Duarte Pacheco Pereira

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Duarte Pacheco Pereira
Duarte Pacheco Pereira
Nascimento 1460
Lisboa
Morte 1533 (73 anos)
Nacionalidade Reino de Portugal Português
Ocupação Navegador

Duarte Pacheco Pereira, o Grande (Lisboa, 14601533) foi um navegador, militar e cosmógrafo português.

Biografia

Filho de João Fernandes Pacheco, ou simplesmente João Pacheco (c. 1440 - Tânger, a. 1477), e de sua mulher (c. 1459) Isabel Pereira (c. 1440 -). A 21 de Julho de 1455 D. Afonso V de Portugal doou a João Pacheco, filho de Gonçalo Pacheco, Tesoureiro-Mor das coisas régias de Ceuta, enquanto sua mercê for, uma tença anual de 4.800 reais brancos, para seu estudo, a partir de 1 de Janeiro de 1455. Numa inquirição feita em Lisboa a 4 de Abril de 1497 sobre seu filho Duarte Pacheco Pereira, Fidalgo da Casa Real, a testemunha Pedro Vaz de Almeida, Fidalgo da Casa Real, morador em Lisboa, parente de Duarte Pacheco Pereira, disse que sabia que os mouros mataram João Pacheco em Tânger muito primeiro que seu pai, Gonçalo Pacheco, finasse, que passara de 20 e tantos anos que é finado.

Cavaleiro dos mais notáveis da história da Índia Portuguesa, nasceu em Lisboa em 1460. Um dos seus antepassados por varonia e por bastardia foi seu trisavô D. Diogo Lopes Pacheco, 8.º Senhor de Ferreira de Aves, um dos executores de Inês de Castro, casado com D. Joana Vasques Pereira. Tendo fugido para a Espanha, retornou à época da Crise de 1383-1385, apoiando o Mestre de Avis, com quem conseguiu recuperar todos os seus bens, tornando-se um dos conselheiros do novo monarca.

Em 1455 encontra-se Duarte Pacheco letrado, recebendo uma bolsa de estudos do monarca. Cavaleiro da casa de D. João II (1481−1495), contrariamente à tradição é pouco provável que tenha ido em 1482 a São Jorge da Mina, onde Diogo de Azambuja iniciava a construção do Feitoria de São Jorge da Mina. De acordo com a obra Décadas da Ásia, do cronista João de Barros, na viagem de retorno do cabo da Boa Esperança, em 1488, Bartolomeu Dias encontrou-o gravemente doente na ilha do Príncipe e levou-o para Portugal.

Reconhecido geógrafo e cosmógrafo, em 1490 viveu em Lisboa da pensão real a que o seu título lhe dava direito. Em 7 de Junho de 1494 assinou, na "qualidade de contínuo da casa do senhor rei de Portugal", o Tratado de Tordesilhas.

Em 1498 D. Manuel I encarregou-o de uma expedição secreta, organizada com o objectivo de reconhecer as zonas situadas para além da linha de demarcação de Tordesilhas, expedição que, partindo do Arquipélago de Cabo Verde, se acredita que teria culminado com o descobrimento do Brasil, em algum ponto da costa entre o Maranhão e o Pará, entre os meses de Novembro e Dezembro deste mesmo ano. Dali, teria acompanhado a costa Norte, alcançando a foz do rio Amazonas e a ilha do Marajó.

Em relação ao descobrimento do Brasil ou da eventual exploração das Antilhas e parte da América do Norte, tendo em conta as revelações cartográficas contidas no Planisfério de Cantino, o autor apresenta informações no segundo capítulo da primeira parte. Resumidamente, o texto relata:

"Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados." [1]

É este referido "Esmeraldo de situ orbis", assim, o primeiro roteiro de navegação português a mencionar a costa do Brasil e a abundância de pau-brasil (Caesalpinia echinata), nele existente. Simplesmente não percebeu onde estava, segundo o professor Francisco Contente Domingues, por ter uma imagem errada do mundo, ainda uma concepção ptolomaica, no qual todos os oceanos eram rodeados por terra[2].

No Atlântico Sul, entre as ilhas oceânicas, apresenta, com suas "ladezas" (latitudes) conhecidas à época:

Em 1503 comandou a nau Espírito Santo, integrante da esquadra de Afonso de Albuquerque à Índia. Ali guarneceu a Fortaleza de Cochim com 150 homens e alguns indianos onde sustentou vitorioso o cerco do Samorim de Calecute que dispunha de 60.000 homens. Tendo exercido os cargos de Capitão-General da Armada de Calecute e de Vice-Rei e Governador do Malabar na Índia, pelos seus feitos teve Armas Novas por Carta de 2 de Agosto de 1504, dadas pelo Rei de Cochim; tais Armas são: de vermelho, com cinco coroas de oito florões de ouro, postas em sautor, bordadura de prata, aguada de azul, carregada de oito castelos de madeira de verde, cada castelo armado sobre dois navios rasos de sua cor, o escudo cercado de sete estandartes Mouriscos, quatro à direita, de vermelho, de prata, de vermelho e de azul, e três à esquerda, de prata, de vermelho e de azul; timbre: um castelo do escudo, rematado por um estandarte Mourisco, de vermelho;[3] e retornou a Lisboa em 1505, quando foi recebido em grande triunfo. Em Lisboa e em todo o lado os seus feitos da Índia foram divulgados e um relato dos mesmos foi enviado ao Papa e a outros reis da cristandade. Foi como uma espécie de herói internacional que, nesse ano iniciou a redacção do Esmeraldo de situ orbis, obra que ele interrompeu nos primeiros meses de 1508. Nesse ano foi encarregado pelo soberano de dar caça ao corsário francês Mondragon que actuava entre os Açores e a costa portuguesa, onde atacava as naus vindas da Índia. Duarte Pacheco localiza-o, em 1509, ao largo do cabo Finisterra, onde o derrotou e capturou.

