Carlismo (Brasil): diferenças entre revisões
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'''Carlismo''' é o termo utilizado para designar o grupo formado no [[Estados do Brasil|estado]] [[brasil]]eiro da [[Bahia]] em torno da liderança de [[Antônio Carlos Magalhães]] (1927-2007), que durante quatro décadas foi o [[político]] mais importante do estado e um dos mais influentes do |
'''Carlismo''' é o termo utilizado para designar o grupo formado no [[Estados do Brasil|estado]] [[brasil]]eiro da [[Bahia]] em torno da liderança de [[Antônio Carlos Magalhães]] (1927-2007), que durante quatro décadas foi o [[político]] mais importante do estado e um dos mais influentes do Brasil.<ref>[http://www.valor.com.br/politica/2785250/carlismo-volta-com-forca-na-disputa-pela-prefeitura-de-salvador Carlismo volta com força na disputa pela prefeitura de Salvador]. Valor Econômico, 11 de agosto de 2012</ref><ref>[http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2012/ba/salvador/noticias/0,,OI6205157-EI20633,00-ACM+Neto+prefeito+nao+pode+dizer+que+recebeu+heranca+maldita.html ACM Neto: prefeito não pode dizer que recebeu 'herança maldita']. Terra, 8 de outubro de 2012</ref> |
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⚫ | Entre suas características está a defesa de uma [[tecnocracia]] na [[administração pública]], apresentada como garantia de eficiência dos governos..<ref>[http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5770 ACM Neto e o carlismo na Bahia]. Carta Maior, 12 de setembro de 2012</ref> Se inicialmente o carlismo caracterizava apenas a liderança de ACM, apoiada no [[clientelismo]] e no controle dos [[meios de comunicação]]<ref>SOUZA, Celina. [http://books.google.com.br/books?id=b4No0RPidVgC&dq=SOUZA,+Celina.+%281997%29.+Constitutional+Engineering+in+Brazil&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s Constitutional Engineering in Brazil: The Politics of Federalism and Decentralization]. Palgrave Macmillan, 1997. P. 130</ref> mais tarde o termo se tornou uma expressão do grupo político ligado a ele e, numa terceira concepção, um modo de fazer política, aliando modernização econômica e conservadorismo político<ref>DANTAS NETO, Paulo Fábio. [http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/ixedicao/OBSERVANORDESTE_IX_Edicao_texto_BA_rev.pdf Mudança política na Bahia: circulação, competição ou pluralismo de elites?] FUNDAJ</ref> |
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Em seus últimos anos de vida, [[Antônio Carlos Magalhães|ACM]] perdeu parte do seu prestígio político e chegou a ter que rivalizar com o "soutismo", o grupo chefiado pelo governador [[Paulo Souto]]..<ref>[http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=761 Carlismo: passado, presete, futuro]. Acessa Comunicação, julho de 2007</ref> Com a morte de [[Antônio Carlos Magalhães|ACM]], o carlismo entrou em declínio. Além disso, os carlistas passaram a adotar um discurso mais moderado, até mesmo aproximando-se de rivais históricos, como o [[Partido dos Trabalhadores|PT]].<ref>[http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sem-acm-carlismo-dialoga-com-pt,37509,0.htm Sem ACM, carlismo dialoga com o PT]. O Estado de S. Paulo</ref> |
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⚫ | Entre suas características está a defesa de uma [[tecnocracia]] na [[administração pública]], apresentada como garantia de eficiência dos governos<ref>[http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5770 ACM Neto e o carlismo na Bahia]. Carta Maior, 12 de setembro de 2012</ref> |
