Amianto
O asbesto (da palavra grega ἀσβεστος, "indestrutível", "imortal", "inextinguível") ou amianto (do grego αμίαντος, puro, sem sujidade, sem mácula[1]), é uma designação comercial genérica para a variedade fibrosa de sais minerais metamórficos de ocorrência natural e utilizados em vários produtos comerciais. Trata-se de um material com grande flexibilidade e resistências química, térmica, eléctrica e à tracção muito elevadas e que além disso pode ser tecido.
O material é constituído por feixes de fibras. Estes feixes, por seu lado, são constituídos por fibras extremamente finas e longas facilmente separáveis umas das outras com tendência a produzir um pó de partículas muito pequenas que flutuam no ar e aderem às roupas. As fibras podem ser facilmente inaladas ou engolidas podendo causar graves problemas de saúde.[2]
A inalação prolongada de fibras de asbesto pode provocar doenças graves incluindo câncer de pulmão, mesotelioma[3] e asbestose (um tipo de pneumoconiose).[4]
Amplamente utilizado na fabricação de materiais para a construção civil ao longo de décadas, o amianto foi incluído no grupo principal de substâncias cancerígenas pela Organização Mundial da Saúde. Segundo a organização, 125 milhões de pessoas estão expostas à substância em todo o mundo, e pelo menos 107 mil morrem anualmente de doenças associadas a ela. Por esse motivo, o amianto já foi banido em mais de 60 países.[5]
O Brasil é o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador mundial de amianto, notadamente da a variedade crisotila. A maior parte da produção brasileira é comercializada internamente e destina-se principalmente à fabricação de telhas onduladas, chapas de revestimento, tubos e caixas d'água. Na indústria automobilística, o amianto é usado em produtos de fricção (freios, embreagens). Em menor quantidade, é possível encontrar amianto em produtos têxteis, filtros, papel, papelão e isolantes térmicos. Cinco estados brasileiros (São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco) criaram leis específicas proibindo a produção e comercialização de produtos contendo a substância. No entanto a aplicação das leis encontra-se suspensa após uma ação dos produtores de amianto, que afirmam que os banimentos estaduais são inconstitucionais. O Supremo Tribunal Federal ainda não chegou a uma decisão sobre o assunto.[5]
Minerais asbestiformes
Os minerais asbestiformes, dos quais fibras de asbesto podem ser extraídas, podem ser classificados em dois grupos:
Grupo | Nome do mineral | Composicão química | Nome-comum | Observações |
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Serpentina | Crisótilo | (Mg,Fe,Ni)3Si2O5(OH)4 | Asbesto branco | Esse é o tipo mais usado na indústria |
Anfíbola | Amosite | Fe7Si8O22(OH)2 | Asbesto castanho | Amosite é um termo comercial, sinônimo de grunerite. |
Crocidolite | Na2Fe2+3Fe3+2Si8O22(OH)2 | Asbesto azul | ||
Tremolite | Ca2Mg5Si8O22(OH)2 | |||
Actinolite | Ca2(Mg, Fe)5Si8O22(OH)2 | |||
Antofilite | (Mg, Fe)7Si8O22(OH)2 |
As fibras de crisótilo são enroladas enquanto que as fibras de asbesto de anfíbolas são cilíndricas. Os vários minerais do grupo das anfíbolas diferem uns dos outros nos teores de cálcio, magnésio, sódio e ferro neles contidos. Tanto os minerais do grupo da serpentina como os do grupo das anfíbolas ocorrem em variedades fibrosas e não fibrosas, sendo as variedades fibrosas designadas asbesto. Têm sido identificadas variedades asbestiformes de várias outras anfíbolas.
Produção e consumo mundiais de asbesto
Em 2007 a produção mundial de asbesto foi algo em torno de 2 285 000 toneladas, distribuídas de acordo com o gráfico:
Produção de Asbesto em 2007 (em 1000 t)[6] | |||||||||||
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1030
|
350
|
350
|
230
|
185
|
140
| ||||||
Rússia | China | Cazaquistão | Brasil | Canadá | Outros |
Já o consumo, em 2006, foi de aproximadamente 2 214 000 toneladas, sendo os maiores consumidores os países do BRIC e o Cazaquistão, distribuídos de acordo com o seguinte gráfico:
Consumo de Asbesto em 2006 (em 1000 t)[6] | |||||||||||
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531
|
374
|
293
|
143
|
143
|
730
| ||||||
China | Índia | Rússia | Brasil | Cazaquistão | Outros |
Propriedades
O asbesto é resistente ao calor até 1000 °C (Celsius) e contra ácidos moderados e tem uma resistência à tracção ainda maior que fios de aço com igual perfil. Em temperaturas acima dos 1200 °C (Celsius), o asbesto transforma-se em Olivina e suas variedades.
