Miguel Bastos Araújo

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Miguel Bastos Araújo
Nascimento 24 de abril de 1969 (55 anos)
Bruxelas, Bélgica
Cidadania Portugal
Alma mater
Ocupação Investigador, Professor, Biogeógrafo
Prémios Prémio Pessoa (2018)
Ernst Haeckel Prize (2018)
Premio Rey Jaime I (2016)
Royal Society Wolfson Research Merit Award (2014)
Ebbe Nielsen Prize (2013)
MacArthur & Wilson Award (2013).
Empregador(a) Conselho Superior de Investigações Científicas, Conselho Superior de Investigações Científicas, Centre National de la Recherche Scientifique, Imperial College London
Página oficial
http://www.maraujolab.eu/

Miguel Bastos Araújo (Bruxelas, 1969) é um biogeógrafo, investigador coordenador e professor catedrático português, especialista no estudo dos efeitos das alterações climáticas na biodiversidade.

É um dos cientistas com mais citações a nível mundial, de acordo com a Thomson Reuters[1], tendo sido identificado nos anos de 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020 como "highly cited". Conta com mais de 250 títulos científicos publicados[2].

Foi galardoado com vários prémios internacionais tendo vencido, em Portugal, o Prémio Pessoa de 2018 (patrocinado pelo grupo Impresa de Francisco Pinto Balsemão). É o primeiro cientista ambiental a recebê-lo[3].

Biografia[editar | editar código-fonte]

Origens[editar | editar código-fonte]

Bisneto do conhecido jornalista, olisipógrafo e escritor Português, Norberto de Araújo[4]. Filho de professores universitários (o pai, Jorge Quina Ribeiro de Araújo, biólogo, Professor Catedrático e reitor da universidade de Évora por três ocasiões e a mãe, Maria Helena do Carmo Guilherme Bastos, engenheira química, Professora Associada no Instituto Superior Técnico, autarca nas Câmaras Municipais de Lisboa e Amadora e deputada na Assembleia da República por breve período).

Nasceu em Bruxelas em Abril de 1969, onde o pai se exilou politicamente[5]. Em 1975 vem para Portugal com a mãe reunindo-se pouco depois com os avós maternos, recém retornados de Moçambique. É nessa altura que priva com o seu avô materno Edmundo Guilherme Bastos que, inadvertidamente, o influencia no gosto pela natureza através das narrativas de aventuras na selva, em África, que lhe relata[6].

A sua formação naturalista é, no entanto, iniciada com o pai por ocasião dos inúmeros passeios que davam na região das Ardenas, imediações de Treignes, Bélgica, onde possuíam uma casa de campo alugada e recolhiam insetos para posterior observação em terrário em casa[7].

Estudos[editar | editar código-fonte]

Vindo da Bélgica para Portugal, cresceu entre Lisboa e Évora tendo passado pela Escola Primária de Benfica, Escola Preparatória Pedro de Santarém, Escola Secundária Dom Pedro V, Escola Secundária Severim Faria, Escola Secundária André de Gouveia e Escola Secundária Gabriel Pereira.

Hesitou se matricular-se numa licenciatura de biologia ou geografia[8], acabando por optar pela licenciatura em Geografia e Planeamento Regional na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 1994[9]. Nesta formação fez o programa Erasmus na Universidade de Aberdeen, na Escócia[10], onde frequentou o último ano de licenciatura. Fez o mestrado em Conservação, em 1995, na University College London, seguido de um estágio no Museu de História Natural de Londres, com o professor Dick Vane-Wright.

Em 2000, concluiu o doutoramento em Geografia, pela University College London, sob orientação dos investigadores do Museo de História Natural de Londres, Paul H. Williams, Dick Vane-Wright e Chris Humphries. A sua tese incidiu sobre o desenvolvimento de metodologias para a identificação de áreas importantes para a conservação da biodiversidade tendo, no contexto desta investigação, sido o primeiro investigador a cartografar a biodiversidade continental Portuguesa e Espanhola proporcionando uma avaliação sobre a eficácia das áreas protegidas em ambos territórios[11][12].

Em 2019, obtém a Agregação em Biologia pela Universidade de Évora.

Carreira Profissional[editar | editar código-fonte]

É Investigador Coordenador do Conselho Superior de Investigações Científicas de Espanha (CSIC) no Museu Nacional de Ciências Naturais em Madrid e Professor Catedrático na Universidade de Évora, onde dirige a Cátedra Rui Nabeiro (a primeira cátedra de investigação financiada com fundos privados em Portugal), dedicada à biodiversidade e alterações climáticas. Passou ainda pelo Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS; 2001-2003), Oxford University (2004-2005), Universidade de Copenhaga (2006; 2011-2019) e Imperial College de Londres (2013-2014), onde assumiu a Cátedra de Biogeografia Interativa.

