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Como ler uma infocaixa de taxonomiaGuerlinguetus ingrami (Serelepe)

Estado de conservação
Vulnerável
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Subordem: Sciuromorpha
Família: Sciuridae
Subfamília: Sciurinae
Género: Guerlinguetus/Sciurus
Espécie: G. ingrami/S. ingrami
Nome binomial
Guerlinguetus ingrami/Sciurus ingrami

(Thomas, 1901)

Serelepe, caxinguelê ou esquilo sul-americano é uma espécie endêmica de roedor onívoro do gênero Guerlinguetus, pertencente à família Sciuridae, que habita as florestas pluviais da América do Sul, sendo o mais comum representante dos esquilos no Brasil. É um animal arborícola, ou seja, que vive nas árvores, descendo para buscar alimento e enterrar sementes para depois comê-las. Esse hábito o torna um importante dispersor de sementes, pois acaba esquecendo onde as enterrou e elas então germinam, originando novas plantas. Ao voltar do solo, carrega o alimento na boca, já que as patas são utilizadas para a escalada até a copa da árvore. É muito ágil, possui hábitos diurnos e vive sozinho ou aos pares. Felinos selvagens de pequeno e médio porte como a jaguatirica (Leopardus pardalis) e o gato-do-mato (Leopardus tigrinus), aves de rapina e cobras estão entre seus principais predadores.[1]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

"Esquilo" é uma palavra com origem no termo grego skioúros, justaposição das palavras skiá (sombra) e ourá (cauda). Enquanto o termo ''serelepe'' acredita-se que tenha se originado na língua Tupi, e se refere à agilidade, rapidez e inquietação do animal ao se locomover. Já "caxinguelê" é oriundo do termo quimbundo kaxinjiang'elê e significa "rato de palmeira". Essas e outras nomenclaturas, tais como caxinxe, quatimirim (do Tupi: pequeno quati), quatipuru (do Tupi: quati enfeitado), agutipuru ou acutipuru (do Tupi: cotia enfeitada ou salta-sem-barulho) são atribuídas não somente ao Guerlinguetus ingrami, mas também às demais espécies de esquilos existentes no Brasil.

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

O Guerlinguetus ingrami é uma espécie de esquilo descrita por Thomas em 1901, classificada na ordem Rodentia, na família Sciuridae e no gênero Guerlinguetus do qual fazem parte outras seis espécies, que também habitam o Brasil: Guerlinguetus aestuans, Guerlinguetus alphonsei, Guerlinguetus ignitus, Guerlinguetus gilvigularis, Guerlinguetus henseli e Guerlinguetus poaiae.[2]

Todas as espécies do gênero Guerlinguetus têm sido tratadas como sinônimos de Sciurus aestuans, quando na verdade, formam um gênero próprio de sete espécies com base nas atuais revisões taxonômicas. Essa confusão entre as espécies, se deve ao fato de que ambos os indivíduos dos gêneros Guerlinguetus e Sciurus apresentam semelhanças em aparência e comportamento, portanto, o Guerlinguetus ingrami é também chamado de Sciurus ingrami.[2]

Distribuição Geográfica e Habitat[editar | editar código-fonte]

O serelepe é encontrado nos estratos baixos e intermediários de florestas pluviais de baixada e de florestas montanhosas, sempre-verdes, semidecíduas e decíduas primárias ou alteradas da América do Sul, abrangendo Brasil, Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Venezuela e Colômbia. No Brasil ocorre nas áreas de Mata Atlântica e parques urbanos do sudeste da Bahia até o norte do Rio Grande do Sul (onde também ocorre nas Matas de Araucária, também denominada Floresta Ombrófila Mista). Esse roedor raramente aparece em locais movimentados, mas é possível encontrá-lo, ás vezes, em quintais.[2][3][4]

Descrição[editar | editar código-fonte]

O caxinguelê é um roedor de tamanho médio, muito ágil, com cauda volumosa de comprimento igual ou maior que o corpo e mede cerca de 30 cm (corpo e cauda juntos). Quando adulto, seu peso pode atingir de 100 à 300 g. Possui dentes bem fortes que estão em constante crescimento, sendo muito úteis na alimentação. Suas orelhas são grandes e projetam-se sobre o perfil da cabeça. A pelagem do corpo varia entre olivácea e cinza-olivácea dorsalmente e de laranja-escura a amarelo-clara no ventre, sendo mais longa, densa e crespa, diferente da pelagem das demais espécies do gênero que é curta e macia. Possui olhos grandes com um anel de pelos claros ao redor. Já o trecho basal da cauda é coberto de pelos longos da mesma cor do dorso, mas no restante, é mesclada de preto e castanho-avermelhado, alaranjado, amarelo-claro ou esbranquiçado devido às bandas dos pelos. Essas cores possibilitam a camuflagem do animal no ambiente, protegendo-o contra predadores. Nas fêmeas da espécie são encontrados quatro pares de mamas.[2][5]