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Em 2012, contudo, o deputado federal [[Antônio Carlos Magalhães Neto|ACM Neto]], principal herdeiro político do avô, mostrou a recuperação do grupo ao ser o mais votado no primeiro turno das eleições para a prefeitura de [[Salvador (Bahia)|Salvador]].<ref>[http://www.jornaldamidia.com.br/2012/10/08/com-ajuda-de-wagner-carlismo-renasce-com-forca-em-salvador/ Com ajuda de Jaques Wagner, carlismo ganha musculatura em Salvador]. Jornal da Mídia, 8 de outubro de 2012</ref> e em seguida derrotar o petista Nelson Pelegrino no segundo turno<ref>[http://eleicoes.uol.com.br/2012/noticias/2012/10/28/acm-neto-e-eleito-prefeito-de-salvador.htm ACM Neto (DEM) é eleito em Salvador e coloca "carlismo" no poder da capital após 8 anos]. UOL Eleições 2012</ref> |
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Em 2012, contudo, o deputado federal [[Antônio Carlos Magalhães Neto|ACM Neto]], principal herdeiro político do avô, mostrou a recuperação do grupo ao ser o mais votado no primeiro turno das eleições para a prefeitura de [[Salvador (Bahia)|Salvador]]<ref>[http://www.jornaldamidia.com.br/2012/10/08/com-ajuda-de-wagner-carlismo-renasce-com-forca-em-salvador/ Com ajuda de Jaques Wagner, carlismo ganha musculatura em Salvador]. Jornal da Mídia, 8 de outubro de 2012</ref> e em seguida derrotar o petista Nelson Pelegrino no segundo turno<ref>[http://eleicoes.uol.com.br/2012/noticias/2012/10/28/acm-neto-e-eleito-prefeito-de-salvador.htm ACM Neto (DEM) é eleito em Salvador e coloca "carlismo" no poder da capital após 8 anos]. UOL Eleições 2012</ref>. |
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Pela categoria de [[coronelismo eletrônico]], há a intermediação de uma rede de relações entre instâncias locais e nacionais de forma [[Clientelismo|clientelista]], na qual o [[Coronelismo|coronel]] angaria verbas públicas de publicidade governamental, aproveita da instalação de [[retransmissora]]s por [[Prefeitura Municipal|Prefeituras Municipais]], bem como da [[Espectador|audiência]] e custos reduzidos com a afiliação à grande rede nacional e oferecendo [[Distribuição (logística)|capilaridade]] e apoio político (governamental) à mesma. Essa atuação é fruto de sua incapacidade em atender a lógica de [[mercado]] e [[Competitividade|competir]] com conteúdo qualificado e/ou distribuição [[Eficácia|eficaz]]. Essa precariedade econômica se dá no contexto de serviços ofertados por meio de [[Tecnologias da informação e comunicação|novas tecnologias da informação e de comunicação]] e a reciprocidade de favores, na [[sociedade da informação]]. Ademais, o coronel não é necessariamente o [[Radiodifusão|radiodifusor]], mas a figura que consegue atuar na [[Liderança|chefia política]], na [[coerção]] e arbitragem social; tampouco o coronelismo é idêntico ao [[mandonismo]], clientelismo ou [[patrimonialismo]].<ref name=":23" /> |
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Assim, considerando as [[Comunicações do Brasil|comunicações brasileiras]] marcadas pelo sistema de "coronelismo eletrônico", constitui instrumento exemplificativo desse sistema o [[Rede Bahia|grupo midiático]] controlado por décadas pela família Magalhães, da qual fazem parte figuras da [[política baiana]].