Leitura labial
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A leitura labial é uma das estratégias adotadas para complementar a comunicação através da leitura dos lábios e pode ser usada pelas pessoas em diferentes contextos, por exemplo, durante uma conversa com ruído de fundo ou em casos de perda auditiva[1]. A leitura labial funciona como agente facilitador para que a mensagem seja recebida mais facilmente.
Estudos demonstram que mesmo o leitor labial mais experiente consegue captar apenas em torno de 50% do que se é dito. Boa parte de sua habilidade está ligada à sua capacidade de intuir o que esta sendo dito, completando o restante, proferido de maneira ilegível, ou mesmo naturalmente irreconhecível. Sons (fonemas) como “p” e “m”, “d” e “n” e “s” e “z”, podem ser facilmente confundidos entre si.
Processos[editar | editar código-fonte]
Pessoas com visão, audição e as habilidades sociais normais, inconscientemente, utilizam as informações dos lábios e rosto para ajudar à compreensão auditiva na conversação diária. Cada som da fala (fonema), tem características articulatórias e fonológicas particulares, apesar de muitos fonemas compartilhar o mesmo ponto articulatório, tornando impossível de distinguir o som a partir de apenas informação visual. Alguns pontos articulatórios são menos visíveis quando "dentro da boca ou da garganta", como o caso dos fonemas velares e nasais. Pares sonoros e surdos parecem idênticos quanto ao ponto articulatório e podem ser facilmente confundidos, tais como [p] e [b], [k] e [g], [t] e [d], [f] e [v] e [s] e [z].[2]
É muito mais fácil, para quem faz a leitura labial, entender frases usuais, tais como "bom dia". Pessoas com deficiência auditiva tendem a utilizar muita leitura labial durante a vida para compreender as pessoas. Para a leitura sem o apoio auditivo se exige muita concentração, o que pode tornar o processo extremamente cansativo. Por essas e outras razões, muitas pessoas surdas preferem utilizar outros meios de comunicação com os não-signatários, como mímica e do gesto, escrita e intérpretes de língua gestual.
A leitura labial também pode ajudar essas pessoas na adaptação de aparelhos auditivos, integrando as pistas auditiva e visual, ou seja, os sons da fala e a articulação das palavras.[2]
A leitura labial não é uniforme, ela pode não funcionar caso o dialeto do falante e do receptor sejam diferentes, pois essas variações linguísticas envolvem, também, diferentes pontos articulatórios que podem ser lidos incorretamente. O processo de leitura pode ser prejudicado, ainda, quando o falante articula pouco ou imprecisamente as palavras, possui articulação travada, ou algo impedindo a visualização dos lábios, como por exemplo, o uso de bigode grande.[3] Pode-se dizer que a leitura labial é um procedimento útil em alguma medida, na interação verbal entre surdos e ouvintes, mas não é definidora da compreensão.[4]
Enquanto para os ouvintes a linguagem oral é uma modalidade audiovisual, na surdez ela é considerada uma modalidade visuoverbal, pois, agora, a imagem mental da palavra é visual, e não auditiva. Nesse caso, a associação entre significante e significado é feito através do gesto articulatório/sentido e não mais som/sentido.[3] Desta forma, a visualização labial se torna uma orientação das emissões feitas[5].
Outras situações difíceis para quem faz leitura labial[editar | editar código-fonte]
- Falta de uma visão clara dos lábios do falante. Isto inclui obstáculos como bigodes ou as mãos na frente da boca, não estar de frente e/ou próximo para o falante, ou fonte de luz brilhante, como uma janela por trás do alto-falante.
- Discussões em grupo, especialmente quando várias pessoas estão falando em sucessão rápida.
- Durante a pandemia da covid-19, que se iniciou no final do ano de 2019, as máscaras faciais se tornaram de uso frequente e indispensável, com isso a comunicação entre surdos e ouvintes ficou prejudicada. Máscaras transparentes inclusivas entraram no mercado afim de facilitar a troca linguística. [6]
"Quando você é surdo que vive dentro de um frasco de vidro bem tampadas. Você vê o fascinante mundo exterior, mas não alcançá-lo. Depois de aprender a ler lábios, você ainda está dentro a garrafa, mas a rolha saiu e o mundo exterior lenta mas seguramente, vem a você." Olho Ouvir, Dorothy Clegg, 1953.
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ Toffolo, Andreia Chagas Rocha; Bernardino, Elidéa Lúcia Almeida; Vilhena, Douglas De Araújo; Pinheiro, Ângela Maria Vieira (7 de dezembro de 2017). «Os benefícios da oralização e da leitura labial no desempenho de leitura de surdos profundos usuários da Libras». Revista Brasileira de Educação (71). ISSN 1809-449X. doi:10.1590/s1413-24782017227165. Consultado em 21 de março de 2023
- ↑ a b Bannwart Dell'Aringa, Ana Helena; Satico Adachi, Elisabeth; Dell'Aringa, Alfredo Rafael (Janeiro de 2007). «Lip reading role in the hearing aid fitting process». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (em inglês). 73 (1): 95–99. doi:10.1016/S1808-8694(15)31129-0
- ↑ a b SANTANA, Ana Paula (2015). Surdez e linguagem: Aspectos e implicações neurolinguísticas. São Paulo: Summus
- ↑ Botelho, Paula. «Educação inclusiva para surdos: desmistificando pressupostos.» (PDF). Consultado em 24 de março de 2023
- ↑ BEVILACQUA, M C e TECH, E A. Elaboracao de um procedimento de avaliacao de percepcao de fala em criancas deficientes auditivas profundas a partir de cinco anos de idade. Topicos em Fonoaudiologia 1996. Tradução . São Paulo: Lovise, 1996. Acesso em: 21 mar. 2023.
- ↑ compiler., Papim, Angelo Antonio Puzipe, compiler. Di Roma, Alessandra Ferreira,. Educação em tempos de pandemia : novas fronteiras do ensino e da aprendizagem. [S.l.: s.n.] OCLC 1303712907
- Saenko, Kate; Livescu, Karen; Glass, James; Darrell, Trevor (2005). «Articulatory Feature Based Visual Speech Recognition». CSAIL Research Abstracts (em inglês). Consultado em 1 de março de 2018