Cara da Sunga

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O Cara da Sunga correndo em uma temperatura de -14 Graus Celsius, no Chile, em 2022.

Eduardo André Viamonte, mais conhecido como o Cara da Sunga, é um ativista, músico, técnico em informática, empresário, professor de inglês, palestrante, influenciador digital e mestre de cerimônias brasileiro. Tornou-se um personagem da cena cultural porto-alegrense por correr longas distâncias utilizando apenas sunga, tênis, eventualmente luvas, e chapéu, independente de condições climáticas adversas como chuva e frio.

Corrida[editar | editar código-fonte]

Início[editar | editar código-fonte]

O Cara da Sunga começou a correr quando era adolescente, durante um intercâmbio que fez nos Estados Unidos. A corrida foi uma forma de lidar com situações como o bullying que sofria por não dominar a língua inglesa e por ter dificuldade de compreender as aulas na escola. Logo percebeu os benefícios do esporte e acabou adotando a prática cotidianamente, por mais de vinte anos.[1]

Vestimentas[editar | editar código-fonte]

A escolha pelos trajes que o trouxeram fama ocorreu no ano de 2003.[1] E ela foi tomada por questões práticas, não estéticas. O nylon do calção de corrida causava assaduras em suas coxas, o que o levou a optar pelo uso da sunga. Já as camisetas ficam molhadas de suor durante o percurso de 20 quilômetros que costuma percorrer diariamente, sendo 10 na hora do almoço e 10 de madrugada, aumentando o risco de causar uma gripe. No inverno, quando o frio é intenso em Porto Alegre, o Cara da Sunga costuma utilizar uma touca na cabeça e luvas nas mãos, mantendo suas extremidades aquecidas.[2] De acordo com ele, correr no frio leva a uma maior produção de dopamina, consequentemente aumentando a sensação de prazer.[1]

O precursor desta decisão foi o dia em que foi buscar sua namorada para uma corrida, mas esqueceu a camiseta em casa. Apesar do frio intenso, decidiu correr assim mesmo. Em suas palavras,[3]

Uma sunga, vestimenta pela qual o Cara da Sunga é conhecido.

As sungas que utiliza são todas modelo boxer, da Adidas, com poucas variações de cores. Da adidas também são seus tênis, modelo Ultraboost. Enquanto o número de sungas em sua coleção está entre oito e nove, os chapéus são três. Para que não precise levar nada consigo durante a corrida, o Cara da Sunga deixa suas chaves na portaria do prédio onde mora e aproveita a boa relação com a população porto-alegrense para pedir um copo de água em algum restaurante ou uma fruta em alguma banca durante seu percurso.[4]

Cordilheira dos Andes[editar | editar código-fonte]

Em julho de 2022, o Cara da Sunga completou o desafio de correr no Valle Nevado, nos Andes, enquanto fazia uma temperatura de 14 Graus Celsius negativos. O desafio, proposto por ele mesmo, é fruto de uma viagem a Gramado, na Serra Gaúcha, quando correu em uma temperatura de 5 graus celsius negativos. Ao perceber que a sensação de correr em uma temperatura negativa era agradável, resolveu experimentar temperaturas ainda mais baixas.[5]

A preparação para este momento levou anos, a partir da exposição controlada a baixas temperaturas. Durante os dias de frio em Porto Alegre, passou mais tempo suado e parado na rua do que o costume.[5] Sua técnica de controle da temperatura é composta por cinco pontos: proteção das extremidades; respiração profunda; hidratação; e não contração do corpo.[1]

Relação com a cultura local[editar | editar código-fonte]

Parque Moinhos Vento, um dos locais onde o Cara da Sunga costuma correr

Em entrevista ao jornal Zero Hora, resumiu sua relação com Porto Alegre da seguinte forma: “Vivo quase um sonho infantil. Moro em uma cidade em que todo mundo é meu amigo".[6] O apelido "Cara da Sunga" foi oficializado em uma música composta pelo músico Carlinhos Carneiro, em 2014. Depois da música, as pessoas passaram a chamá-lo desta forma pelas ruas de Porto Alegre e Eduardo resolveu adotar o apelido.[1]

Durante a pandemia de COVID-19, para incentivar os porto-alegrenses ao isolamento social, o Cara da Sunga parou de correr na rua e passou a exercitar-se dentro de seu apartamento.[7] Em agosto de 2020, concedeu entrevista ao programa Encontro com Fátima Bernardes utilizando uma máscara para correr.[8]

Quando não está correndo, o Cara da Sunga é dificilmente reconhecido. Um dos principais motivos é seu cabelo, que costuma ficar escondido por debaixo do chapéu que usa enquanto corre.[1]

PoA Meme Cup[editar | editar código-fonte]

Em setembro de 2022 foi lançado o álbum de figurinhas Poa Meme Cup, com personagens, pratos, pontos turisticos e memes icônicos de Porto Alegre, em alusão ao álbum da Copa do Mundo do Catar. O Cara da Sunga foi uma das figuras retratadas no álbum.[9] Sobre ter sido escolhido para fazer parte das figurinhas, ele afirmou ter se sentido homenageado e elogiou a iniciativa, vinda do professor Marcos Müller, devido ao seu caráter histórico.[10]

