Hassan Ngeze

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Hassan Ngeze
Nascimento 25 de dezembro de 1957
Rubavu (Ruanda-Urundi)
Cidadania Ruanda
Ocupação jornalista
Empregador(a) Kangura
Obras destacadas Os Dez Mandamentos do Hutu
Religião Islamismo

Hassan Ngeze (25 de dezembro de 1957) é um jornalista ruandês e criminoso de guerra condenado à prisão perpétua pelo Tribunal Penal Internacional para o Ruanda. Ngeze era proprietário da revista Kangura, fundada em 1990,[1] que propagava o sentimento anti-tutsi, e superioridade hutu. Ele também foi membro[1] fundador da Coalizão para a Defesa da República (CDR), um partido político ruandês ligado ao movimento Hutu Power, que foi um dos perpetradores do Genocídio de Ruanda.[1][2] Ngeze publicou em seu jornal o texto "Dez Mandamentos Hutu", na edição de dezembro de 1990, que serviu como referência ideológica para os supremacistas hutu. Durante o genocídio, Ngeze atuou como organizador da milícia Impuzamugambi e teria supervisionado pessoalmente e participado de torturas, estupros em massa e assassinatos de tutsis.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Infância[editar | editar código-fonte]

Ngeze nasceu na comuna de Rubavu, província de Gisenyi, em Ruanda. Ele é muçulmano, de etnia hutu.[3] Além de trabalhar como jornalista em 1978, Ngeze supostamente também era motorista de ônibus.[4] Em 1990, ele não tinha estudado ou experiência em jornalismo.[5]

Kangura, os "Dez Mandamentos Hutu" e RTLM[editar | editar código-fonte]

Ngeze era o editor-chefe da revista bimestral Kangura,[6] que inicialmente pretendia ser uma alternativa de oposição ao popular jornal antigovernamental Kanguka. A revista era financiado por membros do alto escalão do partido do ditador hutu Juvénal Habyarimana, do partido Movimento Republicano Nacional por Democracia e Desenvolvimento (MRND). Ngeze e sua revista tinham extensos vínculos com a Akazu, através de uma rede de oficiais que cercavam o presidente e sua esposa; esse grupo incluía apoiadores do Hutu Pawer e perpetradores e idealizadores do genocídio de Ruanda.

Em dezembro de 1990, Ngeze publicou os Dez Mandamentos Hutu (também chamados de Dez Mandamentos do Bahutu), na Kangura. O texto fazia comentários depreciativos sobre os tutsis em geral e as mulheres tutsi em particular. Com os Dez Mandamentos Hutu, Ngeze reviveu, revisou e reconciliou o mito Hamitic, no qual os Tutsis eram considerados pelos europeus como uma "raça Hamitic" superior às populações "Negroid" da África Subsaariana, com base em suas características faciais mais caucasianas; a ideia de que os tutsis eram invasores estrangeiros e, portanto, não deveriam fazer parte do país de maioria hutu. Esta foi a retórica da revolução hutu para promover uma doutrina de pureza militante hutu. Os "Dez Mandamentos Hutu" foram essenciais para criar e espalhar o sentimento anti-Tutsi entre os hutus ruandeses.

Em 1993, Ngeze tornou-se acionista e correspondente da recém-fundada Radio Télévision Libre des Mille Collines (RTLM).[7]

Genocídio[editar | editar código-fonte]

Durante o genocídio de Ruanda, Ngeze forneceu à RTLM nomes de pessoas a serem mortas em sua província,[8] sendo a informação propagada pelo canal. Ele foi entrevistado pela RTLM e pela Rádio Ruanda diversas vezes entre abril e junho de 1994, e nessas transmissões pediu o extermínio dos tutsis e hutus que eram oposição ao governo. A Kangura também publicou listas de pessoas a serem mortas pelos militares e pelas milícias Interahamwe e Impuzamugambi, durante o genocídio.

Julgamento e Prisão[editar | editar código-fonte]

Ngeze fugiu de Ruanda em junho de 1994, quando o país passou a ser governado pela Frente Patriótica de Ruanda (RPF). Ele foi preso em Mombaça, no Quênia, em 18 de julho de 1997, e foi condenado à prisão perpétua em 2003, pelo Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR).

Em 2007, a Câmara de Apelações do TPIR alterou sua sentença de prisão perpétua para 35 anos de prisão. Algumas acusações foram revertidas, mas as acusações de "auxílio e cumplicidade na prática de genocídio no distrito de Gisenyi; incitação direta e pública à cometer genocídio por meio da publicação de artigos em sua revista, Kangura, em 1994; ajuda e cumplicidade no extermínio como crime contra a humanidade no distrito de Gisenyi", foram mantidas.[9]

Em 3 de dezembro de 2008, ele foi enviado para Mali, onde cumpre sua pena de prisão.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Christian P. Scherrer, Institute for Research on Ethnicity and Conflict Resolution.
  2. Front Cover Dina Temple-Raston.
  3. Wax, Emily.
  4. Thompson, ed. (2007). The Media and the Rwanda Genocide. [S.l.]: Pluto Press, Fountain Publishers, IDRC. pp. 136–137. ISBN 978-0-74532-625-2. Consultado em 19 de março de 2013. Cópia arquivada em 16 de setembro de 2013 
  5. Chrétien, Jean-Pierre; Kabanda, Marcel (2013). Rwanda, Racisme et Génocide : l'idéologie hamitique. [S.l.]: Belin. ISBN 978-2-7011-4860-1 
  6. Christian P. Scherrer, Institute for Research on Ethnicity and Conflict Resolution.
  7. Thompson, ed. (2007). The Media and the Rwanda Genocide. [S.l.]: Pluto Press, Fountain Publishers, IDRC. ISBN 978-0-74532-625-2. Consultado em 19 de março de 2013. Cópia arquivada em 16 de setembro de 2013 
  8. «International Criminal Tribunal for Rwanda, Summary of Judgment». Consultado em 11 de fevereiro de 2015. Arquivado do original em 30 de setembro de 2014 
  9. «SELECTED DOCUMENTS». ucr.irmct.org. Consultado em 23 de abril de 2023