Cancro do endométrio: diferenças entre revisões

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{{Info/Patologia
{{Info/Patologia
| Nome = Cancro do endométrio
| Nome = Cancro do endométrio
| Imagem = File:Blausen 0348 EndometrialCancer.png
| Imagem = File:Blausen 0348 EndometrialCancer.png
| Legenda = Localização e desenvolvimento do cancro do endométrio.
| Legenda = Localização e desenvolvimento do cancro do endométrio.
| campo = [[Oncologia]], [[ginecologia]]
| Especialidade = [[Oncologia]], [[ginecologia]]
| Sinónimos = Cancro do útero
| Sintomas = [[Hemorragia vaginal]], [[Disúria|dor ao urinar]] ou [[Dispareunia|durante as relações sexuais]], dor pélvica<ref name=NCI2014Gen/>
| Complicações =
| Início = Após a [[menopausa]]<ref name=Cochrane0412/>
| Duração =
| Tipos =
| Causas =
| Riscos = [[Obesidade]], exposição excessiva a [[estrogénio]], [[hipertensão arterial]], [[diabetes]], [[antecedentes familiares]]<ref name=NCI2014Gen/><ref name="WCR2014Epi"/>
| Diagnóstico = [[Biópsia]]<ref name=NCI2014Gen/>
| Diferencial =
| Prevenção =
| Tratamento = [[Histerectomia|Histerectomia abdominal]], [[radioterapia]], [[quimioterapia]], [[terapia hormonal]]<ref name=NCI2014Pro/>
| Medicação =
| Prognóstico = [[Taxa de sobrevivência a cinco anos|Sobrevivência a 5 anos]] ~80% (EUA)<ref name=SEER2014/>
| Frequência = 3,8 milhões (2015)<ref name=GBD2015Pre>{{citar periódico|autor = GBD 2015 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators |título= Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 310 diseases and injuries, 1990-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015 |periódico= Lancet | volume = 388 |número= 10053 |páginas= 1545–1602 |data=outubro de 2016 | pmid = 27733282 | pmc = 5055577 | doi = 10.1016/S0140-6736(16)31678-6 }}</ref>
| deaths = 89,900 (2015)<ref name=GBD2015De>{{citar periódico|autor = GBD 2015 Mortality and Causes of Death Collaborators |título= Global, regional, and national life expectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015 |periódico= Lancet | volume = 388 |número= 10053 |páginas= 1459–1544 |data=outubro de 2016 | pmid = 27733281 | pmc = 5388903 | doi = 10.1016/s0140-6736(16)31012-1 }}</ref>
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| CID10 = {{CID10|C|54|1|c|51}}
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<!-- Tratamento e prognóstico -->
<!-- Tratamento e prognóstico -->
A opção de primeira linha para o tratamento de cancro do endométrio é a [[histerectomia]] abdominal, que consiste na cirurgia de remoção integral do útero, a par da remoção das [[trompas de Falópio]] e dos [[ovário]]s de ambos os lados, um procedimento denominado [[ooforectomia]]. Em estádios mais avançados pode também ser recomendada a realização de [[radioterapia]], [[quimioterapia]] ou [[Terapia hormonal|hormonoterapia]]. Quando a doença é diagnosticada nos estádios iniciais, o [[prognóstico]] é favorável,,<ref name=NCI2014Pro/> com uma taxa de sobrevivência a cinco anos superior a 80%.<ref>{{citar web|título=SEER Stat Fact Sheets: Endometrial Cancer |url=http://seer.cancer.gov/statfacts/html/corp.html |publicado=[[National Cancer Institute]] |acessodata=18 de junho de 2014}}</ref>
A opção de primeira linha para o tratamento de cancro do endométrio é a [[histerectomia]] abdominal, que consiste na cirurgia de remoção integral do útero, a par da remoção das [[trompas de Falópio]] e dos [[ovário]]s de ambos os lados, um procedimento denominado [[ooforectomia]]. Em estádios mais avançados pode também ser recomendada a realização de [[radioterapia]], [[quimioterapia]] ou [[Terapia hormonal|hormonoterapia]]. Quando a doença é diagnosticada nos estádios iniciais, o [[prognóstico]] é favorável,,<ref name=NCI2014Pro/> com uma taxa de sobrevivência a cinco anos superior a 80%.<ref name=SEER2014>{{citar web|título=SEER Stat Fact Sheets: Endometrial Cancer |url=http://seer.cancer.gov/statfacts/html/corp.html |publicado=[[National Cancer Institute]] |acessodata=18 de junho de 2014}}</ref>


