Doença não transmissível: diferenças entre revisões

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As '''doenças não transmissíveis (DNT)''' ou como também são denominadas, as '''doenças e agravos não transmissíveis (DANT)''', envolvem um grupo bastante amplo, incluindo as [[Doença degenerativa|doenças crônico-degenerativas]] ([[câncer]], [[Diabetes mellitus|diabetes]], [[Doença renal crônica|doenças renais]] e reumáticas, dentre outras), as [[Doença cardiovascular|doenças cardiovasculares]] (doença isquêmica do coração, doenças cerebrovasculares e [[Hipertensão arterial|hipertensão]]), os agravos provocados por motivos externos (acidentes, violências, por exemplo) e transtornos mentais. No geral, o estilo de vida, exposição a contaminantes, fatore
Uma '''doença não transmissível''' ou '''DNT'''; doenças não infecciosas; doenças crônicas não transmissíveis; doenças crônico degenerativas são terminologias usadas para definir grupos de pessoas patologias caracterizadas pela ausência de microrganismos, ou seja é uma [[doença]] não [[doença infecciosa|infecciosa]], como também pelo longo curso clínico e irreversibilidade.


s genéticos e hábitos alimentares inadequados são os principais contribuintes para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis <ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/61881250|título=Prevenção e controle das doenças não transmissíveis no Brasil|ultimo=Saúde.|primeiro=Brazil. Ministério da|data=2002|editora=Ministério da Saúde|oclc=61881250}}</ref>.
Czeresnia,<ref>Czeresnia, Dina. Do contágio à transmissão, ciência e cultura na gênese do conhecimento epidemiológico. RJ, Fiocruz, 1997</ref> utilizando o conceito de Fabre<ref>Fabre G. La notion de contagio au regard du sida, ou comment intèrferent logiques sociales et catégories médicales. Sciences Sociales et Santé, XI (1):5-32, mars, 1993.</ref> sobre a transmissão de doenças que orienta a formulação de um discurso preventivo assim como a constituição de normas e leis que buscam definir direitos, deveres e argumentos em oposição a atitudes hostis e irracionais contra os doentes e grupos sociais mais atingidos, a exemplo da hanseníase ([[lepra]]) no passado e [[SIDA]] e [[tuberculose]] em nossos dias. Considera que este, ao definir as formas específicas em que um agente etiológico da doença passa de um indivíduo para outro, construiu uma racionalidade capaz de romper com o medo difuso associado à velha noção de contágio incorporando progressivamente as conquistas da epidemiologia, sobre a susceptibilidade dos hospedeiros e constituição epidêmica.


Czeresnia <ref>{{Citar livro|url=http://dx.doi.org/10.7476/9788575412565|título=Do contágio à transmissão: ciência e cultura nas gênese do conhecimento epidemiológico|ultimo=Czeresnia|primeiro=Dina|data=1997|editora=Editora FIOCRUZ}}</ref>, ao usar o conceito de Fabre <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.3406/sosan.1993.1249 |titulo=La notion de contagion au regard du sida, ou comment interfèrent logiques sociales et catégories médicales |data=1993 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Sciences sociales et santé |número=1 |ultimo=Fabre |primeiro=Gérard |paginas=5–32 |doi=10.3406/sosan.1993.1249 |issn=0294-0337}}</ref>, diz respeito ao fato de que, atualmente, é necessário romper o medo associado à velha concepção de contágio, como aconteceu com algumas doenças, como a [[Lepra|hanseníase]], a [[Síndrome da imunodeficiência adquirida|SIDA]] e a [[tuberculose]]. É preciso ampliar a busca por normas e leis que busquem definir direitos, deveres e argumentos para os indivíduos acometidos pelas doenças e agravos não transmissíveis, pois se trata de uma problemática multifatorial, ou seja, que envolve diversas causas, como física, social, econômica e ambiental.
Em recente encontro realizado no México<ref>OPAS / OMS. Taller: Economía de la prevención de enfermedades no transmisibles y sus factores de riesgo. México, 14 - 15 de noviembre del 2011.</ref> experts da [[OMS]] e [[OPAS]] consideraram que para desenvolver uma estratégia abrangente de abordagem das Doenças Não Transmissíveis é necessário o desenvolvimento de evidências sobre o impacto sócio-econômico destas sobre os sistemas de saúde avaliando concomitantemente a eficácia das diferentes formas de intervenção com o objetivo de definir prioridades locais e justificar as políticas públicas para essas patologias que somente na região das Américas atinge aproximadamente 250.000.000 (milhões) de pessoas.<ref>Hospedales, C. James. NCDs in Latin America & the Caribbean in: Regional Workshop on Economic Dimensions of NCDs. PAHO/WHO [http://new.paho.org/bra/apsredes/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=206&Itemid= download apresentação da OPS]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }} Dez. 2011</ref>


Em um encontro realizado no México em 2011 <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.4067/s0034-98872010000900003 |titulo=Cambios en el consumo aparente de nutrientes en el Gran Santiago 1988-1997 en hogares según ingreso y su probable relación con patrón de enfermedades crónicas no transmisibles |data=2010-09 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Revista médica de Chile |número=9 |ultimo=CROVETTO |primeiro=MIRTA |ultimo2=UAUY |primeiro2=RICARDO |doi=10.4067/s0034-98872010000900003 |issn=0034-9887}}</ref>, membros da [[Organização Mundial da Saúde|OMS]] e [[Organização Pan-Americana da Saúde|OPAS]] consideraram que para desenvolver uma estratégia abrangente de abordagem das doenças e agravos não transmissíveis é necessário o desenvolvimento de evidências sobre o real impacto socioeconômico destas sobre os sistemas de saúde. É importante, o [[Estado]], portanto, avaliar a eficácia das diferentes formas de intervenção com o objetivo de definir prioridades locais e criar políticas públicas para diminuir o número de pessoas acometidas por essas doenças, que somente nas Américas atingem mais de 250 milhões de habitantes <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1596/978-1-4648-0016-0_ch3 |titulo=Economic Impact of NCDs in Latin America and the Caribbean |data=2013-12-24 |acessodata=2022-07-22 |publicado=The World Bank |ultimo=Murrugarra |primeiro=Edmundo |ultimo2=Bonilla-Chacín |primeiro2=María Eugenia |paginas=69–87}}</ref>.  
== Classificação ==
[[Imagem:Physician in hospital sickroom printed 1682.jpg|right|thumb|150px|Hospital em [[Nuremberga]], 1682.]]
As doenças e agravos não transmissíveis - DANTs; doenças não infecciosas ou não transmissíveis, como também são chamadas em função das demandas de atendimento aos agravos causados pela [[violência]] nos serviços de saúde, recebem vários nomes, como foi dito, sendo que nenhum adequa-se totalmente a explicação todas as suas particularidades de expressão e causa..


