Josué Montello
Josué Montello | |
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Nome completo | Josué de Sousa Montello |
Nascimento | 21 de agosto de 1917 São Luís, Maranhão, Brasil |
Morte | 15 de março de 2006 (88 anos) Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Cônjuge | Ivone Montello |
Ocupação | Jornalista, professor, teatrólogo e escritor |
Prémios | Prêmio Juca Pato (1971) Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1978) |
Magnum opus | Cais da Sagração (1971) e Os tambores de São Luís (1975) |
Assinatura | |
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Josué de Sousa Montello (São Luís, 21 de agosto de 1917 — Rio de Janeiro, 15 de março de 2006) foi um jornalista, professor, teatrólogo e escritor brasileiro.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Trabalhou como diretor da Biblioteca Nacional, do Museu da República,[1] e do Serviço Nacional de Teatro, escreveu para a revista Manchete e o Jornal do Brasil, além de trabalhar no governo do presidente Juscelino Kubitschek. Foi diretor do Museu Histórico Nacional de 1959 a 1967.
Entre suas obras destacam-se Os tambores de São Luís, de 1965, a trilogia composta pelas novelas Duas vezes perdida, de 1966, e Glorinha, de 1977, e pelo romance Perto da meia-noite, de 1985.
Obras de Josué Montello foram traduzidas para o inglês, francês, espanhol, alemão e sueco. Algumas de suas novelas foram roteirizadas para o cinema; em 1976, Uma tarde, outra tarde recebeu o título de O amor aos 40; e, em 1978, O monstro, foi filmado como O monstro de Santa Teresa.
Morreu em 15 de março de 2006, vítima de insuficiência cardíaca. Encontrava-se internado na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, há mais de um ano, para tratamento de problemas respiratórios. O corpo foi velado na Academia Brasileira de Letras e sepultado no fim da tarde no Cemitério São João Batista.
Em sua homenagem, em 1997, o governo do Maranhão inaugurou a primeira biblioteca do Farol da Educação com a denominação de Biblioteca Farol da Educação Josué Montello. Também tem um dos bustos que homenageiam os grandes escritores maranhenses na Praça do Pantheon.[2]
Formação educacional e intelectual
[editar | editar código-fonte]Montello aperfeiçoou-se principalmente no ensino secundário e na autodidaxia literária, uma vez que não seguiu imediatamente universidade formal. Seu “curso secundário” foi concluído no Liceu Maranhense[3], onde já colaborava com o jornal da escola e assimilava o legado modernista local. Em 1936, aos 18 anos, mudou-se a Belém do Pará, onde ingressou no Instituto Histórico e Geográfico do Pará como membro efetivo[3]. No final daquele ano transferiu-se para o Rio de Janeiro, integrando em 1937 o grupo fundador da revista literária Dom Casmurro[3]. Em paralelo às colaborações jornalísticas, Montello devorava os clássicos da literatura nacional e estrangeira desde a juventude: lia com intensidade autores como Machado de Assis, Eça de Queirós, Balzac, Anatole France e Proust[4], além dos principais regionalistas brasileiros (José Lins do Rego, Jorge Amado etc.)[4]. Essa erudição precoce lhe conferiu sólida bagagem intelectual. Mais tarde, ampliou seus estudos e contatos literários dedicando-se também à crítica e à história da cultura brasileira, o que o levou a ministrar cursos especiais, tais como a cátedra de Estudos Brasileiros na Universidade Nacional de San Marcos (Lima, 1953–1955), em Lisboa (1957) e em Madri (1958)[3]. Sua formação foi, assim, marcada por intensa atividade autodidata e por experiências acadêmicas no exterior, que o estabeleceram como figura de referência do meio intelectual.
Trajetória profissional
[editar | editar código-fonte]A carreira profissional de Montello foi multifacetada. No fim da década de 1930, já no Rio de Janeiro, destacava-se como jornalista literário em importantes veículos: colaborou em Dom Casmurro, Careta, O Malho, Ilustração Brasileira e outros periódicos.[4] Em 1941 publicou seu primeiro romance, Janelas fechadas[3]. Quatro anos depois, assumiu cargos de direção cultural no Estado: em 1947 foi nomeado diretor-geral da Biblioteca Nacional e também dirigiu o Serviço Nacional do Teatro[3]. Na década de 1950 exerceu funções públicas de relevo no governo federal — por exemplo, foi subchefe da Casa Civil do Presidente Juscelino Kubitschek, ao mesmo tempo em que dirigia o Museu Histórico Nacional e colaborava na fundação do Museu da República, ambos no Rio de Janeiro.[5] Em 1954 tornou-se colunista permanente do Jornal do Brasil, onde escreveu semanalmente até 1990, tornando-se presença constante da imprensa nacional.
