AU Microscopii

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
AU Microscopii
Dados observacionais (J2000)
Constelação Microscopium
Asc. reta 20h 45m 09,53147s[1]
Declinação −31° 20′  27,2425″[1]
Magnitude aparente 8,73[2]
Características
Tipo espectral M1 Ve[2]
Cor (U-B) +1,45
Cor (B-V) +1,01
Astrometria
Velocidade radial –6,0[2]
Mov. próprio (AR) +279,96[1]
Paralaxe 100,91 ± 1,06
Magnitude absoluta 8,61
Detalhes
Massa 0,31[3] M
Raio 0,84[3] R
Luminosidade 0,09[3] L
Temperatura 3 500 ± 100[3] K
Rotação 9,3[2]
Idade 12 ± 2 milhões de[3] anos
Outras denominações
CD -31°17815, GCTP 4939.00, LTT 8214, GJ 803, HD 197481, HIP 102409, SAO 212402, Vys 824, LDS 720 A.

AU Microscopii (AU Mic) é uma pequena estrela localizada a 32,3 anos-luz (9,9 parsecs) de distância da Terra – cerca de oito vezes mais longe que a estrela mais próxima que não o Sol.[4] A magnitude visual aparente de AU Microscopii é de 8,73,[2] ou seja, ela é muito tênue para ser vista a olho nu. Ela ganhou esta designação porque está na constelação meridional Microscopium e porque é uma estrela variável. Como β Pictoris, AU Microscopii possui um disco circunstelar de poeira, conhecido como disco de detritos.

Propriedades estelares[editar | editar código-fonte]

AU Mic é uma estrela jovem de apenas 12 milhões de anos, menos de 1% da idade do Sol.[5] Com uma classificação estelar M1Ve,[2] é uma estrela anã vermelha[6] com 60% do raio do Sol. Apesar de possuir mais da metade da massa do Sol,[7][8] sua radiação corresponde a apenas 9% da daquele.[3] Esta energia é emitida pela atmosfera exterior a uma temperatura efetiva de 3 730 K,[9] que lhe confere o brilho com tom laranja-vermelho de uma estrela tipo M.[10] AU Microscopii é um membro do grupo movente β Pictoris[11][12] e pode estar gravitacionalmente ligada ao sistema de estrelas binárias AT Microscopii.[13]

AU Microscopii foi observada em todo o espectro eletromagnético, do rádio aos raios X, e é conhecida por passar por atividade eruptiva em todos esses comprimentos de onda.[14][15][16][17] O seu comportamento eruptivo foi observado pela primeira vez em 1973.[18][19] Sublinhando esses surtos randômicos, há uma variação quase senoidal no seu brilho, com período de 4,865 dias. A amplitude desta variação se modifica lentamente com o tempo. A variação de brilho na banda V foi de aproximadamente 0,3 magnitude em 1971; até 1980, foi de somente 0,1 magnitude.[20]

Disco circunstelar[editar | editar código-fonte]

Imagem do telescópio espacial Hubble do disco circunstelar ao redor de AU Microscopii.
Esta rápida sequência mostra imagens do disco circunstelar.

AU Microscopii possui um disco de poeira próprio, observado pela primeira vez em comprimentos de onda ópticos em 2003 por Paul Kalas e colaboradores, utilizando o telescópio de 2,2 m da Universidade do Havaí, em Mauna Kea, Havaí.[4] Este grande disco circunstelar tem a sua borda voltada para a Terra[21] e seu raio mede pelo menos 200 UA. Dada a grande distância para a sua estrela, a idade da poeira do disco excede a da estrela.[4] O disco possui uma razão entre as massas de gás e de poeira de não mais do que 6:1, muito menor do que o valor primordial normalmente assumido de 100:1.[22] O disco circunstelar é, portanto, referido como “pobre em gás”. Estima-se que a quantidade total da poeira visível seja de pelo menos uma massa lunar, enquanto os maiores planetesimais a partir dos quais a poeira foi produzida têm pelo menos seis massas lunares.[23]

A distribuição espectral de energia do disco circunstelar de AU Microscopii em comprimentos de onda submilimétricos indica a presença de um buraco interior no disco que se estende até 17 UA,[24] enquanto imagens de luz espalhada levam a estimar o raio do buraco interior em 12 UA.[25] A combinação da distribuição espectral de energia com o perfil de brilho superficial permite uma estimativa menor do raio do buraco interior, de 1 a 10 UA.[26]