<!-- Epidemiologia -->
<!-- Epidemiologia -->
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Em 90% dos casos de cancro do endométrio após a [[menopausa]] verifica-se [[hemorragia vaginal]] ou [[metrorragia]].<ref name=Cochrane0412/><ref name=CurrentSurgery>{{citar livro|último1 =Reynolds |primeiro1 =RK |último2 =Loar III |primeiro2 =PV |ano=2010 |capítulo=Gynecology |editor-sobrenome =Doherty |editor-nome =GM |título=Current Diagnosis & Treatment: Surgery |edição=13th |publicado=[[McGraw-Hill]] |isbn=978-0-07-163515-8}}</ref> As hemorragias são particularmente comuns nos casos de adenocarcinomas, correndo em dois terços de todos os casos.<ref name=Cochrane0412/><ref name=Hoffman823/> Antes da menopausa, a ocorrência de [[Ciclo menstrual|ciclos menstruais]] anormais ou extremamente longos e episódios de hemorragia frequentes ou intensos podem ser sinais de cancro do endométrio.<ref name=Hoffman823/>
Em 90% dos casos de cancro do endométrio após a [[menopausa]] verifica-se [[hemorragia vaginal]] ou [[metrorragia]].<ref name=Cochrane0412/><ref name=CurrentSurgery>{{citar livro|último1 =Reynolds |primeiro1 =RK |último2 =Loar III |primeiro2 =PV |ano=2010 |capítulo=Gynecology |editor-sobrenome =Doherty |editor-nome =GM |título=Current Diagnosis & Treatment: Surgery |edição=13th |publicado=[[McGraw-Hill]] |isbn=978-0-07-163515-8}}</ref> As hemorragias são particularmente comuns nos casos de adenocarcinomas, correndo em dois terços de todos os casos.<ref name=Cochrane0412/><ref name=Hoffman823/> Antes da menopausa, a ocorrência de [[Ciclo menstrual|ciclos menstruais]] anormais ou extremamente longos e episódios de hemorragia frequentes ou intensos podem ser sinais de cancro do endométrio.<ref name=Hoffman823/>


Os restantes sintomas para além da hemorragia são poucos comuns. Entre estes sintomas estão secreções vaginais esbranquiçadas ou translúcidas em mulheres após a menopausa. À medida que a doença avança, os sintomas começam a ser mais percetíveis ou aparecem sinais que podem ser observados num exame físico. O útero pode aumentar de tamanho ou o cancro espalhar-se, o que provoca dores no baixo [[abdómen]] ou cãibras na [[pelve]].<ref name=Hoffman823/> A [[Dispareunia|dor durante o ato sexual]] ou [[Disúria|dor ao urinar]] são sinais pouco comuns.<ref name=NCIBooklet/> O útero pode também encher-se de [[pus]].<ref name="bmj" /> Entre as mulheres que manifestam estes sintomas menos comuns (secreções vaginais, dores pélvicas e pus), só 10-15% dos casos é que revelam ser cancro.<ref name="Cochrane05142">{{citar periódico|último1 =Galaal|primeiro1 =K|último2 =Al Moundhri|primeiro2 =M|último3 =Bryant|primeiro3 =A|último4 =Lopes|primeiro4 =AD|último5 =Lawrie|primeiro5 =TA|título=Adjuvant chemotherapy for advanced endometrial cancer.|periódico=The Cochrane database of systematic reviews|data=15 de maio de 2014|volume=5|páginas=CD010681|pmid=24832785|doi=10.1002/14651858.CD010681.pub2}}</ref>
Os restantes sintomas para além da hemorragia são poucos comuns. Entre estes sintomas estão secreções vaginais esbranquiçadas ou translúcidas em mulheres após a menopausa. À medida que a doença avança, os sintomas começam a ser mais percetíveis ou aparecem sinais que podem ser observados num exame físico. O útero pode aumentar de tamanho ou o cancro espalhar-se, o que provoca dores no baixo [[abdómen]] ou cãibras na [[pelve]].<ref name=Hoffman823/> A [[Dispareunia|dor durante o ato sexual]] ou [[Disúria|dor ao urinar]] são sinais pouco comuns.<ref name=NCIBooklet/> O útero pode também encher-se de [[pus]].<ref name=bmj>{{citar periódico| vauthors = Saso S, Chatterjee J, Georgiou E, Ditri AM, Smith JR, Ghaem-Maghami S |título= Endometrial cancer |periódico= BMJ | volume = 343 |número= |páginas= d3954 |data=julho de 2011 | pmid = 21734165 | doi = 10.1136/bmj.d3954 }}</ref> Entre as mulheres que manifestam estes sintomas menos comuns (secreções vaginais, dores pélvicas e pus), só 10-15% dos casos é que revelam ser cancro.<ref name="Cochrane05142">{{citar periódico|último1 =Galaal|primeiro1 =K|último2 =Al Moundhri|primeiro2 =M|último3 =Bryant|primeiro3 =A|último4 =Lopes|primeiro4 =AD|último5 =Lawrie|primeiro5 =TA|título=Adjuvant chemotherapy for advanced endometrial cancer.|periódico=The Cochrane database of systematic reviews|data=15 de maio de 2014|volume=5|páginas=CD010681|pmid=24832785|doi=10.1002/14651858.CD010681.pub2}}</ref>


== Fatores de risco ==
== Fatores de risco ==
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===Hormonas===
===Hormonas===