Comportamentos e hábitos[editar | editar código-fonte]

Alimentação e dispersão de sementes[editar | editar código-fonte]

O caxinguelê alimenta-se de frutos e sementes, tendo preferência pelos coquinhos das palmeiras: coqueiro-jerivá (Syagrus romanzoffiana), tucum (Bactris setosa), palmito (Euterpe edulis) e butiá. Alimenta-se sentado em um galho alto, e com seus dentes fortes (principalmente os incisivos), ele remove a polpa do coquinho roendo-o até extrair a parte germinativa. Os coquinhos menores ele corta ao meio, já quando são maiores, o padrão de corte é em forma de ''V'', possibilitando que o animal possa acessar todas as câmaras do fruto. É importante ressaltar que como é um roedor, seus dentes estão em constante crescimento, por isso está sempre comendo.[5][4]

Como costuma estocar comida, ao esconder os coquinhos e sementes dos quais se alimenta nas bromélias, saliências e ocos das árvores, ou enterrando-os no solo, acaba por vezes ''esquecendo'' onde eles estão, possibilitando a germinação. Esse fato faz do serelepe um grande dispersor de sementes. Na floresta de araucária, ele se alimenta também de pinhões, atuando como dispersor do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), que está ameaçada de extinção, segundo a lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).[5]

Também fazem parte de sua dieta líquens, brotos de árvores e pequenos frutos como os da licurana e helicônia, além de alguns invertebrados como insetos, lagartas e larvas de besouros do coco (também conhecidas como gorós ou corós). Portanto, é classificado como onívoro e/ou frugívoro.[3][5]

Reprodução e construção de ninhos[editar | editar código-fonte]

O serelepe ao completar um ano de vida, atinge maturidade sexual, sendo um animal poligâmico, pois possui vários parceiros sexuais ao longo da vida. Seu ninho posiciona-se sempre próximo à fontes de alimentos (para evitar o afastamento entre a mãe e os filhotes) e é bem protegido, localizado no interior de uma ''bola'' de folhas e gravetos frescos, secos e finos construída por ele mesmo entre 3 e 5 dias. Essa bola é forrada por dentro com musgo, líquens e cascas de tronco, e é encontrada nas forquilhas de árvores, entre as bromélias ou no centro das folhas do palmiteiro, com a distância de dois a quatro metros do solo. As cavidades das árvores também podem ser utilizadas como ninhos.[5]

A gestação dura entre 28 e 45 dias, quando nascem de dois à três filhotes sem pelos, que abrem os olhos em aproximadamente 30 dias após nascerem. O nascimento e amamentação das crias acontece no próprio ninho, mas quando a mãe sente-se ameaçada, ela as carrega pelo pescoço em sua boca para um lugar mais seguro.[5]

Os ninhos também servem como local de descanso e de proteção contra predadores, tempestades, ventos e frio.

Ações de limpeza e manutenção[editar | editar código-fonte]

Algumas ações de ''limpeza'' corporal são realizadas de forma semelhantes tanto por Guerlinguetus ingrami quanto por Sciurus ingrami, possibilitando confundir as espécies. Dentre esses comportamentos destacam-se: coçar as axilas e a cabeça (utilizando uma das patas posteriores), coçar as costas e a cauda (através de mordiscadas), coçar o focinho (movimentando as duas patas dianteiras circularmente dos olhos para o focinho repetidas vezes), coçar o membro anterior (com mordidas) e lamber as mãos.[6][7]

Posturas[editar | editar código-fonte]

O Guerlinguetus ingrami utiliza quatro posturas comportamentais: em pé (apoia-se sobre as patas com o corpo paralelo ao chão, e a cauda em ''S''), sentado (membros posteriores flexionados e cabeça curvada), postura de alerta (ereto com a cauda eriçada e faz vocalizações), postura de pendurada (membros posteriores e região ventral do corpo apoiados em uma superfície vertical, os anteriores livres, e a cabeça voltada para baixo).[7]

Comportamento agonístico[editar | editar código-fonte]

Comportamentos sociais do esquilo relacionados ao combate e proteção: vocalização de alerta (produz um som agudo, curto e alto que lembra um piado), observação (permanece imóvel espreitando uma ameaça), esconder-se atrás de um objeto do meio (movimenta-se para o lado oposto da ameaça) e ação de espantar mosquitos da cabeça (utilizando a cauda).[7]

Territorialismo[editar | editar código-fonte]

