Centro Cultural Martim Cererê
O Centro Cultural Martim Cererê é um complexo cultural localizado no Setor Sul em Goiânia, Goiás. Inaugurado em 20 de outubro de 1988 pelo governo estadual,[1] é um dos principais centros culturais da cidade e um verdadeiro marco da cena artística goiana.
Nome
[editar | editar código-fonte]O nome do Centro Cultural Martim Cererê foi inspirado numa peça homônima do autor modernista Cassiano Ricardo,[1][2] publicada em 1928 e que reimagina a história do Brasil com um indígena, um negro e um brando tomando o poder.[3] O nome foi escolhido porque o espaço, antes de sua inauguração, foi ocupado pelo diretor teatral Marcos Fayad para ensaiar sua adaptação de Martim Cererê.[1]
História
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Originalmente a estrutura do Martim Cererê fazia parte de antigos reservatórios de água da Empresa de Saneamento do Estado de Goiás (Saneago).[1] Cada reservatório tinha capacidade para armazenar um volume de 1.015 metros cúbicos e ambos tinham 4 metros de altura e 18 metros de diâmetro.[1] Foi o primeiro sistema de abastecimento de água de Goiânia, recebendo águas do córrego Areião.[1] No local havia ainda um filtro de areia que era utilizado para o tratamento da água.[1] As caixas d'água se tornaram ícone do Setor Sul[2] e acabaram virando alvo de lendas urbanas segundo as quais foram usadas como câmara de tortura durante a ditadura militar após terem sido desativadas pela Saneago.[3][4] A história, negada pelas autoridades e confirmada por moradores da região, chegou a ser investigada pela Comissão Estadual da Memória, Verdade e Justiça (CEMVJ), sem nenhuma comprovação do fato.[4] Há, inclusive, relatos de fantasmas que seriam dos militantes supostamente assassinados ali pelas forças da repressão.[4]
Durante a redemocratização, no governo de Henrique Santillo (1987–1991), o então secretário estadual da cultura Kleber Adorno propôs transformar os reservatórios abandonados num espaço de culutra para a população.[1] O projeto de transformação do local ficou a cargo do arquiteto e músico Gustavo Veiga,[1][5] que transformou os antigos reservatórios de água em teatros e propôs a instalação de outras áreas físicas para receber eventos culturais diversos.[4] À época, a administração do terreno havia sido transferida à Companhia Energética de Goiás (Celg), que planejava construir um edifício de 22 andares no local.[5] Segundo o então superintendente de ação cultural, Marcos Brandão, a classe artística se mobilizou para evitar a destruição do local e Santillo cedeu à ideia de transformar o espaço num centro cultural após visitar a um dos ensaios da peça Martim Cererê de Fayad.[5]
Estrutura
[editar | editar código-fonte]As dependências do Centro Cultural Martim Cererê são compostas por dois pequenos teatros (as antigas caixas d'água), um teatro de arena (localizado no local do antigo filtro de areia)[1], uma área aberta e um bar. Seguindo a temática da obra de Cassiano Ricardo, todos os espaços têm nomes indígenas:
- Teatro Yguá ("lugar de guardar água" em xavante[1]): capacidade para 190 pessoas.[2]
- Teatro Pyguá ("caverna da água" em xavante[1]): capacidade para 290 pessoas.[2]
- Anfiteatro Ytakuá ("buraco na pedra" em xavante[1]): teatro de arena com capacidade para 500 pessoas.[2]
- Bar Karuhá ("lugar de comer" em xavante[1]): capacidade para 150 pessoas.[2]
Utilização
[editar | editar código-fonte]O Centro Cultural é utilizado principalmente para eventos de música alternativa, já tendo sediado os festivais Bananada e Vaca Amarela, em suas primeiras edições, além do Goiânia Noise.[1][3][4] Segundo o Diário da Manhã, a partir de meados da década de 2000, o Martim Cererê se tornou "o principal reduto do rock and roll goiano, dando espaço para uma veia cultural que até então parecia não existir em Goiânia".[5] Dentre as bandas que já tocaram no local, vale destacar o Boogarins, que fez seu primeiro show no local,[5] e a Carne Doce, que lançou um disco em homenagem ao espaço.[6] Segundo o guitarrista desta última, Macloys Aquino, "o Cererê é mais que um mero espaço físico, é um lugar de afeto, de encontros e amizades, de romances e tretas, e principalmente um lugar de trabalho, laboratório onde não só a gente, mas vários artistas goianos vivenciaram o sonho de ser uma banda".[7]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o Straioto, Samuel. "Martim Cererê: reservatórios de água viram templos da cultura". Sagres Online. 1 de agosto de 2023. Página acessada em 3 de abril de 2025.
- ↑ a b c d e f Centro Cultural Martim Cererê - Secretaria de Estado da Cultura. Página acessada em 3 de abril de 2025.
- ↑ a b c "Centro Cultural Martim Cererê, localizado na Capital, estampa a série “Por trás do nome”, nas redes sociais da Casa". Assembleia Legislativa de Goiás. 5 de abril de 2021. Página acessada em 3 de abril de 2025.
- ↑ a b c d e "Martim Cererê: a história de um dos principais centros culturais de Goiânia". Aproveite a Cidade. 2 de setembro. Página acessada em 3 de abril de 2025.
- ↑ a b c d e Neto, Walacy. "O surgimento do Martim Cererê". Diário da Manhã. 20 de outubro de 2015. Página acessada em 3 de abril de 2025.
- ↑ Muniz, Thais. "Banda Carne Doce celebra 10 anos de carreira com show no Cidade Rock em Goiânia". Curta Mais. 27 de março de 2025. Página acessada em 3 de abril de 2025.
- ↑ Ribeiro, Lúcio. "CENA – Carne Doce mexe com a história em seu bom novo disco. A sua e a do indie nacional". Popload. 2 de março de 2024. Página acessada em 3 de abril de 2025.