O Jardim das Aflições

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O Jardim das Aflições
O Jardim das Aflições
Capa da 3ª edição do livro
Autor(es) Olavo de Carvalho
Idioma Português
País  Brasil
Assunto Filosofia, História e Ciências Sociais
Gênero não-ficção
Editora Vide Editorial
Lançamento 1995
Páginas 464
ISBN 9788567394510

O Jardim das Aflições – De Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil é um livro do escritor brasileiro Olavo de Carvalho publicado em 1995.[1][2]

O Jardim das Aflições juntamente com as outras obras, A Nova Era e a Revolução Cultural (1994) e O Imbecil Coletivo (1996), compõem uma trilogia daquilo que o autor considera como “obras de combate”. No site da Amazon Brasil, foi listado entre os 100 mais vendidos na temática Política e Ciências Sociais, sendo o segundo livro do autor com maior expressividade comercial na plataforma.[1][3][4]

O livro inspirou um filme que leva o mesmo nome, O Jardim das Aflições, lançado em 2017.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

O livro é um ensaio cuja tese fundamental é a de que a história do ocidente é marcada pela ideia de Império. A ampliação dos domínios do Império até os limites do mundo visível é um objetivo permanente, por meio de sucessivas tentativas de reestruturação, ainda que com roupagens diferentes. Um livro original e perturbador que, partindo da análise de um evento aparentemente menor, e tomando-o como ocasião para mostrar os elos entre o pequeno e o grande, o quotidiano e o eterno, o mundano e o erudito, entre outras dicotomias, alargando-se em giros concêntricos até abarcar, numa complexa filosofia da história, o horizonte inteiro da cultura ocidental.[1][5][6][7][8]

Recepção crítica[editar | editar código-fonte]

A leitura do livro tem sido apontada como desafiadora pela linguagem sinuosa e pelo seu texto denso. Uma parcela dos críticos consideraram a obra uma análise apurada dos vários movimentos que marcaram a modernidade e seus reflexos nos dias atuais,[9] num texto que instiga no leitor uma maior reflexão e senso de observação perante a realidade do mundo contemporâneo. Em contrapartida, outros críticos consideraram a obra uma análise temerária sobre elementos históricos e com apelo sensacionalista ao invocar teorias conspiratórias.[10][11][12][13] A obra foi inclusa na Lista de 100 livros do programa “Expedições pelo mundo da cultura”, do prof. José Monir Nasser, na posição #12, entre O Vermelho e o Negro (Stendhal) e O Homem sem Qualidades (Robert Musil), sendo uma das duas obras brasileiras listadas (a outra: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis).[14][15]

Bruno Tolentino, em seu prefácio, considerou a obra uma rigorosa e instigante investigação de aflições, escrevendo: “(…) Olavo de Carvalho volta a nos dizer em alto e bom som: basta de sestas à sombra da utopia e do marasmo mental, são mais que horas de acordar para cuspir... e pensar! Quanto a mim, que onde deixei um país encontrei trinta anos depois um acabrunhante acoplamento de pedantaria e show business, a alegre festa no velório acaba — uma vez mais! — com este admirável livro, nosso retrato assustador, O Jardim das Aflições. Que os mortos enterrem seus mortos: sai da frente, leitor…”. O poeta carioca, ao receber cópia do manuscrito de O Jardim das Aflições, também teria dito que a estrutura do livro fê-lo lembrar-se das sinfonias do compositor finlandês Jean Sibelius.[1] Olavo afirmou que foi por insistência de Tolentino que ele lançou a obra numa tiragem maior, por uma editora profissional, já que na época publicava seus livros apenas para um ciclo pequeno de alunos e amigos.

Rodrigo Constantino discordou de alguns apontamentos do livro, por exemplo, não considerou que o Jardim de Epicuro seja o “Jardim das Aflições” e disse não ver sentido “(…) na acusação de que o epicurista busca de maneira desenfreada os prazeres imediatos do corpo”.[16] Para Joel Pinheiro da Fonseca, O Jardim das Aflições, “(…) é um livro sem unidade, que vai de uma tentativa constrangedora de refutação de Epicuro, desmerecido como ‘hipnotista’ (acusação que faria mais sentido se voltada ao próprio Olavo) aos perigos da Programação Neurolinguística, pseudociência já desacreditada quando o livro foi publicado. Também discorre sobre maçonaria, comunismo, correntes esotéricas, milenarismos. Supostamente, o tema central é o conceito de império no ocidente, mas, na prática, é pouco mais que a aplicação sensacionalista de teorias conspiratórias”.[12] Outra discordância é sobre a suposta refutação do Teorema de Cantor que o filósofo fez na obra, onde críticos a consideraram mal-sucedida e pretensiosa, pois o filósofo não teria compreendido o argumento e ainda extrapolado o seu escopo.[17][13]

