Cartucho (armas de fogo): diferenças entre revisões

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[[Imagem:Bulletfixed simplified.png|thumb|right|230px|Um [[Cartucho (arma de fogo)|cartucho]] moderno consiste de:<br>''1.'' o [[Estojo (munição)|estojo]], agregador das partes;<br>''2.'' a [[espoleta]], que acende o propelente;<br>''3.'' o [[propelente]], como a [[pólvora]];<br>''4.'' o [[projétil]] ou "[[Bala (projétil)|bala]]"]]


Um '''cartucho''' é a unidade de [[munição]] das armas de percussão e de retrocarga.<ref>RABELO, Eraldo. ''Balística Forense''. Porto Alegre: DC Luzzatto, ed. 3, p. 140, 1995.</ref>
Um '''cartucho''' é a unidade de [[munição]] das armas de [[Percussão (arma de fogo)|percussão]] e de [[retrocarga]].<ref>RABELO, Eraldo. ''Balística Forense''. Porto Alegre: DC Luzzatto, ed. 3, p. 140, 1995.</ref>

São quatro os principais elementos de um cartucho de munição de arma de fogo de [[Estriamento|cano raiado]], e de [[Cartucho de fogo central|percussão central]]:<ref>TOCCHETTO, Domingos. ''Balística Forense: Aspectos técnicos e jurídicos'', São Paulo: Millennium, ed. 5, p. 137, 2009.</ref>


São quatro os principais elementos de um cartucho de munição de arma de fogo raiada, e de percussão central:<ref>TOCCHETTO, Domingos. ''Balística Forense: Aspectos técnicos e jurídicos'', São Paulo: Millennium, ed. 5, p. 137, 2009.</ref>
# [[Estojo (munição)|Estojo]], que agrega os demais elementos
# [[Estojo (munição)|Estojo]], que agrega os demais elementos
# [[Espoleta]], que quando [[Percussor|percutida]] entra em ignição
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# [[Projétil]], ou "[[Bala (projétil)|bala]]" que vai ser impulsionado pelo cano da arma
# [[Projétil]], ou "[[Bala (projétil)|bala]]" que vai ser impulsionado pelo cano da arma


Nota: o estojo possui em sua base um "aro" que fornece o apoio para que o cartucho se encaixe na câmara da arma de fogo e um meio para ajudar na extração do cartucho já deflagrado, da mesma câmara.
Nota: o estojo possui em sua base um "aro" que fornece o apoio para que o cartucho se encaixe na [[Câmara (armas de fogo)|câmara da arma de fogo]] e um meio para ajudar na extração do cartucho já deflagrado, da mesma câmara.


Com esses elementos agregados, esse tipo de munição é pré-montado, e feito com precisão para caber na câmara do cano de uma arma de fogo, com o objetivo prático de transporte e manuseio convenientes durante o disparo.<ref name=Sparano>{{citar livro |ultimo=Sparano |primeiro=Vin T. |data=20-10-2000 |data-publicacao= |titulo=The Complete Outdoors Encyclopedia |obra= |url=https://books.google.com.br/books?id=iTX3BYBnOTcC&pg=PA37&redir_esc=y |lingua=inglês |editora=St. Martin's Press |pagina=37 |total-páginas=848 |isbn=978-0-31226-722-3 |acessodata=10-07-2020 }}</ref>
Com esses elementos agregados, esse tipo de munição é pré-montado, e feito com precisão para caber na câmara do [[Cano (armas de fogo)|cano de uma arma de fogo]], com o objetivo prático de transporte e manuseio convenientes durante o disparo.<ref name=Sparano>{{citar livro |ultimo=Sparano |primeiro=Vin T. |data=20-10-2000 |data-publicacao= |titulo=The Complete Outdoors Encyclopedia |obra= |url=https://books.google.com.br/books?id=iTX3BYBnOTcC&pg=PA37&redir_esc=y |lingua=inglês |editora=St. Martin's Press |pagina=37 |total-páginas=848 |isbn=978-0-31226-722-3 |acessodata=10-07-2020 }}</ref>


==Histórico==
== Histórico ==
[[Imagem:US paper to centerfire rounds.jpg|thumb|right|320px|Cartuchos dos EUA 1860–1875<br>
('''1''') Colt Army 1860 .44 cartucho de papel, Guerra Civil<br>
('''2''') Colt Thuer-Conversion cartucho .44, 1868<br>
('''3''') .44 Henry fogo circular ponta plana<br>
('''4''') .44 Henry fogo circular ponta cônica<br>
('''5''') Frankford Arsenal .45 Colt, ignição Benét<br>
('''6''') Frankford Arsenal .45 Colt-Schofield, ignição Benét]]


===Antecedentes===
=== Antecedentes ===
Os [[Cartucho de papel|cartuchos de papel]] são usados há séculos, com várias fontes datando de seu uso desde o final do [[século XIV]] e início do [[século XV]]. Os historiadores observam seu uso por soldados de [[Cristiano I, Eleitor da Saxônia]] e seu filho no final do [[século XVI]],<ref name=greener>{{Citation |titulo=The Gun and Its Development |capítulo=Ammunition and Accessories.–Cartridges |primeiro=William Wellington |último=Greener |ano=1907 |publicado=Cassell |url=https://books.google.com.br/books?id=3HMCAAAAYAAJ |páginas=570, 589 |acessodata=2021-04-22 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150322023527/http://books.google.com/books?id=3HMCAAAAYAAJ |arquivodata=2015-03-22 }}</ref><ref name=Nickel>{{citar livro |ultimo=Nickel |primeiro=Helmut |ultimo2=Pyhrr |primeiro2=Stuart W. |ultimo3=Tarassuk |primeiro3=Leonid |data=1982 |data-publicacao= |titulo=The Art of Chivalry: European Arms and Armor from the Metropolitan Museum of Art : an Exhibition |obra= |edição=ilustrada |url=https://books.google.com.br/books?id=3BZvJXJ4qRUC |lingua=inglês |editora=Metropolitan Museum of Art |pagina=174 |total-páginas=179 |isbn=978-0-91741-867-9 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> enquanto o [[Arsenal de Dresden]] tem evidências que datam seu uso até [[1591]].<ref name=greener/><ref name=Rudolph>{{citar periódico |último=Public Museum |primeiro=City of Milwaukee |data=1928 |título=The Rudolph J. Nunnemacher Collection of Projectile Arms |url= |periódico=Bulletin of the Public Museum of the City of Milwaukee |editora=Public Museum of the City of Milwaukee |volume=9 |pagina=60 |acessodata=}}</ref> Capo Bianco escreveu em [[1597]] que os cartuchos de papel há muito eram usados pelos soldados napolitanos. Seu uso se generalizou no [[século XVII]].<ref name=greener/> A munição de [[1586]] consistiu em uma carga de pólvora e uma bala em um cartucho de papel. O papel espesso ainda é conhecido como ''"cartridge paper"'' ("papel de cartucho") devido ao seu uso nesses cartuchos.<ref name=lexico01>{{citar web |url=https://www.lexico.com/definition/cartridge_paper |título=cartridge paper |publicado=Lexico.com |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Outra fonte afirma que o cartucho apareceu em [[1590]].<ref name="ArmyTM">{{Citation |último=U.S. Army |titulo=Military Explosives |publicado=Department of the Army |series=Technical Manual |páginas=2–3 |id=TM 9-1300-214 |data=Setembro de 1984 |citação=...stating 1590. Cartridges with ball and power combined were introduced for small arms. }}</ref> O rei Gustavo Adolfo da Suécia fez com que suas tropas usassem cartuchos em [[1600]].<ref>{{Harvnb|U.S. Army|1984|pp=2–3}} indica o período de 1611-1632 e afirma que o cartucho aprimorado aumentou a taxa de tiro durante a [[Guerra dos Trinta Anos]].</ref> O papel formava um cilindro com pontas torcidas; a bala estava em uma extremidade e a pólvora medida preenchia o restante.<ref>{{Citation |último=Sharpe |primeiro=Philip B. |ano=1938 |titulo=The Rifle in America |capítulo=The Development of the Cartridge |páginas=29–30 |local=New York |publicado=William Morrow }}</ref>


[[Imagem:Festungsmuseum Reuenthal Sonderausstellung Zuleger britische Patronen.JPG|thumb|right|320px|<center>Cartuchos históricos britânicos.</center>]]
[[Imagem:Chassepot paper cartridge.jpg|thumb|right|320px|<center>[[Cartucho de papel]] para o [[fuzil Chassepot]] (1866).</center>]]