A parte interior do disco é assimétrica e mostra estrutura nas 40 UA interiores.[27] A estrutura interior foi comparada com a que se espera encontrar quando o disco é influenciado por corpos maiores ou passou recentemente pela formação de planeta.[27]

A presença do buraco interior e a estrutura assimétrica levaram vários astrônomos a procurar planetas orbitando AU Microscopii, mas até 2007 as pesquisas não levaram à detecção de planetas.[26][28]

O brilho superficial (brilho por unidade de área) do disco na proximidade do infravermelho como uma função da distância projetada da estrela segue uma forma característica. O interior do disco parece aproximadamente constante em densidade e o brilho não se altera, ficando mais ou menos nivelado.[25] Em torno de , a densidade e o brilho superficial começam a decrescer: inicialmente, decrescem vagarosamente em proporção à distância, da forma ; então, externamente a , densidade e brilho caem muito mais bruscamente, da forma .[25] Esta forma de “lei de potência quebrada” é similar à forma do perfil do disco de β Pic.

Em outubro de 2015 foi reportado que astrônomos usando o Very Large Telescope (VLT) tinham detectado estruturas muito pouco usuais no disco movimentando-se para fora. Comparando as imagens do VLT com as tiradas pelo Hubble em 2010 e 2011, verificou-se que as estruturas semelhantes a ondas estão se afastando da estrela a velocidades de até 10 km/s. As ondas mais distantes da estrela parecem estar se movendo mais rapidamente do que as próximas, e pelo menos três das estruturas estão se movendo com velocidade suficiente para escapar da atração gravitacional da estrela.[29]

Métodos de observação[editar | editar código-fonte]

Impresssão artística de AU Microscopii. Crédito: NASA/ESA/G. Bacon (STScI)

O disco de AU Mic foi observado em diversos comprimentos de onda, fornecendo diferentes tipos de informação sobre o sistema. A luz do disco observada em comprimentos de onda ópticos é a luz estelar que se refletiu (espalhou) nas partículas de poeira em direção à Terra. Observações nesses comprimentos de onda utilizam uma mancha em um coronógrafo para bloquear a luz brilhante proveniente diretamente da estrela. Essas observações fornecem imagens de alta resolução do disco. Como a luz com comprimento de onda maior do que o tamanho de um grão de poeira se espalha mal, a comparação de imagens em diferentes comprimentos de onda (visível e próxima ao infravermelho, por exemplo) fornece informação sobre os tamanhos dos grãos de poeira no disco.[30]

