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Paulo Junqueira Duarte: diferenças entre revisões

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'''Paulo Alfeu Junqueira Duarte''' ([[São Paulo (cidade)|São Paulo]], [[16 de novembro]] de [[1899]] {{mdash}} [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], [[23 de março]] de [[1984]]) foi um [[Biografia|biógrafo]], [[Poesia|poeta]], [[Arqueologia|arqueólogo]], [[Memórias|memorialista]], [[jornalista]] e [[professor universitário]] [[brasileiro]].
'''Paulo Alfeu Junqueira Duarte''' ([[São Paulo (cidade)|São Paulo]], [[16 de novembro]] de [[1899]] {{mdash}} [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], [[23 de março]] de [[1984]]) foi um [[advogado]], [[Biografia|biógrafo]], [[Poesia|poeta]], [[Arqueologia|arqueólogo]], [[Memórias|memorialista]], [[jornalista]] e [[professor universitário]] [[brasileiro]].


==Biografia==
==Biografia==
Paulo Alfeu Junqueira Duarte nasceu na cidade de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] em [[16 de novembro]] de [[1899]], filho de Hermínio de Monteiro Duarte e de Jovina Junqueira Duarte. Iniciou seus estudos no Instituto Champagnat, passou também pelo Ginásio São Bento e pelo Colégio dos Irmãos Maristas de [[Franca]] e no Externato Pereira Barreto. Foi acadêmico do curso de [[Medicina]] por três anos, porém, desistiu e veio obter a graduação em [[Direito]] em 1924. Ainda acadêmico começou a trabalhar no jornal [[O Estado de S. Paulo]] como revisor, depois a repórter e chegando a redator-chefe. Embora advogado de formação gradualmente passou a se dedicar ao jornalismo e a literatura. Ainda em O Estado de S.Paulo e apesar da pouca idade, lançou duas obras ''As arcadas'' e ''Agora nós''.<ref name=":0">{{Citar web|url=http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/pauloduarte/index.php?p=193|titulo=BIOGRAFIA DO PATRONO PAULO DUARTE|acessodata=2017-12-24|obra=prefeitura.sp.gov.br/|data=2007-09-05}}</ref><ref name=":1">{{Citar web|url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/paulo-alfeu-junqueira-de-monteiro-duarte|titulo=FVG CPDOC - PAULO ALFEU JUNQUEIRA DE MONTEIRO DUARTE|acessodata=2017-12-24|obra=fgv.br/cpdoc}}</ref><ref name=":4">{{citar web|url=http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2003/ju209pg12.html|titulo=O Dom Quixote brasileiro|ultimo=Sugimoto|primeiro=Luiz|publicado=unicamp.br|acessodata=2017-12-29}}</ref><ref name=":5">{{Citar livro|titulo=Memórias: Volume I a X|ultimo=Duarte|primeiro=Paulo J.|data=|editora=Hucitec|ano=1974-1979|local=São Paulo|páginas=|acessodata=}}</ref>


=== Primeiros anos e formação ===
Engajado na política, era um crítico das oligarquias políticas que na época controlavam a política nacional e, ainda acadêmico, destacou-se como defensor do voto secreto. Em 1922, também foi um dentre os apoiadores da [[Semana de Arte Moderna]] em São Paulo, que na época representava uma mudança no paradigma, revisão dos conceitos artísticos vigentes e vanguarda para o modernismo.<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":4" /><ref name=":5" />
Paulo Alfeu Junqueira Duarte nasceu na cidade de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] - capital do estado de [[São Paulo]] - em 16 de novembro de 1899, filho de Hermínio de Monteiro Duarte e de Jovina Junqueira Duarte.<ref name=":2">{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/paulo-alfeu-junqueira-de-monteiro-duarte |titulo=PAULO ALFEU JUNQUEIRA DE MONTEIRO DUARTE |acessodata=2021-05-13 |website=[[Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil]] |publicado=[[Fundação Getúlio Vargas]] |lingua=pt-br}}</ref><ref>{{citar web |url=https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sp/sao-paulo.html? |titulo=São Paulo |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]]}}</ref>


Iniciou seus estudos no Instituto Champagnat, passou também pelo Ginásio São Bento e pelo Colégio dos Irmãos Maristas da cidade de [[Franca]] e no Externato Pereira Barreto.<ref name=":6">{{Citar web |url=https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/pauloduarte/index.php?p=193 |titulo=BIOGRAFIA DO PATRONO PAULO DUARTE {{!}} Secretaria Municipal de Cultura {{!}} Prefeitura da Cidade de São Paulo |acessodata=2021-05-13 |website=[[Prefeitura de São Paulo]] |lingua=pt-br}}</ref>
Apoiou a [[Revolta Paulista de 1924|Revolução de 1924]], na ocasião tendo atuado como emissário de [[José Carlos de Macedo Soares]], presidente da [[Associação Comercial de São Paulo]], intermediário de [[Carlos de Campos]], presidente do estado de São Paulo (atualmente denomina-se governador). Nessa qualidade, participou das negociações para o armistício e anistia aos revoltosos. Malograda as negociações, os rebeldes liderados por [[Isidoro Dias Lopes]] resolveram abandonar a cidade rumo ao [[Paraná]].<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":4" /><ref name=":5" />