Os [[Cartucho de papel|cartuchos de papel]] são usados há séculos, com várias fontes datando de seu uso desde o final do [[século XIV]] e início do [[século XV]]. Os historiadores observam seu uso por [[soldado]]s de [[Cristiano I, Eleitor da Saxônia]] e seu filho no final do [[século XVI]],<ref name=greener>{{Citation |titulo=The Gun and Its Development |capítulo=Ammunition and Accessories.–Cartridges |primeiro=William Wellington |último=Greener |ano=1907 |publicado=Cassell |url=https://books.google.com.br/books?id=3HMCAAAAYAAJ |páginas=570, 589 |acessodata=2021-04-22 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150322023527/http://books.google.com/books?id=3HMCAAAAYAAJ |arquivodata=2015-03-22 }}</ref><ref name=Nickel>{{citar livro |ultimo=Nickel |primeiro=Helmut |ultimo2=Pyhrr |primeiro2=Stuart W. |ultimo3=Tarassuk |primeiro3=Leonid |data=1982 |data-publicacao= |titulo=The Art of Chivalry: European Arms and Armor from the Metropolitan Museum of Art : an Exhibition |obra= |edição=ilustrada |url=https://books.google.com.br/books?id=3BZvJXJ4qRUC |lingua=inglês |editora=Metropolitan Museum of Art |pagina=174 |total-páginas=179 |isbn=978-0-91741-867-9 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> enquanto o [[Arsenal de Dresden]] tem evidências que datam seu uso até [[1591]].<ref name=greener/><ref name=Rudolph>{{citar periódico |último=Public Museum |primeiro=City of Milwaukee |data=1928 |título=The Rudolph J. Nunnemacher Collection of Projectile Arms |url= |periódico=Bulletin of the Public Museum of the City of Milwaukee |editora=Public Museum of the City of Milwaukee |volume=9 |pagina=60 |acessodata=}}</ref> Capo Bianco escreveu em [[1597]] que os cartuchos de papel há muito eram usados pelos soldados napolitanos. Seu uso se generalizou no [[século XVII]].<ref name=greener/> A [[munição]] de [[1586]] consistiu em uma carga de [[pólvora]] e uma [[bala (projétil)|bala]] em um cartucho de papel. O papel espesso ainda é conhecido como ''"cartridge paper"'' ("papel de cartucho") devido ao seu uso nesses cartuchos.<ref name=lexico01>{{citar web |url=https://www.lexico.com/definition/cartridge_paper |título=cartridge paper |publicado=Lexico.com |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Outra fonte afirma que o cartucho apareceu em [[1590]].<ref name="ArmyTM">{{Citation |último=U.S. Army |titulo=Military Explosives |publicado=Department of the Army |series=Technical Manual |páginas=2–3 |id=TM 9-1300-214 |data=Setembro de 1984 |citação=...stating 1590. Cartridges with ball and power combined were introduced for small arms. }}</ref> O rei [[Gustavo II Adolfo da Suécia]] fez com que suas tropas usassem cartuchos em [[1600]].<ref>{{Harvnb|U.S. Army|1984|pp=2–3}} indica o período de 1611-1632 e afirma que o cartucho aprimorado aumentou a taxa de tiro durante a [[Guerra dos Trinta Anos]].</ref> O papel formava um cilindro com pontas torcidas; a bala estava em uma extremidade e a pólvora medida preenchia o restante.<ref>{{Citation |último=Sharpe |primeiro=Philip B. |ano=1938 |titulo=The Rifle in America |capítulo=The Development of the Cartridge |páginas=29–30 |local=New York |publicado=William Morrow }}</ref>
Este cartucho foi usado com armas de fogo militares por [[antecarga]], provavelmente mais frequentemente do que para tiro esportivo, a base do cartucho sendo arrancada ou mordida pelo soldado, a pólvora sendo derramada no cano e o papel e a bala inseridos na sequência.<ref>{{harvnb|Greener|1907|p=570}}</ref> No cartucho da era da Guerra Civil, o papel deveria ser descartado, mas os soldados costumavam usá-lo como uma [[Bucha (armas de fogo)|bucha]].<ref>{{harvnb|Sharpe|1938|p=30}}</ref> Para acender a carga, uma etapa adicional era necessária, onde pólvora de granulação mais fina, chamada ''"priming powder"'', era derramado na "[[Mecanismo de pederneira#Visão geral|caçoleta]]" da arma para ser aceso pelo [[Mecanismo de pederneira|mecanismo de disparo]].


Este cartucho foi usado com armas de fogo militares por [[antecarga]], provavelmente mais frequentemente do que para [[tiro esportivo]], a base do cartucho sendo arrancada ou mordida pelo soldado, a pólvora sendo derramada no cano e o papel e a bala inseridos na sequência.<ref>{{harvnb|Greener|1907|p=570}}</ref> No cartucho da era da Guerra Civil, o papel deveria ser descartado, mas os soldados costumavam usá-lo como uma [[Bucha (armas de fogo)|bucha]].<ref>{{harvnb|Sharpe|1938|p=30}}</ref> Para acender a carga, uma etapa adicional era necessária, onde pólvora de granulação mais fina, chamada ''"priming powder"'', era derramado na "[[Mecanismo de pederneira#Visão geral|caçoleta]]" da arma para ser aceso pelo [[Mecanismo de pederneira|mecanismo de disparo]].
A evolução da natureza da guerra exigia uma arma de fogo que pudesse carregar e disparar mais rapidamente, resultando no mosquete de [[pederneira]] (e mais tarde no [[rifle Baker]]), no qual a caçoleta era coberta por uma pequena tampa aço. Este era atingido pela pederneira e disparava a arma. No decorrer do carregamento, uma pitada de pólvora do cartucho seria colocada na caçoleta como espoleta, antes que o resto do cartucho fosse empurrado pelo cano, fornecendo carga (bala) e bucha.<ref name=Scott>{{citar livro |ultimo=Scott |primeiro=Christopher L. |ultimo2=Turton |primeiro2=Alan |ultimo3=von Arni |primeiro3=Eric Gruber |data=2006 |data-publicacao=01/07/2006 |titulo=Edgehill: The Battle Reinterpreted |obra= |edição=ilustrada, reimpressão |url=https://books.google.com.br/books/?id=_9tV6FSY-KsC |lingua=inglês |editora=Casemate Publishers |páginas=9–12 |total-páginas=224 |isbn=978-1-84415-254-4 |acessodata=22-04-2021 }}</ref>


[[Imagem:Lebel 8mm round.jpg|thumb|right|350px|O cartucho [[8 mm Lebel]], desenvolvido em [[1886]], primeiro cartucho usando [[pólvora sem fumaça]] fabricado e adotado por qualquer país.]]
Desenvolvimentos posteriores tornaram este método de ignição desnecessário, já que, no carregamento, uma porção da carga de pólvora passava do cano através do respiradouro para a caçoleta, onde era mantida pela tampa e pelo cão.

A evolução da natureza da guerra exigia uma arma de fogo que pudesse carregar e disparar mais rapidamente, resultando no [[mosquete]] de [[pederneira]] (e mais tarde no [[rifle Baker]]), no qual a caçoleta era coberta por uma pequena tampa aço. Este era atingido pela pederneira e disparava a arma. No decorrer do carregamento, uma pitada de pólvora do cartucho seria colocada na caçoleta como espoleta, antes que o resto do cartucho fosse empurrado pelo cano, fornecendo carga (bala) e bucha.<ref name=Scott>{{citar livro |ultimo=Scott |primeiro=Christopher L. |ultimo2=Turton |primeiro2=Alan |ultimo3=von Arni |primeiro3=Eric Gruber |data=2006 |data-publicacao=01/07/2006 |titulo=Edgehill: The Battle Reinterpreted |obra= |edição=ilustrada, reimpressão |url=https://books.google.com.br/books/?id=_9tV6FSY-KsC |lingua=inglês |editora=Casemate Publishers |páginas=9–12 |total-páginas=224 |isbn=978-1-84415-254-4 |acessodata=22-04-2021 }}</ref>

Desenvolvimentos posteriores tornaram este método de ignição desnecessário, já que, no carregamento, uma porção da carga de pólvora passava do cano através do respiradouro para a caçoleta, onde era mantida pela tampa e pelo [[cão (arma de fogo)|cão]].


O próximo avanço importante no método de ignição foi a introdução da [[espoleta de percussão]] de cobre. Seu uso só se generalizou quando foi aplicado ao mosquete militar britânico (o [[Brown Bess]]) em [[1842]], um quarto de século após a invenção da "pólvora de percussão" e após um elaborado teste governamental em Woolwich em [[1834]]. A invenção que tornou possível a espoleta de percussão foi patenteada pelo Rev. AJ Forsyth em [[1807]] e consistia na preparação de um "pó fulminante" feito de [[clorato de potássio]], [[enxofre]] e [[carvão]], que se inflamava por concussão. Esta invenção foi desenvolvida gradualmente e usada, primeiro em uma "tampa" de [[aço]] e, em seguida, em uma "tampa" de [[cobre]], por vários fabricantes de armas e particulares antes de entrar em uso militar generalizado quase trinta anos depois.
O próximo avanço importante no método de ignição foi a introdução da [[espoleta de percussão]] de cobre. Seu uso só se generalizou quando foi aplicado ao mosquete militar britânico (o [[Brown Bess]]) em [[1842]], um quarto de século após a invenção da "pólvora de percussão" e após um elaborado teste governamental em Woolwich em [[1834]]. A invenção que tornou possível a espoleta de percussão foi patenteada pelo Rev. AJ Forsyth em [[1807]] e consistia na preparação de um "pó fulminante" feito de [[clorato de potássio]], [[enxofre]] e [[carvão]], que se inflamava por concussão. Esta invenção foi desenvolvida gradualmente e usada, primeiro em uma "tampa" de [[aço]] e, em seguida, em uma "tampa" de [[cobre]], por vários fabricantes de armas e particulares antes de entrar em uso militar generalizado quase trinta anos depois.


A alteração da [[pederneira]] militar para o mosquete de percussão foi facilmente realizada substituindo a caçoleta de pólvora por um bico perfurado e substituindo a pinça do cão que segurava a pederneira por um pequeno "martelo" que tinha uma cavidade para encaixar no bico quando liberado pelo gatilho. O atirador colocava uma "tampa" de percussão (cuja substância fulminante era agora feita de três partes de [[clorato de potássio]], duas de [[fulminato de mercúrio]] e vidro em pó) no bico ("ouvido"). A "tampa" detonante assim inventada ([[espoleta de percussão]]) e adotada deu origem à invenção do moderno estojo de cartucho e tornou possível a adoção geral do princípio de carregamento pela culatra ([[retrocarga]]) para todas as variedades de rifles, espingardas e pistolas. Isso simplificou muito o procedimento de recarga e abriu o caminho para armas de fogo semiautomáticas e totalmente automáticas.
A alteração da [[pederneira]] militar para o mosquete de percussão foi facilmente realizada substituindo a caçoleta de pólvora por um bico perfurado e substituindo a pinça do cão que segurava a pederneira por um pequeno "martelo" que tinha uma cavidade para encaixar no bico quando liberado pelo [[gatilho]]. O [[atirador]] colocava uma "tampa" de percussão (cuja substância fulminante era agora feita de três partes de [[clorato de potássio]], duas de [[fulminato de mercúrio]] e vidro em pó) no bico ("ouvido"). A "tampa" detonante assim inventada ([[espoleta de percussão]]) e adotada deu origem à invenção do moderno estojo de cartucho e tornou possível a adoção geral do princípio de carregamento pela culatra ([[retrocarga]]) para todas as variedades de [[rifle]]s, [[espingarda]]s e [[pistola]]s. Isso simplificou muito o procedimento de recarga e abriu o caminho para armas de fogo [[Arma semiautomática|semiautomáticas]] e totalmente [[Arma automática|automáticas]].