Ronaldo Castro de Lima Junior destacou que o livro, “(…) mesmo com rico vocabulário, com uma narrativa clássica e trazendo ideias de uma complexidade quase vertiginosa, pode ser compreendido por quem tem uma formação relativamente básica. E por isso também é uma obra prima”.[11] Em coluna no O Globo, Caetano Veloso fez breves comentários sobre O Jardim das Aflições, em que o adjetivou como “livro eloquente contra Epicuro” e escreveu que nele “Olavo reprova os pragmatistas”.[18] Pedro Sette-Câmara, na Folha de S. Paulo, escreveu a respeito da obra: “Admirei a tentativa — até porque hoje são mal-vistas empreitadas assim — de abarcar um objeto tão vasto quanto a história do Ocidente. Admirei o trânsito do estilo jornalístico à argumentação filosófica, a variação entre o tom bem-humorado e o místico. Era o que eu esperava, sem originalidade, de uma virtude estética: o texto era atraente por estar a serviço do assunto.”[19]

Leopoldo Serran definiu o livro como “maravilhoso, um clarão nas trevas”.[20][21] Já o membro da ABL Josué Montello considerou ter lido poucos livros com o mesmo interesse e gratidão.[20] Vamireh Chacon elogiou o método e o estilo de escrita do autor, considerando-o conciso, preciso e rigoroso.[20] Para Antonio Fernando Borges, “O Jardim das Aflições nos brinda com uma contundente crítica a intelectualidade brasileira, em sua marcha irresponsável pelo igualitarismo”.[22] Paulo Briguet (2017) escreveu que “Ler um livro como O Jardim das Aflições, publicado em 1995, é encontrar um panorama profético de toda a tragicomédia vivida pela sociedade brasileira nos últimos 20 anos. O autor descreveu exatamente o projeto de poder que solapou completamente a base cultural e espiritual do Brasil para que uma elite criminosa pudesse reinar sobre o País”.[23] Segundo Fabrício de Moraes, o livro “demonstra como o Império, sendo não uma teoria mas uma realidade, subjaz a todas as transformações e conflitos, mesmo aqueles mais renhidos e antitéticos entre si”.[24]

