Cátia de França
Cátia de França | |
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Poster de Cátia de França (exposição na Estação Cabo Branco, João Pessoa, 2017). | |
Informações gerais | |
Nome completo | Catarina Maria de França Carneiro |
Nascimento | 13 de fevereiro de 1947 (77 anos) |
Origem | João Pessoa![]() |
País | ![]() |
Gênero(s) | MPB |
Ocupação | Cantora, compositora, escritora e instrumentista |
Instrumento(s) | Vocal, Violão |
Período em atividade | Década de 60—presente |
Gravadora(s) | Epic |
Afiliação(ões) | Chico César, Xangai, Zé Ramalho, Elba Ramalho |
Página oficial | Cátia de França |
Cátia de França, cujo nome de batismo é Catarina Maria de França Carneiro (João Pessoa, 13 de fevereiro de 1947), é uma cantora, compositora e escritora brasileira. Sua música tem como fonte a literatura, fazendo referências à obra de Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Manoel de Barros, além de João Cabral de Melo Neto, mas que também é definida pela mesma como "popular mundial", por incluir referências que vão desde os nordestinos Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, até Elvis Presley, Beatles e o mineiro Clube da Esquina.[1]
Em 2023, foi uma das dez personalidades do cenário artístico brasileiro, homenageadas com o Prêmio Milú Villela - Itaú Cultural 35 Anos.[2] Foi indicada ao Grammy Latino em 2024 na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa, com "No Rastro de Catarina".[3]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nascida em João Pessoa, Paraíba, descreve o ambiente familiar como pobre, mas ilustrado ("faltava manteiga, mas tinha livro", conforme declara).[1] Filha única, foi alfabetizada através de canções pela mãe, Adélia de França, primeira professora negra do estado da Paraíba;[2][4] começou a estudar piano a partir dos 4 de idade; dos 12 aos 15 anos, aprendeu piano clássico na Escola de Música Antenor Navarro, época na qual chegou a se apresentar no Teatro Santa Rosa, em João Pessoa. Aos 16 anos, mudou-se para Belém de Maria, interior de Pernambuco, para cursar magistério num colégio interno;[5] ali permaneceu de 1962 a 1966, e foi onde teve aulas particulares de violão. Foi ali também que aprendeu a tocar flauta, sanfona e percussão, e enveredou definitivamente pela música popular. Durante seus anos de residência em Pernambuco, fez teatro, deu aulas de música e tocou em casas noturnas.[1]
Na década de 1960, a cantora participou de festivais de música popular, tendo ganho um certame em 1970; nesta época também viajou para Portugal e Espanha com um grupo folclórico da Fundação Artístico-Cultural Manuel Bandeira, do qual participava (grupo do qual também fazia parte Elba Ramalho).[5] De volta ao Brasil, no início dos anos 1970 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde integrou as bandas de outros músicos nordestinos, como Zé Ramalho, Elba Ramalho, Amelinha e Sivuca. Mais tarde, foi parceira de palco de Jackson do Pandeiro durante a primeira versão do Projeto Pixinguinha, em 1980.[1]
Em 1990, voltou a residir na Paraíba, passando a integrar a ONG e Projeto Malagueta, de divulgação do acervo cultural do estado.[1] Em 2005, fixou residência em Lumiar, distrito de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, onde em 2017 abriu o restaurante Empório do Mimo, em parceria com a chef Lilian Hedin. Em fevereiro de 2018, foi inaugurado o Centro Cultural Cátia de França, em São Pedro da Serra, outro distrito de Nova Friburgo. Como o espaço revelou-se pequeno para a demanda, foi fechado pouco depois, com a reabertura tendo ocorrido naquele mesmo ano.[6]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Apesar de ter ganho certa projeção no cenário musical brasileiro nos anos 1970, juntamente com outros cantores e compositores nordestinos, Cátia de França nunca aceitou ingerências das gravadoras no seu trabalho, no sentido de torná-lo mais comercial. Portanto, sua produção artística é consumida por um público mais restrito, que não se prende às convenções culturais dos grandes centros urbanos brasileiros.[1]