A maior parte dos fatores de risco para o cancro do endométrio envolvem níveis elevados de [[estrogénio]]s.<ref name="WCR2014Epi"/> Tanto a obesidade como a [[Diabetes mellitus tipo 2|diabetes tipo 2]], como a [[resistência à insulina]] são fatores de risco para a doença.<ref name=Sivalingam/> Estima-se que 40% dos casos estejam relacionados com a [[obesidade]].<ref name="WCR2014Epi"/> Esta condição aumenta em 3 ou 4 vezes o risco de cancro do endométrio.<ref name=Colombo/> Na obesidade, o excesso de [[tecido adiposo]] aumenta a conversão de [[androstenediona]] para [[estrona]], que é um estrogénio. A quantidade excessiva de estrona no sangue causa a diminuição ou [[Anovulação|ausência de ovulação]] e expõe continuamente o endométrio a grandes quantidades de estrogénios.<ref name=Hoffman817/><ref name=ComprehensiveGyn32/> A obesidade também faz com que haja menos estrogénio a ser removido do sangue.<ref name=ComprehensiveGyn32/> O [[síndrome do ovário policístico]], que também causa ovulação irregular ou ausência de ovulação, está associado a uma maior incidência de cancro do endométrio pelo mesmo mecanismo da obesidade.<ref name=Hoffman818/>
A maior parte dos fatores de risco para o cancro do endométrio envolvem níveis elevados de [[estrogénio]]s.<ref name="WCR2014Epi"/> Tanto a obesidade como a [[Diabetes mellitus tipo 2|diabetes tipo 2]], como a [[resistência à insulina]] são fatores de risco para a doença.<ref name=Sivalingam>{{citar periódico| vauthors = Sivalingam VN, Myers J, Nicholas S, Balen AH, Crosbie EJ |título= Metformin in reproductive health, pregnancy and gynaecological cancer: established and emerging indications |periódico= Human Reproduction Update | volume = 20 |número= 6 |páginas= 853–68 |ano= 2014 | pmid = 25013215 | doi = 10.1093/humupd/dmu037 }}</ref> Estima-se que 40% dos casos estejam relacionados com a [[obesidade]].<ref name="WCR2014Epi"/> Esta condição aumenta em 3 ou 4 vezes o risco de cancro do endométrio.<ref name=Colombo>{{citar periódico| vauthors = Colombo N, Preti E, Landoni F, Carinelli S, Colombo A, Marini C, Sessa C |título= Endometrial cancer: ESMO Clinical Practice Guidelines for diagnosis, treatment and follow-up |periódico= Annals of Oncology | volume = 24 Suppl 6 |número= |páginas= vi33–8 |data=outubro de 2013 | pmid = 24078661 | doi = 10.1093/annonc/mdt353 }}</ref> Na obesidade, o excesso de [[tecido adiposo]] aumenta a conversão de [[androstenediona]] para [[estrona]], que é um estrogénio. A quantidade excessiva de estrona no sangue causa a diminuição ou [[Anovulação|ausência de ovulação]] e expõe continuamente o endométrio a grandes quantidades de estrogénios.<ref name=Hoffman817/><ref name=ComprehensiveGyn32/> A obesidade também faz com que haja menos estrogénio a ser removido do sangue.<ref name=ComprehensiveGyn32>{{citar livro| vauthors = Soliman PT, Lu KH |ano=2013 |capítulo=Neoplastic Diseases of the Uterus |veditors = Lentz GM, Lobo RA, Gershenson DM, Katz VL |título=Comprehensive Gynecology |edição=6th |isbn=978-0-323-06986-1 |publicado=Mosby}}</ref> O [[síndrome do ovário policístico]], que também causa ovulação irregular ou ausência de ovulação, está associado a uma maior incidência de cancro do endométrio pelo mesmo mecanismo da obesidade.<ref name=Hoffman818/>