No entanto, esse grande salto à frente teve um preço: introduziu um componente extra em cada cartucho - o [[Estojo (munição)|estojo]] - que devia ser removido antes que a arma pudesse ser recarregada. Enquanto uma pederneira, por exemplo, está imediatamente pronta para recarregar depois de disparada, a adoção de estojos de cartucho de latão trazia problemas de extração e ejeção. O mecanismo de uma arma moderna não deve apenas carregar e disparar a peça, mas também fornecer um método de remoção do estojo do cartucho deflagrado, o que pode exigir o mesmo número de peças móveis adicionais. Muitos problemas de funcionamento ocorrem durante este processo, seja por uma falha em extrair um estojo corretamente da câmara ou permitindo que o estojo extraído bloqueie o mecanismo de ação. Os inventores do [[século XIX]] estavam relutantes em aceitar essa complicação adicional e experimentaram uma variedade de cartuchos sem estojo ou "autoconsumíveis" antes de finalmente aceitar que as vantagens dos estojos de latão superavam em muito essas desvantagens.<ref name=Winant>{{citar livro |ultimo=Winant |primeiro=Lewis |data=1970 |data-publicacao=1959 |titulo=Early Percussion Firearms: A History of Early Percussion Ignition - from Forsyth to Winchester .44/40 |obra= |url= |lingua=inglês |editora=Spring Books |páginas=145–146 |total-páginas=190 |isbn=978-0-60033-015-8 |acessodata=}}</ref>
No entanto, esse grande salto à frente teve um preço: introduziu um componente extra em cada cartucho - o [[Estojo (munição)|estojo]] - que devia ser removido antes que a arma pudesse ser recarregada. Enquanto uma pederneira, por exemplo, está imediatamente pronta para recarregar depois de disparada, a adoção de estojos de cartucho de [[latão]] trazia problemas de extração e ejeção. O mecanismo de uma arma moderna não deve apenas carregar e disparar a peça, mas também fornecer um método de remoção do estojo do cartucho deflagrado, o que pode exigir o mesmo número de peças móveis adicionais. Muitos problemas de funcionamento ocorrem durante este processo, seja por uma falha em extrair um estojo corretamente da câmara ou permitindo que o estojo extraído bloqueie o mecanismo de [[ação (arma de fogo)|ação]]. Os inventores do [[século XIX]] estavam relutantes em aceitar essa complicação adicional e experimentaram uma variedade de cartuchos sem estojo ou "autoconsumíveis" antes de finalmente aceitar que as vantagens dos estojos de latão superavam em muito essas desvantagens.<ref name=Winant>{{citar livro |ultimo=Winant |primeiro=Lewis |data=1970 |data-publicacao=1959 |titulo=Early Percussion Firearms: A History of Early Percussion Ignition - from Forsyth to Winchester .44/40 |obra= |url= |lingua=inglês |editora=Spring Books |páginas=145–146 |total-páginas=190 |isbn=978-0-60033-015-8 |acessodata=}}</ref>


===Cartuchos integrados===
=== Cartuchos integrados ===

[[Imagem:Chassepot paper cartridge.jpg|thumb|right|320px|<center>[[Cartucho de papel]] para o [[fuzil Chassepot]] (1866).</center>]]
[[Imagem:US paper to centerfire rounds.jpg|thumb|right|320px|Cartuchos dos EUA 1860–1875<br>
('''1''') Colt Army 1860 .44 cartucho de papel, Guerra Civil<br>
('''2''') Colt Thuer-Conversion cartucho .44, 1868<br>
('''3''') .44 Henry fogo circular ponta plana<br>
('''4''') .44 Henry fogo circular ponta cônica<br>
('''5''') Frankford Arsenal .45 Colt, ignição Benét<br>
('''6''') Frankford Arsenal .45 Colt-Schofield, ignição Benét]]
[[Imagem:Centerfire & rimfire ignition.gif|thumb|right|320px|Comparação da detonação de [[Cartucho de fogo central|cartuchos de fogo central]] (esquerda e centro, com espoleta) e de um [[cartucho de fogo circular]] (sem espoleta, na direita).]]


O primeiro cartucho integrado foi desenvolvido em Paris em [[1808]] pelo armeiro suíço [[Jean Samuel Pauly]] em associação com o armeiro francês [[François Prélat]]. Pauly criou os primeiros cartuchos totalmente independentes:<ref name="Smyth">{{citar livro |ultimo=Wallace |primeiro=James Smyth |data=2018 |data-publicacao=04/06/2018 |titulo=Chemical Analysis of Firearms, Ammunition, and Gunshot Residue |obra= |edição=2.ª, ilustrada |url=https://books.google.com.br/books?id=35peDwAAQBAJ |lingua=inglês |editora=CRC Press |pagina=24 |total-páginas=355 |isbn=978-1-35164-928-5 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> os cartuchos incorporavam uma base de cobre com fulminato de mercúrio como substância de ignição (a principal inovação de Pauly), uma bala redonda e um invólucro de [[latão]] ou [[papel]].<ref name="sil.si.edu">{{citar web |url=https://web.archive.org/web/20151119200042/http://www.sil.si.edu/smithsoniancontributions/HistoryTechnology/pdf_hi/SSHT-0011.pdf |título=Small Arms Ammunition at the International Exposition Philadelphia, 1876 |publicado=Smithsonian Institution Press |autor=Berkeley R. Lewis |data=1972 |acessodata=22-04-2021 }}</ref><ref name="Pauly">{{citar livro |ultimo=Pauly |primeiro=Roger A. |data=2004 |data-publicacao= |titulo=Firearms: The Life Story of a Technology |obra= |edição=ilustrada |url=https://books.google.com.br/books/?id=izGOfMdSm2IC |lingua=inglês |editora=Greenwood Publishing Group |pagina=94 |total-páginas=180 |isbn=978-0-31332-796-4 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> O cartucho era carregado pela culatra e disparado com uma "agulha". A arma de carregamento pela culatra ativada por "[[Fuzil de agulha|agulha]]" se tornaria uma característica importante das armas de fogo depois disso.<ref name=Carman>{{citar livro |ultimo=Carman |primeiro=W. Y. |data=2004 |data-publicacao= |titulo=A History of Firearms: From Earliest Times to 1914 |obra= |edição=ilustrada, integral, reimpressão |url=https://books.google.com.br/books?id=GmQVan-M3ykC |lingua=inglês |editora=Dover Publications |pagina=121 |total-páginas=207 |isbn=978-0-48643-390-5 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Pauly fez uma versão melhorada, protegida por uma patente, em 29 de setembro de [[1812]].<ref name="Smyth"/>
O primeiro cartucho integrado foi desenvolvido em [[Paris]] em [[1808]] pelo [[armeiro]] suíço [[Jean Samuel Pauly]] em associação com o armeiro francês [[François Prélat]]. Pauly criou os primeiros cartuchos totalmente independentes:<ref name="Smyth">{{citar livro |ultimo=Wallace |primeiro=James Smyth |data=2018 |data-publicacao=04/06/2018 |titulo=Chemical Analysis of Firearms, Ammunition, and Gunshot Residue |obra= |edição=2.ª, ilustrada |url=https://books.google.com.br/books?id=35peDwAAQBAJ |lingua=inglês |editora=CRC Press |pagina=24 |total-páginas=355 |isbn=978-1-35164-928-5 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> os cartuchos incorporavam uma base de [[cobre]] com [[fulminato de mercúrio]] como substância de ignição (a principal inovação de Pauly), uma bala redonda e um invólucro de [[latão]] ou [[papel]].<ref name="sil.si.edu">{{citar web |url=https://web.archive.org/web/20151119200042/http://www.sil.si.edu/smithsoniancontributions/HistoryTechnology/pdf_hi/SSHT-0011.pdf |título=Small Arms Ammunition at the International Exposition Philadelphia, 1876 |publicado=Smithsonian Institution Press |autor=Berkeley R. Lewis |data=1972 |acessodata=22-04-2021 }}</ref><ref name="Pauly">{{citar livro |ultimo=Pauly |primeiro=Roger A. |data=2004 |data-publicacao= |titulo=Firearms: The Life Story of a Technology |obra= |edição=ilustrada |url=https://books.google.com.br/books/?id=izGOfMdSm2IC |lingua=inglês |editora=Greenwood Publishing Group |pagina=94 |total-páginas=180 |isbn=978-0-31332-796-4 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> O cartucho era carregado pela culatra e disparado com uma "agulha". A arma de carregamento pela culatra ativada por "[[Fuzil de agulha|agulha]]" se tornaria uma característica importante das armas de fogo depois disso.<ref name=Carman>{{citar livro |ultimo=Carman |primeiro=W. Y. |data=2004 |data-publicacao= |titulo=A History of Firearms: From Earliest Times to 1914 |obra= |edição=ilustrada, integral, reimpressão |url=https://books.google.com.br/books?id=GmQVan-M3ykC |lingua=inglês |editora=Dover Publications |pagina=121 |total-páginas=207 |isbn=978-0-48643-390-5 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Pauly fez uma versão melhorada, protegida por uma [[patente]], em 29 de setembro de [[1812]].<ref name="Smyth"/>


