Narcotráfico em Cuba

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O narcotráfico em Cuba é uma implicação de longa data. Desde dantes da revolução cubana, Cuba era um dos mais importantes centros de operações da máfia com respeito aos jogos de azar. Após 1959 implicou-se ao regime de Fidel Castro e seus sucessores, no tráfico de drogas.

Antes da revolução cubana[editar | editar código-fonte]

Primeiros negócios[editar | editar código-fonte]

Cuba era um importante centro de operações para a máfia. Depois da proibição da venda de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos com a Lei Seca, a ilha de Cuba converteu-se num destino atraente para a máfia devido a sua proximidade com os Estados Unidos e a corrupção das autoridades devido à instabilidade política reinante. Em 1924, Cuba tinha-se convertido no principal centro de operações para o contrabando de licor, narcóticos e imigrantes ilegais. Isto levou a que em 1926 fossem assinados três acordos entre Estados Unidos e Cuba para combater a problemática, sem muito sucesso. Em 1936 pôs-se em marcha a Convenção da Sociedade das Nações sobre narcóticos, que dispunha a criação de corpos policiais nos países envolvidos para o combate do tráfico de drogas. Cuba ratificou a convenção 11 anos mais tarde. Durante os governos de Ramón Grau San Martín, Carlos Prío Socarrás e Fulgencio Batista, os narcotraficantes tinham influência em comandos médios do poder executivo e principalmente no poder judicial. Segundo Sáenz:

“o problema da impunidade quanto ao narcotráfico em Cuba durante o segundo governo de Batista esteve mais relacionada com o poder judicial que com o executivo e que, em alguns casos-chave, o governo sim colaborou para prender e deportar vários criminosos estrangeiros".[1]

A Conferência de Havana[editar | editar código-fonte]

Em 1946, no Hotel Nacional leva-se a cabo a Conferência de Havana, uma importante cúpula de capos da máfia onde se discutiu assuntos políticos e de negócios.[2] Entre os participantes da Conferência de Havana estiveram Meyer Lansky, Albert Anastacia, Frank Costello, Lucky Luciano, Santo Trafficante, Jr. e Vito Genovese. Durante a conferência o negócio dos jogos de azar nos Estados Unidos e Cuba foi repartido entre os participantes. Meyer tinha o objectivo de converter Cuba no destino por excelência no Caribe para os jogadores.[3] Em Cuba, o negócio dos cassinos era legal e representava amplos rendimentos em comparação com outras actividades como o tráfico de drogas.[1]

A Ditadura de Fulgencio Batista[editar | editar código-fonte]

A relação entre Fulgencio Batista e a máfia data desde 1933, quando conheceu Meyer Lansky. Em 1952, Fulgencio Batista dá um golpe-de-estado iniciando seu segundo mandato. Para Batista, Cuba devia reduzir a dependência do negócio açucareiro e impulsionar o turismo bem como os cassinos.[3] Em 1955, Batista promove uma lei que facilita a construção de hotéis e a instalação de casinos.[1] A proliferação de casinos, a corrupção e a prostituição fazem com que Cuba seja considerada como o "prostíbulo da América".[4] Batista foi um dos beneficiados dos rendimentos provenientes dos jogos de azar. No entanto, em 1959, depois da revolução cubana e a fuga de Batista para a República Dominicana, o negócio dos jogos de azar entra em crise.[5]

Crise da máfia[editar | editar código-fonte]

O triunfo da revolução cubana em 1959 fez que o negócio da máfia fosse afectado. Cuba deixou de ser o centro de operações da máfia e esta se transladou aos Estados Unidos. Os hotéis que a máfia operava foram expropriadas pelo regime cubano.[6][7] Isto fez que alguns capos da máfia colaborassem com a CIA para desestabilizar o regime de Castro, embora tenha sido relatado que alguns capos da máfia começaram a fazer negócios com Fidel Castro e actuaram como agentes duplos advertindo a Fidel sobre as operações da CIA contra ele.[8][9]

Depois da revolução cubana[editar | editar código-fonte]

A Reunião de Havana[editar | editar código-fonte]

