Campanha de Fezã (2011)

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Campanha de Fezã (2011)
Guerra Civil Líbia de 2011
Data 17 de Julho – 27 de Setembro de 2011
Local Fezã, Líbia
Desfecho Vitória rebelde
  • Rebeldes capturam e mantêm Catrune de 17 a 23 de julho
  • Forças gaddafistas repelem os rebeldes de Catrune para o sul
  • Forças rebeldes capturam Murzuque em 17 de agosto
  • Forças rebeldes atacaram e capturaram o distrito de Axati em meados de setembro
  • Forças rebeldes capturam Saba em 22 de setembro
  • Forças rebeldes capturam os distritos de Gate e Jufra no final de setembro
Beligerantes
Líbia Conselho Nacional de Transição Líbia Forças gaddafistas
Comandantes
Líbia Barka Wardougou[1] Líbia Ali Khana[2]
Líbia Massoud Abdelhafid[3]
Líbia Belgacem Al-Abaaj }[4]
Baixas
28 mortos, 44 feridos[5] 51 mortos[6][7][8]

A campanha de Fezã foi uma campanha militar conduzida pelo Exército de Libertação Nacional para tomar o controle do sudoeste da Líbia durante a Primeira Guerra Civil Líbia. De abril a junho de 2011, as forças anti-Gaddafi ganharam o controle da maioria da parte oriental da região do sul do deserto (ou seja, a parte sul da Cirenaica) durante a campanha do deserto da Cirenaica. Catrune passou para o controle rebelde em 17 de julho[9] e retornou ao controle das forças pró-Gaddafi em 23 de julho.[10] No final de agosto, as forças rebeldes e pró-Gaddafi combatiam pelo controle de Saba.[11][12]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Antes da guerra, partes do sul da Líbia eram conhecidas por serem quase anárquicas e as viagens eram frequentemente restritas em algumas áreas devido à presença de bandos de militantes e bandidos (que muitas vezes atravessavam a fronteira da Argélia) perambulando pelo deserto entre as cidades. Os confrontos entre militantes islâmicos ligados à Alcaida e forças de segurança líbias ocorreram várias vezes perto da cidade de Gate nos anos que antecederam o conflito. Mais ao sul, perto da fronteira com o Chade, o terreno torna-se perigoso devido às minas terrestres no deserto remanescentes do conflito entre Chade e Líbia, que durou de 1978 a 1987. O extremo sul também carece de estradas pavimentadas e serviços de telefonia móvel operando, dificultando a comunicação mesmo em tempos de paz.[13]

Eventos anteriores[editar | editar código-fonte]

Após a campanha do deserto da Cirenaica, organizada pelas forças lealistas, o foco deslocou-se para a parte sul do deserto da Líbia. Em meados de junho de 2011, o Deserto Oriental estava sob o controle de forças que respondiam ao Conselho Nacional de Transição em Bengazi. Os confrontos em Saba, a maior cidade do Fezã, em meados de junho, sugeriram vulnerabilidades anteriormente desconhecidas em um assentamento no qual acreditava-se ser um reduto gaddafista.[14] Embora os ativistas e combatentes anti-Gaddafi em Saba tenham sido reprimidos com sucesso, o Conselho Nacional de Transição sugeriu que a ousada tentativa de insurreição era um indicativo de fissuras na base de apoio de Gaddafi na cidade oásis.

A campanha[editar | editar código-fonte]

Deslocando-se de Cufra, um centro populacional no sudeste do deserto, as forças rebeldes atravessaram o distrito de Murzuque ao longo da fronteira internacional com o Chade e o Níger em meados de julho de 2011; asseguraram a passagem de fronteira de Tumu e tomaram Catrune em 17 de julho, sem disparar um único tiro. Também capturaram um aeródromo militar e um posto avançado em Al Wigh, perto da fronteira com o Níger. Acredita-se que as forças pró-Gaddafi se retiraram para Traghan a fim de bloquear um avanço rebelde suspeito em Saba, mas as forças rebeldes contornaram Traghan em seus assédio ao norte a fim de capturar a aldeia de Umm Al Aranib como uma base avançada.[9]

As forças lealistas atacaram Catrune três vezes antes de finalmente recapturá-la em 23 de julho. Os membros da tribo tubu, que declararam apoio ao Conselho Nacional de Transição, recuaram para o sul da cidade, deixando cerca de 20.000 civis encurralados entre eles e o exército. Pelo menos duas pessoas foram mortas e oito feridas no ataque final para retomar a cidade.[10]

Em 5 de agosto, Alain Juppé, ministro das Relações Exteriores da França, afirmou que as regiões do sul da Líbia estavam "praticamente sob o controle do Conselho Nacional de Transição".[15] Não houve confirmação da alegação por qualquer mídia independente, dos lealistas ou dos rebeldes.