Observações ópticas foram feitas com o Hubble e com os telescópios Keck. O sistema também foi observado no infravermelho e em comprimentos de onda submilimétricos. Esta luz é emitida diretamente pelos grãos de poeira, como resultado do seu calor interno (radiação de corpo negro modificado). Não há resolução para o disco nesses comprimentos de onda, portanto essas observações são medições da quantidade de luz que chega de todo o sistema. Observações em comprimentos de onda cada vez maiores fornecem informação sobre partículas de poeira de tamanhos maiores e a distâncias maiores da estrela. Essas observações foram feitas com o telescópio James Clerk Maxwell e com o telescópio espacial Spitzer.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c van Leeuwen, F. (Novembro de 2007), «Validation of the new Hipparcos reduction», Astronomy and Astrophysics, 474 (2): 653–664, Bibcode:2007A&A...474..653V, arXiv:0708.1752Acessível livremente, doi:10.1051/0004-6361:20078357 
  2. a b c d e f Torres, C. A. O.; et al. (dezembro de 2006), «Search for associations containing young stars (SACY). I. Sample and searching method», Astronomy and Astrophysics, 460 (3): 695–708, Bibcode:2006A&A...460..695T, arXiv:astro-ph/0609258Acessível livremente, doi:10.1051/0004-6361:20065602 
  3. a b c d e f Plavchan, Peter; et al. (Junho de 2009), «New Debris Disks Around Young, Low-Mass Stars Discovered with the Spitzer Space Telescope», The Astrophysical Journal, 698 (2): 1068–1094, Bibcode:2009ApJ...698.1068P, arXiv:0904.0819Acessível livremente, doi:10.1088/0004-637X/698/2/1068 
  4. a b c Kalas, Paul; Liu, Michael C.; Matthews, Brenda C. (26 de Março de 2004). «Discovery of a Large Dust Disk Around the Nearby Star AU Microscopii». Science. 303 (5666): 1990–1992. Bibcode:2004Sci...303.1990K. PMID 14988511. arXiv:astro-ph/0403132Acessível livremente. doi:10.1126/science.1093420 
  5. Plavchan, Peter; Jura, M.; Lipsc, S. J. (1 de outubro de 2005). «Where Are the M Dwarf Disks Older Than 10 Million Years?». The Astrophysical Journal. 631 (2): 1161–1169. Bibcode:2005ApJ...631.1161P. arXiv:astro-ph/0506132Acessível livremente. doi:10.1086/432568 
  6. Maran, S. P.; et al. (setembro de 1991). «An Investigation of the Flare Star AU Mic with the Goddard High Resolution Spectrograph on the Hubble Space Telescope». Bulletin of the American Astronomical Society. 23: 1382. Bibcode:1991BAAS...23.1382M 
  7. Del Zanna, G.; Landini, M.; Mason, H. E. (Abril de 2002). «Spectroscopic diagnostics of stellar transition regions and coronae in the XUV: AU Mic in quiescence». Astronomy and Astrophysics. 385 (3): 968–985. Bibcode:2002A&A...385..968D. doi:10.1051/0004-6361:20020164 
  8. Mouillet, David (26 de Março de 2004). «Nearby Planetary Disks». Science. 303 (5666): 1982–1983. PMID 15044792. doi:10.1126/science.1095851 
  9. Linsky, J. L.; et al. (15 de setembro de 1982). «Outer atmospheres of cool stars. XII - A survey of IUE ultraviolet emission line spectra of cool dwarf stars». The Astrophysical Journal. 260 (1): 670–694. Bibcode:1982ApJ...260..670L. doi:10.1086/160288 
  10. «The Colour of Stars», Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation, Australia Telescope, Outreach and Education, 21 de dezembro de 2004, consultado em 16 de janeiro de 2012, arquivado do original em 10 de Março de 2012 
  11. Zuckerman, B.; Song, Inseok (setembro de 2004). «Young Stars Near the Sun». Annual Review of Astronomy & Astrophysics. 42 (1): 685–721. Bibcode:2004ARA&A..42..685Z. doi:10.1146/annurev.astro.42.053102.134111 
  12. Barrado y Navascués, David; et al. (1 de agosto de 1999). «The age of beta Pictoris». The Astrophysical Journal. 520 (2): L123–L126. Bibcode:1999ApJ...520L.123B. arXiv:astro-ph/9905242Acessível livremente. doi:10.1086/312162 
  13. Monsignori Fossi, B. C.; et al. (outubro de 1995). «The EUV spectrum of AT Microscopii». Astronomy & Astrophysics. 302: 193. Bibcode:1995A&A...302..193M 
  14. Maran, S. P.; et al. (1 de fevereiro de 1994). «Observing stellar coronae with the Goddard High Resolution Spectrograph. 1: The dMe star AU microscopoii». The Astrophysical Journal. 421 (2): 800–808. Bibcode:1994ApJ...421..800M. doi:10.1086/173692 
  15. Cully, Scott L.; et al. (10 de setembro de 1993). «Extreme Ultraviolet Explorer deep survey observations of a large flare on AU Microscopii». The Astrophysical Journal. 414 (2): L49–L52. Bibcode:1993ApJ...414L..49C. doi:10.1086/186993 