'''<big>Transmissível – Não Transmissível</big>'''
A noção de processos crônico-degenerativos, geralmente são associadas aos problemas decorrentes do [[envelhecimento]] dos indivíduos e populações e o grupo relacionado às causas externas. possuem uma característica comum de causalidade multi-fatorial sendo que as [[Violência]]s dos acidentes e agressões estão mais diretamente associados às más condições de vida, urbanização desorganizada e problemas sócio-econômicos que expõem grandes segmentos da população condições de carência e demanda de consumo não satisfeito ou fatores geradores da [[Criminologia|criminalidade]].
----A humanidade em distintos períodos históricos já presenciou grandes crises de mortalidade causadas por devastadoras [[Epidemia|epidemias]] e, aos poucos, desenvolveu estratégias para seu controle. Atribui-se ao [[Tucídides]], 430 a.C. o relato da epidemia da peste em [[Atenas]], seguida das idéias [[Hipócrates|hipocráticas]] das constituições epidêmicas de Água, Ares e Lugares e das teorias do contágio a partir dos esporos ou partículas da doença de [[Girolamo Fracastoro]] (1478 - 1553) e [[Thomas Sydenham]] (1624 –1689). Thomas Sydenham, em On Epidemics, 1680, retomando as teorias hipocráticas, relacionou as epidemias à interação entre as qualidades físicas da atmosfera (sazonais) de dados intervalos de tempo a desordens peculiares dos corpos.


No entanto, o quadro na atualidade das epidemias mostram-se diferentes, em função, sobretudo, da transição epidemiológica.  Esse conceito diz respeito à redução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e, d
Exemplos de doenças não transmissíveis incluem [[hipertensão]], [[diabetes]], [[doenças cardiovasculares]] - ([[arteriosclerose]]), [[cancro|neoplasias]], (tomados como prioridade no [https://web.archive.org/web/20120611175025/http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31877&janela=1 Brasil]) doenças respiratórias crônicas ([[asma]]), doenças renais ([[Insuficiência renal crônica]]), doenças músculo-esqueléticas ([[reumatismo]], [[artropatia]]s), problemas de [[saúde mental]], doenças dos [[Sistema sensorial|órgãos sensoriais]] e [[Patologia bucal|doenças dentárias e periodontais]] (estas últimas consideradas relevantes na [https://web.archive.org/web/20090709040650/http://www.euro.who.int/Document/RC56/edoc08.pdf Europa])


e outro lado, o aumento das causas crônicas degenerativas e agravos relacionados aos acidentes e violências (causas externas) <ref>{{Citar periódico |url=http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1679-49742003000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Mudanças nos padrões de morbimortalidade da população brasileira: os desafios para um novo século |data=2003-06 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Epidemiologia e Serviços de Saúde |número=2 |ultimo=Carmo |primeiro=Eduardo Hage |ultimo2=Barreto |primeiro2=Maurício Lima |paginas=63–75 |doi=10.5123/S1679-49742003000200002 |issn=1679-4974 |ultimo3=Silva Jr. |primeiro3=Jarbas Barbosa da}}</ref>. Tem-se retomado a ideia de constituição epidêmica, tal como foi descrita, de forma muito próxima à forma [[Ecologia médica|ecológica]], agregando o conjunto de circunstâncias (geográficas, históricas, [[Antropologia da saúde|antropológicas]], [[Sociologia médica|sociológicas]]) que condicionam ao surgimento das epidemias na [[Idade Contemporânea|contemporaneidade]] <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/s0104-59702001000300003 |titulo=Constituição epidêmica: velho e novo nas teorias e práticas da epidemiologia |data=2001-08 |acessodata=2022-07-22 |jornal=História, Ciências, Saúde-Manguinhos |número=2 |ultimo=Czeresnia |primeiro=Dina |paginas=341–356 |doi=10.1590/s0104-59702001000300003 |issn=0104-5970}}</ref>.<gallery>
Observe-se que, como assinala Mendes, 2010<ref>Mendes, Eugênio Vilaça. Guia do Participante da oficina sobre aspectos teórico conceituais relativos ao manejo das condições crônicas, no marco das redes integradas de atenção à saúde. (Produto 2 do Contrato de Serviços Br/Cnt/1000713.001) - Organização Pan-Americana da Saúde, agosto de 2010 [http://new.paho.org/bra/apsredes/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=8&Itemid= PDF]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }} Abril, 2011</ref> as '''condições crônicas''' vão muito além das '''doenças''' crônicas (diabetes, doença cardiovascular, câncer, doença respiratória crônica etc), envolvem as condições ligadas à maternidade e ao período perinatal (acompanhamento das gestantes e atenção perinatal, às puérperas e aos recém-natos); condições ligadas à manutenção da saúde por ciclos de vida ([[puericultura]], hebicultura e monitoramento da capacidade funcional das pessoas idosas); os [[Transtorno mental|distúrbios mentais]] de longo prazo como assinalados acima, onde pode-se fazer um destaque para o retardamento mental e [[Deficiência mental|deficiência intelectual]] associado ou não às deficiências físicas e estruturais contínuas (amputações, cegueiras, deficiências motoras persistentes etc); doenças metabólicas; as já citadas, doenças bucais e paradoxalmente, também envolvem, as doenças infecciosas persistentes (hanseníase, tuberculose, HIV/AIDS, hepatites virais etc),
Ficheiro:Physician in hospital sickroom printed 1682.jpg|alt=|Hospital em [[Nuremberga]], 1682.
</gallery>


