Glicocorticoide

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Estrutura química do cortisol, um glicocorticóide

Os glicocorticóides são uma classe de hormônios esteróides caracterizada pela habilidade de se ligar com o receptor de cortisol e desencadear efeitos similares. Os glicocorticóides são distintos dos mineralocorticóides e esteróides sexuais pelos seus receptores específicos, células alvos e efeitos. Tecnicamente, o termo corticosteróide se refere aos glicocorticóides e aos mineralocorticóides, mas geralmente é utilizado como um sinônimo de glicocorticóide.

O cortisol é o glicocorticóide humano mais importante. Ele é essencial para a vida e regula ou sustenta uma grande variedade de funções cardiovasculares, metabólicas, imunológicas e homeostáticas. Os receptores de glicocorticóides são encontrados nas células de quase todos tecidos de vertebrados.

Os glicocorticóides são um grupo de fármacos utilizados como imunossupressores e anti-inflamatórios. Estes efeitos são particularmente úteis nas desastrosas doenças autoimunes.

História

Tadeusz Reichstein juntamente com Edward Calvin Kendall e Philip Showalter Hench foram premiados com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1950 por seu trabalho sobre hormônios do glândula supra renal que culminou no isolamento da cortisona.

Corticosteróides foram usados como medicamento por algum tempo. Lewis Sarett da Merck & Co. foi o primeiro a sintetizar a cortizona, usando um complicado processo de 36 passos que iniciou com ácido desoxicolico em cortizona, que foi extraído da bile bovina. A baixa eficiência da conversão do ácido desoxicolico em cortizona levou a um custo elevado de produção. Russell Marker da Syntex, descobriu uma matéria-prima muito mais conveniente e barata, a partir de uma raíz mexicana, em um processo de 4 passos conhecido como degradação de Marker, tornando-se uma importante fonte de produção em massa de todos os hormonios esteróides, incluindo cortizona e substâncias químicas usadas em contracepção hormonal.

Indicações

  • Todos os tipos de doença autoimune (incluem muitas condições de elevada mortalidade e disrupção de vida em grande número de doentes, particularmente mulheres).
  • Terapia de substituição do cortisol no Doença de Addison.
  • Asma: prevenção de ataques agudos.
  • Alguns linfomas

Mecanismo de acção

Os glicocorticóides são análogos do hormônio humano cortisol, envolvida na regulação do stress. Eles têm efeitos largamente idênticos aos desse hormônio, mas são administrados freqüentemente em doses muito superiores às fisiológicas, particularmente para se obterem os efeitos imunossupressores.

Os glicocorticóides, como o cortisol, agem sobre um receptor intranuclear que regula transcrição génica. Eles não têm dificuldade em ultrapassar a membrana celular já que são lipofílicos. O seu efeito deve-se à modificação da actividade de vários genes e as proteínas produzidas a partir deles. O receptor ligado ao medidor liga-se a regiões específicas de DNA e activa e inibe a transcrição de diversos genes. Uma vez que a transcrição génica é demorada (é preciso produzir grande quantidade de proteínas) os seus efeitos demoram sempre algumas horas a manifestar-se. Muitos genes são afectados, entre os mais importantes conhecidos, os das ciclooxigenases são inibidos; os das colagenases igualmente, aumento da síntese do mediador anexina-1 com propriedades imunossupressoras devido sua ação nas enzimas fosfolipases A2 (Essas enzimas atuam sobre o fosfolipídio produzindo ácido aracdônico, precursor de mediadores inflamatórios).

Todos os glicocorticóides têm alguma actividade mineralocorticóide. A hormona mineralocorticóide, a aldosterona é semelhante quimicamente ao cortisol, e eles têm actividade parcial nos receptores do outro. A aldosterona age no rim, havendo retenção de água e sódio e excreção de potássio aumentando a pressão arterial sistêmica. Há ainda vasoconstrição.

Administração

Administração oral (comprimido), intravenosa ou local (creme ou aerossol). Há metabolização hepática.

Efeitos úteis

  • Imunossupressão profunda; efeito antiinflamatório mais potente que o dos AINEs.
  • Diminuição da mobilidade e actividade dos neutrófilos e macrófagos.
  • Diminuição da secreção de citocinas.
  • Inibição da acção dos linfócitos. Apoptose de linfócitos aumentada.
  • Replicação clonal de linfócitos reduzida.
  • Diminuição da produção de anticorpos.
  • Diminuição da secreção de mediadores inflamatórios como a histamina.

Efeitos adversos

Possíveis efeitos a curto prazo:

  • Susceptibilidade a infecções, mesmo por microorganismos normalmente inócuos ou pouco agressivos (e.g. leveduras da cerveja, candidíase).
  • Reparação de ferimentos mais lenta.
  • Maior probabilidade de surgirem ferimentos por diminuição da actividade dos fibrócitos.
  • Perda de massa óssea devido à inibição da função dos osteoblastos.
  • Hipercoagulabilidade do sangue.
  • Desordens menstruais.

Possíveis efeitos devidos ao uso a longo prazo (mais de 6 meses com doses consideráveis):

O cortisol tem funções além da imunossupressão em vivo, e também os seus análogos. São importantes as acções no metabolismo da glicose (dai serem também chamados glicocorticoides):

  • Diminuição do uso da glicose; hiperglicemia; estimulo da gliconeogénese. Aumento do catabolismo protéico com perda de massa muscular. Aumento do uso dos lípidos como fonte d energia.
  • Redistribuição do tecido adiposo (gordura) da periferia (nádegas e membros) para o centro (abdominal e peritoneal).

Todos os glucocorticóides têm alguma actividade mineralocorticóide, e daí advêm alguns efeitos indesejados:

Fármacos do grupo