Foi acadêmico do curso de [[Medicina]] por três anos, porém, desistiu do curso devido falta de recursos financeiros.<ref>{{Citar web |ultimo=Sugimoto |primeiro=Luiz |url=https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2003/ju209pg12.html |titulo=O Dom Quixote brasileiro |data=2003 |acessodata=2021-05-13 |website=[[Universidade Estadual de Campinas]]}}</ref> Após a desistência na Medicina veio obter a graduação em [[Direito]] oferecida pela [[Faculdade de Direito do Largo de São Francisco]] (FDUSP), instituto vinculado a [[Universidade de São Paulo]] (USP) no ano de 1924. <ref>{{Citar web |url=http://www.conjur.com.br/2017-ago-14/direito-civil-atual-190-anos-direito-usp-departamento-direito-civil |titulo=190 anos da Faculdade de Direito da USP e o Departamento de Direito Civil |acessodata=2021-05-13 |website=Consultor Jurídico |lingua=pt-BR}}</ref>
Em 1926, teve atuação na fundação do [[Partido Democrático (1925)|Partido Democrático]] (PD), adversário do [[Partido Republicano Paulista]] (PRP). Nessa época, passou a trabalhar no Diário Nacional, ligado ao partido. Em 1929, participou da Aliança Liberal em São Paulo, que era apoiadora da candidatura de [[Getúlio Vargas]], tendo inclusive realizado caravanas e eventos pelo país para a promoção da candidatura de Vargas.<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":4" />


=== Carreira ===
Com a vitória de [[Júlio Prestes]] nas eleições presidenciais de março de 1930, Paulo Duarte ficou engajado nas conspirações que visavam um [[golpe de estado]] contra o então presidente [[Washington Luiz]], visando impedir a posse do candidato eleito e a formação de um governo provisório, episódio da história que veio a ser denominado de [[Revolução de 1930]]. Deflagrada esse golpe de estado, em outubro daquele ano, Duarte chefiou grupo cujo objetivo era atacar o o [[Palácio dos Campos Elísios]], sede do governo paulista, mas foi preso antes da consumação desse plano. Contudo, após a deposição de Washington Luís por generais da capital federal naquele mesmo mês e a consequente vitória daquele movimento rebelde, foi libertado e passou a exercer apoio ao governo provisório encabeçado por Getúlio Vargas, candidato derrotado naquelas eleições e um dos líderes desse golpe de estado. Porém, gradualmente sentiu-se desiludido com os rumos do governo provisório de [[Getúlio Vargas]] e insatisfeito com a políticas por este exercida, sobretudo no estado de São Paulo. Assim, rompeu com o partido e passou a fazer parte do grupo de oposição ao regime vigente no país, inclusive tendo participado em 1931 da fundação da Liga de Defesa Paulista, que visava lutar pela autonomia de São Paulo.<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":4" />
Ainda acadêmico começou a trabalhar no jornal [[O Estado de S. Paulo]] desempenhando funções como revisor, depois a repórter e chegando a redator-chefe.<ref>{{citar web |ultimo=Sandes |primeiro=Noé |url=https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548772192_a7e5e23c61bf51c57aa3e92d25408f73.pdf |titulo=Lembrança, arquivo e ressentimento: as memórias de Paulo Duarte |data=2009 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Associação Nacional de História]]}}</ref><ref name=":7">{{citar web |ultimo=Fonseca |primeiro=Sherloma |url=https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/113/o/41_SherlomaFonseca_DosEscritosDePaulo.pdf |titulo=DOS ESCRITOS DE PAULO DUARTE: MEMÓRIAS E PALMARES PELO AVESSO |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Universidade Federal de Goiás]]}}</ref> Embora advogado de formação gradualmente passou a se dedicar ao [[jornalismo]] e a [[literatura]].<ref name=":7" /> Ainda em O Estado de S.Paulo e apesar da pouca idade, lançou duas obras ''As arcadas'' e ''Agora nós''.<ref name=":5">{{Citar livro|titulo=Memórias: Volume I a X|ultimo=Duarte|primeiro=Paulo J.|data=|editora=Hucitec|ano=1974-1979|local=São Paulo|páginas=|acessodata=}}</ref><ref name=":6" />


Engajado na política, era um crítico das [[Oligarquia|oligarquias]] políticas que na época controlavam a política nacional e, ainda acadêmico, destacou-se como defensor do voto secreto.<ref>{{citar web |ultimo=Gomes |primeiro=Pablo |url=https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/1486/2124.pdf?sequence=1 |titulo=São Carlos e o movimento constitucionalista de 1932: poder local e cooptação ideológica |data=2008 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Universidade Federal de São Carlos]]}}</ref> Em 1922, também foi um dentre os apoiadores da [[Semana de Arte Moderna]] (SAM) em São Paulo, que na época representava uma mudança no paradigma, revisão dos conceitos artísticos vigentes e vanguarda para o modernismo.<ref name=":5" /><ref>{{citar web |url=https://www.casadasrosas.org.br/agenda/dilogos-sincrnicos-mario-de-andrade |titulo=DIÁLOGOS SINCRÔNICOS: MÁRIO DE ANDRADE |acessodata=12/05/2021 |publicado=Casa das Rosas}}</ref><ref>{{citar web |ultimo=Alcântara |primeiro=Aureli |url=https://teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-17032008-141515/publico/02Capitulo1.pdf |titulo=Paulo Duarte entre sítios e trincheiras em defesa da sua dama-a Pré-história |data=2007 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Universidade de São Paulo]]}}</ref>
Essas insatisfações contra o governo provisório presidido por Getúlio Vargas culminaria na [[Revolução Constitucionalista de 1932]]. Na qualidade de voluntário do então Exército Constitucionalista, Paulo Duarte atuou no [[Vale do Paraíba]], onde no último mês do conflito veio a assumir o comando do Trem Blindado, que dava cobertura móvel para as manobras da 2ª Divisão de Infantaria em operações, e nesse posto teve notável atuação, sobretudo nos combates de [[Lorena (São Paulo)|Lorena]]-SP e [[Canas]], além da proteção das tropas paulistas para o recuo em [[Guaratinguetá]]. Com o armistício e as negociações para a rendição do Exército Constitucionalista, passou para o grupo de combatentes que ainda queriam o prosseguimento dos conflitos, entre eles o comandante daquele setor, o Cel. [[Euclides Figueiredo]] e o cap. [[Reinaldo Ramos de Saldanha da Gama|Reinaldo Saldanha da Gama]]. Contudo, foi preso junto a esse grupo no litoral de [[Santa Catarina]] quando estavam em fuga para o Rio Grande do Sul, onde esperavam o reagrupamento dos combatentes e o reinício do conflito. Na sequência foi exilado junto com outros líderes da revolução para [[Portugal]] e depois mudando-se para a [[França]].<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":3">{{Citar livro|titulo=Palmares pelo Avesso|ultimo=Duarte|primeiro=Paulo J.|data=1947|editora=Ipe|local=São Paulo|páginas=420}}</ref><ref name=":4" /><ref name=":5" />