Usos e aplicações
Usos na antiguidade
Usado na antiguidade em mechas de lanternas, a resistência do asbesto ao fogo é desde há muito aproveitada para uma variedade de propósitos. Foi utilizado em tecidos mortuários no antigo Egipto bem como para fazer uma toalha de mesa para Carlos Magno, que de acordo com a lenda este atirou ao fogo para a limpar.
Usos modernos
O asbesto foi utilizado em mais de 3000 produtos, havendo aplicações específicas para os diferentes tipos.
Grupo da serpentina
O crisótilo é o mineral mais utilizado na produção de asbesto. As suas aplicações são inúmeras incluindo:
- telhas de fibrocimento (cerca de 85% do consumo mundial)
- revestimentos de travões e embreagens de automóveis
- revestimentos e coberturas de edifícios
- gessos e estuques
- revestimentos à prova de fogo
- vestimentas de protecção à prova de fogo
Grupo das anfíbolas
- tubagens e coberturas de edifícios (misturado com cimento, fibrocimento)
- isolamentos térmicos e acústicos
- revestimentos de tecto
Patologias causadas por asbesto
Já em 1898 o inspector-chefe de fábricas no Reino Unido relatava ao parlamento no seu relatório anual os efeitos malignos do pó de asbesto. Nele afirmava que a natureza aguçada como vidro das partículas quando presentes no ar em qualquer quantidade é nociva, como se deveria esperar. Em 1906 uma comissão do parlamento britânico confirmou os primeiros casos de morte causada por asbesto e recomendou que fosse melhorada a ventilação nos locais de trabalho, entre outras medidas. Em 1918 uma companhia de seguros dos Estados Unidos efetuou um estudo que demonstrava a ocorrência de mortes prematuras na indústria do asbesto e em 1926 a comissão de acidentes industriais de Massachusetts concedeu pela primeira vez a um trabalhador doente da indústria o direito à primeira compensação por doença causada por asbesto. Muitos dos afetados pela exposição ao asbesto nos Estados Unidos trabalhavam na construção naval durante a Segunda Guerra Mundial.
Os problemas com o asbesto surgem quando as fibras se dispersam no ar e são inaladas. Devido ao tamanho das fibras, os pulmões não conseguem expeli-las [Casarrett & Doull's Toxicology (2001), pp 520–522].
Entre as doenças causadas pelo asbesto incluem-se [1][2]:
- Asbestose - Inicialmente diagnosticada entre trabalhadores da indústria naval dos Estados Unidos, a asbestose consiste de lesões do tecido pulmonar causadas por um ácido produzido pelo organismo na tentativa de dissolver as fibras. As lesões podem tornar-se extensas ao ponto de não permitirem o funcionamento dos pulmões. O tempo de latência (período que a doença leva a manifestar-se) é geralmente 10 a 20 anos.
- Mesotelioma - Um câncer do revestimento mesotelial (pleura) do pulmão. A única causa conhecida é a exposição ao asbesto. O período de latência do mesotelioma pode ser de 20 a 50 anos. A maior parte dos doentes morre em menos de 12 meses após o diagnóstico.
- Câncer - Câncer de pulmão, do tracto gastrointestinal do rim e laringe foram associados ao asbesto. O período de latência é muitas vezes 15 a 30 anos.
- verrugas de asbesto - produzidas quando fibras aguçadas se alojam na pele sendo recobertas por esta causando crescimentos benignos semelhantes a calos.
- placas pleurais - espessamento de parte da pleura visível por meio de radiografias em indivíduos expostos ao asbesto.
- espessamento pleural difuso - semelhante à anterior. Geralmente assintomática, pode causar perda de capacidade respiratória se a sua extensão for grande.
Riscos da exposição ao asbesto
Quase todas as pessoas são expostas ao asbesto em algum momento das suas vidas. No entanto, a maioria das pessoas não adoece em consequência dessa exposição. As pessoas que adoecem devido à exposição ao asbesto são geralmente aquelas expostas de forma regular, a maior parte das vezes no seu posto de trabalho em que contactam directamente com o material ou através de contacto ambiental substancial.