Em 1970, em parceria com o poeta e jornalista Diógenes Brayner, amigo de sua mãe, compõe e interpreta a canção "Mariana", vencedora do IV Festival Paraibano de MPB.[5][6] Em 1979 gravou seu primeiro disco, "20 Palavras ao Redor do Sol", com participações de Sivuca, Lulu Santos e Bezerra da Silva, dentre outros; é considerado pela própria autora como um precursor do que Chico Science faria, 15 anos depois, ao mesclar música nordestina com rock.[6] O icônico álbum, cujo título é inspirado numa poesia de João Cabral de Melo Neto, incorpora referências literárias e culturais diversas, inclusive do folclore cigano da Bulgária, na canção "Kukukaya (Jogo da Asa da Bruxa)". Uma música da cantora foi trilha sonora do filme "Cristais de Sangue", de 1975.[1]
Em cerca de 40 anos de carreira, Cátia gravou três LPs: "20 Palavras ao redor do Sol" (1979), "Estilhaços" (1980) e "Feliz Demais" (1986), e quatro CDs: "Avatar" (2003, com participações de Chico César e Xangai), "Cátia de França canta Pedro Osmar" (2005), "No Bagaço da Cana / Um Brasil Adormecido" (2012) e "Hóspede da Natureza" (2016), no qual ela demonstra a força criativa da música paraibana.[7][1] Recentemente, gravou um oitavo álbum, "No Rastro de Catarina" (2024), indicado ao Grammy Latino e que deverá ser lançado também como LP em vinil.[4]
Cátia também adentrou pelo mundo da literatura e das artes plásticas, com destaque para os livros "Zumbi em Cordel", "Falando de Natureza Naturalmente" e "A Peleja de Lampião Contra a Fibra Ótica" (literatura infanto-juvenil), e "Manual da Sobrevivência", um resgate de sua trajetória pessoal e profissional.[1][4]
Com a redescoberta de suas composições pelas novas gerações, através da divulgação pela internet, Cátia de França tem voltado a se apresentar pelos palcos de todo o Brasil.[6]
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Cátia de França é publicamente homossexual. Como ela mesma relata, "até os 15 anos tinha medo de ir para o inferno, mas usava bota, cabelo curto e calça faroeste". Foi frequentadora da churrascaria Bambu, no centro de João Pessoa, cuja clientela reunia artistas, jornalistas e políticos, mas também um público LGBT. Cátia declara que "não empunhava bandeira" (no sentido de não ser uma ativista), mas acreditava que "as pessoas não tinham nenhuma dúvida quanto a minha sexualidade". Ressalta que atualmente "ainda há preconceito, mas também há uma maior conscientização".[5]
Discografia
[editar | editar código-fonte]- 20 Palavras ao redor do Sol (1979)
- Estilhaços (1980)
- Feliz demais (1985)
- Avatar (1998)
- Cátia de França canta Pedro Osmar (2005)
- No Bagaço da Cana / Um Brasil Adormecido (2012)
- Hóspede da Natureza (2016)
- No Rastro de Catarina (2024)
Referências
- ↑ a b c d e f g h i Cultural, Instituto Itaú. «Cátia de França». Enciclopédia Itaú Cultural
- ↑ a b «"Prêmio Milú Villela - Itaú Cultural 35 Anos": leia os perfis dos homenageados». ItaúCultural. 14 de fevereiro de 2023. Consultado em 6 de junho de 2024
- ↑ «Cátia de França é indicada ao Grammy Latino 2024 com álbum 'No Rastro de Catarina'». G1. 17 de setembro de 2024. Consultado em 14 de outubro de 2024
- ↑ a b c Esmejoano Lincol (18 de abril de 2024). «Sustentar a pisada». A União. Consultado em 6 de junho de 2024
- ↑ a b c d Irlam Rocha Lima (10 de abril de 2019). «Discos clássicos de Cátia de França são relançados pela Sony Music». Correio Braziliense. Consultado em 6 de junho de 2024
- ↑ a b c d Lucas Altino (5 de julho de 2018). «Centro cultural e novos discos: a vida de Cátia de França em Lumiar». O Globo. Consultado em 6 de junho de 2024
- ↑ «Cátia de França está em ebulição». Trip. 13 de julho de 2017
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Dicionário Cravo Albin»
- Cátia, violão e banquinho
- CD Avatar
- Prefeitura de João Pessoa – cantores paraibanos