Caso Partygate

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Boris Johnson em uma das reuniões em que alguns participantes violaram os regulamentos do COVID-19.

O caso Partygate é um escândalo político no Reino Unido sobre festas e outras reuniões de funcionários do governo e do Partido Conservador realizadas durante a pandemia de COVID-19 em 2020 e 2021, quando as restrições de saúde pública proibiram a maioria das reuniões. Enquanto vários bloqueios no país estavam em vigor, as reuniões ocorreram na 10 Downing Street, seu jardim e outros prédios do governo. Eles foram relatados pela primeira vez no final de novembro de 2021 e atraíram a atenção da mídia, reação pública e controvérsia política. No final de janeiro de 2022, doze reuniões foram investigadas pela Polícia Metropolitana, incluindo pelo menos três com a presença de Boris Johnson, o até então primeiro-ministro naquele período. A polícia emitiu 126 avisos penais fixos para 83 pessoas que cometeram uma ofensa sob os regulamentos da COVID-19, incluindo Boris, sua esposa Carrie Johnson e Rishi Sunak (chanceler do Tesouro), que todos pediu desculpas e pagou as multas.

As alegações foram relatadas pela primeira vez em 30 de novembro de 2021 pelo Daily Mirror de que cerca de 10 funcionários de Downing Street reuniam-se durante a época de Natal em 2020. Boris afirmou que as foram seguidas e Downing Street que uma festa ocorreu. Uma semana depois, o vídeo da ITV News teceu comentários sobre a festa. Allegra Stratton — então secretária de imprensa de Downing Street —, apareceu no vídeo e renunciou ao cargo subsequente no governo depois que o vídeo apareceu. Shaun Bailey também renunciou a vários cargos, incluindo o Comitê Criminal Policial da Assembleia de Londres, depois de admitir ter participado de uma festa em 14 de dezembro de 2020 com funcionários do Partido Conservador. Em janeiro de 2022, surgiram relatos de que havia cerca de 30 a 40 pessoas participando de festas com bebidas em maio de 2020 no jardim da 10 Downing Street durante o primeiro lockdown do país. Boris confessou o caso e pediu desculpas publicamente. Downing Street pediu desculpas à rainha Elizabeth II por mais duas reuniões realizadas em 16 de abril de 2021, um dia antes do funeral do príncipe Filipe, durante um terceiro lockdown na Inglaterra. Seguiram-se relatos de uma reunião na qual o aniversário de Boris foi comemorado com um bolo em junho de 2020.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Lockdown durante pandemia de COVID-19 no Reino Unido[editar | editar código-fonte]

Boris Johnson em uma entrevista coletiva em 16 de dezembro de 2020, quando anunciou que Londres entraria na classificação risco "alto" da propagação do vírus.

Em resposta à pandemia de COVID-19 no Reino Unido, instaurou-se o lockdown no país em 23 de março de 2020, feito sob um novo instrumento estatutário. Esta foi uma ordem explícita de permanência em casa que proibia todas as viagens e reuniões sociais não essenciais.[1] Algumas regras foram gradualmente relaxadas nos meses seguintes na Inglaterra; a partir de 13 de maio, "duas pessoas de agregados familiares separados foram autorizadas a encontrar-se no exterior num local público, como um parque, desde que ficassem a 2 metros de distância".[2] Seis pessoas foram autorizadas a socializar ao ar livre até junho e as reuniões sociais internas só foram permitidas a partir de 4 de julho e apenas entre membros de duas famílias.[3]

Com a segunda onda da pandemia de COVID-19, um segundo bloqueio nacional começou na Inglaterra em 5 de novembro de 2020. Um sistema regional de bloqueio em camadas substituiu isso em 2 de dezembro.[4] Londres foi inicialmente colocada no risco "moderado" e movida para o nível "alto" em 16 de dezembro, sendo finalmente colocada sob um pedido de lockdown em 19 de dezembro. A socialização entre as famílias ou fora das bolhas de apoio não foi permitida durante todo esse período.[5] A mistura e a socialização das famílias no próprio Natal também foram restritas a um pequeno número de famílias e permitidas apenas em 25 de dezembro em grande parte do Reino Unido, e em Londres foi totalmente cancelada.[6]

