Crime da Galeria de Cristal

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Montagem da Revista Careta, edição 40 de 1909, com as fotografias de Arthur e Albertina e no centro o cadáver de Arthur no IML

O crime da Galeria de Cristal, como foi chamado pela imprensa, ocorreu em 1909 na cidade de São Paulo, no Brasil, envolvendo os jovens Arthur Malheiros de Oliveira e Albertina Barbosa. O delito chocou a sociedade paulistana por ser praticado por uma mulher, algo raro para a época.[1][2]

História[editar | editar código-fonte]

Os fatos anteriores ao crime[editar | editar código-fonte]

Em 1904, a jovem recém-formada em professorado, Albertina Borba, morava com a mãe numa casa em São Paulo. Como estava separada, sua mãe transformou a residência numa pensão e um dos inquilinos foi o jovem estudante de Direito Arthur Malheiros.[3]

Morando sob o mesmo teto, Arthur Malheiros flertava Albertina Barbosa escondido da mãe da moça. Em agosto de 1904, o flerte resultou numa relação sexual. Dias depois, Albertina foi trabalhar como educadora em Bebedouro e cinco meses depois, voltou, pois estava grávida de Arthur, que nunca reconheceu a criança ou o relacionamento. A criança, uma menina, nasceu e foi entregue a Asilo dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.[3]

Desprezada por Malheiros, Albertina mudou-se para a localidade de Matto Grosso de Batataes (atual Altinópolis) para trabalhar como professora. Nesta cidade, conheceu Eliziário Bonilha, também professor, a ambos ficaram noivos.

A Galeria de Cristal[editar | editar código-fonte]

Na cidade de São Paulo, existiu um prédio com o nome de Galeria de Cristal (recebeu este nome pela armação metálica octogonal envidraçada) localizado entre as ruas XV de Novembro e Boa Vista. O dono do imóvel era Christiano Webendoerfer. Também conhecido por Galeria Webendoerfer, o prédio de três andares e inaugurado em 1900, recebeu um anexo com alguns cômodos transformados em quartos de hotel e sub-locados ao Hotel Bella Vista, que ficava próximo da galeria.[3]

O crime[editar | editar código-fonte]

Em férias de verão em 1909, os noivos viajam para a capital com a intenção de visitar a mãe de Albertina (D. Rosa) e casarem-se as escondidas, pois D. Rosa não aprovava o casamento.

Em fevereiro de 1909, os noivos consumaram o casamento num cartório no Brás e para a lua de mel, reservaram um quarto no Hotel Bella Vista. Nesta hospedaria, foi designado o quarto 59, quarto este pertencente ao anexo da Galeria de Cristal, para o casal pernoitar.

Em lua de mel, Albertina confessou que não era mais virgem e Eliziário cogitou anular o casamento. Foi neste momento que Albertina resolveu vingar-se do mal causado por Arthur Malheiros e arquitetou o assassinato.

Com a ajuda do marido, que comprou uma faca na loja "Ao Dr. das Thesouras", e achou Arthur com os amigos de faculdade, Eliziário interpelou o recém formado advogado na rua, quando este brincava o carnaval, na tarde de terça-feira, 23 de fevereiro de 1909.

Arthur Malheiros, intrigado com a conversa de negócios de Eliziário, resolveu acompanha-lo ao hotel.

Chegando ao quarto, sem passar pelo hall de entrada do hotel, pois o apartamento 59 ficava no anexo, Arthur se surpreende coma presença de Albertina e logo que a porta foi fechada e sem trocar uma palavra sequer, Albertina faz uso de uma arma que possuía, disparando inicialmente dois tiros. Com Arthur, caído e ferido e pedindo perdão, a professora disparou o terceiro tiro na cabeça do advogado. Mesmo assim, depois de três tiros, Arthur ainda estava vivo, pois seu corpo ainda mostrava sinais de vida. É neste momento que Albertina apunhalou Arthur com a faca comprada por Eliziário, concretizando seu intento.[3]

Poucos minutos depois do fato, Eliziário, da sacada do quarto, chamou o cabo da polícia militar Antenor Bolina, que fazia ronda pela rua, para denunciar o ocorrido. Assim que o militar entrou no quarto, o casal confessou “o crime de honra” numa tranquilidade que surpreendeu as autoridades.

O processo[editar | editar código-fonte]

O inquérito policial tentou refutar a alegação de crime de honra, alegando que o casal ja se comportava como tal, antes do matrimônio, algo não aceitável pela sociedade da época.

Albertina Barbosa, réu confessa, foi julgada cinco vezes: em 28 de junho de 1909, foi absolvida por unanimidade de votos. A promotoria recorreu e em 26 de janeiro de 1910, foi condenada a 25 anos e seis meses de prisão. O último julgamento, em 25 de novembro de 1911, foi absolvida.[3]

Eliziário Bonilha foi a julgamento em 29 de novembro de 1911 e novamente em 20 de janeiro de 1913 e absolvido nos dois.[3]

Com o desfecho final da absolvição, Albertina Borba foi transformada em heroína pela imprensa do Brasil e o seu caso foi usado nas discussões posteriores para a alteração do código penal brasileiro.[4]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • FAUSTO, Boris. O crime da Galeria Cristal : Ed. Companhia das Letras. São Paulo-Brasil.

Referências