...a experiencia he madre das cousas, por ella soubemos rradicalmente a verdade.
("A experiência é a madre de todas as
cousas, per ela soubemos redicalmente
a verdade...")

Esmeraldo de Situ Orbis, p. 196

Em 1511 comandou uma frota enviada em socorro a Tânger, sob cerco das forças do Rei de Fez. Desposou no ano seguinte Antónia de Albuquerque, filha de Jorge Garcês e de sua mulher Isabel de Albuquerque Galvão, única filha de Duarte Galvão e de sua primeira mulher Catarina de Sousa e Albuquerque, que recebe do Rei um dote de 120.000 reais, que lhe será entregue em fracções, até 1515. Tiveram cinco filhos e duas filhas.

Em 1519 foi nomeado capitão e governador de São Jorge da Mina, onde serviu até 1522. Veio sob prisão para Portugal por ordem de D. João III pela acusação de contrabando de ouro, embora actualmente ainda não se conheçam os reais motivos de tal decisão do monarca.

Quando libertado por ordem do Rei, recebeu 300 cruzados a título de parte de pagamento por jóias que tinha trazido de São Jorge da Mina e havia confiado à Casa da Mina para serem fundidas.

Faleceu nos primeiros meses de 1533 e, pouco depois, o monarca concedeu a seu filho, João Fernandes Pacheco, uma pensão anual de 20.000 reais. Como as pensões reais frequentemente eram pagas com atraso, mãe e filho passaram dificuldades, o que os levou a recorrer a um empréstimo.[4]

A lenda de Duarte Pacheco Pereira desenvolveu-se após a sua morte. Luís de Camões, n'Os Lusíadas chama-lhe fortíssimo e Grão Pacheco Aquiles Lusitano. Mais tarde, no século XVII, Jacinto Cordeiro consagrou-lhe duas comédias bastante longas em castelhano e, Vicente Cerqueira Doce, um poema em dez cantos, de que se perdeu o rasto.

De acordo com um de seus mais importantes biógrafos, o historiador português Joaquim Barradas de Carvalho, que viveu exilado no Brasil na década de 1960, Duarte Pacheco foi um génio comparável a Leonardo da Vinci. Com a antecipação de mais de dois séculos, o cosmógrafo foi o responsável pelo cálculo do valor do grau de meridiano com uma margem de erro de apenas 4%.

Cronologia[5]

  • 1460(?) − casamento
  • 1480(?)−1490(?) − Encontra-se envolvido na exploração do litoral ocidental africano
  • 1488 − Doente na Ilha de São Tomé, é trazido para o reino por Bartolomeu Dias
  • 1490 − Entre Janeiro e Outubro faz parte da guarda pessoal del-Rei
  • 1494 − Integra a delegação portuguesa que negocia e assina o Tratado de Tordesilhas a 7 de Julho desse ano
  • 1495−1499 − Missão no Castelo de São Jorge da Mina

“E vereis em Cochim assinalar-se
Tanto um peito soberbo e insolente,
Que cítara jamais cantou vitória,
Que assim mereça eterno nome e glória.”

Os Lusíadas (1572), por Luís de Camões, Canto II, referência a Duarte Pacheco Pereira.

Notas

  1. Original: Bemauenturado Príncipe, temos sabido e visto como no terceiro anno de vosso Reinado do hanno de nosso senhor de 1498, donde nos vossa alteza mandou descobrir a parte oucidental, passando alem ha grandeza do mar oceano, onde he achada a navegada hûa tão grande terra firme, com muitas e grandes ilhas ajacentes a ella, que se estende a setente graaos de ladeza da linha equinoçial contra ho pollo artico e posto que seja asaz fora, he grandemente pouorada, e do mesmo circulo equinocial torna outra vez e vay alem em vinte e oito graaos e meo de ladeza contra ho pollo antartico, e tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de hûa parte nem da outra foy visto nem sabido ho fim e cabo della; pello qual segundo ha hordem que leua, he certo que vay en cercoyto por toda a Redondeza.
  2. O caso Pacheco Pereira, Frederico Carvalho, Público, 14/10/2012
  3. "Armorial Lusitano", Afonso Eduardo Martins Zúquete, Editorial Enciclopédia, 3.ª Edição, Lisboa, 1987, pp. 411 e 412
  4. Joaquim Barradas de Carvalho, O descobrimento do Brasil através dos textos, Vol. 2 (1971), p. 91
  5. MOTA, Avelino Teixeira da. Duarte Pacheco Pereira, capitão e governador de S. Jorge da Mina. Mare Liberum, I(1990), pp.1-27.

Bibliografia

  • CARVALHO, Joaquim Barradas de. La Renaissance Portugaise. A la recherche de sa specificité. Paris, 1978.
  • CARVALHO, Joaquim Barradas de. 'Duarte Pacheco Pereira'O Renascimento Português. Em busca da sua especificidade. Lisboa, 1980.
  • CARVALHO, Joaquim Barradas de. Portugal e as origens do pensamento moderno. Lisboa, 1981.
  • COUTO, Jorge, A Construção do Brasil., Lisboa, 1995.
  • PEREIRA, Duarte Pacheco. Esmeraldo de situ orbis (edição de Raphael Eduardo de Azevedo Basto). Lisboa: Imprensa Nacional, 1892.

Ligações externas