Vários estudos sugerem que os efeitos nocivos do amianto são muito maiores no grupo das Anfíbolas. Experiências com ratos de laboratório já provocaram a indução do processo cancerígeno causado por amianto crisotila, porém em doses muito altas que não são encontradas fora do ambiente de laboratório.
Hoje o uso do amianto anfibólio é proibido em todo o mundo. O amianto crisotila já é proibido em algumas regiões do planeta porém ainda é amplamente comercializado em vários países, apesar de muitos defenderem a sua proibição total.
Proibição
- No Brasil, alguns estados (Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo) e municípios brasileiros proibiram a industrialização e a comercialização de todos os tipos de amianto, inclusive o crisotila. Por outro lado, a Lei Federal nº 9055, de 1º de julho de 1995 dispõe sobre a mineração, industrialização, transporte e comercialização do amianto e dos produtos que o contém. O Decreto nº 2350 de 1997 regulamenta a Lei nº 9.055. Há um projeto em andamento para o banimento do amianto em todo o território brasileiro. O relatório sugere a desativação da única mina de amianto ainda em operação no Brasil, localizada em Minaçu (GO). O projeto está a ser votado.1
- A União Europeia proíbe toda e qualquer utilização do amianto no seu território desde 1 de Janeiro de 2005, estando a sua extração igualmente proibida[7]. Os trabalhadores que tenham que lidar com o amianto nas suas actividades de remoção do mesmo estão sujeitos a especiais condições de trabalho.[8]
- O Canadá proíbe o uso do amianto no próprio país e é um dos maiores exportadores mundiais do produto, juntamente com a Rússia; seus maiores clientes são países em desenvolvimento.[9]
- Na América do Sul o uso do amianto é proibido na Argentina, no Chile e no Uruguai.
Substitutos do asbesto
Como consequência da proibição quase generalizada de utilização de asbesto têm surgido numerosos materiais como seus possíveis substitutos. No entanto, nenhum deles se mostrou tão versátil como o asbesto. Alguns dos materiais substitutos são: silicato de cálcio, fibra de carbono, fibra de celulose, fibra cerâmica, fibra de vidro, fibra de aço, wollastonite, aramida, polietileno, polipropileno, politetrafluoretileno. Em aplicações que não requerem as propriedades de reforço das fibras perlite, serpentina, sílica e talco.
Na fabricação de telhas de fibrocimento, que responde por 97% do consumo de amianto crisotila no Brasil, o amianto pode ser substituído por uma mistura de fibras sintéticas (PVA ou PP) e celulose. Devido ao custo desses insumos (importados da China, Japão, Rússia, Chile e Tasmânia), assim como ao maior consumo de energia elétrica (o dobro), o custo das telhas de fibrocimento sem amianto é aproximadamente 50% maior que o das telhas contendo amianto, o que tem sido responsável pela baixa aceitação do produto, porém, no caso de proibição da extração e comercialização do amianto não restaria outra alternativa ao consumidor.
Ver também
- Minaçu: Maior mina de amianto do Brasil
Referências
- ↑ Houaiss, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Lisboa: Circulo dos Leitores, 2002. Tomo I ISBN 972-42-2809-6
- ↑ Proibido em países ricos, amianto ameaça população de nações em desenvolvimento
- ↑ STF mantém processo que pode multar a Eternit em R$ 1 bi. Revista Exame, 3 de setembro de 2014
- ↑ Position Statement on Asbestos from the Joint Policy Committee of the Societies of Epidemiology (JPC-SE), approved June 4, 2012
- ↑ a b Entenda os motivos da proibição do amianto no Brasil. Instituto Humanitas - Unisinos, 25 de fevereiro de 2014
- ↑ a b «UMWELT - Koalition der Unwilligen» (PDF) (em alemão). Der Spiegel 50/2008. 2008. Consultado em 21 de fevereiro de 2012
- ↑ Directivas europeias sobre o amianto
- ↑ União Europeia-protecção dos trabalhadores face aos edifícios com amianto
- ↑ Stop Canada's Export of Asbestos
Ligações externas
- «National Cancer Institute (Estados Unidos)» (em inglês)
- Comissão Nacional dos Trabalhadores do Amianto
- Instituto Brasileiro do Crisotila
- «O amianto no mundo» (em francês)
- A maldição do amianto. Por Eliane Brum. El País, 6 de janeiro de 2014.