Contribuiu para o 4º Relatório de Avaliação do IPCC de 2007 e foi autor do relatório sobre áreas protegidas e alterações climáticas[13] para o Conselho da Europa.

Em 2011 assumiu a curadoria científica da exposição permanente sobre biodiversidade, evolução e conservação inaugurada em 2012 no Museu Nacional de Ciencias Naturais de Madrid. Em 2019, aceita o convite da Câmara Municipal de Lisboa para assumir a curadoria da abertura oficial da Semana Europeia Verde, no âmbito das comemorações de Lisboa Capital Europeia Verde (2020)[14]. Em 2020, Preside o Comité de Especialistas do júri externo para avaliar candidaturas ao Prémio Gulbenkian para a Humanidade e integra do seu Grande Juri[15].

Em 2018, inspirado pelo seu percurso de internacionalização académica, cria uma unidade hoteleira para promoção de residências científicas e artísticas num edifício histórico que recupera para o efeito a poucos metros do Templo Romano de Évora[16].

Em 2019 foi nomeado Vice-Diretor do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (pelouro de formação científica e profissional) e membro do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, um órgão consultivo do Governo de Portugal[17]. Entre 2020 e 2021 coordena estudo "Biodiversidade 2030 - Contributos para a abordagem Portuguesa para o período pósteras de Aichi"[18], encomendado pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática.

Prémios e honrarias[editar | editar código-fonte]

Legado científico[editar | editar código-fonte]

As publicações de Miguel Bastos Araújo podem ser consultadas no Google scholar. Num primeiro momento desenvolve metodologias inovadoras para a identificação de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade recorrendo a métodos de otimização heurística combinados com modelos empíricos de distribuição de espécies[22]. Num segundo momento aprofunda o uso de modelos de distribuição empírica para projetar os efeitos das alterações climáticas na biodiversidade. Quantifica e demonstra a existência de graus elevados de incerteza associados ao uso deste modelos e propõe soluções para as caracterizar e reduzir recorrendo ao conceito de "ensemble forecasting"[23]. É o primeiro investigador a testar os modelos de distribuição de espécies com dados independentes provenientes de séries temporais[24] e pela primeira vez na história das ciências ambientais propõe e publica um conjunto de critérios de avaliação ("standards") que permitam ponderar o grau de qualidade de estudos que usam modelos de distribuição de espécies para auxiliar o processo de decisão em matéria de conservação da biodiversidade[25]. Como resultado da combinação dos seus trabalhos de investigação em biologia da conservação e modelação estatística dos impactes das alterações climáticas na biodiversidade, é dos primeiros investigadores a propor abordagens para identificar áreas importantes para a conservação da biodiversidade que permitam ganhos de resiliência face às alterações climáticas[26][27] e o primeiro a avaliar quantitativamente os riscos climáticos nas áreas protegidas da Europa[28]. Na sequência da crise pandémica do COVID-19 propôs a utilização dos modelos estatísticos, complementarmente aos modelos matemáticos, para inferir mecanismos e dinâmicas de risco global na propagação do virus SARS-CoV-2[29] e foi dos primeiros investigadores a propor que a incidência do vírus pudesse ter uma expressão sazonal[30].