Em 5 de janeiro de 2021, um terceiro lockdwon começou em toda a Inglaterra. Gradualmente promulgaram quarentena a partir de 29 de março, limitando o contato social a grupos de seis pessoas — não mais que duas residências, distanciamento social e permitido apenas ao ar livre, em abril.[7][8]

Westmisnter[editar | editar código-fonte]

Em dezembro de 2021, The Spectator publicou que as restrições de COVID-19, que dependem da Lei de Saúde Pública (Controle de Doenças) de 1984, podem não se aplicar legalmente a 10 Downing Street, pois é de Domínio Real,[9] enquanto um segundo artigo argumentou contra isso, baseando que as leis relevantes do COVID-19 se aplicavam a indivíduos e não a terras.[10] Em dezembro de 2021, Jenny Jones, membra do Partido Verde da Câmara dos Lordes, pediu ao governo que esclarecesse o assunto e Nicholas True, até então ministro de Estado do Gabinete, respondendo: "10 Downing Street é uma propriedade da Coroa. Os regulamentos da Lei de Saúde Pública (Controle de Doenças) de 1984 que se relacionam com as atividades das pessoas se aplicam independentemente dessas atividades terem ocorrido na propriedade da Coroa ou não."[11][12]

Investigações[editar | editar código-fonte]

Inquérito do Gabinete[editar | editar código-fonte]

Sue Gray, funcionária pública que realizou o inquérito do caso.

O inquérito foi assumido pela funcionária pública sênior, Sue Gray, segunda Secretária Permanente do Gabinete.[13][14] Gavin Barwell, ex-deputado conservador e chefe de gabinete no período de Theresa May — enquanto primeira-ministra —, foi relatado que "ele não poderia pensar em uma pessoa melhor para o papel". Dois políticos da oposição, o deputado trabalhista Chris Bryant e o deputado Ian Blackford, pediram que o inquérito fosse conduzido por uma pessoa independente do governo e do funcionalismo público.[14]

Em janeiro de 2022, foi informado que a investigação de Gray também cobriria a imagem de 15 de maio de 2020 e partes das alegações de Dominic Cummings de 20 de maio e 13 de novembro de 2020.[15] Alex Thomas, diretor do programa de serviço civil do Instituto de Governo, disse ao Channel 4 News que Gray, como funcionária pública, não é independente do governo.[16][17]

Gray entrevistou mais de 70 pessoas.[18] Ela teria questionado Boris sobre os eventos e também sobre Cummings,[19] que insistiu em responder apenas por escrito.[20] Robert Peston afirmou que Gray deveria mencionar que Boris foi avisado que o evento de 20 de maio não devesse ocorrer a algum funcionário de alto escalão. [21] Gray também teve acesso a cartões magnéticos e outros dados de segurança sobre os movimentos das pessoas dentro e fora de 10 Downing Street,[22] conversando com policiais que estavam de plantão, cujas evidências foram descritas por uma fonte como "extremamente condenatórias".[23] A Sky News informou que Gray recebeu fotos mostrando Boris participando de eventos com bebida alcoólica.[24]

O relatório de Gray foi inicialmente esperado na semana que começou em 24 de janeiro de 2022 e teria cerca de 25 páginas.[25][22] O Partido Trabalhista e os Liberais Democratas pediram que todas as provas anexas, incluindo e-mails e relatos de testemunhas, fossem publicadas.[26] O vice-primeiro-ministro Dominic Raab não confirmou que o relatório de Gray seria publicado na íntegra e disse que Johnson decidiria quantos detalhes seriam divulgados publicamente.[27]

Caso Simon[editar | editar código-fonte]

Nas perguntas do primeiro-ministro em 8 de dezembro, Boris pediu desculpas pelo vídeo da coletiva de imprensa simulada, descrevendo-se "furioso" com isso, mas sustentou que, não havia ocorrido uma festa. Também afirmou que havia encomendado uma investigação se alguma regra havia sido quebrada, a ser realizada pelo secretário de gabinete Simon Case.[28][29] Três horas depois, Stratton, que apareceu no vídeo, renunciou ao cargo de porta-voz do governo para a cúpula da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP26).[30][31]

