Idelber Avelar

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Idelber Avelar
Nascimento 31 de outubro de 1968 (55 anos)
Uberaba, Minas Gerais, Brasil
Nacionalidade Brasileiro
Ocupação Professor, crítico literário e cultural
Página oficial
https://www.idelberavelar.com

Idelber Avelar (Belo Horizonte, 31 de outubro de 1968) é um teórico da literatura e crítico cultural brasileiro, que se tornou conhecido pelo grande público por seu blogue, O Biscoito Fino e a Massa.[1]

Atualmente é professor titular na Universidade Tulane, com uma atuação voltada para literatura latino-americana, teoria crítica e estudos culturais..[2]

Em 2000, Idelber despontou na comunidade acadêmica com seu livro Alegorias da Derrota,[3][4] onde discute política, cultura popular e literatura, abordando a representação literária das ditaduras latino-americanas e a forma como a cultura lida com suas repercussões.

Vida[editar | editar código-fonte]

Em 1990, concluiu sua licenciatura em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No mesmo ano, se mudou para os Estados Unidos. Em 1996, concluiu seu doutorado em Estudos Hispano-americanos na Universidade de Duke com uma tese sobre a literatura latino-americana na ressaca das ditaduras. Ainda em 1996, Avelar aceitou um convite para trabalhar na Universidade de Illinois. Em 2000 se transferiu para a Universidade Tulane, em Nova Orleães.[2]

Em 1999, seu livro Alegorias da Derrota recebeu o prêmio Katherine Singer Kovacs, entregue pela MLA (Modern Language Association), por seu destaque no campo da literatura e da cultura latino-americanas.[5]

Em 2004, com a publicação de Figuras da Violência: Ensaios sobre narrativa, ética e música popular, Avelar foi promovido a professor titular da universidade de Tulane.[6]

Em 2006, seu texto Ritmos do popular no erudito: política e música em Machado de Assis recebeu o prêmio do primeiro concurso internacional de ensaios sobre Machado de Assis promovido pelo Itamarati.[7][8]

Em 2009, recebeu uma bolsa do American Council of Learned Societies[9] para estudar a masculinidade, o que gerou artigos sobre Gilberto Freyre,[10] Jorge Luis Borges,[11] Gustavo Ferreyra,[12] Fernando Gabeira, Caio Fernando Abreu e João Gilberto Noll,[13] entre outros. Avelar representou a América Latina no 1˚ Encuentro Internacional de Escritores de Ásia, África y América Latina da Fundacão Cultural de Incheon, na Coreia do Sul, em 2010.

Entre 2009 e 2012, assinou uma coluna sobre política brasileira, norte-americana e latino-americana na Revista Fórum.[14]

Em novembro de 2014, foram publicadas denúncias anônimas de um suposto assédio sexual por parte de Idelber Avelar, acompanhadas por reproduções de mensagens eróticas enviadas e recebidas por ele durante conversas privadas com duas mulheres. A denúncia desencadeou uma perseguição virtual que Idelber respondeu em seu próprio blogue. O caso abriu amplo debate sobre assédio na Internet.[15][16] Mais tarde, Avelar moveu ações judiciais contra algumas pessoas responsáveis pela perseguição, inclusive contra as mulheres que figuravam como suas interlocutoras nas mensagens que embasaram as denúncias.[17] Posteriormente, as duas mulheres negaram perante a Justiça ter sido assediadas ou publicado as mensagens.

Em 2014, Avelar publicou Crônicas do Estado de Exceção, pelo Editorial Azougue, do Rio de Janeiro.[18]

Em 2015, publicou Transculturación en suspenso: Los orígenes de los cánones narrativos colombianos, pelo Instituto Caro y Cuervo, de Bogotá.[19][19]

Em 2016 publicou Figuras de la violencia: ensayos sobre narrativa, política y música popular pela Editorial Palinodia, do Chile.[20]

De 2014 até 2018, Avelar também publicou uma série de artigos sobre os recentes processos políticos brasileiros em revistas como Luso-Brazilian Review, Transas (Buenos Aires), Lugar Comum (Rio de Janeiro) e o Journal of Latin American Cultural Studies (Londres).[2]

Em 2021 Avelar publicou o livro Eles em nós: retórica e antagonismo político no Brasil do século XXI, pela Editora Record.[21]

Obra[editar | editar código-fonte]

Alegorias da derrota[editar | editar código-fonte]

Em seu livro mais conhecido, publicado em 1999, Avelar propõe que a escrita da experiência de uma ditadura é dificultada por uma forma de recordar característica do mercado que sempre substitui o velho pelo novo completamente, sem deixar qualquer vestígio da ligação entre ambos. Avelar contrapõe esta forma de memória com a forma alegórica, que conserva os efeitos do passado no presente, mesmo que de forma negativa - como aquilo que o passado teve que esquecer para constituir-se como tal: no caso das ditaduras, a tortura, os desaparecimentos e a violência usada para conter as convulsões sociais deste período. A escrita alegórica traz para o presente o horror da ditadura e perturba a narrativa conciliadora das transições para a democracia.