No campo internacional, Montello atuou como catedrático honorário de Literatura Brasileira em universidades estrangeiras convidados pelo Itamaraty: lecionou na Universidade San Marcos (Lima, 1953–1955), em Lisboa (1957) e em Madri (1958).[3] De 1969 a 1970 ocupou o posto de conselheiro cultural na Embaixada do Brasil em Paris, e entre 1985 e 1989 foi Embaixador junto à UNESCO, também em Paris.[3] Esses papéis diplomáticos reforçaram seu envolvimento com políticas culturais internacionais. Em 1994, ao ser eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, Montello já era figura consagrada: iniciou sua gestão em dezembro daquele ano e permaneceu até o final de 1995.[3][6] Nesse cargo, procurou modernizar a instituição e ampliar sua atuação cultural.
Produção intelectual, artística e científica
[editar | editar código-fonte]A produção de Montello é notável por sua amplitude. Inclui cerca de 160 títulos em diversos gêneros.[6] Publicou 27 romances, 7 novelas, 10 livros de literatura infanto-juvenil e 10 peças teatrais[7], além de ensaios históricos, crônicas e obras didáticas. Entre seus romances mais importantes estão A décima noite (1959), Cais da Sagração (1970) e Os tambores de São Luís (1975), este último considerado uma “epopéia negra brasileira”[7][8]. Também escreveu análises literárias (como Os inimigos de Machado de Assis, 1998) e memórias (por exemplo, O Juscelino Kubitschek de minhas recordações, 1999).[5] Atuou ativamente como teatrólogo, com mais de uma dezena de peças encenadas (segundo o levantamento, eram cerca de 10 peças infantis).[7] Sua obra recebeu tradução para várias línguas e teve adaptações: duas de suas novelas foram levadas ao cinema, e Os Tambores de São Luís foi traduzido como Les Tambours noirs: la saga du nègre brésilien (Flammarion, 1987).[6]
Montello cultivou também o gênero crônica e o diário literário. Publicou coletâneas de crônicas (“Memórias Póstumas de Machado de Assis”, 1997) e manteve diários pessoais que foram parcialmente publicados como livros. A série Diário da manhã (1984), Diário da tarde (1988) e Diário do entardecer (1991) registra reflexões intelectuais e experiências artísticas, oferecendo ricos comentários sobre seu ofício literário.[3] Em suas próprias palavras, via a escrita como “recomposta” pela memória e pela observação do cotidiano.[4] Paralelamente às criações ficcionais, Montello organizou antologias e prefácios e escreveu textos de divulgação cultural, atuando ainda como organizador de eventos e obras historiográficas (por exemplo, colaborou em estudos sobre a Academia Brasileira de Letras).
Obras
[editar | editar código-fonte]A obra construída por Montello é assombrosa, pois abrange uma significativa variedade de meios de expressão - do romance ao teatro, do artigo jornalístico ao ensaio histórico. Sua prosa é elegante e fluída, passando ao leitor aquela enganadora sensação de ter sido escrita de forma ligeira, fácil, sem esforço aparente. Sua sólida formação intelectual se faz sentir em todos os ensaios e artigos, sempre permeados por análises precisas, argutas e diretas, ao passo que nos romances e peças teatrais a fina sensibilidade do artista impõe uma intensa abordagem psicológica das tramas e dos personagens. Disse o crítico Wilson Martins: "Josué Montello é, hoje, sem dúvida, o decano do romance brasileiro. Escreve romances clássicos, na linha de Machado e de Eça, e não está preocupado em ser original. Ele mesmo admite, sem nenhum problema, que ignora as inovações estéticas dos últimos 50 anos. Escreveu romances extraordinários, em particular Os Tambores de São Luís", e ainda "Tudo isso nos induz a ler Os tambores de São Luís como romance psicológico, partindo do particular para o geral, caso em que a narrativa se desenvolve em espiral, tendo no negro Damião o centro dinâmico de convergência e irradiação. Josué Montello pertence à família espiritual de Balzac e Dostoievski; de Joyce e Thomas Mann; de Tolstoi e Faulkner; de George Eliot e Giovanni Verga; de Cervantes e John Dos Passos; de Conrad e Flaubert; de Eça de Queiroz e Machado de Assis – todos semelhantes nas suas diferenças e diferentes nas suas semelhanças, exatamente como nas famílias naturais.