Em 9 de dezembro de 2021, foi anunciado que o inquérito liderado por Simon Case se concentraria em três eventos: dois no 10 Downing Street em 27 de novembro e 18 de dezembro de 2020, e um no Departamento de Educação em 10 de dezembro de 2020.[32]

Investigação policial[editar | editar código-fonte]

Um inquérito policial, chamado Operação Hillman, foi iniciado em 12 reuniões em 8 dias diferentes,[33] seis das quais Boris supostamente participou.[34] O Daily Mirror afirmou que Boris tinha participado de pelo menos sete eventos.[35]

Em 25 de janeiro de 2022, a Polícia Metropolitana anunciou que investigaria possíveis violações dos regulamentos COVID em Whitehall e Downing Street durante a pandemia.[36] A polícia contactou o gabinete no dia anterior, pedindo todas as informações relevantes do inquérito Gray.[37] Cressida Dick, comissária da Polícia Metropolitana, alegou que tais investigações aconteceram em casos potenciais de "violação mais grave e flagrante" de regras, ou quando as pessoas que o fizeram, "deviam saber que o que estavam fazer era uma ofensa".[38] Inicialmente, o departamento policial investigou oito eventos,[39] não se opondo à divulgação do inquérito antes da investigação e que Gray estava em colaboração junto a polícia.[37]

Moção de desconfiança[editar | editar código-fonte]

A situação de Boris Johnson começou a se deteriorar devido ao Partygate, e sua permanência no governo foi posta em xeque. Então o Partido Conservador decidiu realizar no dia 06 de junho de 2022 uma moção de desconfiança para remover Johnson do cargo de Primeiro-Ministro.[40] A moção foi autorizada pelos Conservadores após 45 de seus parlamentares (15%, o que é exigido pelas normas internas do Partido) terem solicitado o procedimento. No entanto, os 359 parlamentares Conservadores (que são a maioria, de um total de 650 cadeiras na Câmara dos Comuns) votaram por manter Boris Johnson no governo, sendo 211 a seu favor e 148 contra.[41]

