Caso Luana Barbosa

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Caso Luana Barbosa
Nascimento 12 de novembro de 1981
Miguelópolis
Morte 13 de abril de 2016
Ribeirão Preto
Cidadania Brasil
Causa da morte contusão

Luana Barbosa dos Reis[1] (Miguelópolis, 12 de novembro de 1981[1]Ribeirão Preto, 13 de abril de 2016) foi uma mulher brasileira, negra e lésbica que veio a falecer devido a violência policial em uma abordagem da Polícia Militar na cidade de Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo.

Vida[editar | editar código-fonte]

Luana e sua irmã Roseli dos Reis nasceram em Miguelópolis interior do estado de São Paulo, filhas de Eurípedes e Luis.[1] O pai de Luana, Luis, foi baleado com três tiros e enterrado como indigente no cemitério de Perus, região noroeste da capital paulista. Sua morte foi registrada no dia 10 de novembro de 1981 dois dias após Luana nascer. Sua mãe e os filhos souberam da perda 40 dias depois.[1]

Ocorrência[editar | editar código-fonte]

No bairro onde morava, Jardim Paiva, em Ribeirão Preto, Luana saiu de casa às 19 horas para levar o filho de 14 anos para um curso, quando foi abordada na esquina de sua rua por policiais militares.[2]

Segundo a irmã de Luana, Roseli Barbosa dos Reis, Luana teria pedido a uma policial para que fosse feita a revista,[3] mas a solicitação não foi atendida, e ela não permitiu que o procedimento fosse feito por agentes homens, foi quando, segundo a professora, as agressões começaram.[4][5]

O tenente coronel da PM, Francisco Mango Neto, negou as agressões e informou que o motivo da abordagem foi a suspeita de que Luana dirigia naquele momento uma moto roubada. De acordo com a Polícia Militar, os agentes reagiram depois que foram desacatados e agredidos por Luana.[4]

Uma testemunha afirma que Luana foi brutalmente agredida por pelo menos seis policiais.[4]

Luana morreu na quarta-feira, dia 13, cinco dias após ter sido internada na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE). Consta na declaração de óbito que ela sofreu uma isquemia cerebral aguda causada por traumatismo crânio-encefálico.[2]

Investigação[editar | editar código-fonte]

A Ordem dos Advogados do Brasil informou que os policiais militares envolvidos no suposto espancamento à Luana foram afastados das funções até o fim das investigações do caso. O pedido de afastamento havia sido protocolado pelo coordenador da Comissão do Negro e Assuntos Antidiscriminatórios da OAB, Eduardo Silveira Martins, sob alegação de que os PMs poderiam influenciar no inquérito policial.[6]

Em 3 de fevereiro de 2017, a Justiça Militar do Estado de São Paulo (JMSP) arquivou a investigação contra os três policiais militares. Em nota, a JMSP informou que o Ministério Público considerou que não há indícios de crime militar. A promotora Robinete Le Fosse pediu o arquivamento do caso "pela total ausência de materialidade delitiva".[7]

Reações[editar | editar código-fonte]

A ONU Mulheres e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) divulgaram nota na quarta-feira, dia 4 de Maio de 2016, em que pedem “investigação imparcial” sobre a morte de Luana.[8] A nota diz que "de acordo com o relato da própria vítima, antes do seu trágico falecimento, e de seus familiares, há fortes indícios das práticas de sexismo, racismo e lesbofobia nos acontecimentos que levaram à sua morte, em uma perversa violação de direitos que segue na contramão das garantias individuais e coletivas conquistadas pelas mulheres no Brasil e no mundo."[9]

Familiares e ONGs de direitos humanos protestaram contra a lesbofobia, racismo e impunidade dos autores no dia 23 de abril em frente ao Teatro Pedro II, em Ribeirão Preto.[10]

O ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves solicitou à Procuradoria Geral de Justiça que designe um promotor para acompanhar as investigações. O ouvidor também solicitou ao Corregedor da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Levi Anastácio Felix, os procedimentos registrados na Corregedoria acerca da morte de Luana, após ela ficar internada “devido a lesões causadas segundos testemunhas e familiares, por espancamento” efetuado pelos policiais militares Douglas Luiz de Paula, Fabio Donizetti Pultz e André Donizeti Camilo “durante uma abordagem”.[11]

Em 2 de maio de 2016, sobreviventes da tortura e feministas fizeram uma instalação em memória das vítimas da violência ditadura militar no Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), centro da tortura no Rio de Janeiro. O ato também lembrou a morte de Luana.[12]

O presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe), Rildo Marques de Oliveira, afirmou que houve abuso de poder por parte dos policiais militares na abordagem a Luana.[5]

Referências

  1. a b c d Semayat Oliveira (2 de maio de 2016). «"Depois da morte, Luana Barbosa saiu da situação de isolamento", diz a irmã Roseli dos Reis». Nós, mulheres da periferia. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  2. a b Ana Beatriz Rosa (28 de abril de 2016). «Precisamos falar sobre Luana: lésbica, pobre e negra, morta após ser espancada por PMs». HuffPost Brasil. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  3. André Caramante (25 de abril de 2016). «A história de Luana: mãe, negra, pobre e lésbica, ela morreu após ser espancada por três PMs». Ponte.org. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  4. a b c G1 Ribeirão e Franca (16 de abril de 2016). «Após morte, família acusa PMs de espancar mulher em Ribeirão Preto». G1. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  5. a b G1 Ribeirão e Franca (16 de maio de 2016). «Conselho vê abuso de poder da PM na morte de Luana por espancamento». G1. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  6. G1 Ribeirão e Franca (8 de maio de 2016). «PMs suspeitos de espancar Luana são afastados até fim da apuração do caso». G1. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  7. Justiça Militar arquiva caso de mulher morta após suposta agressão de PMs, G1, 03/02/2017
  8. «ONU Mulheres pede investigação sobre morte de Luana Barbosa dos Reis». Compromisso e Atitude -. 4 de maio de 2016. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  9. «Nota pública do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas para América do Sul e da ONU Mulheres Brasil sobre o assassinato de Luana Reis». ONU Mulheres. 4 de maio de 2016. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  10. Tâmara Smith (28 de abril de 2016). «Luana Barbosa dos Reis Santos, presente!». Parada SP. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  11. André Caramante (27 de abril de 2016). «Ouvidoria da Polícia pede providências sobre a morte de Luana Reis, espancada por PMs de SP». Ponte.org. Consultado em 18 de setembro de 2016 
  12. Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil (2 de maio de 2016). «Ato relembra tortura com fotos de presas políticas no antigo DOI-Codi». EBC. Consultado em 18 de setembro de 2016 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]