A [[terapia de reposição hormonal]] durante a menopausa, quando não é contrabalançada (ou oposta) com [[progestina]], é outro fator de risco. As doses elevadas ou os períodos prolongados de terapia de estrogénios estão associados a um maior risco de cancro do endométrio.<ref name=ComprehensiveGyn32/> Este risco é maior em mulheres de baixo peso.<ref name="WCR2014Epi"/> Quando não é contrabalançado, o estrogénio aumenta o risco individual de cancro do endométrio entre 2 a 10 vezes, dependendo do peso da mulher e da duração da terapia hormonal.<ref name="WCR2014Epi"/> Outro fator de risco é um período fértil alargado, quer devido a uma [[menarca]] precoce quer devido a uma menopausa tardia.<ref name="Cochrane08122">{{citar periódico|último1 =Vale|primeiro1 =CL|último2 =Tierney|primeiro2 =J|último3 =Bull|primeiro3 =SJ|último4 =Symonds|primeiro4 =PR|título=Chemotherapy for advanced, recurrent or metastatic endometrial carcinoma.|periódico=The Cochrane database of systematic reviews|data=15 de agosto de 2012|volume=8|páginas=CD003915|pmid=22895938|doi=10.1002/14651858.CD003915.pub4}}</ref> Em [[Transexual masculino|transexuais masculinos]] que tomam [[testosterona]] e que não removeram o útero, a conversão de testosterona em estrogénio através da androstenediona pode aumentar o risco de cancro do endométrio.<ref>{{citar web|url = http://www.acog.org/Resources-And-Publications/Committee-Opinions/Committee-on-Health-Care-for-Underserved-Women/Health-Care-for-Transgender-Individuals |título= Health Care for Transgender Individuals: Committee Opinion No. 512 |publicado= American Committee for Obstetrics and Gynecology |data=dezembro de 2011 |autor = Committee on Health Care for Underserved Women |periódico= Obstetrics and Gynecology |volume = 118 |páginas= 1454–1458 |PMID = 22105293 |doi=10.1097/aog.0b013e31823ed1c1}}</ref>
A [[terapia de reposição hormonal]] durante a menopausa, quando não é contrabalançada (ou oposta) com [[progestina]], é outro fator de risco. As doses elevadas ou os períodos prolongados de terapia de estrogénios estão associados a um maior risco de cancro do endométrio.<ref name=ComprehensiveGyn32/> Este risco é maior em mulheres de baixo peso.<ref name="WCR2014Epi"/> Quando não é contrabalançado, o estrogénio aumenta o risco individual de cancro do endométrio entre 2 a 10 vezes, dependendo do peso da mulher e da duração da terapia hormonal.<ref name="WCR2014Epi"/> Outro fator de risco é um período fértil alargado, quer devido a uma [[menarca]] precoce quer devido a uma menopausa tardia.<ref name="Cochrane08122">{{citar periódico|último1 =Vale|primeiro1 =CL|último2 =Tierney|primeiro2 =J|último3 =Bull|primeiro3 =SJ|último4 =Symonds|primeiro4 =PR|título=Chemotherapy for advanced, recurrent or metastatic endometrial carcinoma.|periódico=The Cochrane database of systematic reviews|data=15 de agosto de 2012|volume=8|páginas=CD003915|pmid=22895938|doi=10.1002/14651858.CD003915.pub4}}</ref> Em [[Transexual masculino|transexuais masculinos]] que tomam [[testosterona]] e que não removeram o útero, a conversão de testosterona em estrogénio através da androstenediona pode aumentar o risco de cancro do endométrio.<ref>{{citar web|url = http://www.acog.org/Resources-And-Publications/Committee-Opinions/Committee-on-Health-Care-for-Underserved-Women/Health-Care-for-Transgender-Individuals |título= Health Care for Transgender Individuals: Committee Opinion No. 512 |publicado= American Committee for Obstetrics and Gynecology |data=dezembro de 2011 |autor = Committee on Health Care for Underserved Women |periódico= Obstetrics and Gynecology |volume = 118 |páginas= 1454–1458 |PMID = 22105293 |doi=10.1097/aog.0b013e31823ed1c1}}</ref>
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[[File:Autosomal dominant - en.svg|thumb|Padrão de [[Dominância (genética)|hereditariedade autossómica dominante]] no [[síndrome de Lynch]].]]
[[File:Autosomal dominant - en.svg|thumb|Padrão de [[Dominância (genética)|hereditariedade autossómica dominante]] no [[síndrome de Lynch]].]]


Algumas [[Anomalia genética|anomalias genéticas]] podem também causar cancro do endométrio. As causas genéticas contribuem para 2 a 10% do total de casos da doença.<ref name=WCR2014Epi/><ref name=Reinbolt/> A [[Câncer colorretal hereditário sem polipose|síndrome de Lynch]], uma doença genética [[Dominância (genética)|autossómica dominante]] que causa principalmente [[cancro colorretal]], pode também causar cancro do endométrio, principalmente antes da menopausa. As mulheres com síndrome de Lycnh têm um risco de 40 a 60% de desenvolver cancro do endométrio.<ref name=Hoffman818/> 20% destas pessoas desenvolvem simultaneamente cancro do endométrio e [[cancro do ovário]]. Em quase todos os casos, o cancro do endométrio desenvolve-se primeiro, em média 11 anos antes.<ref name=Ma>{{citar periódico|último1 =Ma |primeiro1 =J |último2 =Ledbetter |primeiro2 =N |último3 =Glenn |primeiro3 =L |ano=2013 |título=Testing women with endometrial cancer for lynch syndrome: should we test all? |periódico=Journal of the Advanced Practitioner in Oncology |volume=4 |número=5 |páginas=322–30 |doi= |pmid=25032011 |pmc=4093445}}</ref> A [[carcinogénese]] na síndrome de Lynch tem origem numa mutação dos genes MLH1 e/ou MLH2, os quais são responsáveis pela correção de erros no [[ADN]].<ref name=Hoffman818/> As mulheres com síndrome de Lynch correspondem a 2–5% dos casos de cancro do endométrio.<ref name=Ma/><ref name=Colombo/> O risco varia de acordo com o gene mutado. Em mutações do gene MLH1, o risco é de 54%; do gene MSH2 21%; e do gene MSH6, 16%.<ref name=Burke1/>
Algumas [[Anomalia genética|anomalias genéticas]] podem também causar cancro do endométrio. As causas genéticas contribuem para 2 a 10% do total de casos da doença.<ref name=WCR2014Epi/><ref name=Reinbolt>{{citar periódico| vauthors = Reinbolt RE, Hays JL |título= The Role of PARP Inhibitors in the Treatment of Gynecologic Malignancies |periódico= Frontiers in Oncology | volume = 3 |número= |páginas= 237 |data=outubro de 2013 | pmid = 24098868 | pmc = 3787651 | doi = 10.3389/fonc.2013.00237 }}</ref> A [[Câncer colorretal hereditário sem polipose|síndrome de Lynch]], uma doença genética [[Dominância (genética)|autossómica dominante]] que causa principalmente [[cancro colorretal]], pode também causar cancro do endométrio, principalmente antes da menopausa. As mulheres com síndrome de Lycnh têm um risco de 40 a 60% de desenvolver cancro do endométrio.<ref name=Hoffman818/> 20% destas pessoas desenvolvem simultaneamente cancro do endométrio e [[cancro do ovário]]. Em quase todos os casos, o cancro do endométrio desenvolve-se primeiro, em média 11 anos antes.<ref name=Ma>{{citar periódico|último1 =Ma |primeiro1 =J |último2 =Ledbetter |primeiro2 =N |último3 =Glenn |primeiro3 =L |ano=2013 |título=Testing women with endometrial cancer for lynch syndrome: should we test all? |periódico=Journal of the Advanced Practitioner in Oncology |volume=4 |número=5 |páginas=322–30 |doi= |pmid=25032011 |pmc=4093445}}</ref> A [[carcinogénese]] na síndrome de Lynch tem origem numa mutação dos genes MLH1 e/ou MLH2, os quais são responsáveis pela correção de erros no [[ADN]].<ref name=Hoffman818/> As mulheres com síndrome de Lynch correspondem a 2–5% dos casos de cancro do endométrio.<ref name=Ma/><ref name=Colombo/> O risco varia de acordo com o gene mutado. Em mutações do gene MLH1, o risco é de 54%; do gene MSH2 21%; e do gene MSH6, 16%.<ref name=Burke1>{{citar periódico| vauthors = Burke WM, Orr J, Leitao M, Salom E, Gehrig P, Olawaiye AB, Brewer M, Boruta D, Villella J, Villella J, Herzog T, Abu Shahin F |título= Endometrial cancer: a review and current management strategies: part I |periódico= Gynecologic Oncology | volume = 134 |número= 2 |páginas= 385–92 |data=agosto de 2014 | pmid = 24905773 | doi = 10.1016/j.ygyno.2014.05.018 }}</ref>