Referências

  1. «Downing Street Christmas party: What were the Covid rules at the time?». BBC News. 18 de dezembro de 2021 
  2. «20 May 2020: what was UK doing while No 10 aide organised a party?». The Guardian. 10 de janeiro de 2022. Consultado em 28 de maio de 2022 
  3. «What were the Covid rules at the time of Boris Johnson's 2020 birthday?». The Guardian. 24 de janeiro de 2022. Consultado em 28 de maio de 2022 
  4. Baker, Carl; Kirk-Wade, Esme; Brown, Jennifer; Barber, Sarah (12 de julho de 2021). «Coronavirus: A history of English lockdown laws». UK Parliament: House of Commons Library 
  5. Tom Edgington (15 de dezembro de 2021). «Downing Street Christmas party: What were the Covid rules at the time?». BBC News. Consultado em 28 de maio de 2022 
  6. «Christmas rules 2020: What are the new rules on mixing?». BBC News. 23 de dezembro de 2020. Consultado em 28 de maio de 2022 
  7. «Lockdown parties in No 10 on eve of Prince Philip's funeral». BBC News. 14 de janeiro de 2022. Consultado em 28 de maio de 2022 
  8. «Renewed calls for PM to resign over parties on eve of Philip funeral». The Guardian. 14 de janeiro de 2022. Consultado em 28 de maio de 2022 
  9. Steven Barrett (8 de dezembro de 2021). «No, the Downing Street party probably didn't break the law». The Spectator. Consultado em 28 de maio de 2022 
  10. Charles Holland (10 de dezembro de 2021). «No, there is no Downing Street Christmas party loophole». The Spectator. Consultado em 28 de maio de 2022 
  11. «Question for Cabinet Office - 10 Downing Street: Crown Lands and Estates (UIN HL4966)». UK Parliament - Written questions, answers and statements  Q: 14 December 2021; A: 7 January 2022
  12. «True claims torpedo partygate defence». The Spectator. 10 de janeiro de 2022. Consultado em 28 de maio de 2022 
  13. «Top civil servant Simon Case quits No 10 party probe amid rule breach claims». BBC News. 17 de dezembro de 2021. Consultado em 29 de maio de 2022 
  14. a b «Downing Street parties inquiry: Opposition MPs call for independent figure to lead probe». BBC News. 18 de dezembro de 2021. Consultado em 29 de maio de 2022 
  15. «Dominic Cummings' claim of another rule-breaking No10 party to be investigated». 7 de janeiro de 2022 
  16. «Partygate: Sue Gray 'not independent of government', says Institute for Government's Alex Thomas». 4 News. 14 de janeiro de 2022 
  17. «Sue Gray: the woman who could bring down Boris Johnson». 14 de janeiro de 2022 
  18. «Sue Gray party report: What are the findings?». BBC News. 31 de janeiro de 2022 
  19. «Boris Johnson questioned by Sue Gray as part of investigation into partygate allegations - report». Sky News. 17 de janeiro de 2022 
  20. «PM will 'come back' from partygate, Raab insists – follow live». Independent. 23 de janeiro de 2022. Cópia arquivada em 25 de maio de 2022 
  21. Peston, Robert (20 de janeiro de 2022). «Why the mystery 'partygate' email mentioned in Cummings' blog really matters». ITV News 
  22. a b «No 10 staff have swipe card data logged in probe of 'partygate'». The Guardian. 22 de janeiro de 2022 
  23. Evans, Martin; Fisher, Lucy (23 de janeiro de 2022). «No 10 police give 'extremely damning' evidence to Sue Gray over 'partygate'». The Telegraph 
  24. Morris, Sophie (26 de janeiro de 2022). «Boris Johnson: Sue Gray has received photos of parties in Downing Street which show the PM next to wine bottles, Sky News understands». Sky News 
  25. «Sue Gray finds email warning against No10 drinks party in May 2020». ITV News. 20 de janeiro de 2022 
  26. Skopeliti, Clea (22 de janeiro de 2022). «About a dozen Tory MPs said to have accused party whips of blackmail». The Guardian. Consultado em 29 de maio de 2022 
  27. «Dominic Raab refuses to confirm full publication of Sue Gray partygate report». The Guardian. 23 de janeiro de 2022. Consultado em 29 de maio de 2022 
  28. Walker, Peter; Mason, Rowena (8 de dezembro de 2021). «Johnson 'apologises unreservedly' over No 10 Christmas party video». The Guardian. Consultado em 29 de maio de 2022 
  29. «Allegra Stratton resigns over No 10 Christmas party video». BBC News. 8 de dezembro de 2021. Consultado em 8 de dezembro de 2021 
  30. Walker, Peter (8 de dezembro de 2021). «Allegra Stratton resigns after No 10 Christmas party video». The Guardian. Consultado em 29 de maio de 2022 
  31. «PMQs: Boris Johnson sorry for offence caused by aides joking about lockdown party». BBC News. 8 de dezembro de 2021. Consultado em 8 de dezembro de 2021 
  32. «Christmas parties row: Three gatherings to be investigated by top civil servant». BBC News. 9 de dezembro de 2021. Consultado em 29 de maio de 2022 
  33. «Police to email 50 people in Downing Street party inquiry». BBC News. 10 de janeiro de 2022 
  34. «The six lockdown parties under police investigation that Boris Johnson is accused of attending». inews.co.uk. 2 de janeiro de 2022. Consultado em 4 de junho de 2022 
  35. Adu, Aletha (13 de fevereiro de 2022). «Boris Johnson hires hot-shot private lawyers to handle police's party questions». Daily Mirror. Consultado em 4 de junho de 2022 
  36. «Police to investigate Downing Street lockdown parties». BBC News. 25 de janeiro de 2022 
  37. a b «Sue Gray report: Partygate inquiry could be released in full in coming days despite police investigation». Sky News. 25 de janeiro de 2022 
  38. «Boris Johnson in Commons fight as No 10 parties report looms». BBC News. 27 de janeiro de 2022 
  39. Payne, Sebastian; Wright, Robert (28 de janeiro de 2022). «Police seek limits on content of Downing Street 'partygate' report». Financial Times 
  40. «Boris Johnson enfrenta hoje moção de censura - Mundo». Correio da Manhã. Consultado em 7 de junho de 2022 
  41. «Boris Johnson vence voto de confiança do partido e se mantém no cargo». noticias.uol.com.br. Consultado em 7 de junho de 2022