Programa de Aquisição de Alimentos
Programa de Aquisição de Alimentos, PAA é um programa do governo brasileiro para promover o acesso à alimentação e incentivar a agricultura familiar.[1] Foi criado no âmbito do Programa Fome Zero.[1]
O programa é uma das principais políticas de apoio e incentivo à agricultura familiar no Brasil.[2] Por meio da iniciativa, agricultores, cooperativas e associações vendem seus produtos para órgãos públicos. Em 2019, o Ministério da Cidadania disponibilizou mais de R$ 285 milhões para a Compra Institucional, uma das modalidades do programa. O valor é o mais alto registrado desde a criação do PAA.[3][4]
Em 2015, um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) destacou os resultados do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). De acordo com a publicação Demanda Estruturada e Agricultores Familiares no Brasil: o Caso do PAA e do PNAE, os dois programas de compras institucionais são fundamentais para a superação da pobreza e da fome no Brasil.[5]
Funcionamento
[editar | editar código-fonte]Por meio do programa, órgãos compram os alimentos da agricultura familiar, sem necessidade de licitação, e os destinam às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, à rede socioassistencial, aos equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional e à rede pública e filantrópica de ensino.[3][1]
Os alimentos comprados e sua respectiva destinação dependem da modalidade do PAA pela qual os produtos são adquiridos. O Programa de Aquisição de Alimentos possui seis modalidades:[1][6][7]
- Compra com doação simultânea
Na compra com doação simultânea, o público consumidor são populações em situação de risco alimentar, atendidas pela rede de proteção social de estados e municípios.
- Compra Institucional
Nesta modalidade, órgãos públicos fazem compras dos alimentos por meio de chamadas públicas. Dessa maneira, são abastecidos hospitais públicos, quartéis, presídios, restaurantes universitários, creches e escolas, entre outros.
- PAA Leite
Nessa modalidade, há a compra de leite in natura de laticínios privados e agricultores familiares (com prioridade para este último) que, após processamento, é distribuído ao público. Esse trabalho incentiva o consumo regular de leite pelas famílias em insegurança alimentar e nutricional. A implantação dessa modalidade é restrita a uma área específica que inclui a região Nordeste e parte do estado de Minas Gerais.
- Compra Direta
Essa modalidade faz parte da estratégia de sustentação de preços da agricultura familiar. Os agricultores vendem alimentos para o Governo Federal a valores situados em uma faixa entre o preço mínimo e o preço de mercado. Cada unidade familiar deve obedecer o limite anual de vendas de R$ 8 mil. Para as organizações fornecedoras, esse valor é de R$ 500 mil, desde que respeitados os limites por unidade familiar.
- Formação de estoques
Nesta modalidade, os agricultores, organizados em grupos formais para formação de estoques, vendem alimentos da safra vigente. A Conab também é responsável pela operação dessa modalidade. Se houver possibilidade de formação de estoque, a organização de agricultores envia uma proposta à Conab, com especificação do produto, quantidade, preço proposto, prazo necessário para a formação do estoque e os agricultores beneficiados.
- Aquisição de Sementes
Nesta modalidade, o governo compra sementes de fornecedores e doa a famílias inscritas no Cadastro Único, que englobam mulheres, assentados, povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais. A Conab é responsável pela aquisição, que pode ocorrer diretamente junto às organizações de produtores (para compras de até R$ 500 mil) ou por meio de chamada pública (acima de R$ 500 mil). Cada organização pode fornecer até R$ 6 milhões por ano em sementes, e o limite por agricultor é de R$ 16 mil.
Legislação
[editar | editar código-fonte]O programa foi criado pelo artigo 19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho de 2003[8] no âmbito do Programa Fome Zero. Esta Lei foi alterada pela Lei nº 12.512, de 14 de outubro de 2011 e regulamentada por diversos decretos, o que está em vigência é o Decreto nº 7.775, de 4 de julho de 2012.[1]
Projeto de Lei 4407/21
[editar | editar código-fonte]O Projeto de Lei 4407/21 aprimora as regras e consolida, em um único documento legal, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A proposta tramita na Câmara dos Deputados. O texto é dos deputados do PT Helder Salomão (ES), Patrus Ananias (MG) e Paulo Teixeira (SP). Salomão explica que a proposta visa dar amparo jurídico às ações do PAA, uma das principais políticas de apoio à agricultura familiar no País. “O desenho inicial do PAA se deu em 2003, mas sem um arcabouço legal que estruturasse formalmente as ações adotadas e que lhe propiciasse a robustez desejada a políticas de Estado”.[9]
Governo Temer
[editar | editar código-fonte]Em 2017, durante o Governo Temer, agricultores já temiam o fim do programa após cortes orçamentários e o contingenciamento de recursos.[10]
Governo de Jair Bolsonaro
[editar | editar código-fonte]A administração de Jair Bolsonaro (PL) mudou o nome do programa para "Alimenta Brasil". Em 2021, o governo federal chegou a apresentar na Cúpula dos Sistemas Alimentares da Organização das Nações Unidas (ONU) o programa como uma “importante estratégia para o combate à fome e à desnutrição”.[11]
O Brasil voltou ao Mapa da Fome em 2018 e, em 2020, registrou 55,2% da população convivendo com a insegurança alimentar, segundo pesquisa da Rede Penssan.[12]
Referências
- ↑ a b c d e «Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)». Ministério da Cidadania. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ «Programa de Aquisição de Alimentos: benefícios para quem vende e para quem compra». FAO. Consultado em 10 de novembro de 2022
- ↑ a b «Entenda como funciona o Programa de Aquisição de Alimentos». Governo do Brasil. 4 de fevereiro de 2020. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ «A fome, as periferias, a política e as eleições de 2022». Brasil de Fato. 27 de setembro de 2022. Consultado em 10 de novembro de 2022
- ↑ «Demanda Estruturada e a Agricultura Familiar no Brasil: o Caso do PAA e do PNAE» (PDF). Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Consultado em 10 de novembro de 2022
- ↑ «Agricultura familiar: Novo PAA tem limite de compra de R$ 12 mil». Agro em dia. 2 de dezembro de 2021. Consultado em 10 de novembro de 2022
- ↑ «As seis modalidades do PAA» (PDF). World Withour Poverty. Consultado em 10 de novembro de 2022
- ↑ «Legislação citada anexada pela coordenação de estudos legislativos - CEDI lei nº 10.696, de 2 de julho de 2003». Câmara dos Deputados. 2 de julho de 2003. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ «Projeto define em lei regras do Programa de Aquisição de Alimentos». Câmara dos Deputados. 23 de fevereiro de 2022. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ «Agricultores temem extinção do Programa de Aquisição de Alimentos». Rede Brasil Atual. 17 de outubro de 2017. Consultado em 10 de novembro de 2022
- ↑ «Governo federal destrói programa alimentar mesmo com escalada de fome no País». Isto É. 6 de junho de 2022. Consultado em 10 de novembro de 2022
- ↑ «Volta do Brasil ao Mapa da Fome é retrocesso inédito no mundo, diz economista». Folha de S. Paulo. 21 de janeiro de 2022. Consultado em 10 de novembro de 2022