Provavelmente, nenhuma invenção relacionada com armas de fogo produziu tais mudanças no princípio da construção da arma como aquelas efetuadas pelo "cartucho de estojo expansivo". Esta invenção revolucionou completamente a arte da fabricação de armas, foi aplicada com sucesso a todas as descrições de armas de fogo e produziu uma nova e importante indústria: a de fabricação de cartuchos. Sua característica essencial é evitar que o gás escape da culatra ao disparar a arma, por meio de um cartucho de estojo expansivo contendo seu próprio meio de ignição. Antes desta invenção, escopetas e espingardas desportivas eram carregadas por meio de frascos de pólvora e sacos ou frascos de chumbo, balas, buchas e espoletas de cobre, todos transportados separadamente. Um dos primeiros estojos de cartucho modernos eficientes foi o "[[cartucho de espiga]]", desenvolvido pelo armeiro francês [[Casimir Lefaucheux]] em [[1836]].<ref name="Pistols">{{citar livro |ultimo=Kinard |primeiro=Jeff |data=2003 |data-publicacao= |titulo=Pistols: An Illustrated History of Their Impact |obra= |edição=ilustrada |url=https://books.google.com.br/books?id=ZVnuHX_6bG0C |lingua=inglês |editora=ABC-CLIO |pagina=109 |total-páginas=397 |isbn=978-1-85109-470-7 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Consistia em uma casca fina e fraca feita de latão e papel que se expandia com a força da explosão; com isso se encaixava perfeitamente no cano, formando uma vedação de gás eficiente. Uma pequena espoleta de percussão era colocada no meio da base desse cartucho e era acesa pelo impacto de um pino de latão que se projetava da lateral do estojo e era atingido pelo cão. Este pino também possibilitava a extração do estojo do cartucho. Este cartucho foi introduzido na Inglaterra por Lang, de Cockspur Street, Londres, por volta de [[1845]].
Provavelmente, nenhuma invenção relacionada com armas de fogo produziu tais mudanças no princípio da construção da arma como aquelas efetuadas pelo "cartucho de estojo expansivo". Esta invenção revolucionou completamente a arte da fabricação de armas, foi aplicada com sucesso a todas as descrições de armas de fogo e produziu uma nova e importante indústria: a de fabricação de cartuchos. Sua característica essencial é evitar que o gás escape da culatra ao disparar a arma, por meio de um cartucho de estojo expansivo contendo seu próprio meio de ignição. Antes desta invenção, escopetas e espingardas desportivas eram carregadas por meio de frascos de pólvora e sacos ou frascos de chumbo, balas, buchas e espoletas de cobre, todos transportados separadamente. Um dos primeiros estojos de cartucho modernos eficientes foi o "[[cartucho de espiga]]", desenvolvido pelo armeiro francês [[Casimir Lefaucheux]] em [[1836]].<ref name="Pistols">{{citar livro |ultimo=Kinard |primeiro=Jeff |data=2003 |data-publicacao= |titulo=Pistols: An Illustrated History of Their Impact |obra= |edição=ilustrada |url=https://books.google.com.br/books?id=ZVnuHX_6bG0C |lingua=inglês |editora=ABC-CLIO |pagina=109 |total-páginas=397 |isbn=978-1-85109-470-7 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Consistia em uma casca fina e fraca feita de latão e papel que se expandia com a força da explosão; com isso se encaixava perfeitamente no cano, formando uma vedação de gás eficiente. Uma pequena espoleta de percussão era colocada no meio da base desse cartucho e era acesa pelo impacto de um pino de latão que se projetava da lateral do estojo e era atingido pelo cão. Este pino também possibilitava a extração do estojo do cartucho. Este cartucho foi introduzido na Inglaterra por Lang, de Cockspur Street, Londres, por volta de [[1845]].
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Na [[Guerra Civil Americana]] (1861-65), um rifle de carregamento pela culatra, o [[Rifle Sharps|Sharps]], foi introduzido e produzido em grande número. Ele podia ser carregado tanto com uma ''"[[musketball]]"'' quanto com um [[cartucho de papel]]. Depois dessa guerra, muitos foram convertidos ao uso de cartuchos de metal. O desenvolvimento pela [[Smith & Wesson]] (entre muitos outros) de [[revólver]]es que usavam cartuchos de metal ajudou a estabelecer armas de fogo de cartucho como o padrão nos [[Estados Unidos]] no final da década de [[1860]] e início da década de [[1870]], embora muitos continuem a usar revólveres de percussão bem depois disso.<ref name=cabelas>{{citar web |url=https://www.cabelas.com/shop/en/SearchDisplay?categoryId=&storeId=10651&catalogId=10551&searchTerm=black+powder+pistols |título=Cabela's still sells black powder pistols; remain in use for hunting |publicado=Cabela's L.L.C. |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref>
Na [[Guerra Civil Americana]] (1861-65), um rifle de carregamento pela culatra, o [[Rifle Sharps|Sharps]], foi introduzido e produzido em grande número. Ele podia ser carregado tanto com uma ''"[[musketball]]"'' quanto com um [[cartucho de papel]]. Depois dessa guerra, muitos foram convertidos ao uso de cartuchos de metal. O desenvolvimento pela [[Smith & Wesson]] (entre muitos outros) de [[revólver]]es que usavam cartuchos de metal ajudou a estabelecer armas de fogo de cartucho como o padrão nos [[Estados Unidos]] no final da década de [[1860]] e início da década de [[1870]], embora muitos continuem a usar revólveres de percussão bem depois disso.<ref name=cabelas>{{citar web |url=https://www.cabelas.com/shop/en/SearchDisplay?categoryId=&storeId=10651&catalogId=10551&searchTerm=black+powder+pistols |título=Cabela's still sells black powder pistols; remain in use for hunting |publicado=Cabela's L.L.C. |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref>


===Cartuchos metálicos===
=== Cartuchos metálicos ===

[[Imagem:Snider-Martini-Enfield Cartridges.JPG|thumb|right|350px|Da esquerda p/ a direita: um [[.577 Snider]] (1867), um [[.577/450 Martini–Henry]] (1871), um .577/450 [[Martini-Henry]] de latão estampado, e um [[.303 British]] Mk VII SAA Ball.]]
[[Imagem:Snider-Martini-Enfield Cartridges.JPG|thumb|right|350px|Da esquerda p/ a direita: um [[.577 Snider]] (1867), um [[.577/450 Martini–Henry]] (1871), um .577/450 [[Martini-Henry]] de latão estampado, e um [[.303 British]] Mk VII SAA Ball.]]
[[Imagem:Festungsmuseum Reuenthal Sonderausstellung Zuleger britische Patronen.JPG|thumb|right|320px|<center>Cartuchos históricos britânicos.</center>]]
[[Imagem:Fusil Gras M80 1874 metallic cartridge.jpg|thumb|right|350px|Cartucho do [[fusil Gras mle 1874]] da [[Armée de terre]].]]
[[Imagem:Bulletfixed simplified.png|thumb|right|230px|Um [[Cartucho (arma de fogo)|cartucho]] moderno consiste de:<br>''1.'' o [[Estojo (munição)|estojo]], agregador das partes;<br>''2.'' a [[espoleta]], que acende o propelente;<br>''3.'' o [[propelente]], como a [[pólvora]];<br>''4.'' o [[projétil]] ou "[[Bala (projétil)|bala]]"]]


