Militarizado Partido Comunista do Peru

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Militarizado Partido Comunista do Peru (MPCP)
Militarizado Partido Comunista del Perú (MPCP)
Outros nomes Remanentes do Sendero Luminoso (nome usado pelo Estado peruano até 2018)
Líder(es) Víctor Quispe Palomino (Camarada José)[1]
Fundação 2012
Motivos Guerra ao Estado peruano,
Estabelecimento de uma república de Nova Democracia no Peru
Área de atividade Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM), Peru
Ideologia Marxismo-Leninismo-Maoismo, Conservadorismo social
Espectro político Extrema-esquerda
Principais ações Sequestro,
  • Escravização de camponeses e indígenas
  • Recrutamento de crianças-soldado

Terrorismo,

  • Massacre de San Miguel del Ene

Narcotráfico

Aliados Traficantes de drogas do VRAEM,
Frente Patriótico
Inimigos Estado Peruano

Sendero Luminoso

Bandeira
Sítio oficial Partido Comunista do Peru - Marxista-Leninista-Maoista

O Militarizado Partido Comunista do Peru (MPCP) é um partido comunista marxista-leninista-maoista e organização paramilitar realizando uma guerra de guerrilha no Peru.[2] O MPCP também é por vezes descrito como uma facção criminosa ou narcoguerrilha devido a sua associação com o tráfico de drogas no Peru para financiar suas ações militares.[3]

Atualmente, o MPCP é ativo principalmente no Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM), uma das zonas geopolíticas mais pobres do Peru, onde ocorre a maioria da produção de coca.[4] A organização é acusada de cometer sérias violações de direitos humanos em suas áreas de operação, incluindo a escravização de populações indígenas e o recrutamento de crianças-soldado.[5][6][7] O grupo foi responsável pelo massacre de San Miguel del Ene em 2021, menos de um mês antes das eleições gerais.[8]

História[editar | editar código-fonte]

O MPCP é uma das organizações diretamente descendentes do Partido Comunista do Peru (Sendero Luminoso), que protagonizou uma insurreição contra o Estado peruano por décadas e é frequentemente classificado como organização terrorista.[9] Em 1992, com a captura do líder Abimael Guzmán (mais conhecido pelo nome de guerra Presidente Gonzalo), o Sendero Luminoso encontrou-se divido em duas correntes distintas.[10][11] A primeira, denominada “Acordista” e inicialmente minoritária, apoiava o fim da luta armada e posteriormente daria origem ao Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais (MOVADEF). A segunda, agrupada em torno de Camarada Artemio (nome de guerra de Florindo Eleuterio Flores Hala) e denominada “Prosseguir”, defendia a continuação da luta armada e seguiu realizando operações militares ao longo dos anos 2000, quase todas no VRAEM.[12]

Após a captura de Camarada Artemio, a corrente Prosseguir se dividiu em duas. A primeira considerava Abimael Guzmán um traidor do movimento comunista, e posteriormente viria a romper todos os laços com o Sendero Luminoso e sua linha política, o Pensamento Gonzalo.[13][14] A segunda negava a autenticidade dos acordos de paz assinados por Guzmán, acreditando que este ainda defendia a luta armada e reafirmando a ele sua lealdade.[15][16] A segunda organização foi minoritária e deu origem ao Comitê Base Mantaro Rojo (PCP-BMR), ao passo que a primeira se tornou o MPCP, e passou a controlar quase todas as bases no VRAEM.[17][11]

Ideologia[editar | editar código-fonte]

O MPCP é um partido comunista marxista-leninista-maoista. Como tal, ele considera o Peru uma nação atrasada que mantém traços do feudalismo, herdados do período colonial, e cujo capitalismo burocrático seria financiado por grandes potências capitalistas, especialmente os Estados Unidos. A proposta do partido é a realização de uma Revolução de Nova Democracia anti-imperialista, liderada pelo partido comunista (representando o proletariado e o campesinato) e pela burguesia nacional. Diferente do Sendero Luminoso, o MPCP rejeita o Pensamento Gonzalo, com sua noção de Pensamento Guia, Chefatura e de libertação feminina.[18] O partido, ainda assim, realiza os “ajustiçamentos seletivos” (assassinato de figuras locais, como pequenos criminosos ou políticos corruptos) pelos quais os senderistas eram famosos.[14][19]

Diferente das outras organizações derivadas do Sendero Luminoso, o MPCP incorpora em sua ideologia aspectos do Buen vivir de populações indígena quíchua, do etnonacionalismo peruano (o etnocacerismo),[20][21] do conservadorismo social (incluindo uma violenta homofobia)[19][8] e do pensamento folclórico peruano, além de ter abandonado o ateísmo militante.[22][13] Um dos maiores rompimentos da organização com o Sendero Luminoso foi a adoção de uma política de colaboração com narcotraficantes. Ao passo que o PCP-SL mantinha relações tensas e ambíguas com narcotraficantes, e frequentemente os hostilizava e atacava para conquistar a simpatia da população local,[23][24] o MPCP os fornece proteção.[25][26] Existem alegações de que o MPCP em sí também praticaria o tráfico de drogas.[27]

