasiado cedo. O casamento era comparado frequentemente com a união de um elefante com uma gazela. O noivo possuía os traços fortes dos Bonaparte (amplo, volumoso e pesado), enquanto a noiva tinha um aspecto frágil, era baixa, tinha cabelo loiro e possuía o nariz característico da Casa de Saboia.[4]
O seu marido era infiel e ela desempenhava um papel activo com as caridades. Maria Clotilde era descrita como orgulhosa, fanática e zelosa. Durante uma discussão sobre qual seria a forma mais correcta para se vestir, Clotilde assinalou à imperatriz Eugénia que esta não se devia esquecer de que nasceu e foi criada numa corte real. Quando Eugénia se queixou da fatiga da corte francesa em certa ocasião, Clotilde respondeu que "não nos importamos; sabe, nascemos para fazer isto".[5] Também foi descrita como "devota e modesta".[6]
O casamento também não foi popular entre os franceses e os italianos. Principalmente no país natal da princesa, os italianos achavam que a filha do rei tinha sido sacrificada a um membro pouco popular da Casa de Bonaparte e, como consequência, consideravam que esta era uma m+a aliança.[7] No lado francês, Napoleão José tinha má reputação e todos sabiam que mantinha vários casos amorosos tanto antes como depois do casamento. Quando o casal entrou oficialmente em Paris, a 4 de Fevereiro, foi recebido de forma pouco entusiástica pelos parisienses, não por desrespeito à filha do rei da Sardenha, mas por não gostarem do seu marido.[4] De facto, ao longo da sua vida, a simpatia do público era demonstrada mais a seu favor do que ao do marido; Clotilde era vista de forma carinhosa como uma mulher recatada, generosa e devota que estava presa num casamento infeliz.[2]
Pretendentes
[editar | editar código-fonte]Alguns contemporâneos consideravam que Maria Letícia, no final da sua adolescência, era bonita e tinha a aparência de uma "verdadeira Bonaparte".[8] Dizia-se que se parecia bastante com algumas das irmãs de Napoleão Bonaparte que eram consideradas muito bonitas quando eram jovens.[9]
Em Florença, Maria Letícia conheceu e quase se casou com o seu primo, o príncipe Emanuel Felisberto de Saboia.[9] No entanto houve uma mudança de planos e o casamento nunca se realizou. Emanuel acabaria por se casar mais tarde com a princesa Helena de Orleães. Em 1886, correu o rumor de que Maria Letícia se iria casar com outro primo, o príncipe Roland Bonaparte, que tinha trinta-e-cinco anos e tinha ficado viúvo recentemente. Contudo, nunca se confirmaram os rumores.[8]
Casamento
[editar | editar código-fonte]Noivado
[editar | editar código-fonte]Foi em Moncalieri que Maria Letícia conheceu o pai de Emanuel, o príncipe Amadeu, duque de Aosta. Era seu tio materno e tinha sido eleito rei de Espanha durante um breve período de três anos (1870-1873).
Maria Letícia era considerada muito charmosa e Amadeu dependia muito da sua companhia quando visitava Itália. Em 1888, a princesa aceitou casar com ele. Uma fonte atribui o casamento ao facto de que Amadeu gostava muito da sua sobrinha, mas afirma que a decisão de Maria Letícia se devia simplesmente "ao forte desejo de ser independente e de se afastar da princesa, devido ao peso da opressão materna".[10] Enquanto se preparava para o casamento, Maria Letícia recebeu vários presentes notáveis e personalidades como a imperatriz Eugénia, viúva de Napoleão III, e dos três filhos de Amadeu. Eugénia enviou-lhe algumas hóias "magnificas e ilustres" da família enquanto os rapazes lhe ofereceram um colar com sete filas de pérolas no valor de sessenta mil dólares. O casal planeou casar-se em Turim, na esperança de transformar a cidade num "centro de atracção brilhante em Itália".[11]
Motivo de escândalo
[editar | editar código-fonte]O anúncio do casamento provocou grande escândalo na corte italiana, uma vez que Amadeu não só era vinte-e-dois anos mais velho do que a noiva, mas era também seu tio materno. Apesar de tudo, no final desse mesmo ano, foi obtida a dispensa papel e o casal teve permissão para se casar. No entanto, deve ser sublinhado que, apesar de o papa ter dado permissão para o matrimónio, a consanguinidade do casal, bem como a de outras casas reais, acabaria por levar o papa Leão XIII a declarar, em 1902, que não seriam emitidas mais dispensas para este tipo de casamentos.[10]
Casamento
[editar | editar código-fonte]O casamento realizou-se nesse mesmo ano, a 11 de setembro de 1888, no Palácio Real de Turim, em Itália. A cerimónia foi celebrada pelo arcebispo de Turim, o cardeal Gaetano Alimonda, que tinha sido o responsável por se dirigir a Roma para pedir a dispensa.[11] Muitos membros das casa Bonaparte e Saboia estiveram presentes na cerimónia, incluindo a rainha Dona Maria Pia de Portugal, que era irmã de Amadeu e tia materna de Maria Letícia.[12] Maria Letícia era a segunda esposa de Amadeu, uma vez que a sua primeira esposa, Maria Vittoria del Pozzo, tinha morrido em 1876. Devido à grande diferença de idades entre os dois, Letícia era apenas três anos mais velha que o filho mais novo de Amadeu.