Apoiou a [[Revolta Paulista de 1924|Revolução de 1924]], na ocasião tendo atuado como emissário de [[José Carlos de Macedo Soares]], presidente da [[Associação Comercial de São Paulo]], intermediário de [[Carlos de Campos]], presidente do estado de São Paulo (atualmente denomina-se governador).<ref name=":8">{{citar web |ultimo=Sousa |primeiro=Carolina |url=https://www.encontro2018.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1529793953_ARQUIVO_TrabalhoCompleto.pdf |titulo=Paulo Duarte e a memória de oposição a Getúlio Vargas (1933-1945) |data=2018 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Associação Nacional de História]]}}</ref> Nessa qualidade, participou das negociações para o armistício e anistia aos revoltosos.<ref name=":8" /> Malograda as negociações, os rebeldes liderados por [[Isidoro Dias Lopes]] resolveram abandonar a cidade rumo ao [[Paraná]].<ref>{{citar web |ultimo=Fonseca |primeiro=Sherloma |url=https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/113/o/DISSERTACAO-_Sherloma_Starlet.pdf |titulo=Memórias de um constitucionalista: Paulo Duarte e a Guerra Civil de 1932 |data=2009 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Universidade Federal de Goiás]]}}</ref>
De volta do exílio, em agosto de 1933, voltou a colaborar no jornal O Estado de S. Paulo. Também participou, junto com [[Júlio de Mesquita Filho]], da criação e da organização da [[Universidade de São Paulo|Universidade de São Paulo (USP)]], inclusive participando da seleção dos primeiros docentes, ocasião em que trouxe professores franceses para integrar os quadros da universidade. Também ingressou no corpo docente dessa instituição, lecionando [[pré-história]].<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":4" /><ref name=":5" />


No ano de 1926, teve atuação na fundação do [[Partido Democrático (1925)|Partido Democrático]] (PD), adversário do [[Partido Republicano Paulista]] (PRP).<ref name=":9">{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-21862020000300644&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=The 1930s in Paulo Duarte’s memoirs and archive: a political culture of opposition to Getúlio Vargas |data=2020 |acessodata=2021-05-13 |jornal=Estudos Históricos (Rio de Janeiro) |número=71 |ultimo=Sousa |primeiro=Carolina Soares |ultimo2=Sousa |primeiro2=Carolina Soares |paginas=644–666 |doi=10.1590/s2178-149420200003000011 |issn=0103-2186}}</ref> Nessa época, passou a trabalhar no ''Diário Nacional'', jornal ligado ao partido.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/diario-nacional |titulo=DIARIO NACIONAL |acessodata=2021-05-13 |website=[[Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil]] |publicado=[[Fundação Getúlio Vargas]] |lingua=pt-br}}</ref><ref>{{citar web |url=http://bndigital.bn.br/artigos/diario-nacional/ |titulo=Diário Nacional |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Biblioteca Nacional do Brasil]]}}</ref> Em 1929, participou da [[Aliança Liberal]] em São Paulo, que era apoiadora da candidatura de [[Getúlio Vargas]], tendo inclusive realizado caravanas e eventos pelo país para a promoção da candidatura de Vargas.<ref name=":2" /><ref>{{Citar web |ultimo=Bianca |primeiro=Kariny |url=https://conhecimentocientifico.r7.com/alianca-liberal/ |titulo=Aliança Liberal, o que é? Origem, revolução e fim da política café com leite |data=2020-08-24 |acessodata=2021-05-13 |website=Conhecimento Científico |publicado=[[R7]] |lingua=pt-BR}}</ref>
Em 1934, foi eleito pelo Partido Constitucionalista a deputado para a Assembleia da Constituinte estadual, onde teve atuação destacada em projetos ligados a educação e cultura. Nesse período, fez oposição a [[Ação Integralista Brasileira|Ação Integralista Brasileira (AIB)]], presidida por [[Plínio Salgado]].<ref name=":0" /><ref name=":1" />


Com a vitória de [[Júlio Prestes]] nas eleições presidenciais de março de 1930, Paulo Duarte ficou engajado nas conspirações que visavam um [[golpe de estado]] contra o então presidente [[Washington Luís|Washington Luis]], visando impedir a posse do candidato eleito e a formação de um governo provisório, episódio da história que veio a ser denominado de [[Revolução de 1930]].<ref name=":2" /> Deflagrada esse golpe de estado, em outubro daquele ano, Duarte chefiou grupo cujo objetivo era atacar o o [[Palácio dos Campos Elísios]], sede do governo paulista, mas foi preso antes da consumação desse plano, em [[Santa Catarina]].<ref name=":6" />
Em 1937, apoiou [[Armando de Sales Oliveira|Armando Sales]] para as eleições presidenciais previstas para o ano seguinte. Porém, com o golpe de estado articulado por Getúlio Vargas, que resultaria no [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], as eleições foram canceladas e o Congresso e as Assembleias Legislativas dissolvidos. Na qualidade de jornalista, publicou inúmeros artigos críticos ao então regime vigente bem como as medidas postas em prática, tendo sido preso por conta disso várias vezes. Contudo, em 1938 foi mandado ao exílio pelo regime após realizar uma denúncia ao então Ministro da Guerra, [[Eurico Gaspar Dutra]], de uma suposta infiltração nazista entre os quadros do governo brasileiro.<ref name=":1" />