Os combatentes tubus tomaram Murzuque juntamente com sua base militar após uma hora de intensos combates em 17 de agosto.[16] Doze soldados do governo foram mortos, assim como um rebelde, e os combatentes da oposição também apreenderam suprimentos e armas.[1]

Jufra[editar | editar código-fonte]

Ao menos um oficial do Conselho Nacional de Transição sugeriu que o distrito de Jufra, incluindo Hune, Uadane e cidades vizinhas, bem como a Base Aérea de Jufra, era um alvo fundamental, mais valioso do que Bani Ualide ou Sirte.[17] Em 19 de setembro, as forças rebeldes tomaram o controle de Zela, uma cidade oásis perto da área de Jufra. Em 21 de setembro, as forças pró-Gaddafi bombardearam a cidade de Hune depois que as forças rebeldes assumiram o controle dela.[18] No mesmo dia, o Conselho Nacional de Transição anunciou que assumiu o controle da cidade de Jufra e arredores.[19] Isto foi posteriormente confirmado em uma conferência de imprensa da OTAN pelo tenente-general Charles Bouchard.[20]

Saba[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Batalha de Saba (2011)

Vários meses após os confrontos ocorridos na cidade de Saba, no sul da Líbia, em junho, forças da oposição líbia relataram violentos combates entre combatentes revolucionários e forças leais a Muammar Gaddafi em 23 de agosto.[11] Vários dias depois, em 25 de agosto, os rebeldes afirmaram ter novamente capturado o posto avançado de Al Wigh, a várias centenas de quilômetros ao sul de Saba, em direção à tríplice fronteira Líbia-Chade-Níger.[21]

Em 28 de agosto, três soldados do Exército de Libertação Nacional foram mortos na cidade de Saba depois de ficarem sem munição. As brigadas pró-Gaddafi foram acompanhadas por reforços de outras cidades.[12] No mesmo dia, o coronel Ahmed Bani do Exército de Libertação Nacional afirmou que eles "avançariam" contra Saba depois de tomarem o controle de Sirte na costa.[22]

Em 4 de setembro, as forças do Exército de Libertação Nacional reivindicaram um cerco sob Saba. A cidade iria receber ajuda humanitária, mas teria uma semana para se render.[23]

Em 19 de setembro, o porta-voz do Ministério da Defesa do Conselho Nacional de Transição, coronel Ahmed Bani, anunciou em uma entrevista coletiva que os seus combatentes conseguiram capturar o aeroporto e o forte de Saba. Não houve verificação independente imediata de suas reivindicações.[24]

Em 20 de setembro, as forças rebeldes entraram na cidade de Saba, tomando o centro da cidade com pouca resistência. Um repórter da CNN acompanhou as forças rebeldes, confirmando os relatos.[25] Um porta-voz militar do Conselho Nacional de Transição em Bengazi declarou que o aeroporto de Saba estava sob o controle dos combatentes anti-Gaddafi, mas os combates continuavam em alguns bairros da cidade propriamente dita.[26]

Biraque[editar | editar código-fonte]

Em 14 de setembro, um comandante do Conselho Nacional de Transição afirmou que uma coluna anti-Gaddafi de 500 homens (vinda do norte, região de Mizda) havia capturado a base aérea militar de Biraque, no centro-sul da Líbia, a cerca de 50 quilômetros ao norte de Saba. O comandante do Conselho Nacional de Transição (Ahamda Almagri) também declarou que dois gaddafistas foram presos, enquanto setenta lealistas fugiram da base aérea, a segunda maior no sul da Líbia.[27] Na manhã de 15 de setembro, as forças anti-Gaddafi entraram na cidade onde os combates irromperam.[28]

Em 16 de setembro, as forças anti-Gaddafi assumiram o controle das cidades de Biraque e Gira, a apenas 50 quilômetros ao norte de Saba.[29] Durante os combates, disparos de foguetes atingiram a base aérea (que os rebeldes capturaram no dia anterior), o que incendiou os depósitos de munição subterrâneos que continham milhares de cartuchos de artilharia causando explosões massivas.[28] Um dia depois, em 17 de setembro, o restante das cidades do distrito de Axati foram pacificamente tomadas pelas forças rebeldes.[30]

Murzuque[editar | editar código-fonte]

No dia 21 de setembro, depois que as forças rebeldes tomaram o controle de Saba, o porta-voz da Brigada do Escudo do Deserto em Bengazi afirmou que as forças do Conselho Nacional de Transição se deslocaram do sul de Saba e entraram em confronto com gaddafistas na cidade de Tragane, entre Umal Aranibe e a capital do distrito de Murzuque.[31]

Ubari[editar | editar código-fonte]

Em 22 de setembro, um comandante do Conselho Nacional de Transição em Saba disse ao correspondente da CNN Ben Wedeman que suas forças tomaram o controle da cidade de Ubari, a capital do distrito de Uádi Alhaiate.[32]

Gat[editar | editar código-fonte]

Em 25 de setembro, os combates se deslocaram para a cidade fronteiriça de Gat, onde os últimos remanescentes pró-Gaddafi em Fezzan estariam estacionados.[33] No mesmo dia, as forças rebeldes assumiram o controle do aeroporto de Gat, localizado ao norte da cidade, e um dia depois a própria Gat e a passagem de fronteira de Tinkarine com a Argélia.