Romances Principais
[editar | editar código-fonte]- Janelas Fechadas (1941)
- Luz da Estrela Morta (1948)
- Labirinto de Espelhos (1952)
- A Décima Noite (1959)
- Os Degraus do Paraíso (1965)
- Cais da Sagração (1971)
- História da Independência do Brasil (1972) obra em 4 volumes em que Montello foi o organizador.[9]
- Os Tambores de São Luís (1975)
- Noite Sobre Alcântara (1978)
- A Coroa de Areia (1979)
- O Silêncio da Confissão (1980)
- Largo do Desterro (1981)
- Aleluia (1982)
- Pedra Viva (1983)
- Uma Varanda sobre o Silêncio (1984)
- Perto da Meia-Noite (1985)
- Antes que os Pássaros Acordem (1987)
- A Última Convidada (1989)
- Um Beiral para os Bem-te-vis (1989)
- O Camarote Vazio (1990)
- O Baile da Despedida (1992)
- A Viagem sem Regresso (1993)
- Uma Sombra na Parede (1995)
- A Mulher Proibida (1996)
- Enquanto o Tempo não Passa (1996)
- Sempre Serás Lembrada (2000)
Novelas
[editar | editar código-fonte]- O Fio da Meada (1955)
- Duas Vezes Perdida (1966)
- Numa Véspera de Natal (1967)
- Uma Tarde, Outra Tarde (1968)
- Um Rosto de Menina (1983)
- A Indesejada Aposentadoria (1972)
- Glorinha (1977)
- O Melhor do Conto Brasileiro (1979)
- Pelo Telefone (1981)
Teatros
[editar | editar código-fonte]- Precisa-se de um Anjo (1943)
- Escola da Saudade (1946)
- O Verdugo (1954)
- A Miragem (1959)
- Através do Olho Mágico (1959)
- O Anel que Tu Me Deste (1960)
- A Baronesa (1960)
- Alegoria das Três Capitais (1960)
- Um Apartamento no Céu (1995)
- O Baile da Despedida (1997)
Ensaios
[editar | editar código-fonte]- Gonçalves Dias (1942)
- O Hamlet de Antonio Nobre (1949)
- Fontes Tradicionais de Antonio Nobre (1953)
- Artur Azevedo e a Arte do Conto (1956)
- O Oratório Atual do Brasil (1959)
- Caminho da Fonte (1959)
- O Presidente Machado de Assis (1961)
- Uma Palavra Depois de Outra (1969)
- Um Maître Oublié de Stendhal (1970)
- Estante Giratória (1971)
- A Cultura Brasileira (1977)
- Brazilian Culture (1983)
- Viagem ao Mundo de Dom Quixote (1983)
- Os Caminhos (1984)
- Lanterna Vermelha (1985)
- Janela de Mirante (1993)
- Fachada de Azulejo (1996)
- Condição Literária (1996)
- Memórias Póstumas de Machado de Assis (1997)
- Baú da Juventude (1997)
- O Juscelino Kubitschek de Minhas Recordações (1999)l
- A menina Marina
Outros
[editar | editar código-fonte]- Pequeno Anedotário da Academia Brasileira (1961)
Romances memorialistas de Josué Montello (1959–1981)
[editar | editar código-fonte]A Décima Noite (1959)
[editar | editar código-fonte]A décima noite, publicado em 1959, é um romance do escritor maranhense Josué Montello que se insere com destaque na tradição memorialista e introspectiva da literatura brasileira do século XX. Considerado um marco na consolidação do estilo maduro do autor, o livro foi concebido após uma série de experiências formais anteriores e demonstra a plena integração entre ficção e memória — elementos fundamentais na trajetória literária de Josué Montello. A obra compõe um conjunto narrativo em que o tempo subjetivo e a construção da identidade se entrelaçam por meio de uma estrutura elaborada e fortemente voltada para o exame psicológico das personagens. O título evoca, metaforicamente, uma espécie de clímax narrativo na sequência de noites — ou episódios — que delineiam o itinerário afetivo e existencial do protagonista.[4]
O romance se estrutura em torno da figura do narrador-protagonista que, ao regressar à sua cidade natal — não nomeada diretamente, mas com traços que remetem claramente à São Luís do Maranhão —, mergulha num processo de revisitação afetiva e reflexiva de seu passado. A narrativa se organiza como um grande fluxo rememorativo, articulado em torno de dez noites consecutivas que funcionam como eixos temporais e simbólicos da reconstrução subjetiva. Cada noite corresponde a um capítulo ou fragmento do tempo em que memórias, encontros e estados de espírito ganham relevo. Esse retorno é motivado por uma necessidade íntima de conciliação com o tempo vivido, sendo impulsionado por acontecimentos do presente que remetem o narrador a episódios marcantes de sua juventude.[4]
O enredo desenvolve-se de forma não linear, priorizando a rememoração sobre a ação imediata. A cidade natal, envolta em brumas de saudade e silêncio, torna-se personagem coadjuvante, ao mesmo tempo cenário e símbolo da temporalidade perdida. O narrador revisita os espaços urbanos — praças, casas, ruas, igrejas — que funcionam como gatilhos de recordações afetivas e existenciais. As figuras evocadas pertencem à sua infância e juventude, destacando-se personagens como antigos colegas, amores passados e membros da família, todos vistos sob a lente da memória afetiva, ora idealizados, ora reinterpretados à luz da maturidade. Há, portanto, um forte caráter elegíaco na construção do texto, que flerta com o tom confessional sem abandonar a sobriedade narrativa.[4]