Lendas urbanas[editar | editar código-fonte]

Uma lenda urbana criada em cima de sua figura é a de que ele seria dono da rede de farmácias Panvel. Esta lenda surgiu por conta de seu hábito de deixar as chaves em uma unidade da rede que ficava aberta 24 horas por dia, quando ia fazer suas corridas noturnas no Parque Moinhos de Vento.[4] Outras versões da mesma história contam que o Cara da Sunga tinha o costume de entrar pelado na farmácia e que o apelido "Panvel" foi dado por pessoas em situação de rua, as quais ele ajudava comprando lâminas de barbear para que participassem de entrevistas de emprego.[2] Também foi criada a lenda urbana de que o Cara da Sunga era policial.[1]

Uma das razões pelas quais lendas urbanas são criadas em seu entorno é sua discrição em relação a algumas informações pessoais. Além de não revelar a idade, por um bom tempo evitava dar entrevistas, criando espaço para que especulações e histórias fantasiosas surgissem no espaço público porto-alegrense. Seu cabelo, por exemplo, fica escondido por debaixo do chapéu e não costuma ser fotografado até mesmo pelas pessoas próximas a ele.[1]

Ativismo[editar | editar código-fonte]

Parque Farroupilha[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Parque Farroupilha
Chafariz no Parque Farroupilha.

Em 2022, o Cara da Sunga ganhou destaque como um dos membros do Coletivo Preserva Redenção, que luta contra a concessão do Parque Farroupilha, também conhecido como Redenção, à iniciativa privada, pela Prefeitura de Porto Alegre. Uma das iniciativas organizadas por ele foi o Abraço em defesa da Redenção pública, ocorrida no dia 20 de novembro de 2022 com o objetivo de denunciar os riscos da concessão ao meio ambiente, assim como à autonomia da população para a utilização do local para manifestações de caráter político, artistico e cultural. [11] No dia 18 de novembro do mesmo ano, o Cara da Sunga foi um dos representantes da sociedade civil que, ao lado de políticos gaúchos como Fernanda Melchionna, Sofia Cavedon e Leonel Radde, compareceu à audiência pública sobre a concessão da Redenção, que também tratou sobre a cocessão do Parque Marinha do Brasil, um trecho da Orla do Guaíba e o Calçadão do Lami.[12]

Mudanças climáticas[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Mudança do clima

Também na Redenção, durante a Virada Sustentável, o Cara da Sunga e os demais participantes do evento Passeio do Biquíni e da Sunga, com o Cara da Sunga protestaram contra as mudanças climáticas.[13]

Carreira[editar | editar código-fonte]

O cara da Sunga é professor e administrador de uma escola de inglês, trabalha no setor de TI do Banrisul, dá palestras sobre corrida e participa de eventos como mestre de cerimônias.[2] Também é percussionista do Bloco da Laje e da banda Império da Lã.[8][4]

Referências

  1. a b c d e f g h «'Virei mito': 'Cara da Sunga' fica famoso correndo no frio de Porto Alegre». tab.uol.com.br. Consultado em 8 de setembro de 2022 
  2. a b c «A Capital que Eduardo sente: conheça a história do "Cara da Sunga"». GZH. 2 de abril de 2019. Consultado em 1 de maio de 2022 
  3. «Ele corre de sunga no frio congelante de Porto Alegre: 'Me sinto quentinho' [21/08/2020]». noticias.uol.com.br. Consultado em 1 de maio de 2022 
  4. a b c «Como não gripa? Onde guarda as chaves? As 12 perguntas que você sempre quis fazer ao Cara da Sunga». GZH. 27 de setembro de 2019. Consultado em 1 de maio de 2022 
  5. a b «Cara da Sunga corre na neve no Chile com temperatura de -10°C». GZH. 15 de julho de 2022. Consultado em 8 de setembro de 2022 
  6. «O Cara da Sunga trabalha com TI». Baguete. Consultado em 1 de maio de 2022 
  7. «Como o Cara da Sunga está se virando durante a pandemia em Porto Alegre». GZH. 30 de abril de 2020. Consultado em 1 de maio de 2022 
  8. a b «No programa da Fátima Bernardes: Cara da Sunga conta como é correr em um dia de frio intenso». GZH. 21 de agosto de 2020. Consultado em 1 de maio de 2022 
  9. «Personagens e ícones de Porto Alegre viram figurinhas em álbum inspirado na Copa do Mundo». G1. Consultado em 30 de setembro de 2022 
  10. «POA Meme Cup Qatar 2022: conheça o álbum de figurinhas de Porto Alegre que viralizou nas redes sociais». GZH. 23 de setembro de 2022. Consultado em 30 de setembro de 2022 
  11. Gomes, Luís (16 de novembro de 2022). «Audiências públicas debatem concessão de parques; coletivo realiza 'abraço' à Redenção». Sul 21. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  12. Romagna, Duda (19 de novembro de 2022). «Audiência pública sobre concessão da Redenção e do Lami tem vaias e falas interrompidas». Sul 21. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  13. «Último fim de semana da Virada Sustentável tem oficinas, shows e pedalada | Prefeitura de Porto Alegre». prefeitura.poa.br. Consultado em 27 de dezembro de 2022