Referências

  1. https://publons.com/researcher/535660/miguel-bastos-araujo/
  2. «Miguel Bastos Araújo». scholar.google.com. Consultado em 2 de abril de 2021 
  3. Tomás, Carla. «Entrevista a Miguel Bastos Araújo: "Trabalhar em ciência é como ser um atleta de alta competição"». Expresso. Consultado em 13 de junho de 2019 
  4. «Descendência de Norberto de Araújo» 
  5. Ana Kotowicz, Observador (14 de Dezembro de 2018). «Geógrafo Miguel Bastos Araújo recebe Prémio Pessoa 2018». Consultado em 21 de Dezembro de 2018 
  6. Lino, Filipa (11 de janeiro de 2019). «Miguel Bastos Araújo: O conhecimento científico pode retirar graus de liberdade à política». Jornal de Negócios 
  7. Saraiva, Hermínia (1 de junho de 2019). «Miguel Bastos Araújo - O Guardador do Planeta». UP Magazine - TAP Portugal. Consultado em 13 de junho de 2019 
  8. «Miguel Bastos Araújo». Associação Portuguesa de Geógrafos 
  9. http://www.cea.uevora.pt/umc/CVMiguel.htm
  10. Público (10 de Julho de 2005). «Miguel B. Araújo, o Académico». Consultado em 20 de Dezembro de 2018 
  11. Bastos Araújo, Miguel (1999). «Distribution patterns of biodiversity and the design of a representative reserve network in Portugal». Diversity and Distributions. Consultado em 13 de junho de 2019 
  12. Bastos Araújo, Miguel (2007). «The Effectiveness of Iberian Protected Areas in Conserving Terrestrial Biodiversity». Conservation Biology. Consultado em 13 de junho de 2019 
  13. Bastos Araújo, Miguel (2009). «Protected Areas and Climate Change». Council of Europe 
  14. «Revista Lisboa n.º 29». Issuu (em inglês). Consultado em 3 de fevereiro de 2020 
  15. P3, Lusa com. «Gulbenkian tem um milhão de euros para premiar combate a alterações climáticas». PÚBLICO. Consultado em 3 de fevereiro de 2020 
  16. P3/Lusa (23 de Abril de 2018). «Évora: antigo palacete é agora unidade hoteleira para cientistas». Consultado em 15 de Janeiro de 2019 
  17. Site do Governo (21 de Março de 2019). «Comunicado do Conselho de Ministros de 21 de março de 2019». Consultado em 22 de Março de 2019 
  18. Carvalho, Patrícia. «Cientistas portugueses querem "mercado de ecossistemas" em que quem degrada tem de pagar». PÚBLICO. Consultado em 3 de outubro de 2020 
  19. Informação, Sul (17 de junho de 2023). «Três professores da Universidade de Évora eleitos membros da Academia das Ciências de Lisboa». Sul Informação. Consultado em 25 de janeiro de 2024 
  20. «Visão | A festa do ambiente: 23 projetos e personalidades foram galardoados nos Prémios Verdes VISÃO + ADP». Visão. 6 de junho de 2023. Consultado em 25 de janeiro de 2024 
  21. «Novos Membros Honorários da Ordem dos Biólogos». ordembiologos.pt. Consultado em 19 de fevereiro de 2020 
  22. Bastos Araújo, Miguel (2004). «Dynamics of extinction and the selection of nature reserves». Proceedings of the Royal Society London B 
  23. Bastos Araújo, Miguel (2007). «Ensemble Forecasting of Species Distributions». Trends in Ecology and Evolution 
  24. Bastos Araújo, Miguel (2005). «Validation of Species-Climate Impact Models Under Climate Change». Global Change Biology 
  25. Bastos Araújo, Miguel (2019). «Standards for distribution models in biodiversity assessments». Science Advances 
  26. Araújo, Miguel B.; Cabeza, Mar; Thuiller, Wilfried; Hannah, Lee; Williams, Paul H. (2004). «Would climate change drive species out of reserves? An assessment of existing reserve-selection methods». Global Change Biology (em inglês). 10 (9): 1618–1626. ISSN 1365-2486. doi:10.1111/j.1365-2486.2004.00828.x 
  27. Williams, Paul; Hannah, Lee; Andelman, Sandy; Midgley, Guy; Araújo, Miguel; Hughes, Greg; Manne, Lisa; Martinez‐Meyer, Enrique; Pearson, Richard (2005). «Planning for Climate Change: Identifying Minimum-Dispersal Corridors for the Cape Proteaceae». Conservation Biology (em inglês). 19 (4): 1063–1074. ISSN 1523-1739. doi:10.1111/j.1523-1739.2005.00080.x 
  28. Araújo, Miguel B.; Alagador, Diogo; Cabeza, Mar; Nogués‐Bravo, David; Thuiller, Wilfried (2011). «Climate change threatens European conservation areas». Ecology Letters (em inglês). 14 (5): 484–492. ISSN 1461-0248. PMID 21447141. doi:10.1111/j.1461-0248.2011.01610.x 
  29. Araújo, Miguel B.; Mestre, Frederico; Naimi, Babak (23 de junho de 2020). «Ecological and epidemiological models are both useful for SARS-CoV-2». Nature Ecology & Evolution (em inglês): 1–2. ISSN 2397-334X. doi:10.1038/s41559-020-1246-y 
  30. Araujo, Miguel B.; Naimi, Babak (7 de abril de 2020). «Spread of SARS-CoV-2 Coronavirus likely to be constrained by climate». medRxiv (em inglês): 2020.03.12.20034728. doi:10.1101/2020.03.12.20034728. Consultado em 3 de outubro de 2020 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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