A técnica utilizada por Montello em A décima noite é marcada pelo predomínio da narrativa em primeira pessoa, com forte tonalidade introspectiva e meditativa. O tempo cronológico é dissolvido pela evocação fragmentária e associativa da memória, o que aproxima o romance de obras de tradição proustiana. Há uma oscilação deliberada entre o passado evocado e o presente narrativo, de modo que o tempo se torna simultâneo e permeável, permitindo ao leitor experienciar o movimento emocional do protagonista. O espaço narrativo, embora geograficamente restrito, ganha densidade simbólica, tornando-se expressão do universo interior do narrador. A linguagem é refinada, rica em imagens, e marcada por ritmo pausado, quase litúrgico, que reforça a solenidade do processo rememorativo.[4]
Entre os temas centrais do romance, destacam-se a nostalgia, o reencontro com o passado, o envelhecimento, a culpa, a perda, o tempo e a identidade. O retorno à terra natal funciona como um dispositivo simbólico que catalisa o enfrentamento dos fantasmas íntimos e sociais do narrador. A memória, nesse contexto, não é apenas reconstitutiva, mas também seletiva, idealizadora e, em certos momentos, cruel. Há uma tensão entre o desejo de reencontro e a percepção da irreversibilidade da perda, configurando uma estética da melancolia que atravessa toda a obra. A cidade funciona como palimpsesto afetivo e histórico, onde o narrador projeta e reinscreve sua trajetória pessoal e, por extensão, aspectos da cultura maranhense.[4]
A recepção crítica de A décima noite, conforme documentado é como ponto de inflexão na produção de Montello, tanto pela complexidade narrativa quanto pelo aprofundamento do tratamento temático. A crítica destaca a maturidade estilística alcançada pelo autor, bem como a sofisticação formal na articulação entre memória e ficção. O romance tem sido objeto de estudos acadêmicos que exploram suas conexões com a tradição memorialista brasileira, notadamente os paralelos com autores como Pedro Nava e Graciliano Ramos. Além disso, a obra é valorizada por seu potencial analítico das relações entre sujeito, espaço e tempo, sendo frequentemente incluída em corpus de pesquisas sobre identidade regional e narrativa de formação.[4]
Com A décima noite, Josué Montello inaugura um ciclo de romances mais reflexivos e autorreferenciais, como “ficção memorialista”, modalidade em que o autor articula elementos da própria biografia com construção romanesca, sem incorrer no confessionalismo puro. O romance é, assim, uma síntese exemplar da proposta estética de Josué Montello, que alia a densidade psicológica à representação sutil da experiência histórica e cultural do Brasil, especialmente do Maranhão. A obra continua sendo uma das mais estudadas do autor e permanece relevante nos debates sobre literatura, memória e identidade.[4]
Cais da sagração (1970)
[editar | editar código-fonte]Cais da sagração, publicado em 1970, é um dos romances mais representativos da fase de consolidação da ficção memorialista de Josué Montello, revelando um refinamento formal e temático que se tornaria marca característica de sua literatura. Nesta obra, o autor retoma com vigor seu projeto estético de conciliar narrativa ficcional com rememoração subjetiva, alicerçando a trama em um entrelaçamento denso entre memória, identidade e tempo. O romance é descrito como uma narrativa “madura e simbólica”, na qual a experiência individual é trabalhada como possibilidade de transcendência e reconstrução, tanto no plano pessoal quanto cultural. Trata-se de uma ficção de alta densidade reflexiva, em que o espaço urbano, o tempo rememorativo e o drama íntimo do protagonista convergem para criar uma atmosfera de rito de passagem espiritual e afetivo.[4]
A história é construída a partir da perspectiva de um narrador-protagonista que retorna à cidade natal, situada à beira-mar, depois de uma longa ausência. O “cais” do título tem sentido literal e metafórico: é o ponto de chegada e de partida, mas também o limiar simbólico entre o passado e o presente, entre a memória e a possibilidade de reconciliação com o vivido. Trata-se de um local onde o narrador testemunha as marcas do tempo sobre os espaços e sobre si mesmo, funcionando como ponto central da reatualização da memória. O “cais” é o lugar da sagração simbólica, ou seja, da tentativa de restaurar a inteireza da experiência, de resignificar a perda e de encontrar um sentido na própria trajetória existencial.[4]
