Usuário(a):Jorge alo/Rascunho de Suevos e Visigodos na Hispânia

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A ilusão da glória passada. Após 407, o general Gerôncio convoca à Hispânia os Vândalos, Alanos e Suevos, que cruzam os Pirenéus. Durante o século V e seguintes, os Germanos não destroem o antigo sistema administrativo imperial mas degradam-no progressivamente. Enquanto as fontes escritas (textos legislativos e conciliares, as obras de Santo Isidoro de Sevilha, a liturgia) da época visigótica quase só dão conta dos sucessos relativos ao poder político e militar, criando a ideia de uma monarquia poderosa, com grande capacidade legislativa, instituições próprias e uma organização eficiente, as fontes arqueológicas, pelo contrário, no âmbito da civilização e da arte, mostram o lento empobrecimento duma civilização que antes estagnou nos seus padrões de vida e modelos estéticos, perdendo ainda a capacidade de criar testemunhos monumentais comparáveis aos da época imperial (fim 302). Os Visigodos eram um conjunto de bandos de guerreiros que enriqueceram pela apropriação dos bens do fisco e de alguns ricos aristocratas romanos, bem como pelo exercício da autoridade. Porém, respeitavam e até beneficiavam o clero, servindo-se dos seus conhecimentos intelectuais e técnicos, e promulgavam as leis que os Hispano-Romanos lhes sugeriam. Qual terá sido, na realidade, o seu contributo para a chamada «cultura visigótica»?

O mito de um império visigótico modelo nasce nos primórdios da monarquia asturiana, com os clérigos da corte a idealizá-lo como um ponto de referência e um exemplo a seguir pelos reis cristãos do norte da Península. Depois esta ideia é suportada pelos códices que os clérigos e monges guardam religiosamente e atribuem aos Visigodos. Eles contêm as regras do direito civil e canónico, os textos da liturgia e, nas Etimologias de Santo Isidoro, o que então se considerava como a súmula de todos os conhecimentos que um homem culto havia de possuir. Mas, hoje, muitos historiadores pensam que tais códices são tão-só cópias de textos que revelam o nível cultural e comportamento duma pequena parte da aristocracia hispânica, aquela que se esforçava por salvaguardar a organização da época imperial, tentando deter-lhe a irremediável degradação. Não seriam, assim, o reflexo das práticas sociais particulares da minoria dos dominadores visigodos, a qual, admirando e tentando assimilar a cultura romana, só parcialmente o conseguiu, mas sem contribuir com aquilo que lhe era específico e peculiar para as realizações intelectuais (fim das 303/304).


AS HISTÓRIAS DO PODER.

O reino dos Suevos e o destino da Lusitânia (anos 409-470).

A instalação dos bárbaros na Hispânia. Durante dois anos, entre 409 e 411, já certamente depois do suicídio de Gerôncio, os Germanos põem muitas cidades a ferro e fogo e espalham o terror. Ademais dos autores latinos de então, testemunham-no os tesouros escondidos atribuíveis a essa época e a fuga de muitos presbíteros e bispos para África e para outras regiões do Mediterrâneo. A partir de 411 a situação altera-se. Os Suevos e os Vândalos Asdingos haviam-se fixado na Galécia, os Alanos na Lusitânia e na Cartaginense ocidental, os Vândalos Silingos na Bética, dividindo as forças da sua coligação. É possível, mas não é seguro, que esta diversa implantação territorial dos Germanos haja resultado de um acordo com os Romanos, sob a forma de foedus, no propósito de os afastar das terras mais romanizadas, a Tarraconense e a Cartaginense oriental. Mas em 415, no sul, as pilhagens e devastações dos Silingos e Alanos levam os Romanos a solicitar o auxílio dos Visigodos chefiados por Vália, os quais, por essa altura, lutando contra a carência de trigo, tinham vindo procurá-lo à Hispânia. O patrício Constâncio, a nova autoridade militar do Império, chega a acordo com eles e lança-os contra os Silingos e os Alanos na Bética e na Lusitânia. Ao que parece, uns e outros teriam sido completamente derrotados em campanhas que haverão durado uns dois anos (fim 305). Os Visigodos voltam em seguida para a Gália Narbonense e Vália estabelece-se em Toulouse, onde vem a falecer pouco tempo depois. Em 419 os Vândalos Asdingos, provavelmente a partir da zona mais montanhosa do interior da Galécia, atacam os Suevos que viviam nos montes Nerbasios, ou seja, e ao que parece, na região de Orense. O conde da Hispânia Astério e o vigário Maurocelo atacam os Asdingos, estes, chefiados pelo seu rei Gunderico dirigem-se então para sul. Passam primeiro por Braga, onde matam muitos Suevos que ali viviam, e seguem depois para a Bética, onde permanecem durante alguns anos, saqueando cidades e vilas, sem que o exército romano, enviado contra eles em 422, os houvesse conseguido vencer. Gunderico morre nesse ano e sucede-lhe Genserico, o qual, em 428, chega mesmo a atacar povoações nas ilhas Baleares. Os Romanos convocam aos Suevos, com quem já se haviam entendido em 419. Estes, comandados por Heremigário, atacam os Vândalos perto de Mérida mas são derrotados. No entanto o rei Genserico, com todas as suas forças e o seu povo, decide passar à África, aí intervindo no conflito entre o conde da África Bonifácio e o imperador Valentiniano III, que então governava nominalmente sob a tutela de sua mãe, Gala Placídia.