<ref name=":23">{{Citar periódico |url=https://www.e-compos.org.br/e-compos/article/view/104 |título=E-Sucupira: o Coronelismo Eletrônico como herança do Coronelismo nas comunicações brasileiras |data=2006 |acessodata=2023-02-13 |periódico=E-Compós |ultimo=Santos |primeiro=Suzy dos |lingua=pt |doi=10.30962/ec.104 |issn=1808-2599}}</ref><ref name=":0">{{citar livro|título=Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia|ultimo=SANTOS|primeiro=Suzy|ultimo2=CAPPARELLI|primeiro2=Sérgio|editora=Paulus|ano=2005|editor-sobrenome=BRITTOS|editor-nome=Valério Cruz|local=São Paulo|capitulo=Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito|isbn=9780003055009|editor-sobrenome2=BOLAÑO|editor-nome2=César Ricardo Siqueira|capítulourl=https://andi.org.br/wp-content/uploads/2020/10/10.-Coronelismo-Radiodifusao-e-Voto-a-nova-face-de-um-velho-conceito.pdf}}</ref><ref name=":243">{{citar web|ultimo=Moura|primeiro=Iara|url=http://www.fndc.org.br/noticias/raio-x-da-ilegalidade-politicos-donos-da-midia-no-brasil-924753/|titulo=Raio X da ilegalidade: políticos donos da mídia no Brasil|data=29-09-2016|acessodata=04-02-2023|publicado=FNDC}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://brazil.mom-gmr.org/br/destaques/afiliacoes-politicas/|titulo=Afiliações políticas|data=outubro de 2017|acessodata=2023-02-12|website=Media Ownership Monitor}}</ref> Como exemplo tradutor desse sistema, a emissora é a cabeça de uma [[Rede de televisão|rede estadual]] afiliada a um [[Grande mídia|grande grupo midiático nacional]] (isto é, TV Globo/[[Grupo Globo]]).<ref name=":23" /> Por meio da emissora e como [[liderança|liderança política]], o político e empresário [[Antônio Carlos Magalhães]] (ACM) operou sua estratégia de conservar a si e sua família dentro da [[Elite|elite política]], [[Viés midiático|dominando]] espaços de [[debate]] público e controlando o [[acesso à informação]] pelo [[eleitorado]], como também promovendo imagens positivas de seus integrantes e aliados e ataque a [[Oposição (política)|adversários]].<ref name=":23" /> Por consequência, isso compromete o exercício da [[cidadania]] e fragiliza a [[democracia]].<ref name=":23" /><ref name=":25">{{Citar web|ultimo=Terso|primeiro=Tâmara|url=https://diplomatique.org.br/politicos-donos-da-midia-violam-a-constituicao-e-fragilizam-a-democracia/|titulo=Políticos Donos da Mídia violam a Constituição e fragilizam a democracia|data=27 de setembro de 2022|acessodata=2023-02-13|website=[[Le Monde Diplomatique Brasil]]}}</ref> |
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De forma mais específica, durante sua história, houve reclamações diversas de utilização política da TV Bahia e do grupo midiático do qual faz parte para dar visibilidade midiática e força eleitoral.<ref name=":23" /><ref name=":243" /><ref>{{Citar periódico |url=http://compolitica.org/revista/index.php/revista/article/view/292 |título=O sistema de radiodifusão nos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro |data=2020-05-29 |acessodata=2023-02-16 |periódico=Compolítica |número=1 |ultimo=Castilho |primeiro=Marcio de Souza |paginas=87–108 |lingua=pt |doi=10.21878/compolitica.2020.10.1.292 |issn=2236-4781}}</ref> Em 1993, a TV Bahia se envolveu em novas controvérsias devido à relação familiar de parte de seus acionistas com Antônio Carlos Magalhães. Durante o mandato da prefeita de [[Salvador]] [[Lídice da Mata]], opositora a ACM, a emissora foi alvo de críticas por parte da gestão municipal devido à exibição de reportagens sobre os problemas da administração da capital baiana. Segundo as acusações da prefeita, a cobertura dos problemas da cidade estaria sendo feita com o intuito de beneficiar o grupo político do governador na [[Eleição municipal de Salvador em 1996|eleição municipal de 1996]]. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Salvador afirmou que naquele ano, 600 matérias negativas relativas à gestão de Lídice foram exibidas nos telejornais da estação.<ref name=":242">{{citar web|ultimo=Moura|primeiro=Iara|url=http://www.fndc.org.br/noticias/raio-x-da-ilegalidade-politicos-donos-da-midia-no-brasil-924753/|titulo=Raio X da ilegalidade: políticos donos da mídia no Brasil|data=29-09-2016|acessodata=04-02-2023|publicado=FNDC}}</ref> |