O casamento foi muito falado porque foi o primeiro entre um membro da família Bonaparte e um membro de uma casa reinante da Europa desde 1859.[13] Como se tratou também do primeiro grande evento a realizar-se desde a queda da Segunda República Francesa, o casamento foi também instrumental para voltar a dar atenção às expectativas dos Bonaparte entre vários membros da imprensa, principalmente em relação à possibilidade de estabelecer um novo governo. De facto, um artigo chegou mesmo a afirmar que, na altura do casamento, os Bonaparte teriam facilmente obtido dois milhões de votos se tivesse ocorrido um plebiscito. A probabilidade de um Bonaparte ressurgir era ainda maior devido à nostalgia que alguns franceses sentiam pelos dias em que o tio-avô de Maria Letícia, Napoleão Bonaparte, reinava a França e não tanto pelo reinado do seu tio, o imperador Napoleão III.[14]
O casal viveu em Turim e teve um filho: o príncipe Humberto, conde de Salemi, que morreu em batalha durante a Primeira Guerra Mundial. Maria Letícia ficou viúva pouco depois do casamento, uma vez que Amadeu morreu dois anos depois, em Turim, a 18 de Janeiro de 1900.
Últimos anos
[editar | editar código-fonte]Relação com a corte italiana
[editar | editar código-fonte]Até 1902, Humberto e a mãe eram vistos muito raramente na corte italiana. Além do mais, ao contrário de outros membros da família real italiana, não eram mostradas imagens do príncipe Humberto. A sua ausência começou a dar origem a rumores que afirmavam que o príncipe tinha uma "deficiência mental" ou era "deformado".[15] Anos mais tarde, Humberto começou a surgir mais na imprensa, o que levou ao descrédito destas teorias.
A primeira esposa de Amadeu tinha sido uma mulher rica. Quando morreu, deixou uma grande fortuna ao marido e aos três filhos. Tal significou que, após a sua morte, a sua riqueza passou para os seus três filhos mais velhos, deixando pouco ou nada a Maria Letícia e ao seu filho Humberto.[9] Assim, os dois dependiam do rendimento que recebiam da corte. Esta dependência iria causar problemas mais tarde, uma vez que Humberto enfurecia o seu primo, o rei Vítor Emanuel III de Itália, chefe da Casa de Saboia, com frequência. Depois de Humberto cometer vários delitos e partidas em 1911, foi preso no Castelo de Moncalieri. Pouco antes, tinha já sido expulso da academia naval de Livorno, aparentemente devido ao seu comportamento incorrigível e casos amorosos com algumas jovens da cidade. Maria Letícia ficou preocupada com a sentença do filho, que considerou demasiado severa, e escreveu à rainha Helena, pedindo-lhe que intercedesse pelo seu filho. Contudo, o rei não ficou comovido e apenas reduziu um pouco a pena, apenas porque a sua tia, a princesa Maria Clotilde, mãe de Maria Letícia, tinha morrido recentemente.[16]
Morte e herança
[editar | editar código-fonte]Durante a sua viuvez, Maria Letícia manteve uma relação aberta e escandalosa com um militar vinte anos mais novo. Quando morreu, a 25 de Outubro de 1926, foi revelado que este era o único titular do seu testamento, uma vez que o seu filho tinha morrido em 1918.
Genealogia
[editar | editar código-fonte]Maria Letícia Bonaparte | Pai: Napoleão José Carlos Paulo Bonaparte |
Avô paterno: Jerónimo Bonaparte |
Bisavô paterno: Carlo Maria Bonaparte |
Bisavó paterna: Maria Letícia Ramolino | |||
Avó paterna: Catarina de Württemberg |
Bisavô paterno: Frederico I de Württemberg | ||
Bisavó paterna: Augusta de Brunswick-Wolfenbüttel | |||
Mãe: Maria Clotilde de Saboia |
Avô materno: Vítor Emanuel II da Itália |
Bisavô materno: Carlos Alberto da Sardenha | |
Bisavó materna: Maria Teresa da Áustria | |||
Avó materna: Adelaide da Áustria |
Bisavô materno: Ricardo José da Áustria | ||
Bisavó materna: Isabel de Saboia |
Notas e referências
- ↑ Appleton, p. 447.
- ↑ a b Vizetelly, p. 226.
- ↑ Remsen Whitehouse, p. 313.
- ↑ a b Vizetelly, p. 225.
- ↑ Chase, W.B. (18 de Julho de 1920), "How An Empress Was Snubbed", The New York Times
- ↑ "The Widow of Plon-Plon", The New York Times, 27 de Junho de 1911
- ↑ Vizetelly, pp. 225-26.
- ↑ a b "The Bonaparte Marriage", The New York Times, 26 de Dezembro de 1886
- ↑ a b c "Count of Salemi Atones For Escapades By War Heroism", The Washington Post, 11 de Janeiro de 1918
- ↑ a b "To Stop Consanguineous Marriages", The New York Times, 14 de Setembro de 1902
- ↑ a b "French Midsummer Talk", The New York Times (Paris), 15 de Julho de 1888
- ↑ Remsen Whitehouse, p. 314.
- ↑ "In the Palace at Turin", The New York Times (London), 12 de Setembro de 1888
- ↑ "French Talk of the Day", The New York Times (Paris), 10 de Junho de 1888
- ↑ "Royal Marriages and the Vatican", The Washington Post, 17 de Agosto de 1902
- ↑ "King Punishes His Cousin", The Washington Post, 16 de Julho de 1911
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Maria Letizia Bonaparte», especificamente desta versão.