As mulheres com historial na família de cancro do endométrio apresentam risco acrescido.<ref name=NCIBooklet/> Os dois genes frequentemente associados com outros cancros em mulheres, o [[BRCA1]] e o [[BRCA2]], não causam cancro do endométrio.<ref name=Hoffman818/> Embora exista uma aparente ligação com estes genes, essa ligação é atribuível ao uso de [[tamofixen]] nos cancros da mama e do ovário, um fármaco que aumenta o risco de cancro do endométrio.<ref name=Hoffman818/> A [[síndrome de Cowden]], uma condição genética hereditária, pode também aumentar o risco de cancro do endométrio. As mulheres com esta condição apresentam um risco de 5–10% de desenvolver a doença ao longo da vida<ref name="WCR2014Epi"/> em comparação com o risco de 2–3% entre mulheres não afetadas.<ref name=Ma/>
As mulheres com historial na família de cancro do endométrio apresentam risco acrescido.<ref name=NCIBooklet/> Os dois genes frequentemente associados com outros cancros em mulheres, o [[BRCA1]] e o [[BRCA2]], não causam cancro do endométrio.<ref name=Hoffman818/> Embora exista uma aparente ligação com estes genes, essa ligação é atribuível ao uso de [[tamofixen]] nos cancros da mama e do ovário, um fármaco que aumenta o risco de cancro do endométrio.<ref name=Hoffman818/> A [[síndrome de Cowden]], uma condição genética hereditária, pode também aumentar o risco de cancro do endométrio. As mulheres com esta condição apresentam um risco de 5–10% de desenvolver a doença ao longo da vida<ref name="WCR2014Epi"/> em comparação com o risco de 2–3% entre mulheres não afetadas.<ref name=Ma/>
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Algumas terapias para outros tipos de cancro aumentam o risco de desenvolver cancro do endométrio ao longo da vida.<ref name=Ma/> O tamoxifeno, um fármaco usado no tratamento de [[Cancro da mama#Estado dos recetores hormonais e HER2|cancro da mama ER+]], tem sido associado com cancro do endométrio em cerca de 0,1% dos consumidores, principalmente mulheres idosas. No entanto, os benefícios de sobrevivência do tamofixeno superam o risco de desenvolver cancro do endométrio.<ref name=Cochrane1012>{{citar periódico|último1 =Staley|primeiro1 =H|último2 =McCallum|primeiro2 =I|último3 =Bruce|primeiro3 =J|título=Postoperative tamoxifen for ductal carcinoma in situ.|periódico=The Cochrane database of systematic reviews|data=17 de outubro de 2012|volume=10|páginas=CD007847|pmid=23076938|citação=There is evidence from other reports that tamoxifen increases the risk of endometrial cancer although the data presented in this review describes only 10 events occurring in 1798 participants (0.5%) after seven years of follow-up.|doi=10.1002/14651858.CD007847.pub2}}</ref> A toma de tamofixeno ao longo de 1-2 anos duplica o risco de cancro do endométrio, enquanto uma terapia com a duração de cinco anos quadruplica o risco.<ref name="Cochrane08122"/> O [[raloxifeno]], um fármaco semelhante, não aumenta o risco de cancro do endométrio.<ref name=NIH-Prevention/>
Algumas terapias para outros tipos de cancro aumentam o risco de desenvolver cancro do endométrio ao longo da vida.<ref name=Ma/> O tamoxifeno, um fármaco usado no tratamento de [[Cancro da mama#Estado dos recetores hormonais e HER2|cancro da mama ER+]], tem sido associado com cancro do endométrio em cerca de 0,1% dos consumidores, principalmente mulheres idosas. No entanto, os benefícios de sobrevivência do tamofixeno superam o risco de desenvolver cancro do endométrio.<ref name=Cochrane1012>{{citar periódico|último1 =Staley|primeiro1 =H|último2 =McCallum|primeiro2 =I|último3 =Bruce|primeiro3 =J|título=Postoperative tamoxifen for ductal carcinoma in situ.|periódico=The Cochrane database of systematic reviews|data=17 de outubro de 2012|volume=10|páginas=CD007847|pmid=23076938|citação=There is evidence from other reports that tamoxifen increases the risk of endometrial cancer although the data presented in this review describes only 10 events occurring in 1798 participants (0.5%) after seven years of follow-up.|doi=10.1002/14651858.CD007847.pub2}}</ref> A toma de tamofixeno ao longo de 1-2 anos duplica o risco de cancro do endométrio, enquanto uma terapia com a duração de cinco anos quadruplica o risco.<ref name="Cochrane08122"/> O [[raloxifeno]], um fármaco semelhante, não aumenta o risco de cancro do endométrio.<ref name=NIH-Prevention/>