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Em 2001, TV Bahia se recusou a cobrir a [[Passeata de 16 de maio]] e transmitir as imagens à [[Rede Globo]], da qual é afiliada. A passeata foi um [[protesto]] [[Movimento estudantil|estudantil]] realizado na dentro da [[Universidade Federal da Bahia]] (isto é, área sob jurisdição federal) que demandava a [[cassação]] do então senador ACM e foi alvo de violência pela [[Polícia Militar da Bahia]] (órgão estadual).<ref name=":0" /> Esse episódio de recusa foi informado durante o telejornal ''[[Jornal Nacional]]'', da Globo, e, então, circularam na imprensa informações de que o canal perderia sua afiliação com a rede carioca devido a uma suposta desestabilização na relação entre os grupos.<ref>{{citar periódico |url=https://www.tv-pesquisa.com.puc-rio.br/mostraregistro.asp?CodRegistro=69486&PageNo=2 |titulo=Fúria global |data=18-05-2001 |acessodata=07-02-2022 |jornal=[[O Estado de S. Paulo]] |ultimo=Giobbi |primeiro=César}}</ref> A movimentação, no entanto, foi negada pela Globo, que ratificou ter boa relação com a Rede Bahia<ref>{{citar periódico |url=https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,rede-globo-nega-desfiliacao-da-tv-bahia,20010605p19206 |titulo=Rede Globo nega desfiliação da TV Bahia |data=05-06-2001 |acessodata=07-02-2022 |jornal=[[O Estado de S. Paulo]]}}</ref> e renovou o contrato com o grupo baiano em 21 de junho.<ref>{{citar periódico |url=https://www.tv-pesquisa.com.puc-rio.br/mostraregistro.asp?CodRegistro=70368&PageNo=3 |titulo=Rede Globo renova contrato com a TV Bahia |data=22-06-2001 |acessodata=07-02-2022 |jornal=[[O Estado de S. Paulo]]}}</ref> |
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Durante as [[Eleição municipal de Salvador em 2012|eleições municipais de 2012]], em 21 de julho, foi anunciado que o então candidato a prefeito de Salvador, [[Nelson Pelegrino]], entraria com uma ação contra a [[TV Bahia]], acusando-a de beneficiar o também candidato da época, ACM Neto, em reportagem que falava a respeito do quinto aniversário de morte do senador Antônio Carlos Magalhães, exibida na edição do dia anterior do telejornal ''[[Bahia Meio Dia]]'', pelo fato do mesmo ter sido entrevistado e participado da matéria.<ref>{{citar web|url=https://www.bahianoticias.com.br/noticia/119657-pelegrino-acusa-emissora-de-televisao-de-beneficiar-acm-neto.html|titulo=Pelegrino acusa emissora de televisão de beneficiar ACM Neto|data=22-07-2012|acessodata=26-03-2021|website=Bahia Notícias}}</ref> Em 3 de agosto, no entanto, a [[Justiça Eleitoral do Brasil|Justiça Eleitoral]] julgou a acusação como improcedente. Segundo a juíza da 18.ª Zona Eleitoral, Ângela Bacellar Batista, não ocorreu quebra de isonomia, já que o então candidato [[Mário Kertész]], que disputava o mesmo cargo eletivo, também foi entrevistado e participou da reportagem.<ref>{{citar web|ultimo=Mendes|primeiro=David|url=https://www.bahianoticias.com.br/noticia/120340-justica-julga-improcedente-queixa-de-pelegrino-sobre-suposto-beneficio-da-tv-bahia-a-acm-neto.html|titulo=Justiça julga improcedente queixa de Pelegrino sobre suposto benefício da TV Bahia a ACM Neto|data=03-08-2012|acessodata=26-03-2021|website=Bahia Notícias}}</ref> |
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* [[Coronelismo]] |