A estrutura narrativa adota novamente o ponto de vista da primeira pessoa, com o narrador evocando, em fluxo constante de consciência, episódios, pessoas e sentimentos que marcaram sua juventude. O tempo da narrativa é psicológico, fragmentário e impregnado de associações livres. A linearidade é abandonada em favor de um tempo subjetivo, permeado por saltos, digressões e sobreposições. Essa estratégia narrativa permite a construção de um romance que não se organiza por ação externa ou conflitos evidentes, mas sim por um movimento interior que se dá em direção à recomposição de uma identidade dilacerada pelo tempo e pela ausência.[4]
Entre os temas centrais de Cais da sagração estão o retorno às origens, o reencontro com o passado familiar e afetivo, a tentativa de reintegração simbólica da memória e a sacralização da experiência vivida. A narrativa aborda com frequência a morte, a ausência e a solidão, mas evita o tom lamurioso ou melodramático, adotando em vez disso uma linguagem sóbria e precisa. Há, ainda, um sentimento constante de deslocamento e inadequação por parte do narrador, que não se reconhece mais plenamente no espaço que um dia foi seu. A cidade — que, como em outras obras do autor, possui traços marcadamente maranhenses — aparece como reflexo do sujeito: envelhecida, silenciosa, alterada pela ação do tempo, mas ainda carregada de significados íntimos.[4]
As personagens evocadas na narrativa são apresentadas mais como imagens de memória do que como figuras com papel ativo no presente. Elas aparecem em lembranças que ressurgem de forma intermitente, como vozes do passado que ajudam o narrador a reconstruir sua trajetória e a buscar um entendimento do que foi vivido. Muitas dessas figuras simbolizam fases distintas da vida, tipos sociais ou referências morais e afetivas. São mães, avós, amigos, amores distantes, figuras de autoridade que, sob o olhar do narrador, adquirem contornos líricos e simbólicos. A reatualização dessas presenças é mediada pela memória emocional, que as reconstrói sob a ótica da experiência acumulada.[4]
O espaço, como em outros romances de Montello, cumpre papel fundamental na estrutura narrativa. A cidade litorânea, com seu cais, suas casas antigas, suas igrejas e ruas de pedra, não é apenas cenário físico, mas elemento ativo da construção simbólica da narrativa. Trata-se de um espaço “afetivo e metafísico”, onde o narrador projeta suas angústias, dúvidas e esperanças. O cais, em particular, assume papel de espaço ritualístico, onde se dá a sagração simbólica do sujeito narrador. É nesse local que ele, após percorrer o caminho da memória, busca reconstituir a si mesmo, mesmo que não de forma plena ou definitiva.[4]
A linguagem de Cais da sagração é marcada por um lirismo contido e uma densidade vocabular que exigem atenção do leitor. Montello evita o recurso fácil à emoção, preferindo uma construção sintática elaborada, com frases longas, ritmo lento e uso frequente de imagens poéticas e simbólicas. A prosa é meditativa e introspectiva, adequando-se ao projeto narrativo de apresentar não os fatos em si, mas a maneira como são sentidos e reelaborados pela consciência do narrador. Essa construção estética está afinada com a proposta da ficção memorialista. A narrativa montelliana não reside no “o que aconteceu”, mas no “como é lembrado”.[4]
A crítica especializada reconhece Cais da sagração como um dos momentos mais altos da prosa de Josué Montello, tanto pelo domínio técnico quanto pela profundidade temática. O romance é apontado como marco de uma literatura que, sem romper com os cânones do romance tradicional, incorpora inovações no tratamento da memória e da subjetividade. É também notável pela forma como articula a experiência individual com uma dimensão mais ampla da cultura brasileira, particularmente a cultura nordestina e maranhense. A cidade portuária do romance pode ser lida como metáfora do Brasil em transformação, onde o passado e o presente convivem em tensão, e onde a identidade precisa ser constantemente renegociada.[4]
O lugar de Cais da sagração no conjunto da obra montelliana é central. Ele serve de ponto de convergência para temas, estratégias narrativas e atmosferas que o autor vinha desenvolvendo desde A décima noite (1959) e que se expandiriam em obras posteriores como Os tambores de São Luís (1975). Representa, em suma, o ápice de uma escrita que busca conciliar introspecção, lirismo e historicidade sem abrir mão da coesão estética e do rigor formal. O romance permanece como referência importante nos estudos sobre literatura brasileira contemporânea, especialmente aqueles voltados à memória, à identidade e à subjetividade.[4]
Os Tambores de São Luís (1975)