Tais doenças e condições crônicas podem ser causadas por fatores [[Genética|genéticos]] ou do [[estilo de vida]]. Uma doença não transmissível não é uma doença que é causada por algo [[patógeno]] em si, apesar de algumas destas, especialmente neoplasias, já estarem sendo associadas a [[microorganismos]] específicos. Resultam da interação de fatores hereditários, nutricionais relacionadas à alimentação inadequada ou contaminada por poluentes, ocupações de risco, [[alcoolismo]], [[tabaco|tabagismo]] ou outros hábitos. Esses fatores são resultantes do estilo de vida que às vezes são chamados de [[Classe social|doenças de riqueza]] e modernidade.


'''<big>Classificação</big>'''
== Transmissível – não transmissível ==
----As doenças e agravos não transmissíveis possuem múltiplas causas. Os processos crônico-degenerativos, geralmente associados aos problemas decorrentes do envelhecimento dos indivíduos, estão, em sua maioria, ligados a múltiplos fatores, principalmente os relacionados às interações entre meio ambiente, bem como a qualidade de vida e os fatores genéticos. Já os agravos provocados por razões externas, como as violências e acidentes, estão mais ligados às precárias condições na vida urbana, assim como problemas socioeconômicos.
A humanidade em distintos períodos históricos já padeceu de grandes crises de mortalidade causadas por devastadoras [[epidemias]] e paulatinamente desenvolveu estratégias para seu controle. Atribui-se [[Tucídides]], 430 a.C. relato da epidemia da peste em [[Atenas]], seguida das proposições [[Hipócrates|hipocráticas]] das constituições epidêmicas de Água, Ares e Lugares e das teorias do contágio a partir dos esporos ou partículas da doença de [[Girolamo Fracastoro]] (1478 - 1553) e [[Thomas Sydenham]] (1624 –1689). Esse último em ''On Epidemics'', 1680 (Sobre Epidemias), retomando as teorias hipocráticas relacionou as epidemias a interação entre as qualidades físicas da atmosfera (sazonais) de dados intervalo de tempo à desordens peculiares dos corpos.


Exemplos de doenças e agravos não transmissíveis incluem [[Hipertensão arterial|hipertensão]], [[Diabetes mellitus tipo 2|diabetes]], doenças cardiovasculares ([[arteriosclerose]]), [[Neoplasia|neoplasias]], doenças respiratórias crônicas ([[asma]]), [[Doença renal crônica|doenças renais]] (insuficiência renal crônica), doenças musculoesqueléticas ([[reumatismo]], [[Artropatia|artropatias]]), [[Transtorno mental|problemas de saúde mental]], doenças dos órgãos sensoriais e doenças dentárias e [[Doença periodontal|periodontais]].  
Em função da transição epidemiológica ou seja a redução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias o aumento das causas crônico degenerativas e agravos relacionados aos acidentes e violências (causas externas)<ref>Carmo, Eduardo H.; Barreto, Maurício L.; Silva Jr., Jarbas B. Mudanças nos padrões de morbimortalidade da população brasileira: os desafios para um novo século. Epidemiol. Serv. Saúde v.12 n.2 Brasília jun. 2003 [http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v12n2/v12n2a02.pdf disponível em pdf] {{Wayback|url=http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v12n2/v12n2a02.pdf |date=20070711195722 }}</ref> tem-se retomado a idéia de constituição epidêmica, tal como foi descrita, de forma muito próxima à forma [[Ecologia médica|ecológica]], agregando o conjunto de circunstâncias (geográficas, históricas, [[Antropologia da saúde|antropológicas]], [[Sociologia médica|sociológicas]]) que condicionam o surgimento das epidemias.<ref>Czeresnia, Dina Constituição epidêmica: velho e novo nas teorias e práticas da epidemiologia. História, Ciências, SaúdeManguinhos, vol. VIII(2): 341-56, jul.-ago. 2001. [http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v8n2/a03v08n2.pdf disponível em pdf]</ref>


Como assinala Mendes, 2010 <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.7476/9786557080573.0007 |titulo=Uma proposta de modelo de atenção às condições crônicas para o SUS |data=2018 |acessodata=2022-07-22 |publicado=Editora FIOCRUZ |ultimo=Mendes |primeiro=Eugênio Vilaça |paginas=133–158}}</ref>, às condições crônicas envolvem uma série de circunstâncias multifatoriais, como as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) ligadas à alimentação e estilo de vida ([[Diabetes mellitus|diabetes]], [[Doença cardiovascular|doenças cardiovasculares]] e [[Doença metabólica|metabólicas]]) e a fatores ambientais e genéticos ([[câncer]], doença respiratória crônica); envolvem as condições ligadas à maternidade e ao [[período perinatal]] (acompanhamento das gestantes e a atenção perinatal, às [[Puerpério|puérperas]] e aos recém-natos); condições ligadas à manutenção da saúde por ciclos de vida ([[puericultura]] e monitoramento da capacidade funcional das pessoas idosas); os [[Transtorno mental|distúrbios mentais]] de longo prazo como assinalados acima, dando enfoque na [[Deficiência mental|deficiência intelectual]], associados ou não às deficiências físicas e estruturais contínuas ([[Amputação|amputações]], [[Perda de visão|cegueiras]], deficiências motoras persistentes); as doenças bucais e envolvem, também, as doenças infecciosas persistentes ([[Lepra|hanseníase]], [[tuberculose]], [[Síndrome da imunodeficiência adquirida|HIV/AIDS]], hepatites virais, por exemplo).
{{Referências}}