Contudo, após a deposição de Washington Luís por generais da capital federal naquele mesmo mês e a consequente vitória daquele movimento rebelde, foi libertado e passou a exercer apoio ao governo provisório encabeçado por Getúlio Vargas, candidato derrotado naquelas eleições e um dos líderes desse golpe de estado.<ref name=":9" /> Porém, gradualmente sentiu-se desiludido com os rumos do governo provisório de Getúlio Vargas e insatisfeito com a políticas por este exercida, sobretudo no estado de São Paulo.<ref name=":8" /> Assim, rompeu com o partido e passou a fazer parte do grupo de oposição ao regime vigente no país, inclusive tendo participado em 1931 da fundação da Liga de Defesa Paulista, que visava lutar pela autonomia de São Paulo.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/liga-de-defesa-paulista |titulo=LIGA DE DEFESA PAULISTA |acessodata=2021-05-13 |website=[[Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil]] |publicado=[[Fundação Getúlio Vargas]] |lingua=pt-br}}</ref><ref name=":10">{{citar web |url=https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigital/24095_arquivo.pdf |titulo=Paulo Duarte – deputado estadual e voluntário de 1932 |data=2019 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Assembleia Legislativa de São Paulo]]}}</ref>
Em 1943, em turnê pela Europa numa série de conferências foi pressionado pela ditadura salazarista em Portugal. Ainda naquele ano, quando tentou retornar a sua residência em Paris, na França, foi barrado pelo departamento de estado dos EUA, país então aliado do Brasil na [[Segunda Guerra Mundial]], sob a justificativa de que era inimigo do governo brasileiro. Porém, meses depois conseguiu retornar a [[Paris]] e retomar seu trabalho com [[Paul Rivet]] no Museu do Homem. Mesmo no exílio, manteve a sua atuação política em oposição ao regime do Estado Novo, frequentemente realizando denúncias a partir de informações e documentos que revelavam os programas de Hitler com relação à América Latina e suas ligações com o governo de Getúlio Vargas.<ref name=":0" /><ref name=":4" /><ref name=":5" />


Essas insatisfações contra o governo provisório presidido por Getúlio Vargas culminaria na [[Revolução Constitucionalista de 1932]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books/about/Get%C3%BAlio_Do_Governo_Provis%C3%B3rio_%C3%A0_ditad.html?id=C5jAwAEACAAJ|título=Getúlio: Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo (1930-1945)|ultimo=Neto|primeiro=Lira|data=2012|editora=Companhia das Letras|lingua=pt}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-01882011000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Luto e culto cívico dos mortos: as tensões da memória pública da Revolução Constitucionalista de 1932 (São Paulo, 1932-1937) |data=2011 |acessodata=2021-05-13 |jornal=Revista Brasileira de História |número=61 |ultimo=Abreu |primeiro=Marcelo Santos de |paginas=105–123 |lingua=pt |doi=10.1590/S0102-01882011000100006 |issn=0102-0188}}</ref> Na qualidade de voluntário do então Exército Constitucionalista, Paulo Duarte atuou no [[Vale do Paraíba]], onde no último mês do conflito veio a assumir o comando do um trem Blindado, que dava cobertura móvel para as manobras da 2ª Divisão de Infantaria em operações, e nesse posto teve notável atuação, sobretudo nos combates de [[Lorena (São Paulo)|Lorena]] (SP) e [[Canas]] (SP), além da proteção das tropas paulistas para o recuo em [[Guaratinguetá]].<ref name=":2" /> Com o armistício e as negociações para a rendição do Exército Constitucionalista, passou para o grupo de combatentes que ainda queriam o prosseguimento dos conflitos, entre eles o comandante daquele setor, o Coronel. [[Euclides Figueiredo]] e o Capitão [[Reinaldo Ramos de Saldanha da Gama|Reinaldo Saldanha da Gama]].<ref>{{citar web |url=http://www.fgv.br/cpdoc/historal/arq/entrevista107.pdf |titulo=FIGUEIREDO, Guilherme. Guilherme Figueiredo (depoimento,1977). Rio de Janeiro, CPDOC |data=1977 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Fundação Getúlio Vargas]]}}</ref> Contudo, foi preso junto a esse grupo no litoral de Santa Catarina quando estavam em fuga para o [[Rio Grande do Sul]], onde esperavam o reagrupamento dos combatentes e o reinício do conflito.<ref name=":6" /> Na sequência foi exilado junto com outros líderes da revolução para [[Portugal]] e depois mudando-se para a [[França]].<ref name=":3">{{Citar livro|titulo=Palmares pelo Avesso|ultimo=Duarte|primeiro=Paulo J.|data=1947|editora=Ipe|local=São Paulo|páginas=420}}</ref><ref name=":2" />
Finda a ditadura de Vargas, em outubro de 1945, retornou ao Brasil e retomou o seu cargo como redator-chefe em O Estado de S. Paulo e também passou a lecionar na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). A partir de suas experiências na Europa durante o exílio, foi um grande iniciador da arqueologia e da proteção do patrimônio arqueológico Brasileiro, principalmente nos meios acadêmicos. Foi nessa época também que tentou fundar o Museu do Homem no Brasil, a partir de suas experiências com Paul Rivet, tendo realizado comissão de pesquisa para a preservação das jazidas neolíticas brasileiras.<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":4" /><ref name=":5" />