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* {{citar web|website=Fundação Joaquim Nabuco |ultimo=DANTAS NETO |primeiro=Paulo Fábio |titulo=Carlismo e oposição na Bahia pós-carlista|ano=2002}} |
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* {{Citar periódico |url=https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/18643 |título=“SURF” NAS ONDAS DO TEMPO:do carlismo histórico ao carlismo pós-carlista |data=2003 |acessodata=2023-02-16 |periódico=Caderno CRH |número=39 |ultimo=Dantas |primeiro=Paulo Fábio |lingua=pt |doi=10.9771/ccrh.v16i39.18643 |issn=1983-8239}} |
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* {{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/j/ccrh/a/PPLBxgwXSSKt3sgVr5FP9jc/?lang=pt |título=O JOGO ENTRE ELITES E INSTITUIÇÕES: as estratégias políticas de ACM Neto e a tradição carlista |data=maio-agosto de 2017 |acessodata=2023-02-16 |periódico=Caderno CRH |ultimo=Pereira |primeiro=Carla Galvão |paginas=237–255 |lingua=pt |doi=10.1590/S0103-49792017000200003 |issn=0103-4979}} |
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==Ligações externas== |
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*[http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=571%3Acarlismo-e-oposicao-na-bahia-pos-carlista-&catid=58&Itemid=414 Carlismo e oposição na Bahia pós-carlista]. Fundação Joaquim Nabuco |
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Revisão das 12h37min de 16 de fevereiro de 2023
Carlismo é o termo utilizado para designar o grupo formado no estado brasileiro da Bahia em torno da liderança de Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), que durante quatro décadas foi o político mais importante do estado e um dos mais influentes do Brasil.[1][2]
Evolução
Entre suas características está a defesa de uma tecnocracia na administração pública, apresentada como garantia de eficiência dos governos..[3] Se inicialmente o carlismo caracterizava apenas a liderança de ACM, apoiada no clientelismo e no controle dos meios de comunicação[4] mais tarde o termo se tornou uma expressão do grupo político ligado a ele e, numa terceira concepção, um modo de fazer política, aliando modernização econômica e conservadorismo político[5]
Em seus últimos anos de vida, ACM perdeu parte do seu prestígio político e chegou a ter que rivalizar com o "soutismo", o grupo chefiado pelo governador Paulo Souto..[6] Com a morte de ACM, o carlismo entrou em declínio. Além disso, os carlistas passaram a adotar um discurso mais moderado, até mesmo aproximando-se de rivais históricos, como o PT.[7]
Em 2012, contudo, o deputado federal ACM Neto, principal herdeiro político do avô, mostrou a recuperação do grupo ao ser o mais votado no primeiro turno das eleições para a prefeitura de Salvador.[8] e em seguida derrotar o petista Nelson Pelegrino no segundo turno[9]
Coronelismo eletrônico
Pela categoria de coronelismo eletrônico, há a intermediação de uma rede de relações entre instâncias locais e nacionais de forma clientelista, na qual o coronel angaria verbas públicas de publicidade governamental, aproveita da instalação de retransmissoras por Prefeituras Municipais, bem como da audiência e custos reduzidos com a afiliação à grande rede nacional e oferecendo capilaridade e apoio político (governamental) à mesma. Essa atuação é fruto de sua incapacidade em atender a lógica de mercado e competir com conteúdo qualificado e/ou distribuição eficaz. Essa precariedade econômica se dá no contexto de serviços ofertados por meio de novas tecnologias da informação e de comunicação e a reciprocidade de favores, na sociedade da informação. Ademais, o coronel não é necessariamente o radiodifusor, mas a figura que consegue atuar na chefia política, na coerção e arbitragem social; tampouco o coronelismo é idêntico ao mandonismo, clientelismo ou patrimonialismo.[10]