  16. Kundu, M. R.; et al. (15 de janeiro de 1987). «Microwave observations of the flare stars UV Ceti, AT Microscopii, and AU Microscopii». The Astrophysical Journal. 312: 822–829. Bibcode:1987ApJ...312..822K. doi:10.1086/164928 
  17. Tsikoudi, V.; Kellett, B. J. (dezembro de 2000). «ROSAT All-Sky Survey X-ray and EUV observations of YY Gem and AU Mic». Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. 319 (4): 1147–1153. Bibcode:2000MNRAS.319.1147T. doi:10.1046/j.1365-8711.2000.03905.x 
  18. Kunkel, W. E. (1973). «Activity in Flare Stars in the Solar Neighborhood». The Astrophysical Journal Supplement. 25: 1. Bibcode:1973ApJS...25....1K. doi:10.1086/190263 
  19. Butler, C. J.; et al. (dezembro de 1981). «Ultraviolet spectra of dwarf solar neighbourhood stars. I». Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. 197: 815–827. Bibcode:1981MNRAS.197..815B. doi:10.1093/mnras/197.3.815 
  20. Butler, C. J.; et al. (Março de 1987). «Rotational modulation and flares on RS CVn and BY DRA systems. II - IUE observations of BY Draconis and AU Microscopii». Astronomy and Astrophysics. 174 (1–2): 139–157. Bibcode:1987A&A...174..139B 
  21. Paul Kalas, James R. Graham and Mark Clampin (23 de junho de 2005). «A planetary system as the origin of structure in Fomalhaut's dust belt». Nature. 435 (7045): 1067–1070. Bibcode:2005Natur.435.1067K. PMID 15973402. arXiv:astro-ph/0506574Acessível livremente. doi:10.1038/nature03601 
  22. Aki Roberge; Alycia J. Weinberger; Seth Redfield & Paul D. Feldman (20 de junho de 2005). «Rapid Dissipation of Primordial Gas from the AU Microscopii Debris Disk». The Astrophysical Journal. 626 (2): L105–L108. Bibcode:2005ApJ...626L.105R. arXiv:astro-ph/0505302Acessível livremente. doi:10.1086/431899 
  23. C. H. Chen; B. M. Patten; M. W. Werner; C. D. Dowell; K. R. Stapelfeldt; I. Song; J. R. Stauffer; M. Blaylock; K. D. Gordon & V. Krause (1 de Dezembro de 2005). «A Spitzer Study of Dusty Disks around Nearby, Young Stars». The Astrophysical Journal. 634 (2): 1372–1384. Bibcode:2005ApJ...634.1372C. doi:10.1086/497124 
  24. Michael C. Liu; Brenda C. Matthews; Jonathan P. Williams & Paul G. Kalas (10 de Junho de 2004). «A Submillimeter Search of Nearby Young Stars for Cold Dust: Discovery of Debris Disks around Two Low-Mass Stars». The Astrophysical Journal. 608 (1): 526–532. Bibcode:2004ApJ...608..526L. arXiv:astro-ph/0403131Acessível livremente. doi:10.1086/392531 
  25. a b c John E. Kirst; D. R. Ardila; D. A. Golimowski; M. Clampin; H. C. Ford; G. D. Illingworth; G. F. Hartig; F. Bartko; N. Benítez; J. P. Blakeslee; R. J. Bouwens; L. D. Bradley; T. J. Broadhurst; R. A. Brown; C. J. Burrows; E. S. Cheng; N. J. G. Cross; R. Demarco; P. D. Feldman; M. Franx; T. Goto; C. Gronwall; B. Holden; N. Homeier; L. Infante; R. A. Kimble; M. P. Lesser; A. R. Martel; S. Mei; F. Mennanteau; G. R. Meurer; G. K. Miley; V. Motta; M. Postman; P. Rosati; M. Sirianni; W. B. Sparks; H. D. Tran; Z. I. Tsvetanov; R. L. White & W. Zheng (fevereiro de 2005). «Hubble Space Telescope Advanced Camera for Surveys Coronagraphic Imaging of the AU Microscopii Debris Disk». The Astronomical Journal. 129 (2): 1008–1017. Bibcode:2005AJ....129.1008K. doi:10.1086/426755 
  26. a b Stanimir A. Metchev; Joshua A. Eisner & Lynne A. Hillenbrand (20 de Março de 2005). «Adaptive Optics Imaging of the AU Microscopii Circumstellar Disk: Evidence for Dynamical Evolution». The Astrophysical Journal. 622 (1): 451–462. Bibcode:2005ApJ...622..451M. arXiv:astro-ph/0412143Acessível livremente. doi:10.1086/427869 
  27. a b Michael C. Liu (3 de setembro de 2004). «Substructure in the Circumstellar Disk Around the Young Star AU Microscopii». Science. 305 (5689): 1442–1444. Bibcode:2004Sci...305.1442L. PMID 15308766. arXiv:astro-ph/0408164Acessível livremente. doi:10.1126/science.1102929 
  28. E. Masciadri; R. Mundt; Th. Henning & C. Alvarez (1 de junho de 2005). «A Search for Hot Massive Extrasolar Planets around Nearby Young Stars with the Adaptive Optics System NACO». The Astrophysical Journal. 625 (2): 1004–1018. Bibcode:2005ApJ...625.1004M. arXiv:astro-ph/0502376Acessível livremente. doi:10.1086/429687 
  29. «Mysterious Ripples Found Racing Through Planet-Forming Disk». Hubblesite. Consultado em 8 de outubro de 2015. Cópia arquivada em 8 de outubro de 2015 
  30. Sanders, Robert (8 de janeiro de 2007). «Dust around nearby star like powder snow». UC Berkeley News. Consultado em 11 de janeiro de 2007. Cópia arquivada em 15 de janeiro de 2007 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre AU Microscopii