A maioria dos primeiros cartuchos totalmente metálicos eram do tipo "[[Cartucho de espiga|de espiga]]" e [[Cartucho de fogo circular|de fogo circular]]. O primeiro cartucho metálico [[Cartucho de fogo central|de fogo central]] foi inventado por [[Jean Samuel Pauly]] nas primeiras décadas do [[século XIX]]. No entanto, embora tenha sido o primeiro cartucho a usar uma forma de vedação, uma característica essencial de um cartucho de carregamento por culatra bem-sucedido, Pauly morreu antes de ser convertido para ignição por espoleta de percussão.
A maioria dos primeiros cartuchos totalmente metálicos eram do tipo "[[Cartucho de espiga|de espiga]]" e [[Cartucho de fogo circular|de fogo circular]]. O primeiro cartucho metálico [[Cartucho de fogo central|de fogo central]] foi inventado por [[Jean Samuel Pauly]] nas primeiras décadas do [[século XIX]]. No entanto, embora tenha sido o primeiro cartucho a usar uma forma de vedação, uma característica essencial de um cartucho de carregamento por culatra bem-sucedido, Pauly morreu antes de ser convertido para ignição por espoleta de percussão.
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O francês [[Louis-Nicolas Flobert]] inventou o primeiro cartucho metálico de fogo circular em [[1845]]. Seu cartucho consistia em uma espoleta de percussão com uma bala presa ao topo.<ref name=Harry01>{{citar web |url=https://www.firearmsadvantage.com/history_of_firearms.html |título=History Of Firearms |publicado=firearmsadvantage.com |autor=Harry |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref><ref name=Harry02>{{citar web |url=https://www.firearmsadvantage.com/how_guns_work.html |título=How Guns Work |publicado=firearmsadvantage.com |autor=Harry |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Flobert então fez o que ele chamou de "[[Arma de salão|armas de salão]]" para este cartucho, já que esses rifles e pistolas foram projetados para serem disparados em salas de tiro internas em grandes casas.<ref name=Flayderman>{{citar livro |ultimo=Flayderman |primeiro=Norm |data=2007 |data-publicacao=17/12/2007 |titulo=Flayderman's Guide to Antique American Firearms and Their Values |obra= |edição=9.ª |url= |lingua=inglês |editora=Gun Digest Books |pagina=175 |total-páginas=752 |isbn= 978-0-89689-455-6 |acessodata=}}</ref><ref name="BarnesBodinson2009">{{citar livro |ultimo=Barnes |primeiro=Frank C. |data=2009 |data-publicacao=20/10/2009 |titulo=Cartridges of the World |obra= |edição=12ª |url= |capitulo=American Rimfire Cartridges |lingua=inglês |editora=Gun Digest Books |pagina=441 |total-páginas=568 |isbn=978-0-89689-936-0 |acessodata=}}</ref> Esses cartuchos [[6mm Flobert]] não continham pólvora. A única substância propelente contida no cartucho é a da [[espoleta de percussão]].<ref name=rqbsrs>{{citar web |url=http://www.arquebusiers.be/section-tir.htm |título=La section de Tir |publicado=Francs Arquebusiers |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Em países de língua inglesa, o cartucho "6mm Flobert" corresponde a munições [[.22 BB Cap]] e [[.22 CB Cap]]. Esses cartuchos têm uma [[velocidade de saída]] relativamente baixa de cerca de 700 pés/s (210&nbsp;m/s).<ref name=Barnes2006>{{citar livro |ultimo=Barnes |primeiro=Frank C. |data=2006 |data-publicacao=24/07/2006 |titulo=Cartridges of the World |obra= |edição=11.ª |url=https://books.google.com.br/books?id=-a1nuQEACAAJ |lingua=inglês |editora=Krause Publications |páginas=480 |total-páginas=552 |isbn=978-0-89689-297-2 |acessodata=22-04-2021 }}</ref>
O francês [[Louis-Nicolas Flobert]] inventou o primeiro cartucho metálico de fogo circular em [[1845]]. Seu cartucho consistia em uma espoleta de percussão com uma bala presa ao topo.<ref name=Harry01>{{citar web |url=https://www.firearmsadvantage.com/history_of_firearms.html |título=History Of Firearms |publicado=firearmsadvantage.com |autor=Harry |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref><ref name=Harry02>{{citar web |url=https://www.firearmsadvantage.com/how_guns_work.html |título=How Guns Work |publicado=firearmsadvantage.com |autor=Harry |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Flobert então fez o que ele chamou de "[[Arma de salão|armas de salão]]" para este cartucho, já que esses rifles e pistolas foram projetados para serem disparados em salas de tiro internas em grandes casas.<ref name=Flayderman>{{citar livro |ultimo=Flayderman |primeiro=Norm |data=2007 |data-publicacao=17/12/2007 |titulo=Flayderman's Guide to Antique American Firearms and Their Values |obra= |edição=9.ª |url= |lingua=inglês |editora=Gun Digest Books |pagina=175 |total-páginas=752 |isbn= 978-0-89689-455-6 |acessodata=}}</ref><ref name="BarnesBodinson2009">{{citar livro |ultimo=Barnes |primeiro=Frank C. |data=2009 |data-publicacao=20/10/2009 |titulo=Cartridges of the World |obra= |edição=12ª |url= |capitulo=American Rimfire Cartridges |lingua=inglês |editora=Gun Digest Books |pagina=441 |total-páginas=568 |isbn=978-0-89689-936-0 |acessodata=}}</ref> Esses cartuchos [[6mm Flobert]] não continham pólvora. A única substância propelente contida no cartucho é a da [[espoleta de percussão]].<ref name=rqbsrs>{{citar web |url=http://www.arquebusiers.be/section-tir.htm |título=La section de Tir |publicado=Francs Arquebusiers |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Em países de língua inglesa, o cartucho "6mm Flobert" corresponde a munições [[.22 BB Cap]] e [[.22 CB Cap]]. Esses cartuchos têm uma [[velocidade de saída]] relativamente baixa de cerca de 700 pés/s (210&nbsp;m/s).<ref name=Barnes2006>{{citar livro |ultimo=Barnes |primeiro=Frank C. |data=2006 |data-publicacao=24/07/2006 |titulo=Cartridges of the World |obra= |edição=11.ª |url=https://books.google.com.br/books?id=-a1nuQEACAAJ |lingua=inglês |editora=Krause Publications |páginas=480 |total-páginas=552 |isbn=978-0-89689-297-2 |acessodata=22-04-2021 }}</ref>


O armeiro francês [[Benjamin Houllier]] melhorou o [[cartucho Lefaucheux]] de papelão e o patenteou em Paris em [[1846]], o primeiro cartucho totalmente metálico contendo pólvora (e uma espiga), em um cartucho metálico.<ref name="Pistols"/><ref name=trabuc>{{citar web |url=https://web.archive.org/web/20131008064628/http://trabuc.perso.sfr.fr/mapage/les-lefaucheux.pdf |título=Les Lefaucheux |publicado=Spring, 1990 |autor=Maître Simili |data= |páginas=20—26 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Ele também incluiu em suas reivindicações de patentes cartuchos de fogo circular e de fogo central, usando estojos de latão ou cobre. Houllier comercializou suas armas em associação com os armeiros Blanchard e Charles Robert.<ref name=ltlgn01>{{citar web |url=http://www.littlegun.info/arme%20francaise/artisans%20e%20f%20g%20h%20i%20j/a%20houllier%20blanchar%20gb.htm |título=Houllier Blanchard |publicado=Littlegun.info |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref><ref name=ltlgn02>{{citar web |url=http://www.littlegun.info/arme%20francaise/artisans%20e%20f%20g%20h%20i%20j/a%20houllier%20blanchar%20et%20ch%20robert%20gb.htm |título=Houllier Blanchard & Ch. Robert |publicado=Littlegun.info |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref>
O [[armeiro]] francês [[Benjamin Houllier]] melhorou o [[cartucho Lefaucheux]] de papelão e o patenteou em Paris em [[1846]], o primeiro cartucho totalmente metálico contendo pólvora (e uma espiga), em um cartucho metálico.<ref name="Pistols"/><ref name=trabuc>{{citar web |url=https://web.archive.org/web/20131008064628/http://trabuc.perso.sfr.fr/mapage/les-lefaucheux.pdf |título=Les Lefaucheux |publicado=Spring, 1990 |autor=Maître Simili |data= |páginas=20—26 |acessodata=22-04-2021 }}</ref> Ele também incluiu em suas reivindicações de patentes cartuchos de fogo circular e de fogo central, usando estojos de latão ou cobre. Houllier comercializou suas armas em associação com os armeiros Blanchard e Charles Robert.<ref name=ltlgn01>{{citar web |url=http://www.littlegun.info/arme%20francaise/artisans%20e%20f%20g%20h%20i%20j/a%20houllier%20blanchar%20gb.htm |título=Houllier Blanchard |publicado=Littlegun.info |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref><ref name=ltlgn02>{{citar web |url=http://www.littlegun.info/arme%20francaise/artisans%20e%20f%20g%20h%20i%20j/a%20houllier%20blanchar%20et%20ch%20robert%20gb.htm |título=Houllier Blanchard & Ch. Robert |publicado=Littlegun.info |autor= |data= |acessodata=22-04-2021 }}</ref>


Nos [[Estados Unidos]], em [[1857]], o cartucho Flobert inspirou o [[.22 Short]] (outro de fogo circular), especialmente concebido para o primeiro revólver americano com cartuchos de fogo circular, o [[Smith & Wesson Model 1]]. Um ano antes, em [[1856]], o [[revólver LeMat]] era a primeira arma de fogo americana de carregamento pela culatra (de design francês), mas usava [[Cartucho de espiga|cartuchos de espiga]], não de fogo circular. Anteriormente, um funcionário da [[Colt's Patent Firearms Manufacturing Company]], Rollin White, foi o primeiro na América a conceber a ideia de ter o cilindro do revólver perfurado para receber cartuchos de metal ([[circa]] [[1852]]), sendo que: o primeiro no mundo a usar cilindros perfurados por completo em revólveres, foi provavelmente Lefaucheux em [[1845]], que inventou um [[revólver pimenteiro]] carregado por trás usando cilindros perfurados.<ref name=Winant/> Outro possível reclamante do cilindro perfurado é um francês chamado Perrin, que supostamente produziu em [[1839]] um [[revólver pimenteiro]] com um cilindro perfurado sob encomenda. Outros possíveis reclamantes incluem Devisme da França em [[1834]] ou [[1842]], que alegou ter produzido um revólver de culatra naquele período, embora sua reclamação tenha sido posteriormente julgada como sem evidências pelos tribunais franceses e Hertog & Devos e Malherbe & Rissack da Bélgica, que ambos entraram com o pedido patentes para revólveres de carregamento por culatra em [[1853]].<ref name=Pataille>{{citar livro |ultimo=Pataille |primeiro=Jules |data=1863 |data-publicacao= |titulo=Annales de la propriété industrielle, artistique et littéraire |obra= |edição=1.ª |url=https://books.google.com.br/books?id=SzEwAQAAMAAJ&pg=PA186#v=onepage&q&f=false |volume=9 |lingua=francês |editora=Au bureau des Annales |pagina=186 |total-páginas=432 |acessodata=22-04-2021 }}</ref>
Nos [[Estados Unidos]], em [[1857]], o cartucho Flobert inspirou o [[.22 Short]] (outro de fogo circular), especialmente concebido para o primeiro revólver americano com cartuchos de fogo circular, o [[Smith & Wesson Model 1]]. Um ano antes, em [[1856]], o [[revólver LeMat]] era a primeira arma de fogo americana de carregamento pela culatra (de [[design]] francês), mas usava [[Cartucho de espiga|cartuchos de espiga]], não de fogo circular. Anteriormente, um funcionário da [[Colt's Patent Firearms Manufacturing Company]], Rollin White, foi o primeiro na América a conceber a ideia de ter o [[Tambor (arma de fogo)|cilindro do revólver]] perfurado para receber cartuchos de metal ([[circa]] [[1852]]), sendo que: o primeiro no mundo a usar cilindros perfurados por completo em revólveres, foi provavelmente Lefaucheux em [[1845]], que inventou um [[revólver pimenteiro]] carregado por trás usando cilindros perfurados.<ref name=Winant/> Outro possível reclamante do cilindro perfurado é um francês chamado Perrin, que supostamente produziu em [[1839]] um [[revólver pimenteiro]] com um cilindro perfurado sob encomenda. Outros possíveis reclamantes incluem Devisme da [[França]] em [[1834]] ou [[1842]], que alegou ter produzido um revólver de culatra naquele período, embora sua reclamação tenha sido posteriormente julgada como sem evidências pelos tribunais franceses e Hertog & Devos e Malherbe & Rissack da [[Bélgica]], que ambos entraram com o pedido patentes para revólveres de carregamento por culatra em [[1853]].<ref name=Pataille>{{citar livro |ultimo=Pataille |primeiro=Jules |data=1863 |data-publicacao= |titulo=Annales de la propriété industrielle, artistique et littéraire |obra= |edição=1.ª |url=https://books.google.com.br/books?id=SzEwAQAAMAAJ&pg=PA186#v=onepage&q&f=false |volume=9 |lingua=francês |editora=Au bureau des Annales |pagina=186 |total-páginas=432 |acessodata=22-04-2021 }}</ref>