De volta do exílio, em agosto de 1933, voltou a colaborar no jornal O Estado de S. Paulo.<ref name=":2" /> Também participou, junto com [[Júlio de Mesquita Filho]], da criação e da organização da [[Universidade de São Paulo|Universidade de São Paulo (USP)]], inclusive participando da seleção dos primeiros docentes, ocasião em que trouxe professores franceses para integrar os quadros da universidade.<ref name=":11">{{Citar periódico |url=https://periodicos.ufms.br/index.php/AlbRHis/article/view/11953 |titulo=A ideologia da cultura brasileira nas universidades: |data=2020-12-26 |acessodata=2021-05-13 |jornal=albuquerque: revista de história |número=24 |ultimo=Macêdo |primeiro=Francisco Adriano Leal |ultimo2=Brito |primeiro2=Fábio Leonardo Castelo Branco |paginas=198–212 |lingua=pt |doi=10.46401/ajh.2020.v12.11953 |issn=2526-7280}}</ref> Também ingressou no corpo docente dessa instituição, lecionando [[pré-história]] na [[Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo]] (FFCL).<ref>{{citar web |ultimo=Alcântara |primeiro=Aureli |url=https://teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-17032008-141515/publico/02Capitulo1.pdf |titulo=Paulo Duarte entre sítios e trincheiras em defesa da sua dama-a Pré-história |data=2007 |acessodata=12/05/2021 |publicado=[[Universidade de São Paulo]]}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/30093 |titulo=A CONSTRUÇÃO DE UM PASSADO PRÉ-COLONIAL: UMA BREVE HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA NO BRASIL |data=1999 |acessodata=2021-05-13 |jornal=Revista USP |número=44 |ultimo=Barreto |primeiro=Cristiana |paginas=32–51 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-9036.v0i44p32-51 |issn=2316-9036}}</ref>

No ano de 1934, foi eleito pelo Partido Constitucionalista a deputado para a Assembleia da Constituinte estadual, onde teve atuação destacada em projetos ligados a educação e cultura.<ref name=":10" /> Nesse período, fez oposição a [[Ação Integralista Brasileira|Ação Integralista Brasileira (AIB)]], presidida por [[Plínio Salgado]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Q1DSBgAAQBAJ&pg=PA8&lpg=PA8&dq=pl%C3%ADnio+salgado+paulo+junqueira+duarte&source=bl&ots=6io11FOu20&sig=ACfU3U2v3GAY2gmaBSnN-txshBbpJUmkUg&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiXhKzSwsXwAhVwHbkGHWGUDAEQ6AEwEnoECAkQAw|título=A Book of South & North American Writers|ultimo=Kariye|primeiro=Dr Badal W.|editora=Lulu.com|lingua=en}}</ref>

Já em 1937, apoiou [[Armando de Sales Oliveira|Armando Sales]] para as eleições presidenciais previstas para o ano seguinte.<ref name=":11" /> Porém, com o golpe de estado articulado por Getúlio Vargas, que resultaria no [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], as eleições foram canceladas e o Congresso e as Assembleias Legislativas dissolvidos.<ref>{{Citar web |url=https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/GolpeEstadoNovo#:~:text=O%20Estado%20Novo%20foi%20um,importantes%20lideran%C3%A7as%20pol%C3%ADticas%20e%20militares. |titulo=Golpe do Estado Novo {{!}} CPDOC |acessodata=2021-05-13 |website=[[CPDOC]] |publicado=[[FGV]]}}</ref> Trabalhando como jornalista, publicou inúmeros artigos críticos ao então regime vigente bem como as medidas postas em prática, tendo sido preso por conta disso várias vezes.<ref name=":2" /> Contudo, em 1938 foi mandado ao exílio pelo regime após realizar uma denúncia ao então Ministro da Guerra, [[Eurico Gaspar Dutra]], de uma suposta infiltração nazista entre os quadros do governo brasileiro.<ref name=":2" />

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Finda a ditadura de Vargas, em outubro de 1945, retornou ao Brasil e retomou o seu cargo como redator-chefe em O Estado de S. Paulo e também passou a lecionar na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). A partir de suas experiências na Europa durante o exílio, foi um grande iniciador da arqueologia e da proteção do patrimônio arqueológico Brasileiro, principalmente nos meios acadêmicos. Foi nessa época também que tentou fundar o Museu do Homem no Brasil, a partir de suas experiências com Paul Rivet, tendo realizado comissão de pesquisa para a preservação das jazidas neolíticas brasileiras.<ref name=":0">{{Citar web |url=http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/pauloduarte/index.php?p=193 |titulo=BIOGRAFIA DO PATRONO PAULO DUARTE |data=2007-09-05 |acessodata=2017-12-24 |obra=prefeitura.sp.gov.br/}}</ref><ref name=":1">{{Citar web |url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/paulo-alfeu-junqueira-de-monteiro-duarte |titulo=FVG CPDOC - PAULO ALFEU JUNQUEIRA DE MONTEIRO DUARTE |acessodata=2017-12-24 |obra=fgv.br/cpdoc}}</ref><ref name=":4">{{citar web |ultimo=Sugimoto |primeiro=Luiz |url=http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2003/ju209pg12.html |titulo=O Dom Quixote brasileiro |acessodata=2017-12-29 |publicado=unicamp.br}}</ref><ref name=":5" />


Em 1950, saiu do cargo que possuía em O Estado de S. Paulo, mas atuando como colaborador esporádico. Em meados da década de 1950, fundou a revista ''Anhembi'' cujo trabalho teve grande importância na cultura brasileira naquela época, com publicações de autores nacionais e estrangeiros voltadas a literatura, história, sociologia e antropologia, porém, o periódico foi extinto em 1962, e foi também nesse ano em que assumiu cargo efetivo como docente na USP.<ref name=":5" />
Em 1950, saiu do cargo que possuía em O Estado de S. Paulo, mas atuando como colaborador esporádico. Em meados da década de 1950, fundou a revista ''Anhembi'' cujo trabalho teve grande importância na cultura brasileira naquela época, com publicações de autores nacionais e estrangeiros voltadas a literatura, história, sociologia e antropologia, porém, o periódico foi extinto em 1962, e foi também nesse ano em que assumiu cargo efetivo como docente na USP.<ref name=":5" />

Revisão das 01h42min de 13 de maio de 2021

 Nota: Se procura outra pessoa, veja Paulo Duarte.
Paulo Duarte
Paulo Alfeu Junqueira Duarte
Paulo Junqueira Duarte
Nascimento 16 de novembro de 1899
São Paulo
Morte 23 de março de 1984 (84 anos)
São Paulo
Nacionalidade brasileiro
Cônjuge Joanita Prats Duarte
Alma mater Universidade de São Paulo
Prêmios Prémio Jabuti (1976), (1978)
Campo(s) Arqueologia

Paulo Alfeu Junqueira Duarte (São Paulo, 16 de novembro de 1899São Paulo, 23 de março de 1984) foi um advogado, biógrafo, poeta, arqueólogo, memorialista, jornalista e professor universitário brasileiro.