[editar | editar código-fonte]Os tambores de São Luís, publicado em 1975, é amplamente reconhecido como o romance mais emblemático da obra de Josué Montello e uma das realizações mais ambiciosas da literatura brasileira na segunda metade do século XX. Trata-se de uma narrativa de largo fôlego, que funde história, memória e ficção em uma arquitetura complexa, com o objetivo de representar não apenas um indivíduo ou uma família, mas toda uma experiência coletiva — a da cultura negra no Maranhão e sua inserção no quadro da sociedade brasileira. A obra integra de forma exemplar o projeto estético de Montello de transformar a rememoração individual em espaço de reconfiguração simbólica da identidade regional e nacional. Este romance representa uma “epopeia do negro brasileiro”, propondo-se a retratar a formação da consciência negra em um cenário de repressão, resistência e sincretismo.[4]
O romance está ambientado em São Luís do Maranhão — cidade natal do autor — no contexto histórico do Segundo Reinado, precisamente durante os últimos anos da escravidão. A narrativa acompanha a trajetória de diversos personagens ligados às irmandades e confrarias negras da cidade, com destaque para o protagonista Miguel, um escravo de ganho que, ao longo da obra, ascende socialmente até tornar-se uma liderança de sua comunidade. Miguel representa, na perspectiva da narrativa, a dignidade, a resistência e a espiritualidade de uma população submetida à opressão escravocrata. Ao redor dele, gravitam múltiplos personagens — senhores, religiosos, homens livres, capitães do mato, integrantes das festas populares — compondo um mosaico social de notável riqueza.[4]
A estrutura narrativa de Os tambores de São Luís é ampla, com capítulos extensos e marcados por descrições densas e construção gradual do enredo. A narração é feita em terceira pessoa, com foco onisciente, o que permite ao autor explorar diferentes pontos de vista, sentimentos e motivações. A alternância entre momentos de tensão dramática e reflexões líricas confere à narrativa um ritmo peculiar, que remete tanto à oralidade das tradições populares quanto à solenidade dos registros históricos. A composição é marcada por entrelaçamentos temáticos e temporais, por digressões, retornos e retomadas que aproximam o texto de uma técnica quase sinfônica. A linguagem utilizada por Montello é precisa, com forte carga poética, e demonstra domínio absoluto dos recursos estilísticos, sem jamais comprometer a inteligibilidade.[4]
Os temas centrais do romance envolvem a escravidão, a opressão racial, o sincretismo religioso, a afirmação identitária, a organização comunitária negra e a luta por reconhecimento. A religiosidade popular — especialmente o catolicismo afrodescendente, expresso nas irmandades como a de São Benedito — ocupa posição central na narrativa, funcionando como espaço de resistência cultural e espiritual. Os “tambores” do título simbolizam tanto o ritmo vital da cultura negra quanto o anúncio de uma nova consciência histórica. A cidade de São Luís, com seu casario colonial, seus becos, suas igrejas e seus terreiros, torna-se palco de uma representação simbólica do Brasil escravocrata em seu momento de agonia.[4]
A composição das personagens em Os tambores de São Luís é marcada pela complexidade psicológica e pela multiplicidade de vozes sociais. Miguel, o protagonista, é apresentado com dignidade e sobriedade, distanciando-se de estereótipos e adquirindo espessura humana plena. Ele transita entre mundos — o da submissão e o da liberdade, o da religião oficial e o da religiosidade popular — tornando-se símbolo de uma travessia cultural e espiritual. Outros personagens, como os membros da elite branca, os religiosos e os integrantes das confrarias, também são representados com nuances, compondo um retrato multifacetado das relações sociais da época. O romance evita o maniqueísmo e investe na complexidade das situações e sentimentos.[4]
A crítica especializada considera Os tambores de São Luís o ápice da ficção histórica de Josué Montello, pela forma como consegue articular pesquisa documental, densidade estética e compromisso ético. O romance não se limita a reconstituir o passado, mas o reinscreve à luz de uma sensibilidade contemporânea, evidenciando os mecanismos de exclusão e resistência que marcaram a experiência dos afrodescendentes no Brasil. A obra é frequentemente analisada sob a ótica da memória cultural e da representação do Outro, sendo citada em estudos sobre identidade, alteridade e história social. Também é reconhecida por sua contribuição à literatura afro-brasileira, ainda que Montello não fosse ele próprio um autor negro: sua abordagem é respeitosa, documentada e profundamente imbuída de empatia histórica.[4]
