Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação

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Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação
Directorio Revolucionario Ibérico de Liberación
Líder(es) Humberto Delgado e Xosé Velo Mosquera
Fundação 1959-1964
Motivos derrube da ditadura franquista espanhola e do Estado Novo português.
Área de atividade Portugal Portugal
Espanha
Ideologia antifranquismo, antisalazarismo
Principais ações assassinato de Begoña Urroz

O Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação (em castelhano: Directorio Revolucionario Ibérico de Liberación, DRIL) foi uma organização armada antifascista formada em 1959 por exilados espanhóis (em grande parte galegos) e portugueses que combateu contra as ditaduras salazarista e franquista.

O DRIL tinha dois secretários-gerais: Humberto Delgado (de Torres Novas) e Xosé Velo Mosquera (de Junqueira de Ambia), fundador das organizações como a Federação das Mocidades Galeguistas e a União dos Combatentes Espanhóis Antifranquistas Nacionalistas Galegos (esta última sedeada na Venezuela). Entre os seus membros destacaram-se o capitão português Henrique Galvão e José Fernando Fernández Vázquez (Jorge Soutomaior), ex-militante do Partido Comunista de Espanha e que fora comandante da marinha republicana durante a Guerra Civil Espanhola.

Atividades[editar | editar código-fonte]

As primeiras ações do DRIL aconteceram a 18 de fevereiro de 1960 em Madrid, onde explodiram várias bombas, uma ao lado da Casa da Vila (sede da câmara municipal), e outra nas dependências do Movimento Nacional na mesma cidade, as outras três bombas foram desarmadas. Durante a ação foi morto o membro do DRIL, José Ramón Pérez Jurado, ao qual um dos artefactos explodiu. O seu companheiro Antonio Abad Donoso foi preso, e embora nenhuma das explosões tenha produzido vítimas, ele foi condenado à morte e executado a 8 de março do mesmo ano.[1]

Há controvérsias sobre quais foram as seguintes ações armadas do DRIL em Espanha. A 27 de junho de 1960 houve uma onda de explosões: uma na locomotiva postal de Barcelona-Madrid, quatro nas estações dos comboios de Barcelona, Madrid e San Sebastián (nas estações do Norte e de Amara). Dois dias depois houve outra explosão em Bilbau (na estação de Atxuri).[2] Durante o atentado da estação de Amara, a explosão de uma bomba incendiária matou uma menina de vinte e dois meses, Begoña Urroz, considerada a primeira vítima de terrorismo em Espanha.[3]

Na época, os ataques foram atribuídos ao DRIL, que assumiu ter os feito. No entanto, quarenta anos depois, o ex-ministro Ernest Lluch atribuiu o atentado de Amara à organização basca Euskadi Ta Askatasuna (do basco para Pátria Basca e Liberdade), no que teria sido o primeiro assassinato do bando.[4] Esta hipótese é criticada como infundada pelos historiadores Francisco Letamendia,[5] Santiago de Pablo[6] e Iñaki Egaña, que sustenta que de acordo com as memórias de Soutomaior, ele mesmo teria reconhecido e lamentado o atentado.[7][8][9] De acordo com a documentação encontrada por este historiador, doze membros deste grupo, a maioria dos participantes nos atentados, fugiram para a Bélgica, onde foram presos em Lieja, nove foram julgados por tráfico ilegal de armas e explosivos e pela morte de Begoña Urroz e os outros três foram soltos imediatamente, pois eram infiltrados da polícia. O mesmo chefe do aparato militar do DRIL, José Fernández Vázquez Soutomaior, reconheceu a infiltração dos aparatos franquistas na organização e lamentou a morte da criança.[7][10][11] Em maio de 2013, o jornalista catalão, Xavier Montanyà, verificou os arquivos policiais desclassificados, garantindo que a versão sobre a autoria da ETA pelo atentado de 1960 «não é sustentável».[12]

A ação mais conhecida do DRIL ocorreu no ano seguinte, com a Operação Dulcineia, sobre o sequestro do paquete português N/T Santa Maria, que percorria a rota Caracas-Lisboa-Vigo, entre 22 de janeiro e 4 de fevereiro de 1961. Vinte e quatro membros do DRIL chefiados por Henrique Galvão sequestraram o paquete Santa Maria com quinhentos e oitenta e seis passageiros no meio do oceano Atlântico, com o objetivo de chamar a atenção mundial para a situação vivida em Portugal e Espanha ou criar uma rutura política entre o Brasil e as ditaduras da península Ibérica, renomeando o paquete como Santa Liberdade. Após discussões realizadas com o governo brasileiro, presididas pelo então presidente brasileiro Jânio Quadros, os membros do DRIL largaram as armas e navegaram com o paquete até Recife, em troca de receber o estatuto de refugiados políticos. O paquete foi devolvido aos seus proprietários pela portuguesa Companhia Colonial de Navegação.