Na nota do autor, na segunda edição do livro, dois anos após o seu lançamento, Olavo de Carvalho considerou que “apesar dos elogios de Antonio Fernando Borges, Vamireh Chacon, Roberto Campos, Josué Montello, Herberto Sales, Leopoldo Serran e muitos outros”, o livro não mereceu do público a atenção que recebeu O Imbecil Coletivo, publicado em 1996. O filósofo afirmou na nota que “se há um livro em que o autor disse tudo o que nele queria dizer, é este. Só repito o apelo a que o leitor não o leia de viés e saltado, mas pela ordem dos capítulos (…)”.[25] No posfácio da terceira edição, ele responde questionamentos em torno das ideias presentes na obra e sua relação com o cenário sociopolítico do mundo atual.[26]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d De Carvalho, Olavo (2015). O Jardim das Aflições - De Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil. 3ª ed. São Paulo: Vide Editorial. 464 páginas 
  2. «Amazon.com.br Mais Vendidos: Política e Ciências Sociais - os mais vendidos na Amazon.com.br». www.amazon.com.br. Consultado em 15 de julho de 2017 
  3. Brasil, Felipe Moura (9 de fevereiro de 2017). «Olavo de Carvalho e Record celebram acordo para edição histórica de 'O imbecil coletivo'». veja.abril.com.br. Consultado em 15 de julho de 2017 
  4. «Afinal, Olavo de Carvalho é subestimado?». Pragmatismo Político. 11 de julho de 2017 
  5. Bolsonaro, Flávio. «PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 536/2011. EMENTA: CONCEDE A MEDALHA TIRADENTES E O RESPECTIVO DIPLOMA AO FILÓSOFO, ESCRITOR, JORNALISTA E CONFERENCISTA OLAVO LUIZ PIMENTEL DE CARVALHO.». Consultado em 22 de Julho de 2016 
  6. Leber, Werner Schrör; Montibeller, Cristiana (9 de outubro de 2015). «A TAREFA DA EDUCAÇÃO E O PAPEL DOS INTELECTUAIS NA FORMAÇÃO DA CULTURA: ALGUMAS REFLEXÕES FILOSÓFICAS E SOCIOLÓGICAS TENDO COMO APORTE MARX E GRAMSCI». Maiêutica - Serviço Social. 2 (1): 17. ISSN 2318-6615. Consultado em 3 de dezembro de 2018. Olavo de Carvalho (2010), em seu livro Jardim das Aflições, constrói uma desconcertante narrativa sobre a falência intelectual dos indivíduos na atualidade e especifica a consolidação de uma nova era, em que o indivíduo é destruído dentro de uma nova concepção de império, cujo senso do real não repousa na moral e muito menos na responsabilidade 
  7. Silva, Mateus Fernandes Brum da (2019). «O globalismo e o papel do Exército Brasileiro». Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.: p. 12. Consultado em 29 de maio de 2021. O Jardim das Aflições, tem como tese fundamental a ideia de Império no mundo Ocidental e as sucessivas tentativas de criá-lo. Idealmente, o objetivo seria a criação de um Império Global, em uma espécie de reedição do Império Romano. A finalidade da recriação de uma “Roma global”, poderia ser sintetizado na meta consubstanciada no termo Pax Romana. Esta seria, adaptando-se ao tempo atual, a Paz Mundial, gerada por meio da criação de um Império que tudo regularia, como Roma a seu tempo. 
  8. BARSANELLI, MARIA LUÍSA. «Após polêmica em festival, filme sobre filósofo Olavo de Carvalho estreia - 05/06/2017 - Ilustrada». Folha de S.Paulo. Consultado em 12 de junho de 2021. (...) o título do longa é homônimo do livro lançado em 1995 por Carvalho, no qual teoriza que o Estado, independentemente de sua roupagem, sempre tenta ampliar seus domínios. 
  9. Da Costa, Paulo Henrique Vieira (2009). «A divinização do Estado moderno e a crença na sociedade racional e perfeita: uma conseqüência do Iluminismo» (PDF). Anima: Revista Eletrônica do Curso de Direito da Opet. p. 18. Consultado em 1 de dezembro de 2018. Sobre esse aspecto nefasto da intervenção absurda do Estado na vida privada, ver o excelente trabalho de Olavo de CARVALHO, O Jardim das Aflições 
  10. Juventude Conservadora da UFMA (18 de dezembro de 2016). «Resenha do livro Jardim das Aflições de Olavo de Carvalho». juventudeconservadoraufma.wordpress.com. Consultado em 15 de julho de 2017 
  11. a b Júnior, Ronaldo Castro de Lima (31 de maio de 2017). «Documentário 'Jardim das Aflições' é fiel a Olavo de Carvalho e suas ideias». Gazeta do Povo. Consultado em 15 de julho de 2017 
  12. a b Fonseca, Joel Pinheiro da (11 de janeiro de 2017). «Precisamos falar sobre Olavo de Carvalho». cafecolombo.com.br. Consultado em 15 de julho de 2017 
  13. a b «For every natural number N, there's a Cantor Crank C(n)». Good Math/Bad Math (em inglês). 11 de novembro de 2012 
  14. Magalhães, Bruno. «Expedições pelo mundo da cultura (prof. José Monir Nasser) – Portal Travessias». Consultado em 27 de maio de 2021 
  15. Nasser, José Monir. «O Jardim das Aflições; Comentário dos Gigantes:». gigantesrecomendam.com. Consultado em 29 de maio de 2021. Por entre as perfumadas flores dos jardins de Epicuro, escondem-se as sementes da erva daninha do Estado. 
  16. «Minha formação intelectual. Ou: Por que não devemos ter gurus | Rodrigo Constantino». Rodrigo Constantino. 19 de janeiro de 2016 
  17. «Is Cantor's theorem based on a fallacy?». philosophy.stackexchange.com. Consultado em 16 de julho de 2017 
  18. Veloso, Caetano (22 de setembro de 2013). «O maluco sou eu». O Globo. Consultado em 16 de julho de 2017 
  19. Sette-Câmara, Pedro (16 de dezembro de 2018). «Olavo de Carvalho redefiniu noção de intelectual público, afirma ex-aluno». Folha de S.Paulo. Consultado em 21 de dezembro de 2018 
  20. a b c Correa, José Guilherme (2015). Leituras Lusófonas. [S.l.]: Clube de Autores. p. 40 
  21. Pinto, Almir Pazzianotto. (1997). O livro da profecia: o Brasil no terceiro milênio. 1. Brasília: Senado Federal. p. 962 
  22. Borges, Antonio Fernando (6 de janeiro de 1996). «Argumentos e ressentimentos: polemista acusa intelectualidade brasileira de colocar paixões ideológicas acima do dever moral». Jornal do Brasil 
  23. Briguet, Paulo (7 de junho de 2017). «O filme que não deveria existir». Folha de Londrina. Consultado em 7 de junho de 2017 
  24. Moraes de, Fabrício (30 de julho de 2017). «Não te vi no jardim com ele?». www.revistaamalgama.com.br. Consultado em 3 de junho de 2018 
  25. De Carvalho, Olavo (1998). O Jardim das Aflições - De Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks. p. 8 
  26. «O Jardim das Aflições (Vide Editorial)». videeditorial.com.br. Vide Editorial. 2015. Consultado em 14 de julho de 2017