== Ver também ==
* [[Doença crônica]]
* [[Saúde pública]]
* [[Estilo de vida]]
* [[Fator de risco cardiovascular|Fator de risco]]
* [[Promoção da saúde]]


'''<big>Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)</big>'''
== Ligações externas ==
----A [[Organização Mundial da Saúde|OMS]] inclui no grupo das doenças crônicas não transmissíveis: o [[diabetes mellitus]], doenças respiratórias crônicas, [[Neoplasia|neoplasias]], [[Doença cerebrovascular|doenças cerebrovasculares]] e [[Doença cardiovascular|cardiovasculares]]. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são caracterizadas por uma [[etiologia]] múltipla e complexa, de origem não infecciosa, longo período de duração, ligada a fatores de risco não modificáveis (genética, sexo, idade) e fatores de risco comportamentais ou modificáveis ([[sedentarismo]], consumo excessivo de álcool, [[tabagismo]], alimentação inadequada).
* {{Link|en|2=http://www.euro.who.int/Document/RC56/edoc08.pdf |3=Gaining health: The European Strategy for the Prevention and Control of Noncommunicable Diseases |4=, documento da [[Organização Mundial de Saúde]]}}
* {{Link||2=http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31877&janela=1 |3=A vigilância, o controle e a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis MS}}
* {{Link||2=http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/guia_rede_carmen.pdf |3=Guia Metodológico de Avaliação e Definição de Indicadores Doenças Crônicas Não Transmissíveis e Rede Carmen}}
* {{Link||2=http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume8livro.pdf |3=Diretrizes e Recomendações para o Cuidado Integral de Doenças Crônicas Não Transmissíveis Promoção da Saúde, Vigilância, Prevenção e Assistência}}


Os riscos de desenvolvimento das doenças crônicas são influenciados por fatores sociais, ambientais, culturais e condições de vida, como a [[pobreza]], a falta de acesso a uma [[Dieta saudável|alimentação saudável]] e a cuidados básicos de saúde, indisponibilidade de espaço público para prática de [[Exercício físico|exercícios físicos,]] condições de trabalho e riscos atrelados. Desse modo, é preciso uma estratégia ampla para a prevenção e tratamento por parte dos serviços de saúde <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00104 |titulo=Saúde coletiva: teoria e prática. Jairnilson Silva Paim e Naomar de Almeida-Filho (orgs.). 1.ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. 720p |data=2016-03 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Trabalho, Educação e Saúde |número=1 |ultimo=Fraga |primeiro=Lívia |ultimo2=Carneiro |primeiro2=Carla Cabral Gomes |paginas=313–315 |doi=10.1590/1981-7746-sip00104 |issn=1981-7746}}</ref>.
{{Portal3|Saúde}}


'''Fatores de risco associados à alimentação:'''

Houve uma mudança nos padrões alimentares da população brasileira ao longo das últimas décadas, com a diminuição do consumo de alimentos ''in natura'' e minimamente processados ([[Lista de frutas|frutas]], [[Hortaliça|verduras]] e [[Legume|legumes]]) e o aumento do consumo de [[alimentos ultraprocessados]] <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232021264.42322020 |titulo=Monitoramento e projeções das metas de fatores de risco e proteção para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis nas capitais brasileiras |data=2021-04 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Ciência &amp; Saúde Coletiva |número=4 |ultimo=Silva |primeiro=Alanna Gomes da |ultimo2=Teixeira |primeiro2=Renato Azeredo |paginas=1193–1206 |doi=10.1590/1413-81232021264.42322020 |issn=1678-4561 |ultimo3=Prates |primeiro3=Elton Junio Sady |ultimo4=Malta |primeiro4=Deborah Carvalho}}</ref>. Alimentos ultraprocessados são ricos em [[Açúcar|açúcar livre]] e gorduras não saudáveis e têm menor quantidade de [[Fibra dietética|fibras]] e [[Micronutriente|micronutrientes]] do que alimentos in natura e minimamente processados, podendo levar ao desenvolvimento de [[enfermidades]], como a diabetes tipo 2. O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados está, também, diretamente ligado à piora da qualidade da alimentação, bem como estão associados ao desenvolvimento de [[sobrepeso]] e [[obesidade]], agravantes para o desenvolvimento das DCNTs <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.17143/rbaad.v20i1.460 |titulo=PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES EDUCACIONAIS A DISTÂNCIA PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE: REVISÃO DA LITERATURA |data=2021-03-30 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância |número=1 |ultimo=Dutra |primeiro=Evelyn de Britto |ultimo2=Lemos |primeiro2=Ana Silvia Pavani |doi=10.17143/rbaad.v20i1.460 |issn=2359-0343 |ultimo3=Gasque |primeiro3=Kellen Cristina da Silva |ultimo4=Rezende |primeiro4=Maria de Jesus}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00323020 |titulo=Impacto do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde de crianças, adolescentes e adultos: revisão de escopo |data=2021 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Cadernos de Saúde Pública |número=suppl 1 |ultimo=Louzada |primeiro=Maria Laura da Costa |ultimo2=Costa |primeiro2=Caroline dos Santos |doi=10.1590/0102-311x00323020 |issn=1678-4464 |ultimo3=Souza |primeiro3=Thays Nascimento |ultimo4=Cruz |primeiro4=Gabriela Lopes da |ultimo5=Levy |primeiro5=Renata Bertazzi |ultimo6=Monteiro |primeiro6=Carlos Augusto}}</ref>.