A tática de manutenção de uma área base de guerrilhas na selva, da colaboração com narcotraficantes, do comportamento altamente pragmático e da manutenção de um conflito armado de baixa intensidade por muitas décadas rendeu ao MPCP comparações com as dissidências das FARC, outra guerrilha sul-americana.[28]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Muerte de comandante de Sendero Luminoso asesta duro golpe a guerrilla en Perú». InSight Crime (em espanhol). 31 de março de 2021. Consultado em 3 de julho de 2022 
  2. «Shining Path». InSight Crime (em inglês). 24 de maio de 2021. Consultado em 3 de julho de 2022 
  3. «Peru's Shining Path Plots Unlikely Return to Power». InSight Crime (em inglês). 23 de setembro de 2019. Consultado em 3 de julho de 2022 
  4. «Sendero Luminoso sufre deserciones por estrategia militar y policial en el Vraem». www.gob.pe (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  5. PERÚ, NOTICIAS EL COMERCIO (13 de fevereiro de 2020). «Policías y militares buscan al menos 10 terroristas armados que desertaron en el Vraem | PERU». El Comercio Perú (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  6. meza, junior (7 de março de 2019). «"Somos conscientes de las matanzas [de Sendero en el Vraem], eso no puede quedar impune"». Ojo Público (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  7. PERÚ, NOTICIAS EL COMERCIO (21 de fevereiro de 2020). «Vraem: estos son los terroristas desertores hallados por las fuerzas del orden | Sendero Luminoso | PERU». El Comercio Perú (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  8. a b Burt, Jo-Marie (5 de junho de 2021). «Peru's military say Shining Path insurgents killed 16 civilians. Others are not so sure.». The Washington Post (em inglês). Consultado em 2 de junho de 2022 
  9. CORREO, NOTICIAS (25 de julho de 2017). «Denuncian surgimiento de un nuevo grupo terrorista en el Vraem | PERU». Correo (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  10. Comas, José (10 de outubro de 1993). «El Jefe de Sendero Luminoso admite su derrota y pide la paz al presidente de Perú». Madrid. El País (em espanhol). ISSN 1134-6582. Consultado em 3 de julho de 2022 
  11. a b «Un Sendero nada luminoso». ArchivoRevista Ideele (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  12. «La agónica huida y captura de 'Artemio' | portada | elmundo.es». www.elmundo.es. Consultado em 3 de julho de 2022 
  13. a b «Guerrilla maoísta Sendero Luminoso ya no existe en Perú, asegura especialista». Diario Digital Nuestro País (em espanhol). 24 de agosto de 2019. Consultado em 3 de julho de 2022 
  14. a b «A Glimpse into the Tactics of Peru's Shining Path Guerrillas». InSight Crime (em inglês). 27 de março de 2017. Consultado em 3 de julho de 2022 
  15. Perú, ONG de derechos humanos Waynakuna. «La expansión ideológica del terrorista comité de base Mantaro rojo». ONG Waynakuna Perú. Consultado em 3 de julho de 2022 
  16. Jiménez, Benedicto. «ANALISIS ESTRATEGICO DEL FOLLERO PUBLICADO POR MANTARO ROJO LINEA PROSEGUIR». issuu.com (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  17. «Una nueva emboscada de Sendero Luminoso deja dos muertos». Madrid. El País (em espanhol). 15 de outubro de 2008. ISSN 1134-6582. Consultado em 3 de julho de 2022 
  18. LR, Redacción (9 de junho de 2018). «Terrorista "José" amenaza con más ataques a las fuerzas del orden». larepublica.pe (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  19. a b Regional, Prensa (24 de maio de 2021). «Sendero Luminoso ya había amenazado en la zona del Vraem, previo al ataque de hoy | Prensa Regional» (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  20. «El Militarizado PC mantiene contactos con exmilitares ultranacionalistas». La Vanguardia (em espanhol). 13 de junho de 2018. Consultado em 3 de julho de 2022 
  21. PERÚ, NOTICIAS EL COMERCIO (6 de dezembro de 2019). «¿Quién es el ex militar que se reunía con el cabecilla de Sendero Luminoso en el Vraem? | PERU». El Comercio Perú (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  22. «Vraem: asedio y horror en la zona de la emboscada terrorista [INFORME] | Perú | Junin | El Comercio Perú». web.archive.org. 30 de junho de 2019. Consultado em 3 de julho de 2022. Cópia arquivada em 30 de junho de 2019 
  23. Bond, Rosana (1999). Peru - Do Império dos Incas ao Império da Cocaína. São Paulo: Coedita. ISBN 978-8598464015 
  24. Shining and other paths : war and society in Peru, 1980-1995. Steve J. Stern. Durham: Duke University Press. 1998. OCLC 37878706 
  25. Zapata, Ralph (26 de maio de 2021). «Voces desde la masacre: Vizcatán del Ene vive en duelo, abandonado y acechado por el narcotráfico». Ojo Público (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022 
  26. «Arresto de alcalde de Perú revela conexiones con el tráfico de drogas y terrorismo». InSight Crime (em espanhol). 8 de agosto de 2017. Consultado em 3 de julho de 2022 
  27. «Arresto de grandes traficantes no acabará con producción de cocaína en VRAEM, Perú». InSight Crime (em espanhol). 8 de maio de 2019. Consultado em 3 de julho de 2022 
  28. «PCP MILITARIZADO SON LAS NUEVAS "FARC" DEL PERÚ Y ESTÁN POR EXPANDIRSE DEL VRAEM – RCR Peru» (em espanhol). Consultado em 3 de julho de 2022