No entanto, [[Samuel Colt]] recusou essa inovação. White deixou a Colt, foi à Smith & Wesson para alugar uma licença para sua patente, e foi assim que o S&W Modelo 1 viu a luz do dia em [[1857]]. A patente não expirou definitivamente até [[1870]], permitindo que [[Concorrência (economia)|os concorrentes]] da Smith & Wesson projetassem e comercializam seus próprios revólveres de carregamento pela culatra com cartuchos metálicos. Modelos famosos da época são os [[Colt Model 1871-72 Open Top|Colts Open Top (1871-1872)]] e o [[Colt Single Action Army|Single Action Army "Peacemaker" (1873)]]. Mas em rifles, as patentes do mecanismo de [[ação de alavanca]] não foram obstruídas pela violação de patente de Rollin White porque White só detinha uma patente relativa a cilindros perfurados e mecanismos giratórios. Assim, cartuchos de [[fogo circular]] de calibre maior foram introduzidos logo após [[1857]], quando a munição .22 Short da Smith & Wesson foi introduzida pela primeira vez. Alguns desses cartuchos de rifle foram usados na [[Guerra Civil Americana]], incluindo o [[.44 Henry]] e o [[.56-56 Spencer]] (ambos em [[1860]]). No entanto, os grandes cartuchos de fogo circular logo foram substituídos por cartuchos de fogo central, que podiam lidar com segurança com pressões mais altas <ref name=crtdgotw>[[Cartridges of the World]], várias edicões e artigos.</ref><ref name=Williamson>{{citar livro |ultimo=Williamson |primeiro=Harold Francis |data=1952 |data-publicacao= |titulo=Winchester: The Gun that Won the West |obra= |edição=1.ª |url=https://books.google.com.br/books?id=cQZUAAAAMAAJ |lingua=inglês |editora=Combat Forces Press |pagina=66 |total-páginas=494 |isbn=978-0-49808-315-0 |acessodata=30-03-2021 |citação=O cartucho de fogo circular, que foi usado com tanto sucesso no Henry e no Modelo 66, foi limitado a cargas relativamente fracas de pólvora e balas comparativamente leves. Essas limitações, que ainda se aplicam, vieram da construção do cartucho de fogo circular e da ação da mistura da espoleta. Os cartuchos de fogo circular devem ser feitos de metal fino ou o pino de disparo não pode enão conseguir detonar a espoleta. Este cartucho de parede fina limita a pressão desenvolvida pela carga de pólvora e, consequentemente, o peso da bala. Se muita pólvora for usada, há o perigo de que o invólucro do cartucho arrebente na borda dobrada quando for disparado, e que o flash da espoleta, passando lateralmente na parte traseira da carga de pólvora, não acenda uma carga grande o suficiente para consumir todo a pólvora antes que a bala saia estojo do cartucho. Essas limitações foram superadas com o desenvolvimento do cartucho de fogo central.}}</ref> (''ver: [[Segurança de armas]]'').
[[Imagem:Fusil Gras M80 1874 metallic cartridge.jpg|thumb|right|350px|Cartucho do [[fusil Gras mle 1874]] da [[Armée de terre]].]]


Em [[1867]], o ''"[[War Office]]"'' britânico adotou o estojo metálico do cartucho [[Eley Brothers|Eley]]—[[Edward Mounier Boxer|Boxer]] de fogo central nos [[Mosquete estriado|mosquetes estriados]] [[Pattern 1853 Enfield]], que foram convertidos para [[retrocarga]] usando o [[Jacob Snider#Biografia|sistema Snider]] tornando-se o [[Snider–Enfield]]. Este consistia em uma abertura do bloco da culatra com uma dobradiça, formando assim uma culatra falsa contra a qual o cartucho se apoiava. A [[espoleta de percussão]] ficava na base do cartucho e era acionada por um [[percussor]] que passava pela culatra. Outras [[Grande potência|potências europeias]] adotaram rifles militares de carregamento pela culatra de [[1866]] a [[1868]], com cartuchos de papel em vez de cartuchos de metal. O estojo do cartucho Eley—Boxer original era feita de latão enrolado - ocasionalmente, esses cartuchos podiam quebrar e emperrar a culatra com os restos desenrolados do estojo ao disparar. Mais tarde, o estojo de cartuchos de fogo central passou a ser feito de uma peça sólida inteira de metal, uma [[Liga metálica|liga]] de [[cobre]], com uma "[[Estojo (munição)#Nomenclatura das partes|cabeça]]" sólida de metal mais espesso.
No entanto, [[Samuel Colt]] recusou essa inovação. White deixou a Colt, foi à Smith & Wesson para alugar uma licença para sua patente, e foi assim que o S&W Modelo 1 viu a luz do dia em [[1857]]. A patente não expirou definitivamente até [[1870]], permitindo que os concorrentes da Smith & Wesson projetassem e comercializam seus próprios revólveres de carregamento pela culatra com cartuchos metálicos. Modelos famosos da época são os [[Colt Model 1871-72 Open Top|Colts Open Top (1871-1872)]] e o [[Colt Single Action Army|Single Action Army "Peacemaker" (1873)]]. Mas em rifles, as patentes do mecanismo de [[ação de alavanca]] não foram obstruídas pela violação de patente de Rollin White porque White só detinha uma patente relativa a cilindros perfurados e mecanismos giratórios. Assim, cartuchos de [[fogo circular]] de calibre maior foram introduzidos logo após [[1857]], quando a munição .22 Short da Smith & Wesson foi introduzida pela primeira vez. Alguns desses cartuchos de rifle foram usados na [[Guerra Civil Americana]], incluindo o [[.44 Henry]] e o [[.56-56 Spencer]] (ambos em [[1860]]). No entanto, os grandes cartuchos de fogo circular logo foram substituídos por cartuchos de fogo central, que podiam lidar com segurança com pressões mais altas.<ref name=crtdgotw>[[Cartridges of the World]], várias edicões e artigos.</ref><ref name=Williamson>{{citar livro |ultimo=Williamson |primeiro=Harold Francis |data=1952 |data-publicacao= |titulo=Winchester: The Gun that Won the West |obra= |edição=1.ª |url=https://books.google.com.br/books?id=cQZUAAAAMAAJ |lingua=inglês |editora=Combat Forces Press |pagina=66 |total-páginas=494 |isbn=978-0-49808-315-0 |acessodata=30-03-2021 |citação=O cartucho de fogo circular, que foi usado com tanto sucesso no Henry e no Modelo 66, foi limitado a cargas relativamente fracas de pólvora e balas comparativamente leves. Essas limitações, que ainda se aplicam, vieram da construção do cartucho de fogo circular e da ação da mistura da espoleta. Os cartuchos de fogo circular devem ser feitos de metal fino ou o pino de disparo não pode enão conseguir detonar a espoleta. Este cartucho de parede fina limita a pressão desenvolvida pela carga de pólvora e, consequentemente, o peso da bala. Se muita pólvora for usada, há o perigo de que o invólucro do cartucho arrebente na borda dobrada quando for disparado, e que o flash da espoleta, passando lateralmente na parte traseira da carga de pólvora, não acenda uma carga grande o suficiente para consumir todo a pólvora antes que a bala saia estojo do cartucho. Essas limitações foram superadas com o desenvolvimento do cartucho de fogo central. }}</ref>


Por volta de [[1870]], as tolerâncias de [[Usinagem|peças usinadas]] haviam melhorado a tal ponto que o estojo do cartucho não era mais necessário para selar uma câmara. Os [[ferrolho]]s muito melhor usinados assumiram essa função.
Em [[1867]], o ''"[[War Office]]"'' britânico adotou o estojo metálico do cartucho [[Eley Brothers|Eley]]—[[Edward Mounier Boxer|Boxer]] de fogo central nos [[Mosquete estriado|mosquetes estriados]] [[Pattern 1853 Enfield]], que foram convertidos para [[retrocarga]] usando o [[Jacob Snider#Biografia|sistema Snider]] tornando-se o [[Snider–Enfield]]. Este consistia em uma abertura do bloco da culatra com uma dobradiça, formando assim uma culatra falsa contra a qual o cartucho se apoiava. A [[espoleta de percussão]] ficava na base do cartucho e era acionada por um [[percussor]] que passava pela culatra. Outras potências europeias adotaram rifles militares de carregamento pela culatra de [[1866]] a [[1868]], com cartuchos de papel em vez de cartuchos de metal. O estojo do cartucho Eley—Boxer original era feita de latão enrolado - ocasionalmente, esses cartuchos podiam quebrar e emperrar a culatra com os restos desenrolados do estojo ao disparar. Mais tarde, o estojo de cartuchos de fogo central passou a ser feito de uma peça sólida inteira de metal, uma liga de cobre, com uma "[[Estojo (munição)#Nomenclatura das partes|cabeça]]" sólida de metal mais espesso.