Biografia

Primeiros anos e formação

Paulo Alfeu Junqueira Duarte nasceu na cidade de São Paulo - capital do estado de São Paulo - em 16 de novembro de 1899, filho de Hermínio de Monteiro Duarte e de Jovina Junqueira Duarte.[1][2]

Iniciou seus estudos no Instituto Champagnat, passou também pelo Ginásio São Bento e pelo Colégio dos Irmãos Maristas da cidade de Franca e no Externato Pereira Barreto.[3]

Foi acadêmico do curso de Medicina por três anos, porém, desistiu do curso devido falta de recursos financeiros.[4] Após a desistência na Medicina veio obter a graduação em Direito oferecida pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (FDUSP), instituto vinculado a Universidade de São Paulo (USP) no ano de 1924. [5]

Carreira

Ainda acadêmico começou a trabalhar no jornal O Estado de S. Paulo desempenhando funções como revisor, depois a repórter e chegando a redator-chefe.[6][7] Embora advogado de formação gradualmente passou a se dedicar ao jornalismo e a literatura.[7] Ainda em O Estado de S.Paulo e apesar da pouca idade, lançou duas obras As arcadas e Agora nós.[8][3]

Engajado na política, era um crítico das oligarquias políticas que na época controlavam a política nacional e, ainda acadêmico, destacou-se como defensor do voto secreto.[9] Em 1922, também foi um dentre os apoiadores da Semana de Arte Moderna (SAM) em São Paulo, que na época representava uma mudança no paradigma, revisão dos conceitos artísticos vigentes e vanguarda para o modernismo.[8][10][11]

Apoiou a Revolução de 1924, na ocasião tendo atuado como emissário de José Carlos de Macedo Soares, presidente da Associação Comercial de São Paulo, intermediário de Carlos de Campos, presidente do estado de São Paulo (atualmente denomina-se governador).[12] Nessa qualidade, participou das negociações para o armistício e anistia aos revoltosos.[12] Malograda as negociações, os rebeldes liderados por Isidoro Dias Lopes resolveram abandonar a cidade rumo ao Paraná.[13]

No ano de 1926, teve atuação na fundação do Partido Democrático (PD), adversário do Partido Republicano Paulista (PRP).[14] Nessa época, passou a trabalhar no Diário Nacional, jornal ligado ao partido.[15][16] Em 1929, participou da Aliança Liberal em São Paulo, que era apoiadora da candidatura de Getúlio Vargas, tendo inclusive realizado caravanas e eventos pelo país para a promoção da candidatura de Vargas.[1][17]

Com a vitória de Júlio Prestes nas eleições presidenciais de março de 1930, Paulo Duarte ficou engajado nas conspirações que visavam um golpe de estado contra o então presidente Washington Luis, visando impedir a posse do candidato eleito e a formação de um governo provisório, episódio da história que veio a ser denominado de Revolução de 1930.[1] Deflagrada esse golpe de estado, em outubro daquele ano, Duarte chefiou grupo cujo objetivo era atacar o o Palácio dos Campos Elísios, sede do governo paulista, mas foi preso antes da consumação desse plano, em Santa Catarina.[3]

Contudo, após a deposição de Washington Luís por generais da capital federal naquele mesmo mês e a consequente vitória daquele movimento rebelde, foi libertado e passou a exercer apoio ao governo provisório encabeçado por Getúlio Vargas, candidato derrotado naquelas eleições e um dos líderes desse golpe de estado.[14] Porém, gradualmente sentiu-se desiludido com os rumos do governo provisório de Getúlio Vargas e insatisfeito com a políticas por este exercida, sobretudo no estado de São Paulo.[12] Assim, rompeu com o partido e passou a fazer parte do grupo de oposição ao regime vigente no país, inclusive tendo participado em 1931 da fundação da Liga de Defesa Paulista, que visava lutar pela autonomia de São Paulo.[18][19]

Essas insatisfações contra o governo provisório presidido por Getúlio Vargas culminaria na Revolução Constitucionalista de 1932.[20][21] Na qualidade de voluntário do então Exército Constitucionalista, Paulo Duarte atuou no Vale do Paraíba, onde no último mês do conflito veio a assumir o comando do um trem Blindado, que dava cobertura móvel para as manobras da 2ª Divisão de Infantaria em operações, e nesse posto teve notável atuação, sobretudo nos combates de Lorena (SP) e Canas (SP), além da proteção das tropas paulistas para o recuo em Guaratinguetá.[1] Com o armistício e as negociações para a rendição do Exército Constitucionalista, passou para o grupo de combatentes que ainda queriam o prosseguimento dos conflitos, entre eles o comandante daquele setor, o Coronel. Euclides Figueiredo e o Capitão Reinaldo Saldanha da Gama.[22] Contudo, foi preso junto a esse grupo no litoral de Santa Catarina quando estavam em fuga para o Rio Grande do Sul, onde esperavam o reagrupamento dos combatentes e o reinício do conflito.[3] Na sequência foi exilado junto com outros líderes da revolução para Portugal e depois mudando-se para a França.[23][1]

De volta do exílio, em agosto de 1933, voltou a colaborar no jornal O Estado de S. Paulo.[1] Também participou, junto com Júlio de Mesquita Filho, da criação e da organização da Universidade de São Paulo (USP), inclusive participando da seleção dos primeiros docentes, ocasião em que trouxe professores franceses para integrar os quadros da universidade.[24] Também ingressou no corpo docente dessa instituição, lecionando pré-história na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL).[25][26]