Ter tido anteriormente [[cancro do ovário]] é um fator de risco para o cancro do endométrio.<ref name=ComprehensiveGyn33>{{citar livro|último1 =Coleman |primeiro1 =RL |último2 =Ramirez |primeiro2 =PT |último3 =Gershenson |primeiro3 =DM |ano=2013 |capítulo=Neoplastic Diseases of the Ovary |editor-last1=Lentz |editor-first1=GM |editor-last2=Lobo |editor-first2=RA |editor-last3=Gershenson |editor-first3=DM |editor-last4=Katz |editor-first4=VL |título=Comprehensive Gynecology |edição=6th |isbn=978-0-323-06986-1 |publicado=[[Mosby (publisher)|Mosby]]}}</ref> A [[imunodeficiência]] tem também implicações no risco de cancro do endométrio.<ref name=bmj/> A [[hipertensão]] é também um fator de risco,<ref name=Colombo/> embora a associação se possa dever à obesidade.<ref name=Burke1/> Permanecer sentado por longos períodos de tempo está associado a uma mortalidade maior por cancro do endométrio. O risco não desaparecer com o exercício físico, embora diminua.<ref name=Biswas>{{citar periódico|vauthors=Biswas A, Oh PI, Faulkner GE, Bajaj RR, Silver MA, Mitchell MS, Alter DA |título=Sedentary Time and Its Association With Risk for Disease Incidence, Mortality, and Hospitalization in Adults: A Systematic Review and Meta-analysis |periódico=Annals of Internal Medicine |volume=162 |número=2 |páginas=123–32 |ano=2015 |pmid=25599350 |doi=10.7326/M14-1651 }}</ref>
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=== Fatores protetores ===
=== Fatores protetores ===

Revisão das 11h21min de 19 de julho de 2020

Cancro do endométrio
Cancro do endométrio
Localização e desenvolvimento do cancro do endométrio.
Sinónimos Cancro do útero
Especialidade Oncologia, ginecologia
Sintomas Hemorragia vaginal, dor ao urinar ou durante as relações sexuais, dor pélvica[1]
Início habitual Após a menopausa[2]
Fatores de risco Obesidade, exposição excessiva a estrogénio, hipertensão arterial, diabetes, antecedentes familiares[1][3]
Método de diagnóstico Biópsia[1]
Tratamento Histerectomia abdominal, radioterapia, quimioterapia, terapia hormonal[4]
Prognóstico Sobrevivência a 5 anos ~80% (EUA)[5]
Frequência 3,8 milhões (2015)[6]
Classificação e recursos externos
CID-10 C54.1
CID-9 182.0
OMIM 608089
DiseasesDB 4252
MedlinePlus 000910
eMedicine med/674 radio/253
MeSH D016889
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Cancro do endométrio (português europeu) ou câncer endometrial (português brasileiro) é o cancro que tem origem no endométrio, o revestimento do útero.[1] A doença é o resultado do crescimento anormal de células com a capacidade de invadir ou de se espalhar para outras partes do corpo.[7] O primeiro sinal é geralmente uma hemorragia vaginal sem estar associada a um período menstrual. Os outros sintomas incluem dor ao urinar ou durante o ato sexual ou dores pélvicas.[1] O cancro do endométrio ocorre com maior frequência depois da menopausa.[2] O cancro do endométrio é referido muitas vezes como "cancro do útero", embora seja distinto de outras formas de cancros do útero, como o cancro do colo do útero, sarcoma uterino ou doença trofoblástica.[8]

Cerca de 40% dos casos estão relacionados com a obesidade.[3] A doença está também associada a ume exposição excesisva ao estrogénio, hipertensão e diabetes.[1] Embora a toma de estrogénio isoladamente aumente o risco de cancro do endométrio, a toma de uma combinação de estrogénio com progesterona, como acontece na maioria das pílulas contracetivas combinadas, diminui o risco.[1][3] Entre 2 e 5% dos casos estão relacionados com genes herdados de um dos progenitores.[3] O tipo histopatológico mais comum de cancro do endométrio é o carcinoma endometrioide, que é responsável por mais de 80% dos casos.[3] O diagnóstico é geralmente realizado mediante biópsia endometrial ou pela recolha de uma amostra através de um procedimento denominado dilatação e curetagem. O teste de Papanicolau não costuma ser suficiente para confirmar a doença.[4] Não está recomendado o rastreio regular em pessoas de risco normal.[9]