O consumo de alimentos com alto valor de [[Gordura saturada|gorduras saturadas]] e [[Gordura trans|gorduras trans]] estão ligados ao desenvolvimento das [[Doença cardiovascular|doenças cardíacas]] <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00104 |titulo=Saúde coletiva: teoria e prática. Jairnilson Silva Paim e Naomar de Almeida-Filho (orgs.). 1.ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. 720p |data=2016-03 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Trabalho, Educação e Saúde |número=1 |ultimo=Fraga |primeiro=Lívia |ultimo2=Carneiro |primeiro2=Carla Cabral Gomes |paginas=313–315 |doi=10.1590/1981-7746-sip00104 |issn=1981-7746}}</ref>. A ingestão elevada de [[Sal de cozinha|sal]] no Brasil, proveniente, principalmente, do uso direto de sal e temperos a base de sal em alimentos e do consumo de produtos ultraprocessados, também é uma das causas do desenvolvimento de problemas cardiovasculares, como [[Hipertensão arterial|hipertensão]], [[Acidente vascular cerebral|acidente cerebrovascular]] e [[doença arterial coronariana]] em adultos. O consumo de sal indicado pela [[Organização Mundial da Saúde|OMS]] é de 5g/dia, quase metade do que consumo médio do brasileiro que é de 9,3g/dia <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00145520 |titulo=Estratégias para redução do consumo de nutrientes críticos para a saúde: o caso do sódio |data=2021 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Cadernos de Saúde Pública |número=suppl 1 |ultimo=Nilson |primeiro=Eduardo Augusto Fernandes |ultimo2=Spaniol |primeiro2=Ana Maria |doi=10.1590/0102-311x00145520 |issn=1678-4464 |ultimo3=Santin |primeiro3=Rafaella da Costa |ultimo4=Silva |primeiro4=Sara Araújo}}</ref>.


'''Estratégias de enfrentamento'''

O consumo diário de [[Lista de frutas|frutas]], [[Legume|legumes]] e [[Hortaliça|verduras]] como fontes de [[Fibra dietética|fibras]] se mostrou como um importante aliado para ajudar na regulação do [[colesterol]], diminuir a chance do desenvolvimento de alguns tipos de [[câncer]] do [[aparelho digestivo]] e doenças circulatórias e o aumento da variedade de alimentos in natura ou minimamente processados na alimentação podem diminuir as chances de desenvolver as DCNTs, principalmente as ligadas à má alimentação, como [[Diabetes mellitus|diabetes]] e [[Hipertensão arterial|hipertensão]] <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00104 |titulo=Saúde coletiva: teoria e prática. Jairnilson Silva Paim e Naomar de Almeida-Filho (orgs.). 1.ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. 720p |data=2016-03 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Trabalho, Educação e Saúde |número=1 |ultimo=Fraga |primeiro=Lívia |ultimo2=Carneiro |primeiro2=Carla Cabral Gomes |paginas=313–315 |doi=10.1590/1981-7746-sip00104 |issn=1981-7746}}</ref>.

Além disso,  recentemente foi aprovado uma resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 429 e Instrução Normativa nº 75, publicadas em outubro de 2020 <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.22239/2317-269x.01836 |titulo=Editorial |data=2020-11-30 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência &amp; Tecnologia |número=4 |ultimo=Iuri Alves de Sousa |primeiro=Artur |ultimo2=Dias Vieira da Costa |primeiro2=Ana Flávia |paginas=1–2 |doi=10.22239/2317-269x.01836 |ultimo3=Passos Guimarães Rabelo |primeiro3=Claudia |ultimo4=Fontenele Martins |primeiro4=Mary Anne}}</ref>, da [[Agência Nacional de Vigilância Sanitária]], ANVISA, que estabelece um novo modelo de embalagem a ser implementado, ainda em 2022, cuja visualização dos teores de [[Açúcar|açúcares]], [[Gordura saturada|gorduras saturadas]] e [[sódio]] devem ser colocados em evidência na embalagem. Tal formato é importante pois facilitará ao consumidor o entendimento de que aquele produto pode ter grandes quantidades de determinado [[Aditivo alimentar|aditivo]], como [[açúcar]].  Outras ações como impostos e regulação no ambiente escolar e em outros ambientes, com o objetivo de reduzir a oferta e demanda destes produtos [[Alimentos ultraprocessados|ultraprocessados]] são importantes para promover a prática [[Dieta saudável|alimentar saudável]] baseada na utilização de alimentos in natura e minimamente processados e diminuindo o consumo de [[Alimentos ultraprocessados|ultraprocessados]]. Essa medida se mostra como uma importante ferramenta para o controle das DCNTs <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.4067/s0034-98872010000900003 |titulo=Cambios en el consumo aparente de nutrientes en el Gran Santiago 1988-1997 en hogares según ingreso y su probable relación con patrón de enfermedades crónicas no transmisibles |data=2010-09 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Revista médica de Chile |número=9 |ultimo=CROVETTO |primeiro=MIRTA |ultimo2=UAUY |primeiro2=RICARDO |doi=10.4067/s0034-98872010000900003 |issn=0034-9887}}</ref>.   <gallery>
Ficheiro:Rótulo.jpg|alt=|Modelo antigo de rotulagem usado no [[Brasil]].
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Ficheiro:Exceso Azúcares - Sistema de Etiquetado Frontal de Alimentos y Bebidas de México.svg|alt=açúcar|Novo modelo de rótulo para melhor visualização dos [[Aditivo alimentar|aditivos]], como os [[Carboidrato|açúcares]], nas embalagens, previsto para ser implementado no Brasil em 2022.
Ficheiro:Exceso Sodio - Sistema de Etiquetado Frontal de Alimentos y Bebidas de México 01.svg|alt=|Novo modelo de rótulo para melhor visualização dos [[Aditivo alimentar|aditivos]], como o [[sódio]], nas embalagens, previsto para ser implementado no Brasil em 2022.
Ficheiro:Exceso Grasas Saturadas - Sistema de Etiquetado Frontal de Alimentos y Bebidas de México 03.svg|alt=|Novo modelo de rótulo para melhor visualização dos [[Aditivo alimentar|aditivos]], como as [[Gordura saturada|gorduras saturadas]], nas embalagens, previsto para ser implementado no Brasil em 2022.
</gallery>O [[Ministério da Saúde (Brasil)|Ministério da Saúde]] lançou em 2011 o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das DCNT, 2011-2022 para promover a ação de políticas públicas para conseguir enfrentar esse problema de saúde pública no [[Brasil|país]], baseado em práticas sustentáveis e em evidências para o controle das DCNT. Em escala global, a [[Organização Mundial da Saúde|OMS]] aprovou, em 2013, o Plano de Ação para a Prevenção e Controle das DCNT, que envolvem opções de políticas a serem implementadas coletivamente para alcançar progressos, como a redução das DCNTs, até 2025, sendo uma das mais importantes agendas multilaterais para enfrentar essa enfermidade. Sendo assim, múltiplos agentes são necessários para conter a disseminação desenfreada das doenças crônicas não transmissíveis no mundo e em [[Brasil|território brasileiro]] <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232021264.42322020 |titulo=Monitoramento e projeções das metas de fatores de risco e proteção para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis nas capitais brasileiras |data=2021-04 |acessodata=2022-07-22 |jornal=Ciência &amp; Saúde Coletiva |número=4 |ultimo=Silva |primeiro=Alanna Gomes da |ultimo2=Teixeira |primeiro2=Renato Azeredo |paginas=1193–1206 |doi=10.1590/1413-81232021264.42322020 |issn=1678-4561 |ultimo3=Prates |primeiro3=Elton Junio Sady |ultimo4=Malta |primeiro4=Deborah Carvalho}}</ref>.{{Portal3|Saúde}}