Avelar usa a figura do luto para pensar os discursos sobre as ditaduras que derrubaram os governos de esquerda na América Latina durante os anos sessenta e setenta. Existe um processo de luto que oculta os vínculos entre a ditadura e a democracia posterior. Indo contra esta narrativa conciliadora, os romances dos escritores analisados no livro desequilibram o discurso pós-ditatorial ao afirmar valores afetivos que resistiram às mudanças. Isto é, circunstâncias que não são compatíveis com a forma de memória do mercado.[3][4]

Figuras da violência[editar | editar código-fonte]

Em 2004, Avelar publicou The Letter of Violence: Essays on Narrative, Ethics, and Politics, pela Palgrave MacMillan, onde reunia ensaios que abordam a interseção entre as dimensões retóricas e políticas da violência.

Ampliada, a obra foi traduzida para o português (Figuras da Violência: ensaios sobre narrativa, ética e música popular, UFMG, 2011) e, posteriormente, para o espanhol (Figuras de la violencia: Ensayos sobre narrativa, política y música popular, Palinodia, 2016).

Em sua conclusão, o livro aborda o conceito da guerra sem fim a partir de uma leitura da invasão norte-americana do Iraque e do Afeganistão.[18]

Crônicas do estado de exceção[editar | editar código-fonte]

Em dezembro de 2014, Idelber Avelar publicou o livro Crônicas do Estado de Exceção pela Editorial Azougue, do Rio de Janeiro, reunindo 32 textos de teor político. Os textos são extensões dos artigos antes publicados em veículos como a Folha de S.Paulo, a Revista Fórum e no próprio blogue de Avelar, O Biscoito Fino e a Massa.

Os 32 textos de Crônicas do Estado de Exceção estão divididos em quatro partes: Estados Unidos da América, Brasil, Palestina e Mundo.[20]

Transculturación en suspenso[editar | editar código-fonte]

Em 2016, Avelar publicou Transculturación en suspenso: los orígenes de los cánones narrativos colombianos, pelo Instituto Caro y Cuervo, de Bogotá. A obra é uma leitura das origens da novelísticas de quatro grandes regiões da Colômbia: o Caribe, a região central de Cundinamarca, incluindo Bogotá, o Valle del Cauca e Antioquia.

Avelar fala sobre como a Colômbia foi único país sul americano que não foi unificado no século XIX, percorre as guerras civis colombianas do século XIX e discute as quatro novelas que iniciam os cânones das quatro grandes regiões.

Em sua conclusão, Avelar destaca a considerável autonomia das regiões colombianas no século XIX, um caso único na literatura latino-americana.[19][19]

Eles em nós[editar | editar código-fonte]

Em 2021, Avelar publicou Eles em nós: retórica e antagonismo político no Brasil do século XXI, pela Editora Record. Com orelha de apresentação escrita por Marina Silva, o livro utiliza categorias da retórica como hipérbole, oxímoro e antagonismo para estudar as duas primeiras décadas do século XXI no Brasil, analisando fenômenos como os movimentos de Junho de 2013, a Lava Jato e ascensão do bolsonarismo.

Eles em nós foi resenhado por diversos jornalistas e acadêmicos, em canais da imprensa especializada, como as revistas Época e Veja e os jornais O Globo e Folha de São Paulo.

Em sua resenha na Revista Época, o jornalista Guilherme Amado ressaltou a contribuição do livro para a compreensão do bolsonarismo: “Para o autor, essa linguagem se aproveita de elementos como o registro extremamente agressivo contra o interlocutor, a desconsideração completa da diferença entre verdade factual, hipótese não fundamentada e pura invenção e seu modo hiperbólico do discurso, além da adoção de uma ambiguidade.”.[22]

Em resenha no jornal O Globo, o acadêmico Pablo Ortellado afirmou que “o maior mérito da obra é examinar os processos políticos recentes, reconstruindo cuidadosamente os acontecimentos, de uma perspectiva razoavelmente distanciada. A posição política do autor, que vem da esquerda, mas se afasta dela, confere rara equidistância para tratar criticamente as administrações petistas e o governo Bolsonaro.”.[23]

O jornalista Ricardo Rangel destacou, na Revista Veja, que “Idelber partiu para estudar o que ocorreu no Brasil nos últimos anos. O resultado é um belo trabalho que explica como as deficiências do presidencialismo de coalizão, a insensibilidade da classe política, as contradições do PT, a emergência de forças até então sem representação e outros fatores se combinaram para fazer com que o protesto difuso de 2013 desaguasse na eleição do anticandidato de 2018. Eles em nós é um livro indispensável para qualquer pessoa que esteja interessada na política brasileira recente — ou no Brasil moderno de maneira em geral.”.[24]