Cartuchos de fogo central com estojos metálicos sólidos contendo seus próprios meios de ignição são quase universalmente usados em todas as variedades modernas de rifles e pistolas militares e esportivas.
[[Imagem:Lebel 8mm round.jpg|thumb|right|350px|O cartucho [[8 mm Lebel]], desenvolvido em [[1886]], primeiro cartucho usando [[pólvora sem fumaça]] fabricado e adotado por qualquer país.]]


== Cartuchos comuns ==
Por volta de [[1870]], as tolerâncias de peças usinadas haviam melhorado a tal ponto que o estojo do cartucho não era mais necessário para selar uma câmara. Os ferrolhos muito melhor usinados assumiram essa função.

Cartuchos de fogo central com estojos metálicos sólidos contendo seus próprios meios de ignição são quase universalmente usados em todas as variedades modernas de rifles e pistolas militares e esportivas.


==Cartuchos comuns==
[[Imagem:Cartouche.jpg|thumb|right|250px|miniatura|Cartuchos de [[Bago (projétil)|chumbos]] e de [[balote]] de [[calibre 12]] para [[Caçadeira|espingarda de caça]].]]
[[Imagem:Cartouche.jpg|thumb|right|250px|miniatura|Cartuchos de [[Bago (projétil)|chumbos]] e de [[balote]] de [[calibre 12]] para [[Caçadeira|espingarda de caça]].]]
[[Imagem:Blank cartridge 1.jpg|thumb|right|250px|miniatura|Cartucho sem projétil ([[festim]]).]]


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==Ver também==
== Ver também ==

* [[Recarga manual]]
* [[Armação (arma de fogo)]]
* [[Nitrocelulose]]
* [[Cartucheira]]
* [[Cartucheira]]
* [[Ciência militar]]
* [[Direito ao armamento]]
* [[Famílias de calibres]]
* [[Famílias de calibres]]
* [[Indústria bélica]]
* [[Nitrocelulose]]
* [[Recarga manual]]
* [[Sabot (armas de fogo)]]
* [[Tecnologia militar]]

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== Ligações externas ==
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==Ligações externas==
{{Commonscat|Pistol and rifle cartridges}}
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* [http://www.cartridgecollectors.org/glossary.htm Colecionadores de Cartuchos]
* [http://www.cartridgecollectors.org/glossary.htm Colecionadores de Cartuchos]
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* {{youtube |id=c_hEIGuIthU |title=WW2 Cartridges and headstamps - A beginners guide }}, vídeo {{en}}
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Revisão das 22h59min de 14 de julho de 2021

Cartucho

A partir da esquerda: cartuchos 7,62 mm NATO, 5,56×45mm NATO e 9 mm NATO.

Tipo
munição
produto
dispositivo explosivo (en)
weapon functional class (d)
Características
Composto de
Descoberto
Descobridor
Concepção
Data

Um cartucho é a unidade de munição das armas de percussão e de retrocarga.[1]

São quatro os principais elementos de um cartucho de munição de arma de fogo de cano raiado, e de percussão central:[2]

  1. Estojo, que agrega os demais elementos
  2. Espoleta, que quando percutida entra em ignição
  3. Pólvora, que é a carga propelente
  4. Projétil, ou "bala" que vai ser impulsionado pelo cano da arma

Nota: o estojo possui em sua base um "aro" que fornece o apoio para que o cartucho se encaixe na câmara da arma de fogo e um meio para ajudar na extração do cartucho já deflagrado, da mesma câmara.

Com esses elementos agregados, esse tipo de munição é pré-montado, e feito com precisão para caber na câmara do cano de uma arma de fogo, com o objetivo prático de transporte e manuseio convenientes durante o disparo.[3]

Histórico

Antecedentes

Cartucho de papel para o fuzil Chassepot (1866).

Os cartuchos de papel são usados há séculos, com várias fontes datando de seu uso desde o final do século XIV e início do século XV. Os historiadores observam seu uso por soldados de Cristiano I, Eleitor da Saxônia e seu filho no final do século XVI,[4][5] enquanto o Arsenal de Dresden tem evidências que datam seu uso até 1591.[4][6] Capo Bianco escreveu em 1597 que os cartuchos de papel há muito eram usados pelos soldados napolitanos. Seu uso se generalizou no século XVII.[4] A munição de 1586 consistiu em uma carga de pólvora e uma bala em um cartucho de papel. O papel espesso ainda é conhecido como "cartridge paper" ("papel de cartucho") devido ao seu uso nesses cartuchos.[7] Outra fonte afirma que o cartucho apareceu em 1590.[8] O rei Gustavo II Adolfo da Suécia fez com que suas tropas usassem cartuchos em 1600.[9] O papel formava um cilindro com pontas torcidas; a bala estava em uma extremidade e a pólvora medida preenchia o restante.[10]

Este cartucho foi usado com armas de fogo militares por antecarga, provavelmente mais frequentemente do que para tiro esportivo, a base do cartucho sendo arrancada ou mordida pelo soldado, a pólvora sendo derramada no cano e o papel e a bala inseridos na sequência.[11] No cartucho da era da Guerra Civil, o papel deveria ser descartado, mas os soldados costumavam usá-lo como uma bucha.[12] Para acender a carga, uma etapa adicional era necessária, onde pólvora de granulação mais fina, chamada "priming powder", era derramado na "caçoleta" da arma para ser aceso pelo mecanismo de disparo.

O cartucho 8 mm Lebel, desenvolvido em 1886, primeiro cartucho usando pólvora sem fumaça fabricado e adotado por qualquer país.

A evolução da natureza da guerra exigia uma arma de fogo que pudesse carregar e disparar mais rapidamente, resultando no mosquete de pederneira (e mais tarde no rifle Baker), no qual a caçoleta era coberta por uma pequena tampa aço. Este era atingido pela pederneira e disparava a arma. No decorrer do carregamento, uma pitada de pólvora do cartucho seria colocada na caçoleta como espoleta, antes que o resto do cartucho fosse empurrado pelo cano, fornecendo carga (bala) e bucha.[13]

Desenvolvimentos posteriores tornaram este método de ignição desnecessário, já que, no carregamento, uma porção da carga de pólvora passava do cano através do respiradouro para a caçoleta, onde era mantida pela tampa e pelo cão.

O próximo avanço importante no método de ignição foi a introdução da espoleta de percussão de cobre. Seu uso só se generalizou quando foi aplicado ao mosquete militar britânico (o Brown Bess) em 1842, um quarto de século após a invenção da "pólvora de percussão" e após um elaborado teste governamental em Woolwich em 1834. A invenção que tornou possível a espoleta de percussão foi patenteada pelo Rev. AJ Forsyth em 1807 e consistia na preparação de um "pó fulminante" feito de clorato de potássio, enxofre e carvão, que se inflamava por concussão. Esta invenção foi desenvolvida gradualmente e usada, primeiro em uma "tampa" de aço e, em seguida, em uma "tampa" de cobre, por vários fabricantes de armas e particulares antes de entrar em uso militar generalizado quase trinta anos depois.

A alteração da pederneira militar para o mosquete de percussão foi facilmente realizada substituindo a caçoleta de pólvora por um bico perfurado e substituindo a pinça do cão que segurava a pederneira por um pequeno "martelo" que tinha uma cavidade para encaixar no bico quando liberado pelo gatilho. O atirador colocava uma "tampa" de percussão (cuja substância fulminante era agora feita de três partes de clorato de potássio, duas de fulminato de mercúrio e vidro em pó) no bico ("ouvido"). A "tampa" detonante assim inventada (espoleta de percussão) e adotada deu origem à invenção do moderno estojo de cartucho e tornou possível a adoção geral do princípio de carregamento pela culatra (retrocarga) para todas as variedades de rifles, espingardas e pistolas. Isso simplificou muito o procedimento de recarga e abriu o caminho para armas de fogo semiautomáticas e totalmente automáticas.

No entanto, esse grande salto à frente teve um preço: introduziu um componente extra em cada cartucho - o estojo - que devia ser removido antes que a arma pudesse ser recarregada. Enquanto uma pederneira, por exemplo, está imediatamente pronta para recarregar depois de disparada, a adoção de estojos de cartucho de latão trazia problemas de extração e ejeção. O mecanismo de uma arma moderna não deve apenas carregar e disparar a peça, mas também fornecer um método de remoção do estojo do cartucho deflagrado, o que pode exigir o mesmo número de peças móveis adicionais. Muitos problemas de funcionamento ocorrem durante este processo, seja por uma falha em extrair um estojo corretamente da câmara ou permitindo que o estojo extraído bloqueie o mecanismo de ação. Os inventores do século XIX estavam relutantes em aceitar essa complicação adicional e experimentaram uma variedade de cartuchos sem estojo ou "autoconsumíveis" antes de finalmente aceitar que as vantagens dos estojos de latão superavam em muito essas desvantagens.[14]

Cartuchos integrados

Cartuchos dos EUA 1860–1875
(1) Colt Army 1860 .44 cartucho de papel, Guerra Civil
(2) Colt Thuer-Conversion cartucho .44, 1868
(3) .44 Henry fogo circular ponta plana
(4) .44 Henry fogo circular ponta cônica
(5) Frankford Arsenal .45 Colt, ignição Benét
(6) Frankford Arsenal .45 Colt-Schofield, ignição Benét
Comparação da detonação de cartuchos de fogo central (esquerda e centro, com espoleta) e de um cartucho de fogo circular (sem espoleta, na direita).