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Revisão das 15h24min de 22 de julho de 2022

As doenças não transmissíveis (DNT) ou como também são denominadas, as doenças e agravos não transmissíveis (DANT), envolvem um grupo bastante amplo, incluindo as doenças crônico-degenerativas (câncer, diabetes, doenças renais e reumáticas, dentre outras), as doenças cardiovasculares (doença isquêmica do coração, doenças cerebrovasculares e hipertensão), os agravos provocados por motivos externos (acidentes, violências, por exemplo) e transtornos mentais. No geral, o estilo de vida, exposição a contaminantes, fatore

s genéticos e hábitos alimentares inadequados são os principais contribuintes para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis [1].

Czeresnia [2], ao usar o conceito de Fabre [3], diz respeito ao fato de que, atualmente, é necessário romper o medo associado à velha concepção de contágio, como aconteceu com algumas doenças, como a hanseníase, a SIDA e a tuberculose. É preciso ampliar a busca por normas e leis que busquem definir direitos, deveres e argumentos para os indivíduos acometidos pelas doenças e agravos não transmissíveis, pois se trata de uma problemática multifatorial, ou seja, que envolve diversas causas, como física, social, econômica e ambiental.

Em um encontro realizado no México em 2011 [4], membros da OMS e OPAS consideraram que para desenvolver uma estratégia abrangente de abordagem das doenças e agravos não transmissíveis é necessário o desenvolvimento de evidências sobre o real impacto socioeconômico destas sobre os sistemas de saúde. É importante, o Estado, portanto, avaliar a eficácia das diferentes formas de intervenção com o objetivo de definir prioridades locais e criar políticas públicas para diminuir o número de pessoas acometidas por essas doenças, que somente nas Américas atingem mais de 250 milhões de habitantes [5].  

Transmissível – Não Transmissível


A humanidade em distintos períodos históricos já presenciou grandes crises de mortalidade causadas por devastadoras epidemias e, aos poucos, desenvolveu estratégias para seu controle. Atribui-se ao Tucídides, 430 a.C. o relato da epidemia da peste em Atenas, seguida das idéias hipocráticas das constituições epidêmicas de Água, Ares e Lugares e das teorias do contágio a partir dos esporos ou partículas da doença de Girolamo Fracastoro (1478 - 1553) e Thomas Sydenham (1624 –1689). Thomas Sydenham, em On Epidemics, 1680, retomando as teorias hipocráticas, relacionou as epidemias à interação entre as qualidades físicas da atmosfera (sazonais) de dados intervalos de tempo a desordens peculiares dos corpos.

No entanto, o quadro na atualidade das epidemias mostram-se diferentes, em função, sobretudo, da transição epidemiológica.  Esse conceito diz respeito à redução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e, d

e outro lado, o aumento das causas crônicas degenerativas e agravos relacionados aos acidentes e violências (causas externas) [6]. Tem-se retomado a ideia de constituição epidêmica, tal como foi descrita, de forma muito próxima à forma ecológica, agregando o conjunto de circunstâncias (geográficas, históricas, antropológicas, sociológicas) que condicionam ao surgimento das epidemias na contemporaneidade [7].


Classificação


As doenças e agravos não transmissíveis possuem múltiplas causas. Os processos crônico-degenerativos, geralmente associados aos problemas decorrentes do envelhecimento dos indivíduos, estão, em sua maioria, ligados a múltiplos fatores, principalmente os relacionados às interações entre meio ambiente, bem como a qualidade de vida e os fatores genéticos. Já os agravos provocados por razões externas, como as violências e acidentes, estão mais ligados às precárias condições na vida urbana, assim como problemas socioeconômicos.

Exemplos de doenças e agravos não transmissíveis incluem hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares (arteriosclerose), neoplasias, doenças respiratórias crônicas (asma), doenças renais (insuficiência renal crônica), doenças musculoesqueléticas (reumatismo, artropatias), problemas de saúde mental, doenças dos órgãos sensoriais e doenças dentárias e periodontais.  