Atitudes de marcação territorial: marcação facial (fricção dos lados da face contra a superfície) e urinar (em pé e imóvel).[7]

Características[editar | editar código-fonte]

É uma espécie com hábitos diurnos, diferente da maioria dos mamíferos da Mata Atlântica, que possuem hábitos noturnos. Pode viver até 15 anos, sozinho ou em pares. Como é arborícola, à noite dorme em ocos nos troncos de árvores ou entre as bromélias no alto, descendo durante o dia apenas para procurar alimento e enterrar sementes.[5]

Muito ágil, possui uma grande habilidade para se locomover entre as árvores, com saltos de até 2 metros de distância entre elas e de 5 metros de um galho para outro, para tais deslocamentos a cauda serve de grande ajuda, pois auxilia no equilíbrio do animal. Nessa locomoção, a presença de garras em seus dedos permite que o animal se desloque com facilidade pelos troncos, pois tais partes funcionam como ganchos de apoio. Percebe-se a presença do bicho quando existem coquinhos roídos em forma de ''V'' embaixo das palmeiras das quais os retira, ou pelo som que faz ao roer os coquinhos, que é característico da espécie.[1][5]

É um roedor arisco e territorial, e uma de suas estratégias de sobrevivência consiste em ficar imóvel por um tempo ao ser avistado, objetivando passar desapercebido, para fugir em seguida. Sua visão e audição são bastante apuradas.[1]

Ameaças[editar | editar código-fonte]

A caça ao serelepe e a destruição de seu habitat (a Mata Atlântica) constituem os principais riscos á espécie. Os gatos domésticos introduzidos na natureza capturam esse roedor com muita facilidade, sendo uma ameaça em segundo plano.[5]

Conservação[editar | editar código-fonte]

Como o Guerlinguetus ingrami é um animal silvestre, sua captura, venda, domesticação e vida em residências ou cativeiro não é permitida, salvo os casos consentidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).[4]

Apesar da quantidade de trabalhos existentes sobre o Guerlinguetus ingrami, as informações a seu respeito por vezes são vagas, o que é evidenciado com a ausência do animal nas listas de espécies em risco de extinção (como a lista vermelha da IUCN), mesmo que o bicho esteja classificado como vulnerável de acordo com a Lista Vermelha da Bahia (avaliação do estado de conservação da fauna e flora da Bahia).[8][9]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c «Serelepe». Fauna. 3 de fevereiro de 2015. Consultado em 21 de novembro de 2019 
  2. a b c d BONVICINO, Cibele Rodrigues; OLIVEIRA, João Alves de; D’ANDREA, Paulo Sérgio (2008). Guia dos roedores do Brasil com chaves para gêneros baseadas em caracteres externos (PDF). Rio de Janeiro: Coordenação de Comunicação Social Saúde Pública Veterinária - PANAFTOSA - OPAS/OMS Organização Pan-Americana da Saúde Organização Mundial da Saúde. pp. 15–16. Consultado em 21 de novembro de 2019 
  3. a b FAVRETTO, Mario Arthur (2011). Parque Natural Municipal Rio do Peixe, Joaçaba, Santa Catarina - Volume I Fauna de Vertebrados (PDF). Joaçaba - SC: volume 1. pp. 97–98. Consultado em 28 de novembro de 2019 
  4. a b c «Caxinguelê: conheça o esquilo do Brasil e seus hábitos». QC Animais. 7 de dezembro de 2018. Consultado em 9 de janeiro de 2020 
  5. a b c d e f g h i «Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade». www.ra-bugio.org.br. Consultado em 21 de novembro de 2019 
  6. Bordignon, Marcelo; Monteiro Filho, Emygdio L.A (1997). «Comportamentos e atividade diária de Sciurus ingrami (Thomas) em cativeiro (Rodentia, Sciuridae)». Revista Brasileira de Zoologia. 14 (3): 707–722. ISSN 0101-8175. doi:10.1590/s0101-81751997000300019. Consultado em 19 Dezembro 2019 
  7. a b c d MENDES, Calebe P.; JÚNIOR, José Flavio C. (16 de setembro de 2011). «Comportamento de Guerlinguetus ingrami Thomas 1901 (Sciuridae, Rodentia) em um fragmento de mata em Cascavel - PR». Sociedade de Ecologia do Brasil. Consultado em 9 de Janeiro de 2020 
  8. «Lista vermelha da Bahia - Avaliação do Estado de Conservação da Fauna e Flora do Estado da Bahia». www.listavermelhabahia.org.br. Consultado em 9 de janeiro de 2020 
  9. «The IUCN Red List of Threatened Species». IUCN Red List of Threatened Species. Consultado em 9 de janeiro de 2020