Referências

  1. a b «Libya: Toubou rebels engage in battle against Gaddafi». Ennahar Online. 20 de agosto de 2011. Arquivado do original em 7 de novembro de 2014 
  2. «Large Libyan convoy arrives in Niger». Al Jazeera. 6 de setembro de 2011 
  3. Ruth Sherlock and Richard Spencer in Tripoli (10 de setembro de 2011). «All eyes on the desert as the hunt for Gaddafi continues». Telegraph.co.uk 
  4. «Henchman Belgacem al Abaaj captured, but no sign of Gaddafi» 
  5. 3 mortos, 16 feridos (23 de julho);[1] 1 morto (18 de agosto);[2] 3 mortos (28 de agosto);[3] 3 feridos (14 de setembro);[4] 2 mortos e 22 feridos (15 de setembro);[5] 1 morto, 3 feridos (16 de setembro);[6] 18 mortos (19 a 22 de setembro)[7] total de 28 mortos, 44 feridos
  6. Michael Ofori Amanfo Boateng. «Libya fighters issue deadline to civilians in Gadhafi stronghold». Arquivado do original em 29 de novembro de 2014 
  7. «Libyans flee Sirte as Khadafy foes close in». SFGate 
  8. «Libya holds back from assault on last Qadhafi redoubts». Business Recorder 
  9. a b «Rebels Move Toward Gadhafi Stronghold». Wall Street Journal. 20 de julho de 2011 
  10. a b «Libya rebels report loss of Qatrun». The Daily Star. 23 de julho de 2011 
  11. a b «Libya rebels in "fierce" fight for Sabha--spokesman». Reuters. 23 de agosto de 2011 
  12. a b «Libyan war 'not over' as Gadhafi's son killed in battle, rebels say». CNN. 29 de agosto de 2011 
  13. Warren, Alex (24 de agosto de 2011). «Libya: what about the south?». The Guardian 
  14. «Libya conflict reaches oasis city of Sabha». Middle East Online. 12 de Junho de 2011 
  15. Al Jazeera Libya Live Blog. «Friday, August 5, 2011 - 07:44 Entry». Al Jazeera. 5 de agosto de 2011 
  16. «Noose tightens around Tripoli». Vancouver Sun. 19 de agosto de 2011 
  17. «Libyan oasis of Jufra is NTC's key target». Radio Netherlands. 9 de setembro de 2011. Arquivado do original em 21 de agosto de 2012 
  18. «Libya uprising: Gaddafi 'losing control of Sabha'». BBC World News. 21 de setembro de 2011 
  19. «Libya fighters seize southern Gaddafi town - spokesman». Reuters. 21 de setembro de 2011 
  20. «Press briefing on Libya». NATO 
  21. «Friday, August 26, 2011 - 02:02 GMT+3 - Libya». Al Jazeera. 26 de agosto de 2011 
  22. Farge, Emma; Richard Valdmanis (28 de agosto de 2011). «Rebels say control road to Gaddafi bastion Sabha». Thomson Reuters 
  23. «Libya conflict: anti-Gaddafi forces threaten Bani Walid». BBC. 4 de setembro de 2011 
  24. «Libyan forces say they have captured part of Sabha». Reuters. 19 de setembro de 2011 
  25. «Alleged Gadhafi message says his system cannot be overthrown; rebels enter Sabha». CNN. 20 de setembro de 2011 
  26. «Tue, 20 Sep 2011, 02:17 GMT+3 - Libya». Al Jazeera Blogs. 20 de setembro de 2011 
  27. «Libya Fighters Issue Deadline To Civilians In Gadhafi Stronghold». CNN. 14 de setembro de 2011 
  28. a b «CNN's Ben Wedeman, traveling with anti-Gadhafi forces, encounters gunfire in the Sahara.». CNN. 16 de setembro de 2011 
  29. «Libyan forces pull back after Bani Walid battles». Associated Press. 16 de setembro de 2011 
  30. «Anti-Gadhafi forces battle again for loyalist strongholds». CNN. 17 de setembro de 2011 
  31. «Libya's NTC claims vital Sabha victory». Associated Foreign Press (vis Univision). 21 de setembro de 2011. Arquivado do original em 23 de março de 2012 
  32. «Libya military site yields possible radioactive material». CNN. 22 de setembro de 2011 
  33. Spencer, Richard (25 de setembro de 2011). «Dumped in the desert ... Gaddafi's yellowcake stockpile». The Telegraph 
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Fezzan campaign».