A opção de primeira linha para o tratamento de cancro do endométrio é a histerectomia abdominal, que consiste na cirurgia de remoção integral do útero, a par da remoção das trompas de Falópio e dos ovários de ambos os lados, um procedimento denominado ooforectomia. Em estádios mais avançados pode também ser recomendada a realização de radioterapia, quimioterapia ou hormonoterapia. Quando a doença é diagnosticada nos estádios iniciais, o prognóstico é favorável,,[4] com uma taxa de sobrevivência a cinco anos superior a 80%.[5]

Em 2012 houve 320 000 casos de cancro do endométrio que foram responsáveis por 76 000 mortes.[3] A doença é a terceira causa mais comum de morte por cancro entre os cancros que afetam apenas as mulheres, atrás do cancro do ovário e do cancro do colo do útero. É mais comum em países desenvolvidos[3] é o o cancro do sistema reprodutor feminino mais comum entre países desenvolvidos.[4] Entre as décadas de 1980 e 2010, a prevalência de cancro do endométrio aumentou em vários países.[3] Acredita-se que isto seja devido ao aumento do número de idosos e ao aumento da obesidade.[10]

Classificação

Existem vários tipos de cancro do endométrio. Os mais comuns são os carcinomas do endométrio, que se dividem nos subtipos do Tipo I e Tipo II. Existem também tipos mais raros, incluindo carcinoma seroso papilar do útero, carcinoma adenoescamoso, carcinoma sarcomatoide e carcinoma de células claras do útero.[11]

Sinais e sintomas

Em 90% dos casos de cancro do endométrio após a menopausa verifica-se hemorragia vaginal ou metrorragia.[2][12] As hemorragias são particularmente comuns nos casos de adenocarcinomas, correndo em dois terços de todos os casos.[2][9] Antes da menopausa, a ocorrência de ciclos menstruais anormais ou extremamente longos e episódios de hemorragia frequentes ou intensos podem ser sinais de cancro do endométrio.[9]

Os restantes sintomas para além da hemorragia são poucos comuns. Entre estes sintomas estão secreções vaginais esbranquiçadas ou translúcidas em mulheres após a menopausa. À medida que a doença avança, os sintomas começam a ser mais percetíveis ou aparecem sinais que podem ser observados num exame físico. O útero pode aumentar de tamanho ou o cancro espalhar-se, o que provoca dores no baixo abdómen ou cãibras na pelve.[9] A dor durante o ato sexual ou dor ao urinar são sinais pouco comuns.[8] O útero pode também encher-se de pus.[13] Entre as mulheres que manifestam estes sintomas menos comuns (secreções vaginais, dores pélvicas e pus), só 10-15% dos casos é que revelam ser cancro.[14]

Fatores de risco

Os fatores de risco para cancro do endométrio incluem obesidade, diabetes, cancro da mama, uso de tamoxifeno, nunca ter tido filhos, menopausa tardia, níveis elevados de estrogénio e a idade.[13][14] Os estudos migratórios mostram existir alguns componentes ambientais que influenciam o cancro do endométrio,[15] embora estes fatores de risco ambientais não estejam ainda bem caracterizados.[16]

Hormonas

A maior parte dos fatores de risco para o cancro do endométrio envolvem níveis elevados de estrogénios.[3] Tanto a obesidade como a diabetes tipo 2, como a resistência à insulina são fatores de risco para a doença.[17] Estima-se que 40% dos casos estejam relacionados com a obesidade.[3] Esta condição aumenta em 3 ou 4 vezes o risco de cancro do endométrio.[18] Na obesidade, o excesso de tecido adiposo aumenta a conversão de androstenediona para estrona, que é um estrogénio. A quantidade excessiva de estrona no sangue causa a diminuição ou ausência de ovulação e expõe continuamente o endométrio a grandes quantidades de estrogénios.[10][19] A obesidade também faz com que haja menos estrogénio a ser removido do sangue.[19] O síndrome do ovário policístico, que também causa ovulação irregular ou ausência de ovulação, está associado a uma maior incidência de cancro do endométrio pelo mesmo mecanismo da obesidade.[15]

A terapia de reposição hormonal durante a menopausa, quando não é contrabalançada (ou oposta) com progestina, é outro fator de risco. As doses elevadas ou os períodos prolongados de terapia de estrogénios estão associados a um maior risco de cancro do endométrio.[19] Este risco é maior em mulheres de baixo peso.[3] Quando não é contrabalançado, o estrogénio aumenta o risco individual de cancro do endométrio entre 2 a 10 vezes, dependendo do peso da mulher e da duração da terapia hormonal.[3] Outro fator de risco é um período fértil alargado, quer devido a uma menarca precoce quer devido a uma menopausa tardia.[20] Em transexuais masculinos que tomam testosterona e que não removeram o útero, a conversão de testosterona em estrogénio através da androstenediona pode aumentar o risco de cancro do endométrio.[21]

Genética

Padrão de hereditariedade autossómica dominante no síndrome de Lynch.