A recepção do romance foi, desde seu lançamento, marcada por entusiasmo. Críticos literários destacaram a ousadia do projeto, a força do enredo e a qualidade literária da prosa. O livro foi traduzido para o francês com o título Les tambours noirs: la saga du nègre brésilien, publicado pela editora Flammarion em 1987, o que ampliou sua circulação no exterior e fortaleceu sua reputação como obra de relevância internacional. A tradução preserva o tom épico e respeita a intenção original de Montello de dar voz a um segmento historicamente marginalizado. A publicação da versão francesa é mencionadacomo uma das evidências do reconhecimento internacional do autor.[4]
A importância de Os tambores de São Luís na obra de Montello é indiscutível. O romance reúne e radicaliza muitas das estratégias narrativas e temáticas que o autor vinha desenvolvendo desde os anos 1950: a centralidade da memória, a valorização da cidade natal, a atenção à história não oficial, a busca por uma linguagem literária que concilie beleza formal e densidade ética. Ao mesmo tempo, representa uma inflexão temática significativa, pois desloca o foco da memória individual para a memória coletiva e histórica. É, portanto, uma obra que amplia o horizonte da ficção memorialista e contribui para uma reinterpretação do passado brasileiro a partir de uma perspectiva crítica e sensível.[4]
Noite sobre Alcântara (1978)
[editar | editar código-fonte]Noite sobre Alcântara, publicado em 1978, é um romance de Josué Montello que aprofunda os elementos centrais de sua literatura — memória, tempo e identidade — em um cenário carregado de simbolismo histórico e decadência arquitetônica: a cidade de Alcântara, no Maranhão. A obra constitui mais um exemplo da prosa memorialista e introspectiva do autor, marcada pela fusão entre o drama individual e o espaço histórico. Trata-se de uma narrativa em que o lugar exerce função estrutural na composição do enredo, sendo ao mesmo tempo cenário, personagem e símbolo da decomposição de uma ordem social e afetiva. O romance, portanto, opera em dois níveis simultâneos: o da reconstrução subjetiva do protagonista e o da evocação coletiva de uma história marcada pela glória e pela ruína.[4]
A cidade de Alcântara, outrora polo econômico e político no Maranhão colonial e imperial, é apresentada como uma espécie de museu a céu aberto, onde a memória resiste entre ruínas e silêncios. A “noite” do título remete não apenas à literalidade do tempo noturno, mas também ao tempo simbólico da escuridão histórica, da ausência e da perda. O narrador, em sua jornada por esse espaço, realiza uma espécie de peregrinação interior, confrontando-se com imagens do passado que emergem do contato com a cidade em ruínas. A relação entre sujeito e espaço é, portanto, profundamente dialógica e metafórica: à medida que o narrador se desloca pelas ruas de Alcântara, vai também desvelando camadas de sua própria interioridade.[4]
A estrutura narrativa é linear apenas em aparência. Embora os episódios sigam uma sequência espacial — o percurso do narrador por diversos pontos da cidade —, o tempo da narrativa é essencialmente psicológico e associativo. A primeira pessoa domina o discurso, reforçando o tom confessional e meditativo que caracteriza a ficção memorialista de Montello. O enredo não se constrói sobre ações, mas sobre percepções, lembranças e reflexões suscitadas pelo espaço. A cidade funciona como um espelho da condição existencial do protagonista, que experimenta um sentimento agudo de finitude e desenraizamento. A “noite” é, assim, uma metáfora do processo de introspecção e do contato com a própria fragilidade.[4]
Entre os temas abordados no romance destacam-se a decadência, a memória coletiva, o sentimento de exílio interior, a passagem do tempo e a tentativa de restauração simbólica do que foi perdido. O narrador é tomado por um sentimento de melancolia diante da ruína de Alcântara, mas não cede à nostalgia ingênua: a memória é tratada com ambivalência, sendo ao mesmo tempo objeto de reverência e de desconstrução. A tensão entre permanência e desaparecimento atravessa toda a narrativa, compondo uma poética da desagregação. A cidade, em sua materialidade em ruínas, torna-se signo da fragilidade de toda construção humana — afetiva, histórica ou social.[4]
As personagens evocadas pelo narrador aparecem como sombras do passado, quase espectros que povoam sua memória e sua imaginação. Há referências a figuras históricas, a personagens da elite local, a escravos e libertos que compuseram o tecido social da antiga Alcântara. No entanto, essas presenças são evocadas de forma fragmentária, como imagens embaçadas por camadas de tempo e subjetividade. O foco não está em suas ações ou destinos concretos, mas no que elas representam para o narrador: vínculos, rupturas, modelos, advertências. A cidade é povoada por ausências, e é a consciência dessas ausências que move a narrativa.[4]