Em 1961 levou-se a cabo uma reunião entre Ernesto "Che" Guevara, o agente da polícia secreta cubana Moisés Crespo e Salvador Allende para discutir a criação de redes de tráfico de drogas para os Estados Unidos para obter fundos para as guerrilhas marxista-leninistas na América Latina.[10]

Relações entre os irmãos Castro e Pablo Escobar[editar | editar código-fonte]

Jhon Jairo Velásquez, codinome "Popeye", em seu livro "O verdadeiro Pablo" assinala uma suposta rede de narcotráfico que passava pela Colômbia, México, Cuba e Estados Unidos. Assinala que a operação, que durou 2 anos, foi conduzida:

"pelos militares cubanos ao comando do General Ochoa e do oficial Tony de la Guardia, sob instruções directas de Raúl Castro".[11]

Execuções de 1989[editar | editar código-fonte]

Entre múltiplos escândalos de corrupção e a suposta relação entre o governo de Fidel Castro e o narcotráfico. Em 1989 anunciou-se por meio do jornal oficialista Granma a detenção de múltiplos militares dentre os quais se destacam o General Arnaldo Ochoa Sánchez e o Coronel Antonio de la Guardia, implicados em graves casos de corrupção e narcotráfico. Após um julgamento controverso seriam fuzilados. Para alguns o julgamento foi uma estratégia para desviar a atenção sobre os supostos vínculos do governo com Pablo Escobar.[12]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Acuña Calderón, Fabián Ricardo (janeiro de 2005). «La conexión cubana: Narcotráfico, contrabando y juego en Cuba entre los años 20 y comienzos de la Revolución». Bogotá. Innovar (em espanhol). 15 (25): 138–140. ISSN 0121-5051. Consultado em 15 de outubro de 2023 
  2. «Havana Conference: December 20, 1946». The Mob Museum (em inglês). Consultado em 22 de setembro de 2023 
  3. a b «El pasado de los casinos de La Habana». 14ymedio (em espanhol). 22 de abril de 2021. Consultado em 22 de setembro de 2023 
  4. La Vanguardia (7 de outubro de 2019). «Los años de Fulgencio Batista o cuando Cuba fue el 'prostíbulo de América'». Clarín (em espanhol). Consultado em 22 de setembro de 2023 
  5. Velázquez, Yonier Bernal (setembro de 2012). «Lansky, Batista y el bajo mundo de la mafia norteamericana en Cuba desde 1934 hasta 1958». Revista Caribeña de Ciencias Sociales (em espanhol). Las Tunas, Cuba: Universidad de Ciencias Pedagógicas “Pepito Tey”. Consultado em 22 de setembro de 2023 
  6. Redação Tourinews (25 de dezembro de 2015). «La Mafia reclama propiedades en Cuba que le fueron expropiadas». Tourinews (em espanhol). Consultado em 22 de setembro de 2023 
  7. Martino Noticias (9 de dezembro de 2015). «Familia de Meyer Lansky quiere que Cuba le devuelva el Hotel Riviera, o lo que vale». Radio y Televisión Martí (em espanhol). Consultado em 22 de setembro de 2023 
  8. Fernández, Francisco Arias (2 de outubro de 2018). «Mafia, CIA y narcotráfico: alianza estratégica contra Cuba». Granma (em espanhol). Consultado em 22 de setembro de 2023 
  9. Maier, Thomas (2019). Mafia Spies: The Inside Story of the CIA, Gangsters, JFK, and Castro (em inglês). Nova York: Simon and Schuster. p. 69. ISBN 978-1-5107-4172-0 
  10. G., Michael (18 de julho de 1989). «Castro's Show Trials Do Not Mean an End to Cuba's Drug Trade». The Heritage Foundation (em inglês). Consultado em 22 de setembro de 2023 
  11. «La historia secreta de Fidel Castro y Pablo Escobar». Diario las Americas (em espanhol). Consultado em 22 de setembro de 2023 
  12. Documentos oficiales de Cuba (2018) [1990]. Causa 1/89: Fidel Castro: Narcotráfico y corrupción: Fusilamiento de Ochoa Sanchez y los hermanos La Guardia (em espanhol) 2ª ed. Nova York: Ediciones LAVP. p. 130. ISBN 978-1-9870-0999-6. Consultado em 7 de janeiro de 2023