No ano de 1934, foi eleito pelo Partido Constitucionalista a deputado para a Assembleia da Constituinte estadual, onde teve atuação destacada em projetos ligados a educação e cultura.[19] Nesse período, fez oposição a Ação Integralista Brasileira (AIB), presidida por Plínio Salgado.[27]

Já em 1937, apoiou Armando Sales para as eleições presidenciais previstas para o ano seguinte.[24] Porém, com o golpe de estado articulado por Getúlio Vargas, que resultaria no Estado Novo, as eleições foram canceladas e o Congresso e as Assembleias Legislativas dissolvidos.[28] Trabalhando como jornalista, publicou inúmeros artigos críticos ao então regime vigente bem como as medidas postas em prática, tendo sido preso por conta disso várias vezes.[1] Contudo, em 1938 foi mandado ao exílio pelo regime após realizar uma denúncia ao então Ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, de uma suposta infiltração nazista entre os quadros do governo brasileiro.[1]

No ano de 1943, em turnê pela Europa numa série de conferências foi pressionado pela ditadura salazarista em Portugal.[29] Ainda naquele ano, quando tentou retornar a sua residência em Paris, na França, foi barrado pelo departamento de estado dos Estados Unidos, país então aliado do Brasil na Segunda Guerra Mundial, sob a justificativa de que era inimigo do governo brasileiro.[29] Porém, meses depois conseguiu retornar a Paris e retomar seu trabalho com Paul Rivet no Museu do Homem. Mesmo no exílio, manteve a sua atuação política em oposição ao regime do Estado Novo, frequentemente realizando denúncias a partir de informações e documentos que revelavam os programas de Hitler com relação à América Latina e suas ligações com o governo de Getúlio Vargas.[1][3]

Finda a ditadura de Vargas, em outubro de 1945, retornou ao Brasil e retomou o seu cargo como redator-chefe em O Estado de S. Paulo e também passou a lecionar na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). A partir de suas experiências na Europa durante o exílio, foi um grande iniciador da arqueologia e da proteção do patrimônio arqueológico Brasileiro, principalmente nos meios acadêmicos. Foi nessa época também que tentou fundar o Museu do Homem no Brasil, a partir de suas experiências com Paul Rivet, tendo realizado comissão de pesquisa para a preservação das jazidas neolíticas brasileiras.[30][31][32][8]

Em 1950, saiu do cargo que possuía em O Estado de S. Paulo, mas atuando como colaborador esporádico. Em meados da década de 1950, fundou a revista Anhembi cujo trabalho teve grande importância na cultura brasileira naquela época, com publicações de autores nacionais e estrangeiros voltadas a literatura, história, sociologia e antropologia, porém, o periódico foi extinto em 1962, e foi também nesse ano em que assumiu cargo efetivo como docente na USP.[8]

Com o golpe de 1964, Duarte deu declarações críticas àquele movimento político-militar, e chegou a ser detido por sua oposição. Também era muito crítico aos rumos tomados pela gestão da Universidade de São Paulo (USP), em que alegava que desde o Estado Novo a instituição tinha se desvirtuado de seu propósito original, e acentuou essas críticas durante a década de 1960, em que questionava reiteradamente as gestões da instituição e a qualidade do corpo docente. Sobre essas críticas, costumava chamar de "rinocerontes" os catedráticos da instituição e protestava contra o que entendia ser o "terrorismo cultural" que teria lá se instalado, entendendo que aquela universidade estava em processo de decadência. Por conta de suas críticas, atraiu muita indisposição entre os colegas docentes e acumulou numerosos inimigos ao longo dos anos. Em 1969, teve os seus direitos políticos cassados e foi aposentado compulsoriamente do cargo que exercia na Universidade de São Paulo (USP).[8][33][34]Entre outros trabalhos que exerceu ao longo da carreira está o de secretário-geral do Instituto Francês de Altos Estudos Brasileiros, de Paris; consultor jurídica da Prefeitura Municipal de São Paulo; presidente da Sociedade Paulista de Escritores; diretor da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; e também colaborador da revista Maquis.[8]

Foi casado com Joanita Prats Duarte, com quem teve uma filha. Veio a falecer na cidade de São Paulo, no dia 23 de março de 1984, aos 84 anos.[31][8]

Obras

As suas obras são: Sob as arcadas (1927); Agora nós (1927); Crônica de um lustro acadêmico (1927); Versos de Trilussa (1928); Que é que há? (1931); Pequena história de uma grande pirataria (1931); Um conluio imoral (1934); Contra o vandalismo e o extermínio (1936); Contra os donos do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1938); Variações sobre a gastronomia (1942); Língua brasileira (1942); Prisão, exílio e luta (1946); Palmares pelo avesso (1947); Mário de Andrade por ele mesmo (1977); Amadeu Amaral (1976); Júlio de Mesquita (1977); e Memórias - 10 volumes (1974-1980).[31][32]

Além disso, no Estado de S. Paulo, na revista Anhembi e em vários outros periódicos, publicou vários artigos sob o pseudônimo de Alfeu Caniço, Caniço Filho, Gabica Dinis e Tuté Borba.