Como assinala Mendes, 2010 [8], às condições crônicas envolvem uma série de circunstâncias multifatoriais, como as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) ligadas à alimentação e estilo de vida (diabetes, doenças cardiovasculares e metabólicas) e a fatores ambientais e genéticos (câncer, doença respiratória crônica); envolvem as condições ligadas à maternidade e ao período perinatal (acompanhamento das gestantes e a atenção perinatal, às puérperas e aos recém-natos); condições ligadas à manutenção da saúde por ciclos de vida (puericultura e monitoramento da capacidade funcional das pessoas idosas); os distúrbios mentais de longo prazo como assinalados acima, dando enfoque na deficiência intelectual, associados ou não às deficiências físicas e estruturais contínuas (amputações, cegueiras, deficiências motoras persistentes); as doenças bucais e envolvem, também, as doenças infecciosas persistentes (hanseníase, tuberculose, HIV/AIDS, hepatites virais, por exemplo).


Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)


A OMS inclui no grupo das doenças crônicas não transmissíveis: o diabetes mellitus, doenças respiratórias crônicas, neoplasias, doenças cerebrovasculares e cardiovasculares. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são caracterizadas por uma etiologia múltipla e complexa, de origem não infecciosa, longo período de duração, ligada a fatores de risco não modificáveis (genética, sexo, idade) e fatores de risco comportamentais ou modificáveis (sedentarismo, consumo excessivo de álcool, tabagismo, alimentação inadequada).

Os riscos de desenvolvimento das doenças crônicas são influenciados por fatores sociais, ambientais, culturais e condições de vida, como a pobreza, a falta de acesso a uma alimentação saudável e a cuidados básicos de saúde, indisponibilidade de espaço público para prática de exercícios físicos, condições de trabalho e riscos atrelados. Desse modo, é preciso uma estratégia ampla para a prevenção e tratamento por parte dos serviços de saúde [9].


Fatores de risco associados à alimentação:

Houve uma mudança nos padrões alimentares da população brasileira ao longo das últimas décadas, com a diminuição do consumo de alimentos in natura e minimamente processados (frutas, verduras e legumes) e o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados [10]. Alimentos ultraprocessados são ricos em açúcar livre e gorduras não saudáveis e têm menor quantidade de fibras e micronutrientes do que alimentos in natura e minimamente processados, podendo levar ao desenvolvimento de enfermidades, como a diabetes tipo 2. O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados está, também, diretamente ligado à piora da qualidade da alimentação, bem como estão associados ao desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, agravantes para o desenvolvimento das DCNTs [11][12].

O consumo de alimentos com alto valor de gorduras saturadas e gorduras trans estão ligados ao desenvolvimento das doenças cardíacas [13]. A ingestão elevada de sal no Brasil, proveniente, principalmente, do uso direto de sal e temperos a base de sal em alimentos e do consumo de produtos ultraprocessados, também é uma das causas do desenvolvimento de problemas cardiovasculares, como hipertensão, acidente cerebrovascular e doença arterial coronariana em adultos. O consumo de sal indicado pela OMS é de 5g/dia, quase metade do que consumo médio do brasileiro que é de 9,3g/dia [14].


Estratégias de enfrentamento

O consumo diário de frutas, legumes e verduras como fontes de fibras se mostrou como um importante aliado para ajudar na regulação do colesterol, diminuir a chance do desenvolvimento de alguns tipos de câncer do aparelho digestivo e doenças circulatórias e o aumento da variedade de alimentos in natura ou minimamente processados na alimentação podem diminuir as chances de desenvolver as DCNTs, principalmente as ligadas à má alimentação, como diabetes e hipertensão [15].

Além disso,  recentemente foi aprovado uma resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 429 e Instrução Normativa nº 75, publicadas em outubro de 2020 [16], da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, que estabelece um novo modelo de embalagem a ser implementado, ainda em 2022, cuja visualização dos teores de açúcares, gorduras saturadas e sódio devem ser colocados em evidência na embalagem. Tal formato é importante pois facilitará ao consumidor o entendimento de que aquele produto pode ter grandes quantidades de determinado aditivo, como açúcar.  Outras ações como impostos e regulação no ambiente escolar e em outros ambientes, com o objetivo de reduzir a oferta e demanda destes produtos ultraprocessados são importantes para promover a prática alimentar saudável baseada na utilização de alimentos in natura e minimamente processados e diminuindo o consumo de ultraprocessados. Essa medida se mostra como uma importante ferramenta para o controle das DCNTs [17].  

O Ministério da Saúde lançou em 2011 o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das DCNT, 2011-2022 para promover a ação de políticas públicas para conseguir enfrentar esse problema de saúde pública no país, baseado em práticas sustentáveis e em evidências para o controle das DCNT. Em escala global, a OMS aprovou, em 2013, o Plano de Ação para a Prevenção e Controle das DCNT, que envolvem opções de políticas a serem implementadas coletivamente para alcançar progressos, como a redução das DCNTs, até 2025, sendo uma das mais importantes agendas multilaterais para enfrentar essa enfermidade. Sendo assim, múltiplos agentes são necessários para conter a disseminação desenfreada das doenças crônicas não transmissíveis no mundo e em território brasileiro [18].