O reino dos Suevos de 430 a 456. Idácio, um galaico-romano, bispo de Chaves, deixou-nos um relato dos acontecimentos na Península entre os anos de 379 e 468 (fim 306). Em 431, Idácio integra uma embaixada que vai à Gália solicitar ao mestre dos soldados Aécio um ataque contra os Suevos. Gorada a diligência e voltando à Galécia, o próprio Idácio negocia a paz entre os Galaico-Romanos e os Suevos.

Se, a partir de então, os períodos de paz parecem predominar na Galécia, já no exterior se assiste a numerosos ataques suevos contra cidades da Lusitânia e da Bética, e, inclusive, à ocupação de algumas delas a sul do Douro. Em 448 ou 449, o rei Requiário converte-se ao Catolicismo. Posteriormente, devido à crescente influência visigoda na Península e às pregações do bispo Ajax[1], a partir de 466, os Suevos aderem ao arianismo, uma confissão cristã também ela integrante da cultura latina.

As campanhas dos Suevos para sul coincidem aproximadamente, no tempo, com a «bagauda»[2] que ocorreu entre os anos de 441 e 454 na região do Ebro e nas fronteiras dos povos bascos. Eclodiram então revoltas locais contra as autoridades e os grandes proprietários, apoiadas por elementos autóctones que os Romanos nunca tinham conseguido sujeitar, como era o caso dos Bascos ou, ainda, dos ástures. A expansão sueva começa em 438, quando o príncipe Réquila[3] (fim 307), que seu pai, o rei Hermerico, associara ao trono, invade a Bética e devasta, de seguida, Mérida e Mértola e outras cidades da Lusitânia. O exército que o patriciado local envia contra ele, comandado por Andevoto, é derrotado nas margens do rio Genil. Os Suevos efectuam entretanto novas incursões e em 441, quando ascende ao trono, Réquila entra em Sevilha com a conivência de membros da aristocracia local, passando a dominar toda a Lusitânia e uma parte da Bética até, pelo menos, 446. Neste ano os Romanos iniciam uma campanha contra os Suevos dirigida por Vito, mestre dos dois exércitos (neste caso concreto, um comandante de tropas compostas por soldados romanos e visigodos), porém são derrotados. Réquila morre em Mérida, em 448, e o novo rei suevo, Requiário, prossegue as assolações na Lusitânia e na Bética e estende-as à Cartaginense. Requiário visitou em Toulouse o rei visigodo Teodorico I, com o qual se aliou, casando com uma sua filha. Em 449 coordena os seus ataques com os bandos da bagauda comandados por um chefe de nome Basílio, que assolam, na Tarraconense, primeiro Tarazona e depois Saragoça e Lérida[4]. Requiário converteu-se ao Catolicismo, quando os outros povos germânicos eram arianos, e foi o primeiro rei bárbaro a cunhar moeda em seu nome próprio.

Tentando pôr fim às depredações, o conde da Hispânia Mansueto e o conde Frontão estabelecem um acordo de paz com os Suevos, no ano de 453, pelo qual estes se comprometem a abandonar a Cartaginense, e, no ano seguinte, os Hispano-Romanos pedem o auxílio de Teodorico II, rei dos Visigodos, contra os revoltosos da bagauda, que são esmagados. Todavia, em 456, Requiário volta a assolar a Cartaginense, não obstante o conde Frontão, de novo enviado à Hispânia, invocar o anterior tratado de 453, e os Suevos atacam igualmente na Tarraconense, onde saqueiam e fazem numerosos cativos. Chamado pelos seus aliados Hispano-Romanos, Teodorico II atravessa os Pirenéus e ruma à Galécia, vencendo os Suevos junto ao rio Órbigo[5], perto de Astorga, depois prossegue a marcha e saqueia Braga, não poupando os cidadãos romanos nem os clérigos nem as igrejas. Por fim persegue Requiário até ao Porto, onde ele se refugiou. De novo vencido, o rei suevo é preso e condenado à morte. Teodorico II terá entregue então a Galécia a Agiulfo, um seu cliente dos Varnas[6], possivelmente porque entre os Suevos haveria elementos dessa tribo. Continuando a sua campanha agora na Lusitânia, Teodorico II, do Porto, segue para Mérida, onde as tropas locais suevas, ao que parece, se lhe submeteram. Envia também contingentes à Galécia oriental, os quais saqueiam Astorga e Palência, mais uma vez não poupando bispos, clérigos nem igrejas. Entre os poucos lugares que lhes resistem é mencionado o Castro da Coyanza (Valencia de Don Juan).

Entretanto dá-se a morte do imperador Avito, um antigo senador da Gália protegido de Teodorico II,

Referências

  1. texto em inglês
  2. texto em inglês
  3. Borges Coelho (2010) diz «Requiário»; volume I, p. 108. Já corrigido por ABC em 25/02/12: é «Réquila».
  4. Borges Coelho (2010) diz que, em 449, os revoltosos comandados por Basílio entraram na catedral de Tarragona e mataram o bispo; volume I, p. 108. Como entraram em Lérida também podem ter entrado em Tarragona, aí matando o bispo, mas não será possível confusão com Tarazona?
  5. texto em espanhol
  6. texto em inglês