Assim, considerando as comunicações brasileiras marcadas pelo sistema de "coronelismo eletrônico", constitui instrumento exemplificativo desse sistema o grupo midiático controlado por décadas pela família Magalhães, da qual fazem parte figuras da política baiana.[10][11][12][13] Como exemplo tradutor desse sistema, a emissora é a cabeça de uma rede estadual afiliada a um grande grupo midiático nacional (isto é, TV Globo/Grupo Globo).[10] Por meio da emissora e como liderança política, o político e empresário Antônio Carlos Magalhães (ACM) operou sua estratégia de conservar a si e sua família dentro da elite política, dominando espaços de debate público e controlando o acesso à informação pelo eleitorado, como também promovendo imagens positivas de seus integrantes e aliados e ataque a adversários.[10] Por consequência, isso compromete o exercício da cidadania e fragiliza a democracia.[10][14]
De forma mais específica, durante sua história, houve reclamações diversas de utilização política da TV Bahia e do grupo midiático do qual faz parte para dar visibilidade midiática e força eleitoral.[10][12][15] Em 1993, a TV Bahia se envolveu em novas controvérsias devido à relação familiar de parte de seus acionistas com Antônio Carlos Magalhães. Durante o mandato da prefeita de Salvador Lídice da Mata, opositora a ACM, a emissora foi alvo de críticas por parte da gestão municipal devido à exibição de reportagens sobre os problemas da administração da capital baiana. Segundo as acusações da prefeita, a cobertura dos problemas da cidade estaria sendo feita com o intuito de beneficiar o grupo político do governador na eleição municipal de 1996. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Salvador afirmou que naquele ano, 600 matérias negativas relativas à gestão de Lídice foram exibidas nos telejornais da estação.[16]
Em 2001, TV Bahia se recusou a cobrir a Passeata de 16 de maio e transmitir as imagens à Rede Globo, da qual é afiliada. A passeata foi um protesto estudantil realizado na dentro da Universidade Federal da Bahia (isto é, área sob jurisdição federal) que demandava a cassação do então senador ACM e foi alvo de violência pela Polícia Militar da Bahia (órgão estadual).[11] Esse episódio de recusa foi informado durante o telejornal Jornal Nacional, da Globo, e, então, circularam na imprensa informações de que o canal perderia sua afiliação com a rede carioca devido a uma suposta desestabilização na relação entre os grupos.[17] A movimentação, no entanto, foi negada pela Globo, que ratificou ter boa relação com a Rede Bahia[18] e renovou o contrato com o grupo baiano em 21 de junho.[19]
Durante as eleições municipais de 2012, em 21 de julho, foi anunciado que o então candidato a prefeito de Salvador, Nelson Pelegrino, entraria com uma ação contra a TV Bahia, acusando-a de beneficiar o também candidato da época, ACM Neto, em reportagem que falava a respeito do quinto aniversário de morte do senador Antônio Carlos Magalhães, exibida na edição do dia anterior do telejornal Bahia Meio Dia, pelo fato do mesmo ter sido entrevistado e participado da matéria.[20] Em 3 de agosto, no entanto, a Justiça Eleitoral julgou a acusação como improcedente. Segundo a juíza da 18.ª Zona Eleitoral, Ângela Bacellar Batista, não ocorreu quebra de isonomia, já que o então candidato Mário Kertész, que disputava o mesmo cargo eletivo, também foi entrevistado e participou da reportagem.[21]