Algumas anomalias genéticas podem também causar cancro do endométrio. As causas genéticas contribuem para 2 a 10% do total de casos da doença.[3][22] A síndrome de Lynch, uma doença genética autossómica dominante que causa principalmente cancro colorretal, pode também causar cancro do endométrio, principalmente antes da menopausa. As mulheres com síndrome de Lycnh têm um risco de 40 a 60% de desenvolver cancro do endométrio.[15] 20% destas pessoas desenvolvem simultaneamente cancro do endométrio e cancro do ovário. Em quase todos os casos, o cancro do endométrio desenvolve-se primeiro, em média 11 anos antes.[16] A carcinogénese na síndrome de Lynch tem origem numa mutação dos genes MLH1 e/ou MLH2, os quais são responsáveis pela correção de erros no ADN.[15] As mulheres com síndrome de Lynch correspondem a 2–5% dos casos de cancro do endométrio.[16][18] O risco varia de acordo com o gene mutado. Em mutações do gene MLH1, o risco é de 54%; do gene MSH2 21%; e do gene MSH6, 16%.[23]

As mulheres com historial na família de cancro do endométrio apresentam risco acrescido.[8] Os dois genes frequentemente associados com outros cancros em mulheres, o BRCA1 e o BRCA2, não causam cancro do endométrio.[15] Embora exista uma aparente ligação com estes genes, essa ligação é atribuível ao uso de tamofixen nos cancros da mama e do ovário, um fármaco que aumenta o risco de cancro do endométrio.[15] A síndrome de Cowden, uma condição genética hereditária, pode também aumentar o risco de cancro do endométrio. As mulheres com esta condição apresentam um risco de 5–10% de desenvolver a doença ao longo da vida[3] em comparação com o risco de 2–3% entre mulheres não afetadas.[16]

Outros problemas de saúde

Algumas terapias para outros tipos de cancro aumentam o risco de desenvolver cancro do endométrio ao longo da vida.[16] O tamoxifeno, um fármaco usado no tratamento de cancro da mama ER+, tem sido associado com cancro do endométrio em cerca de 0,1% dos consumidores, principalmente mulheres idosas. No entanto, os benefícios de sobrevivência do tamofixeno superam o risco de desenvolver cancro do endométrio.[24] A toma de tamofixeno ao longo de 1-2 anos duplica o risco de cancro do endométrio, enquanto uma terapia com a duração de cinco anos quadruplica o risco.[20] O raloxifeno, um fármaco semelhante, não aumenta o risco de cancro do endométrio.[25]

Ter tido anteriormente cancro do ovário é um fator de risco para o cancro do endométrio.[26] A imunodeficiência tem também implicações no risco de cancro do endométrio.[13] A hipertensão é também um fator de risco,[18] embora a associação se possa dever à obesidade.[23] Permanecer sentado por longos períodos de tempo está associado a uma mortalidade maior por cancro do endométrio. O risco não desaparecer com o exercício físico, embora diminua.[27]

Fatores protetores

Fumar e o uso de progestina oferecem proteção contra o cancro do endométrio. Fumar oferece proteção ao alterar o metabolismo do estrogénio e ao promover a perda de peso e a menopausa precoce. Este efeito protetor permanece ao longo de bastante tempo, mesmo após deixar de fumar. Tanto a pílula contraceptiva oral combinada como o dispositivo intrauterino contêm progestina.[15][28] A diminuição do risco pelas pílulas combinadas é proporcional à duração do tempo ao longo do qual são tomadas: 56% após quatro anos, 67% após oito anos e 72% após doze anos. A diminuição do risco prolonga-se por pelo menos quinze anos após a interrupção da toma.[25] As mulheres obesas podem necessitar de doses maiores de progestina para beneficiar do efeito protetor.[28] Ter tido mais de cinco filhos pode também ser um fator protetor.[13] Ter tido pelo menos um filho diminui o risco em 35%. Amamentar por mais de 18 meses diminui o risco em 23%. O aumento da atividade física diminui o risco individual em 38–46%. Há indícios que o consumo de soja possa ter efeito protetor.[25]

Tratamento

O tratamento frequentemente envolve uma histerectomia abdominal total (remoção cirúrgica do útero) com salpingo-ooforectomia bilateral (remoção de ambas trompas e ovários) e dos gânglios linfáticos da pélvis. Além disso geralmente envolve quimioterapia e radioterapia. Pode-se fazer terapia hormonal para aumentar os níveis de progesterona e reduzir os de estrógeno, para desacelerar o crescimento de tumores ginecológicos.[29]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g «General Information About Endometrial Cancer». National Cancer Institute. 22 de abril de 2014. Consultado em 3 de setembro de 2014 
  2. a b c d Kong, A; Johnson, N; Kitchener, HC; Lawrie, TA (18 de abril de 2012). «Adjuvant radiotherapy for stage I endometrial cancer.». The Cochrane database of systematic reviews. 4: CD003916. PMID 22513918. doi:10.1002/14651858.CD003916.pub4 
  3. a b c d e f g h i j k l m n International Agency for Research on Cancer (2014). World Cancer Report 2014. [S.l.]: World Health Organization. Chapter 5.12. ISBN 978-92-832-0429-9 
  4. a b c d «Endometrial Cancer Treatment (PDQ®)». National Cancer Institute. 23 de abril de 2014. Consultado em 3 de setembro de 2014 
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  7. «Defining Cancer». National Cancer Institute. Consultado em 10 de junho de 2014 
  8. a b c «What You Need To Know: Endometrial Cancer». NCI. National Cancer Institute. Consultado em 6 de agosto de 2014. Arquivado do original em 8 de agosto de 2014 
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