Deixou grande documentação pessoal como doação para a Universidade Estadual de Campinas, onde se encontra hoje, custodiada no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (IEL). A publicação do documento Pela Dignidade Universitária, no primeiro volume da revista Idéias do IFCH, em 1994, por Pedro Paulo Funari, foi um marco na recuperação da memória científica da USP e do Brasil, tendo sido tombado o documento pelo arquivo da FFLCH/USP.[30][31][32][8]

Livro de Memórias

O seu livro de memórias recebeu, em 1976 e 1978, o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. A obra foi publicada em uma série de dez volumes intitulados:

  1. Memórias - Raizes profundas
  2. Memórias - A inteligência da fome
  3. Memórias - Selva obscura
  4. Memórias - Os mortos de Seabrook
  5. Memórias - Apagada e vil mediocridade
  6. Memórias - Ofício de trevas
  7. Memórias - Miséria universal, miséria nacional e minha própria miséria
  8. Memórias - Vou-me embora pra Pasárgada
  9. Memórias - E vai começar uma era nova
  10. Memórias - O espírito das catedrais

Ver também

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Referências

  1. a b c d e f g h i «PAULO ALFEU JUNQUEIRA DE MONTEIRO DUARTE». Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 13 de maio de 2021 
  2. «São Paulo». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 12 de maio de 2021 
  3. a b c d e «BIOGRAFIA DO PATRONO PAULO DUARTE | Secretaria Municipal de Cultura | Prefeitura da Cidade de São Paulo». Prefeitura de São Paulo. Consultado em 13 de maio de 2021 
  4. Sugimoto, Luiz (2003). «O Dom Quixote brasileiro». Universidade Estadual de Campinas. Consultado em 13 de maio de 2021 
  5. «190 anos da Faculdade de Direito da USP e o Departamento de Direito Civil». Consultor Jurídico. Consultado em 13 de maio de 2021 
  6. Sandes, Noé (2009). «Lembrança, arquivo e ressentimento: as memórias de Paulo Duarte» (PDF). Associação Nacional de História. Consultado em 12 de maio de 2021 
  7. a b Fonseca, Sherloma. «DOS ESCRITOS DE PAULO DUARTE: MEMÓRIAS E PALMARES PELO AVESSO» (PDF). Universidade Federal de Goiás. Consultado em 12 de maio de 2021 
  8. a b c d e f g h Duarte, Paulo J. (1974-1979). Memórias: Volume I a X. São Paulo: Hucitec 
  9. Gomes, Pablo (2008). «São Carlos e o movimento constitucionalista de 1932: poder local e cooptação ideológica» (PDF). Universidade Federal de São Carlos. Consultado em 12 de maio de 2021 
  10. «DIÁLOGOS SINCRÔNICOS: MÁRIO DE ANDRADE». Casa das Rosas. Consultado em 12 de maio de 2021 
  11. Alcântara, Aureli (2007). «Paulo Duarte entre sítios e trincheiras em defesa da sua dama-a Pré-história» (PDF). Universidade de São Paulo. Consultado em 12 de maio de 2021 
  12. a b c Sousa, Carolina (2018). «Paulo Duarte e a memória de oposição a Getúlio Vargas (1933-1945)» (PDF). Associação Nacional de História. Consultado em 12 de maio de 2021 
  13. Fonseca, Sherloma (2009). «Memórias de um constitucionalista: Paulo Duarte e a Guerra Civil de 1932» (PDF). Universidade Federal de Goiás. Consultado em 12 de maio de 2021 
  14. a b Sousa, Carolina Soares; Sousa, Carolina Soares (2020). «The 1930s in Paulo Duarte's memoirs and archive: a political culture of opposition to Getúlio Vargas». Estudos Históricos (Rio de Janeiro) (71): 644–666. ISSN 0103-2186. doi:10.1590/s2178-149420200003000011. Consultado em 13 de maio de 2021 
  15. «DIARIO NACIONAL». Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 13 de maio de 2021 
  16. «Diário Nacional». Biblioteca Nacional do Brasil. Consultado em 12 de maio de 2021 
  17. Bianca, Kariny (24 de agosto de 2020). «Aliança Liberal, o que é? Origem, revolução e fim da política café com leite». Conhecimento Científico. R7. Consultado em 13 de maio de 2021 
  18. «LIGA DE DEFESA PAULISTA». Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 13 de maio de 2021 
  19. a b «Paulo Duarte – deputado estadual e voluntário de 1932» (PDF). Assembleia Legislativa de São Paulo. 2019. Consultado em 12 de maio de 2021 
  20. Neto, Lira (2012). Getúlio: Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo (1930-1945). [S.l.]: Companhia das Letras 
  21. Abreu, Marcelo Santos de (2011). «Luto e culto cívico dos mortos: as tensões da memória pública da Revolução Constitucionalista de 1932 (São Paulo, 1932-1937)». Revista Brasileira de História (61): 105–123. ISSN 0102-0188. doi:10.1590/S0102-01882011000100006. Consultado em 13 de maio de 2021 
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  23. Duarte, Paulo J. (1947). Palmares pelo Avesso. São Paulo: Ipe. 420 páginas 
  24. a b Macêdo, Francisco Adriano Leal; Brito, Fábio Leonardo Castelo Branco (26 de dezembro de 2020). «A ideologia da cultura brasileira nas universidades:». albuquerque: revista de história (24): 198–212. ISSN 2526-7280. doi:10.46401/ajh.2020.v12.11953. Consultado em 13 de maio de 2021 
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  26. Barreto, Cristiana (1999). «A CONSTRUÇÃO DE UM PASSADO PRÉ-COLONIAL: UMA BREVE HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA NO BRASIL». Revista USP (44): 32–51. ISSN 2316-9036. doi:10.11606/issn.2316-9036.v0i44p32-51. Consultado em 13 de maio de 2021 
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  30. a b «BIOGRAFIA DO PATRONO PAULO DUARTE». prefeitura.sp.gov.br/. 5 de setembro de 2007. Consultado em 24 de dezembro de 2017 
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  34. «Paulo Duarte e a defesa da Universidade». periodicos.ufpb.br. UFPB. Consultado em 7 de janeiro de 2018 

Ligações externas

Precedido por
Raimundo Menezes

Prêmio Jabuti - Biografia e/ou Memórias

1976
Sucedido por
Afonso Arinos de Mello Franco
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Afonso Arinos de Mello Franco

Prêmio Jabuti - Biografia e/ou Memórias

1978
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