Ver também
Referências
- ↑ Carlismo volta com força na disputa pela prefeitura de Salvador. Valor Econômico, 11 de agosto de 2012
- ↑ ACM Neto: prefeito não pode dizer que recebeu 'herança maldita'. Terra, 8 de outubro de 2012
- ↑ ACM Neto e o carlismo na Bahia. Carta Maior, 12 de setembro de 2012
- ↑ SOUZA, Celina. Constitutional Engineering in Brazil: The Politics of Federalism and Decentralization. Palgrave Macmillan, 1997. P. 130
- ↑ DANTAS NETO, Paulo Fábio. Mudança política na Bahia: circulação, competição ou pluralismo de elites? FUNDAJ
- ↑ Carlismo: passado, presete, futuro. Acessa Comunicação, julho de 2007
- ↑ Sem ACM, carlismo dialoga com o PT. O Estado de S. Paulo
- ↑ Com ajuda de Jaques Wagner, carlismo ganha musculatura em Salvador. Jornal da Mídia, 8 de outubro de 2012
- ↑ ACM Neto (DEM) é eleito em Salvador e coloca "carlismo" no poder da capital após 8 anos. UOL Eleições 2012
- ↑ a b c d e f Santos, Suzy dos (2006). «E-Sucupira: o Coronelismo Eletrônico como herança do Coronelismo nas comunicações brasileiras». E-Compós. ISSN 1808-2599. doi:10.30962/ec.104. Consultado em 13 de fevereiro de 2023
- ↑ a b SANTOS, Suzy; CAPPARELLI, Sérgio (2005). «Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito» (PDF). In: BRITTOS, Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia. São Paulo: Paulus. ISBN 9780003055009
- ↑ a b Moura, Iara (29 de setembro de 2016). «Raio X da ilegalidade: políticos donos da mídia no Brasil». FNDC. Consultado em 4 de fevereiro de 2023
- ↑ «Afiliações políticas». Media Ownership Monitor. Outubro de 2017. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ Terso, Tâmara (27 de setembro de 2022). «Políticos Donos da Mídia violam a Constituição e fragilizam a democracia». Le Monde Diplomatique Brasil. Consultado em 13 de fevereiro de 2023
- ↑ Castilho, Marcio de Souza (29 de maio de 2020). «O sistema de radiodifusão nos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro». Compolítica (1): 87–108. ISSN 2236-4781. doi:10.21878/compolitica.2020.10.1.292. Consultado em 16 de fevereiro de 2023
- ↑ Moura, Iara (29 de setembro de 2016). «Raio X da ilegalidade: políticos donos da mídia no Brasil». FNDC. Consultado em 4 de fevereiro de 2023
- ↑ Giobbi, César (18 de maio de 2001). «Fúria global». O Estado de S. Paulo. Consultado em 7 de fevereiro de 2022
- ↑ «Rede Globo nega desfiliação da TV Bahia». O Estado de S. Paulo. 5 de junho de 2001. Consultado em 7 de fevereiro de 2022
- ↑ «Rede Globo renova contrato com a TV Bahia». O Estado de S. Paulo. 22 de junho de 2001. Consultado em 7 de fevereiro de 2022
- ↑ «Pelegrino acusa emissora de televisão de beneficiar ACM Neto». Bahia Notícias. 22 de julho de 2012. Consultado em 26 de março de 2021
- ↑ Mendes, David (3 de agosto de 2012). «Justiça julga improcedente queixa de Pelegrino sobre suposto benefício da TV Bahia a ACM Neto». Bahia Notícias. Consultado em 26 de março de 2021
Bibliografia
- João Carlos Teixeira Gomes (2001). Memórias das Trevas. São Paulo: [s.n.]
- DANTAS NETO, Paulo Fábio (2002). «Carlismo e oposição na Bahia pós-carlista». Fundação Joaquim Nabuco
- Dantas, Paulo Fábio (2003). «"SURF" NAS ONDAS DO TEMPO:do carlismo histórico ao carlismo pós-carlista». Caderno CRH (39). ISSN 1983-8239. doi:10.9771/ccrh.v16i39.18643. Consultado em 16 de fevereiro de 2023
- Pereira, Carla Galvão (maio–agosto de 2017). «O JOGO ENTRE ELITES E INSTITUIÇÕES: as estratégias políticas de ACM Neto e a tradição carlista». Caderno CRH: 237–255. ISSN 0103-4979. doi:10.1590/S0103-49792017000200003. Consultado em 16 de fevereiro de 2023