O primeiro cartucho integrado foi desenvolvido em Paris em 1808 pelo armeiro suíço Jean Samuel Pauly em associação com o armeiro francês François Prélat. Pauly criou os primeiros cartuchos totalmente independentes:[15] os cartuchos incorporavam uma base de cobre com fulminato de mercúrio como substância de ignição (a principal inovação de Pauly), uma bala redonda e um invólucro de latão ou papel.[16][17] O cartucho era carregado pela culatra e disparado com uma "agulha". A arma de carregamento pela culatra ativada por "agulha" se tornaria uma característica importante das armas de fogo depois disso.[18] Pauly fez uma versão melhorada, protegida por uma patente, em 29 de setembro de 1812.[15]

Provavelmente, nenhuma invenção relacionada com armas de fogo produziu tais mudanças no princípio da construção da arma como aquelas efetuadas pelo "cartucho de estojo expansivo". Esta invenção revolucionou completamente a arte da fabricação de armas, foi aplicada com sucesso a todas as descrições de armas de fogo e produziu uma nova e importante indústria: a de fabricação de cartuchos. Sua característica essencial é evitar que o gás escape da culatra ao disparar a arma, por meio de um cartucho de estojo expansivo contendo seu próprio meio de ignição. Antes desta invenção, escopetas e espingardas desportivas eram carregadas por meio de frascos de pólvora e sacos ou frascos de chumbo, balas, buchas e espoletas de cobre, todos transportados separadamente. Um dos primeiros estojos de cartucho modernos eficientes foi o "cartucho de espiga", desenvolvido pelo armeiro francês Casimir Lefaucheux em 1836.[19] Consistia em uma casca fina e fraca feita de latão e papel que se expandia com a força da explosão; com isso se encaixava perfeitamente no cano, formando uma vedação de gás eficiente. Uma pequena espoleta de percussão era colocada no meio da base desse cartucho e era acesa pelo impacto de um pino de latão que se projetava da lateral do estojo e era atingido pelo cão. Este pino também possibilitava a extração do estojo do cartucho. Este cartucho foi introduzido na Inglaterra por Lang, de Cockspur Street, Londres, por volta de 1845.

Na Guerra Civil Americana (1861-65), um rifle de carregamento pela culatra, o Sharps, foi introduzido e produzido em grande número. Ele podia ser carregado tanto com uma "musketball" quanto com um cartucho de papel. Depois dessa guerra, muitos foram convertidos ao uso de cartuchos de metal. O desenvolvimento pela Smith & Wesson (entre muitos outros) de revólveres que usavam cartuchos de metal ajudou a estabelecer armas de fogo de cartucho como o padrão nos Estados Unidos no final da década de 1860 e início da década de 1870, embora muitos continuem a usar revólveres de percussão bem depois disso.[20]

Cartuchos metálicos

Da esquerda p/ a direita: um .577 Snider (1867), um .577/450 Martini–Henry (1871), um .577/450 Martini-Henry de latão estampado, e um .303 British Mk VII SAA Ball.
Cartuchos históricos britânicos.
Cartucho do fusil Gras mle 1874 da Armée de terre.
Um cartucho moderno consiste de:
1. o estojo, agregador das partes;
2. a espoleta, que acende o propelente;
3. o propelente, como a pólvora;
4. o projétil ou "bala"

A maioria dos primeiros cartuchos totalmente metálicos eram do tipo "de espiga" e de fogo circular. O primeiro cartucho metálico de fogo central foi inventado por Jean Samuel Pauly nas primeiras décadas do século XIX. No entanto, embora tenha sido o primeiro cartucho a usar uma forma de vedação, uma característica essencial de um cartucho de carregamento por culatra bem-sucedido, Pauly morreu antes de ser convertido para ignição por espoleta de percussão.

O francês Louis-Nicolas Flobert inventou o primeiro cartucho metálico de fogo circular em 1845. Seu cartucho consistia em uma espoleta de percussão com uma bala presa ao topo.[21][22] Flobert então fez o que ele chamou de "armas de salão" para este cartucho, já que esses rifles e pistolas foram projetados para serem disparados em salas de tiro internas em grandes casas.[23][24] Esses cartuchos 6mm Flobert não continham pólvora. A única substância propelente contida no cartucho é a da espoleta de percussão.[25] Em países de língua inglesa, o cartucho "6mm Flobert" corresponde a munições .22 BB Cap e .22 CB Cap. Esses cartuchos têm uma velocidade de saída relativamente baixa de cerca de 700 pés/s (210 m/s).[26]

O armeiro francês Benjamin Houllier melhorou o cartucho Lefaucheux de papelão e o patenteou em Paris em 1846, o primeiro cartucho totalmente metálico contendo pólvora (e uma espiga), em um cartucho metálico.[19][27] Ele também incluiu em suas reivindicações de patentes cartuchos de fogo circular e de fogo central, usando estojos de latão ou cobre. Houllier comercializou suas armas em associação com os armeiros Blanchard e Charles Robert.[28][29]

Nos Estados Unidos, em 1857, o cartucho Flobert inspirou o .22 Short (outro de fogo circular), especialmente concebido para o primeiro revólver americano com cartuchos de fogo circular, o Smith & Wesson Model 1. Um ano antes, em 1856, o revólver LeMat era a primeira arma de fogo americana de carregamento pela culatra (de design francês), mas usava cartuchos de espiga, não de fogo circular. Anteriormente, um funcionário da Colt's Patent Firearms Manufacturing Company, Rollin White, foi o primeiro na América a conceber a ideia de ter o cilindro do revólver perfurado para receber cartuchos de metal (circa 1852), sendo que: o primeiro no mundo a usar cilindros perfurados por completo em revólveres, foi provavelmente Lefaucheux em 1845, que inventou um revólver pimenteiro carregado por trás usando cilindros perfurados.[14] Outro possível reclamante do cilindro perfurado é um francês chamado Perrin, que supostamente produziu em 1839 um revólver pimenteiro com um cilindro perfurado sob encomenda. Outros possíveis reclamantes incluem Devisme da França em 1834 ou 1842, que alegou ter produzido um revólver de culatra naquele período, embora sua reclamação tenha sido posteriormente julgada como sem evidências pelos tribunais franceses e Hertog & Devos e Malherbe & Rissack da Bélgica, que ambos entraram com o pedido patentes para revólveres de carregamento por culatra em 1853.[30]

No entanto, Samuel Colt recusou essa inovação. White deixou a Colt, foi à Smith & Wesson para alugar uma licença para sua patente, e foi assim que o S&W Modelo 1 viu a luz do dia em 1857. A patente não expirou definitivamente até 1870, permitindo que os concorrentes da Smith & Wesson projetassem e comercializam seus próprios revólveres de carregamento pela culatra com cartuchos metálicos. Modelos famosos da época são os Colts Open Top (1871-1872) e o Single Action Army "Peacemaker" (1873). Mas em rifles, as patentes do mecanismo de ação de alavanca não foram obstruídas pela violação de patente de Rollin White porque White só detinha uma patente relativa a cilindros perfurados e mecanismos giratórios. Assim, cartuchos de fogo circular de calibre maior foram introduzidos logo após 1857, quando a munição .22 Short da Smith & Wesson foi introduzida pela primeira vez. Alguns desses cartuchos de rifle foram usados na Guerra Civil Americana, incluindo o .44 Henry e o .56-56 Spencer (ambos em 1860). No entanto, os grandes cartuchos de fogo circular logo foram substituídos por cartuchos de fogo central, que podiam lidar com segurança com pressões mais altas [31][32] (ver: Segurança de armas).

Em 1867, o "War Office" britânico adotou o estojo metálico do cartucho EleyBoxer de fogo central nos mosquetes estriados Pattern 1853 Enfield, que foram convertidos para retrocarga usando o sistema Snider tornando-se o Snider–Enfield. Este consistia em uma abertura do bloco da culatra com uma dobradiça, formando assim uma culatra falsa contra a qual o cartucho se apoiava. A espoleta de percussão ficava na base do cartucho e era acionada por um percussor que passava pela culatra. Outras potências europeias adotaram rifles militares de carregamento pela culatra de 1866 a 1868, com cartuchos de papel em vez de cartuchos de metal. O estojo do cartucho Eley—Boxer original era feita de latão enrolado - ocasionalmente, esses cartuchos podiam quebrar e emperrar a culatra com os restos desenrolados do estojo ao disparar. Mais tarde, o estojo de cartuchos de fogo central passou a ser feito de uma peça sólida inteira de metal, uma liga de cobre, com uma "cabeça" sólida de metal mais espesso.

Por volta de 1870, as tolerâncias de peças usinadas haviam melhorado a tal ponto que o estojo do cartucho não era mais necessário para selar uma câmara. Os ferrolhos muito melhor usinados assumiram essa função.

Cartuchos de fogo central com estojos metálicos sólidos contendo seus próprios meios de ignição são quase universalmente usados em todas as variedades modernas de rifles e pistolas militares e esportivas.

Cartuchos comuns

Cartuchos de chumbos e de balote de calibre 12 para espingarda de caça.
Cartucho sem projétil (festim).

Ver também

Referências

  1. RABELO, Eraldo. Balística Forense. Porto Alegre: DC Luzzatto, ed. 3, p. 140, 1995.
  2. TOCCHETTO, Domingos. Balística Forense: Aspectos técnicos e jurídicos, São Paulo: Millennium, ed. 5, p. 137, 2009.
  3. Sparano, Vin T. (20 de outubro de 2000). The Complete Outdoors Encyclopedia (em inglês). [S.l.]: St. Martin's Press. p. 37. 848 páginas. ISBN 978-0-31226-722-3. Consultado em 10 de julho de 2020 
  4. a b c Greener, William Wellington (1907), «Ammunition and Accessories.–Cartridges», The Gun and Its Development, Cassell, pp. 570, 589, consultado em 22 de abril de 2021, cópia arquivada em 22 de março de 2015 
  5. Nickel, Helmut; Pyhrr, Stuart W.; Tarassuk, Leonid (1982). The Art of Chivalry: European Arms and Armor from the Metropolitan Museum of Art : an Exhibition (em inglês) ilustrada ed. [S.l.]: Metropolitan Museum of Art. p. 174. 179 páginas. ISBN 978-0-91741-867-9. Consultado em 22 de abril de 2021 
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  9. U.S. Army 1984, pp. 2–3 indica o período de 1611-1632 e afirma que o cartucho aprimorado aumentou a taxa de tiro durante a Guerra dos Trinta Anos.
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  11. Greener 1907, p. 570
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