Lucio Carvalho, especialista em literatura brasileira pela UFRGS, romancista, contista e editor da Revista Sepé, publicou no Instituto Humanitas Unisinos um ensaio onde afirma que "Ao beber da fonte dos estudos antropológicos e econômicos, mas também por considerar o substrato comunicativo da internet como teia de negociações simbólicas, potencializa-se em seu livro a expressão dos fenômenos culturais que perpassam as decisões eleitorais e políticas ao mesmo tempo que incide nesse caldo o olhar de quem discerne sem compromisso ideológico.”.[25]

O livro foi também tema do podcast da Ilustríssima da Folha de São Paulo.[26]

Referências

  1. «Ops! O Pensamento Selvagem: O Biscoito Fino e a Massa (by M. Ulisses Adirt)». Consultado em 22 de fevereiro de 2020 
  2. a b c «Tulane University / School of Liberal arts: Idelber Avelar». Consultado em 17 de fevereiro de 2020 
  3. a b Avelar, Idelber (2000). Alegorías de la derrota: la ficción postdictatorial y el trabajo del duelo (em espanhol). Santiago do Chile: Editorial Cuarto Propio. ISBN 9562601927 
  4. a b Avelar, Idelber (2003). Alegorias da derrota. A ficção pós-ditatorial e o trabalho do luto na América Latina. Minas Gerais: Editora UFMG. ISBN 8570413653 
  5. «Katherine Singer Kovacs Prize Winners». Consultado em 15 de março de 2016 
  6. "«O Norte de Minas: Dica - Figuras da violência: ensaios sobre narrativa, ética e música popular (21/12/2111)». Consultado em 17 de fevereiro de 2020 
  7. «Ministério das Relações Exteriores - Ensaios premiados: a obra de Machado de Assis». Consultado em 15 de março de 2016 
  8. «Ritmos do popular no erudito: Política e música em Machado de Assis» (PDF). Consultado em 15 de março de 2016 
  9. «ACLS: Idelber Avelar». Consultado em 23 de fevereiro de 2020 
  10. «Project Muse - Cenas dizíveis e indizíveis: Raça e sexualidade em Gilberto Freyre». Consultado em 15 de março de 2016 
  11. «Biblioteca Nacional Mariano Moreno - La Biblioteca. Tercera época - Cuestión Borges». Consultado em 15 de março de 2016 
  12. «Springer Link - History, Neurosis, and Subjectivity: Gustavo Ferreyra's Rewriting of Neoliberal Ruins». Consultado em 15 de março de 2016 
  13. «ScieELO - Revisões da masculinidade sob ditadura: Gabeira, Caio e Noll». Consultado em 15 de março de 2016 
  14. «Professor Desmascara "Acadêmicos Amestrados" Da Mídia». Consultado em 23 de fevereiro de 2020 
  15. > «Folha de S.Paulo - Cotidiano: Caso de professor abre debate sobre assédio na internet 21/12/2014)». Consultado em 5 de março de 2020 
  16. «MTAgora: Quando uma conversa em rede social vira assédio sexual? (16/02/2014)». Consultado em 17 de fevereiro de 2020 
  17. «OGlobo Online - Sociedade: Professor acusado de assédio em conversas on-line afirma que está sendo perseguido (04/12/2014)». Consultado em 17 de fevereiro de 2020 
  18. a b «Crônicas do Estado de Exceção». Consultado em 15 de outubro de 2016 
  19. a b c d «Instituto Caro y Cuervo - Transculturación en suspenso: los orígenes de los cánones narrativos colombianos». Consultado em 15 de março de 2016 
  20. a b «Figuras de la violencia. Ensayos sobre narrativa, política y música popular». Consultado em 23 de setembro de 2012 
  21. «Editora record - Eles em nós». Consultado em 9 de maio de 2021 
  22. «Revista Época - Livro analisa como "partido da trollagem" ajudou a eleger Bolsonaro». Consultado em 9 de maio de 2021 
  23. «Jornal O Globo - Eles em Nós». Consultado em 9 de maio de 2021 
  24. «Revista Veja - Política "Como teve lugar isso que nos aconteceu?", pergunta Idelber Avelar». Consultado em 9 de maio de 2021 
  25. «Instituto Humanitas Unisinos - Eles em Nós». Consultado em 9 de maio de 2021 
  26. [(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2021/03/bolsonaro-emergiu-do-ressentimento-gerado-no-lulismo-diz-idelber-avelar.shtml «Revista Época - Bolsonaro emergiu do ressentimento gerado no lulismo, diz Idelber Avelar»] Verifique valor |url= (ajuda). Consultado em 9 de maio de 2021