  1. Saúde., Brazil. Ministério da (2002). Prevenção e controle das doenças não transmissíveis no Brasil. [S.l.]: Ministério da Saúde. OCLC 61881250 
  2. Czeresnia, Dina (1997). Do contágio à transmissão: ciência e cultura nas gênese do conhecimento epidemiológico. [S.l.]: Editora FIOCRUZ 
  3. Fabre, Gérard (1993). «La notion de contagion au regard du sida, ou comment interfèrent logiques sociales et catégories médicales». Sciences sociales et santé (1): 5–32. ISSN 0294-0337. doi:10.3406/sosan.1993.1249. Consultado em 22 de julho de 2022 
  4. CROVETTO, MIRTA; UAUY, RICARDO (setembro de 2010). «Cambios en el consumo aparente de nutrientes en el Gran Santiago 1988-1997 en hogares según ingreso y su probable relación con patrón de enfermedades crónicas no transmisibles». Revista médica de Chile (9). ISSN 0034-9887. doi:10.4067/s0034-98872010000900003. Consultado em 22 de julho de 2022 
  5. Murrugarra, Edmundo; Bonilla-Chacín, María Eugenia (24 de dezembro de 2013). «Economic Impact of NCDs in Latin America and the Caribbean». The World Bank: 69–87. Consultado em 22 de julho de 2022 
  6. Carmo, Eduardo Hage; Barreto, Maurício Lima; Silva Jr., Jarbas Barbosa da (junho de 2003). «Mudanças nos padrões de morbimortalidade da população brasileira: os desafios para um novo século». Epidemiologia e Serviços de Saúde (2): 63–75. ISSN 1679-4974. doi:10.5123/S1679-49742003000200002. Consultado em 22 de julho de 2022 
  7. Czeresnia, Dina (agosto de 2001). «Constituição epidêmica: velho e novo nas teorias e práticas da epidemiologia». História, Ciências, Saúde-Manguinhos (2): 341–356. ISSN 0104-5970. doi:10.1590/s0104-59702001000300003. Consultado em 22 de julho de 2022 
  8. Mendes, Eugênio Vilaça (2018). «Uma proposta de modelo de atenção às condições crônicas para o SUS». Editora FIOCRUZ: 133–158. Consultado em 22 de julho de 2022 
  9. Fraga, Lívia; Carneiro, Carla Cabral Gomes (março de 2016). «Saúde coletiva: teoria e prática. Jairnilson Silva Paim e Naomar de Almeida-Filho (orgs.). 1.ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. 720p». Trabalho, Educação e Saúde (1): 313–315. ISSN 1981-7746. doi:10.1590/1981-7746-sip00104. Consultado em 22 de julho de 2022 
  10. Silva, Alanna Gomes da; Teixeira, Renato Azeredo; Prates, Elton Junio Sady; Malta, Deborah Carvalho (abril de 2021). «Monitoramento e projeções das metas de fatores de risco e proteção para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis nas capitais brasileiras». Ciência & Saúde Coletiva (4): 1193–1206. ISSN 1678-4561. doi:10.1590/1413-81232021264.42322020. Consultado em 22 de julho de 2022 
  11. Dutra, Evelyn de Britto; Lemos, Ana Silvia Pavani; Gasque, Kellen Cristina da Silva; Rezende, Maria de Jesus (30 de março de 2021). «PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES EDUCACIONAIS A DISTÂNCIA PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE: REVISÃO DA LITERATURA». Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância (1). ISSN 2359-0343. doi:10.17143/rbaad.v20i1.460. Consultado em 22 de julho de 2022 
  12. Louzada, Maria Laura da Costa; Costa, Caroline dos Santos; Souza, Thays Nascimento; Cruz, Gabriela Lopes da; Levy, Renata Bertazzi; Monteiro, Carlos Augusto (2021). «Impacto do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde de crianças, adolescentes e adultos: revisão de escopo». Cadernos de Saúde Pública (suppl 1). ISSN 1678-4464. doi:10.1590/0102-311x00323020. Consultado em 22 de julho de 2022 
  13. Fraga, Lívia; Carneiro, Carla Cabral Gomes (março de 2016). «Saúde coletiva: teoria e prática. Jairnilson Silva Paim e Naomar de Almeida-Filho (orgs.). 1.ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. 720p». Trabalho, Educação e Saúde (1): 313–315. ISSN 1981-7746. doi:10.1590/1981-7746-sip00104. Consultado em 22 de julho de 2022 
  14. Nilson, Eduardo Augusto Fernandes; Spaniol, Ana Maria; Santin, Rafaella da Costa; Silva, Sara Araújo (2021). «Estratégias para redução do consumo de nutrientes críticos para a saúde: o caso do sódio». Cadernos de Saúde Pública (suppl 1). ISSN 1678-4464. doi:10.1590/0102-311x00145520. Consultado em 22 de julho de 2022 
  15. Fraga, Lívia; Carneiro, Carla Cabral Gomes (março de 2016). «Saúde coletiva: teoria e prática. Jairnilson Silva Paim e Naomar de Almeida-Filho (orgs.). 1.ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. 720p». Trabalho, Educação e Saúde (1): 313–315. ISSN 1981-7746. doi:10.1590/1981-7746-sip00104. Consultado em 22 de julho de 2022 
  16. Iuri Alves de Sousa, Artur; Dias Vieira da Costa, Ana Flávia; Passos Guimarães Rabelo, Claudia; Fontenele Martins, Mary Anne (30 de novembro de 2020). «Editorial». Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia (4): 1–2. doi:10.22239/2317-269x.01836. Consultado em 22 de julho de 2022 
  17. CROVETTO, MIRTA; UAUY, RICARDO (setembro de 2010). «Cambios en el consumo aparente de nutrientes en el Gran Santiago 1988-1997 en hogares según ingreso y su probable relación con patrón de enfermedades crónicas no transmisibles». Revista médica de Chile (9). ISSN 0034-9887. doi:10.4067/s0034-98872010000900003. Consultado em 22 de julho de 2022 
  18. Silva, Alanna Gomes da; Teixeira, Renato Azeredo; Prates, Elton Junio Sady; Malta, Deborah Carvalho (abril de 2021). «Monitoramento e projeções das metas de fatores de risco e proteção para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis nas capitais brasileiras». Ciência & Saúde Coletiva (4): 1193–1206. ISSN 1678-4561. doi:10.1590/1413-81232021264.42322020. Consultado em 22 de julho de 2022