O estilo da obra é contido, elegante e denso, com frases longas, construções complexas e forte carga poética. Montello utiliza uma linguagem evocativa, marcada por metáforas e imagens sensoriais, que traduzem o movimento emocional do narrador. A narrativa se aproxima, em certos momentos, de um poema em prosa, pelo ritmo pausado e pela musicalidade da escrita. A linguagem é adequada ao propósito de reconstituir a atmosfera da cidade e do estado de espírito do narrador, sem recorrer ao sentimentalismo ou ao excesso retórico. Trata-se de uma escrita rigorosa, que busca o equilíbrio entre emoção e controle formal.[4]
Noite sobre Alcântara representa uma das mais acabadas expressões do que ele chama de “ficção memorialista simbólica” em Montello. A obra não apenas narra uma experiência individual, mas mobiliza um repertório simbólico coletivo, articulando o destino pessoal do narrador à história social do espaço representado. O romance é visto como um exercício sofisticado de estilização do tempo e do espaço, em que a cidade histórica do Maranhão adquire dimensão universal como metáfora da condição humana. A recepção crítica à obra reconheceu sua densidade estética e filosófica, embora seu impacto popular tenha sido menor do que o de Os tambores de São Luís (1975), provavelmente por sua construção mais abstrata e meditativa.[4]
Noite sobre Alcântara ocupa um lugar singular na obra de Josué Montello. É ao mesmo tempo um desdobramento de temas anteriores — como a memória e o retorno às origens — e uma ampliação das possibilidades simbólicas da narrativa. A cidade em ruínas torna-se metáfora da consciência em crise, e o romance, uma meditação sobre o tempo, a identidade e o sentido da existência. A obra reafirma o compromisso de Montello com uma literatura que não apenas registra, mas interroga a história e a subjetividade. Trata-se de um dos exemplos mais sofisticados de como a literatura pode transformar o espaço urbano em palco de uma travessia espiritual e existencial.[4]
Academia Brasileira de Letras
[editar | editar código-fonte]Em 1954, foi eleito para a cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Cláudio de Sousa. Até a sua morte, era o integrante mais antigo da Academia.
Referências
- ↑ «:::[ DocPro ]:::». memoria.bn.br. Consultado em 9 de março de 2016
- ↑ SOARES, Rubenita Barros. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA COMO ALTERNATIVA ÀS BIBLIOTECAS PÚBLICAS E ESOLARES E O PAPEL SOCIAL DO PROFISSIONAL BIBLIOTECÁRIO: relato de experiência [1]. Acesso em 08 de março de 2015.
- ↑ a b c d e f g h i j «Josué Montello». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 10 de maio de 2025
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai aj ZANELA, Agda Adriana. «A Epopéia Maranhense De Josué Montello: Desvendando A Poética Montelliana Em Quatro Romances». Universidade Estadual Paulista - UNESP
- ↑ a b «Folha de S.Paulo - Literatura: Morre o acadêmico Josué Montello, 88 - 16/03/2006». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 10 de maio de 2025
- ↑ a b c «A FUNDAÇÃO». FJMONTELLO. Consultado em 10 de maio de 2025
- ↑ a b c «No centenário de Josué Montello». Academia Mineira de Letras. Consultado em 10 de maio de 2025
- ↑ FERNANDES, Saulo Barreto Lima (2024). Diários de Josué Montello: as urdiduras da criação romanesca e a busca da fluidez do eterno inacabado. [S.l.]: UICLAP. ISBN 9786500956573
- ↑ CORREA FILHO, Jonas de Moraes. Símbolos Nacionais na Independência. IN: Josué Montello. HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL: Rideel/casa do livro, Rio de Janeiro, 1972
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Discursos acadêmicos de Josué Montello. Rio de Janeiro: ABL, 2007.
- Fernandes, Saulo Barreto Lima, Diários de Josué Montello: as urdiduras da criação romanesca e a busca da fluidez do eterno inacabado. S.l.: Ed. da Univ. Maranhão, 2025 (livro baseado em dissertação premiada).
- Neto, Fausto, “Josué Montello, ensaio de crítica literária”, em Revista Confraria do Vento, Belo Horizonte, 2018.
- Silva, M. P. da, “Os tambores de São Luís: diálogos do sincretismo religioso afro-brasileiro”, monografia, UEPB, 2012.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Biografia de Josué Montello na Academia Brasileira de Letras
- Biografia de Josué Montello no sítio Patrimônio da Humanidade, São Luís do Maranhão
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Sucedido por José Mindlin |
Precedido por Raimundo Lopes (patrono) |
AML - fundador da cadeira 31 1948 — 2006 |
Sucedido por Ronaldo Costa Fernandes |
Precedido por José da Costa Mendes Pereira |
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Sucedido por Manuel Soares Estrela |
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