Após o sequestro, o DRIL entrou em crise, relacionada a disputas internas sobre quem deveria chefiar a organização; Henrique Galvão foi questionado pelo general Humberto Delgado devida à má publicidade dada pelo sequestro do Santa Maria. Outro problema era determinar se o DRIL estaria envolvido de forma permanente na realização de ataques com bombas ou sabotagens, ou se acabaria planeando uma insurreição militar em Portugal ou Espanha. Apesar destas discrepâncias que fragilizaram a coesão do grupo, o DRIL continuou realizando ações esporádicas até 1964, tendo sido extinto depois daquele ano.

Jorge Soutomaior escreveu um livro "Eu roubei o Santa Maria" (em espanhol: Yo robé el Santa María) que só foi publicado em Espanha em 1978. O livro é um relato em primeira mão do sequestro que mostra o importante papel dos galegos nesta ação e as fortes diferenças entre Xosé Velo e Humberto Delgado. Em 2004 foi realizado um documentário intitulado Santa Liberdade, realizado e escrito por Margarita Ledo Andión, sobre o sequestro do Santa Maria. O documentário teve a participação de Camilo Mortágua (que tinha vinte e sete anos na época e era o braço direito de Galvâo), Federico Fernández Ackermann (filho do comandante Soutomaior) e Victor Velo (filho de Xosé Velo).[13]

Notas e referências

Notas

Referências

  1. Cardona, Gabriel (2009). La invasión de las suecas: de la España de la boina a la España del bikini (em espanhol). Barcelona: Ariel. p. 101. ISBN 8434488000 
  2. Duva, Jesús (31 de janeiro de 2010). «La primera víctima de ETA». El País (em espanhol) 
  3. de la Cal, Lucas (30 de junho de 2019). «El jefe del comando que mató a la niña Begoña Urroz acabó de 'lugarteniente' del Che Guevara». El Mundo (em espanhol) 
  4. Lluch, Ernest (22 de novembro de 2000). «El problema de mi querida tierra vasca». El Mundo (em espanhol). Cópia arquivada em 8 de março de 2002 
  5. Núñez, Javier (21 de fevereiro de 2010). «Verdad eclipsada». Deia (em espanhol). Cópia arquivada em 2 de janeiro de 2013 
  6. Pablo, Santiago de (19 de junho de 2010). «¿La primera víctima de ETA?». El Correo (em espanhol) 
  7. a b Núñez, Javier (21 de fevereiro de 2010). «El propio Soutomaior reconoció su autoría». Deia (em espanhol). Cópia arquivada em 16 de julho de 2011 
  8. Egaña, Iñaki (12 de fevereiro de 2010). «Cómo se construye una mentira». Gara (em espanhol). Cópia arquivada em 24 de outubro de 2011 
  9. Egaña, Iñaki (18 de dezembro de 2010). «Begoña Urroz, la Policía Española estaba infiltrada en los comandos que pusieron las bombas». Gara (em espanhol). Cópia arquivada em 21 de dezembro de 2010 
  10. «Nueve miembros del DRIL fueron procesados por la muerte de Urroz». Gara (em espanhol). 18 de dezembro de 2010. Cópia arquivada em 23 de dezembro de 2010 
  11. «Begoña Urroz: a vítima da ETA que afinal morreu às mãos de grupo luso-espanhol». Diário de Notícias. 24 de junho de 2020 
  12. Aizpeolea, Luis R. (25 de junho de 2020). «Investigação inocenta ETA e responsabiliza grupo terrorista luso-espanhol por morte de bebê em 1960». El País 
  13. «Santa Liberdade» (em galego). Nós Produtora Cinematográfica Galega. Consultado em 15 de outubro de 2022