Usuária:Sarah Pereira Marcelino/Memória histórica

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

[Ver esse verbete, acho que podemos linkar o nosso a esse: https://es.wikipedia.org/wiki/Memoria_hist%C3%B3rica - Flávia]

"Memories", pintura de 1910 por John William Godward.

Ideias de Imagem - Pedro[editar | editar código-fonte]

Queridxs,

Estou sugerindo algumas mudanças na estrutura.

Sob a cartola de Memórias Sensíveis, muitos temas podem ser amarrados (ver abaixo algumas sugestões). Podem começar, claro, pelo Fico, que tem um artigo homônimo. E outro ensaio muito bom na revista da UDESC.

Sugiro que a parte que vocês separaram para falar sobre África possa dialogar com a noção de "culturas do passado", não apenas através do Huysen, mas do Fernando Nicolazzi, que tem uma proposta sobre esse conceito e fala de "modos de cultivar o passado". Dentro dessa chave caberiam formas não-ocidentais de relação com o passado e de lembrança dos ancestrais. Aí eu sugiro: Victor Turner (performance do passado), Diana Taylor (memória corporal), Rodrigo Weimer/Gumbrecht (presença do passado entre quilombolas) e Vania Cardoso (presença dos espíritos e performance do passado nas religiões afro-brasileiras).

Também creio que o último tópico poderia fazer ser sobre o debate do "excesso de memória". Vale lembrar do Hartog, mas procurem os textos da María Inés Mudrovcic. Ela é excelente!

A parte sobre antiguidade e medievo ainda é muito superficial. Vale editar melhor a ordem dos assuntos. Sugiro começar pelos Aedos e pela poesia. O verbete da um peso muito grande á memória religiosa, mas a memória relacionada a retórica ainda não aparece. E ela é muito significativa na história dos discursos políticos e também na história da historiografia, entre outras áreas.

O tema das Artes de memória já nos remete, desde muito cedo, à relação entre memória e imagem. Seria interessante explorar essas intersecções. [Imagino que tenha sido] O igor pensando música, achei excelente. Mas também podemos pensar memória e emoções, por exemplo, e o pessoal dos estudos de gênero faz muito isso aqui em SC.

Dany, use os textos da disciplina do semestre passado para falar sobre virada linguística. Por favor, corta aqueles clichês. Você leu o White de verdade!

A parte sobre narrativa está muito confusa.

Se vocês não tiverem acesso aos textos que recomendei, por favor, me mandem whats.

Rodrigo

"Collective Memory", 1980.
Correntes do século XVIII expostas no Museu da Escravidão, em Liverpool, na Inglaterra.
Maletas das vítimas do Campo de Concentração de Auschwitz, expostas no Museu de Auschwitz.
"The Gate of Memory", Dante Gabriel Rossetti, 1864
"Mémoire Morte", 2014
Protesto contra os altos índices de estresse pós-traumático em policiais nos EUA, 2016.
Fotografia de Karl Brandt, médico pessoal de Adolf Hitler, durante os Julgamentos de Nuremberg, em 2 de junho de 1948.
Memorial dos Ataques de 11 de setembro, em Nova Iorque.


História[editar | editar código-fonte]


Pré-Modernidade[editar | editar código-fonte]

As musas Clio, Euterpe e Talia. Por Eustache Le Sueur.

Na Grécia arcaica, a memória era exercida por meio da intervenção do elemento divino na prática do poeta,[1] que era responsável por transmitir as tradições, crenças e costumes que constituíam o sistema social. Como na Odisseia de Homero, a honra e o respeito eram transmitidos e legitimados pela clarificação divina nos cantos dos poetas.[2] Nesse sentido, nasce a noção de poesia inspirada, marcada pela presença das Musas, tanto nos cantos de Homero, como nas palavras de Hesíodo e Píndaro, por exemplo. Assim, o poeta grego alcança o título de Mestre da Verdade, pois carrega consigo a revelação sagrada. Tal revelação é o que eterniza a fama dos homens, as obras dos deuses e a origem da natureza. O poeta, para além disso, não apenas exerce a ação de recordar de forma temporal, mas é dono de um saber distinto, de credibilidade, ressaltado pelo dom de vidência da essência verdadeira do mundo, disponibilizada à seu dispor pela clarificação divina.[3] Na Grécia, o poeta é quem difunde "as tradições, crenças e costumes que constituem a identidade de uma sociedade", em que o aedo se concentra no passado, o arauto no tempo presente o adivinho nas situações futuras, criando, desta forma, uma ordem ao mundo.[4]

[a deusa da memória é mnemosine não seria melhor dar destaque para ela? Também prefiro imagens de época, essas anacrônicas não gosto https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Mnemosyne?uselang=pt - Flávia]

Por volta do seculo V a.C., Simônides de Ceos passa a projetar uma nova forma de ver a relação da poesia com a verdade, rejeitando a concepção religiosa do poeta como profeta inspirado pelo poder divino. Diante disso, a memória passa a ser construída como um procedimento mnemônico, "no qual um conjunto de regras estabelecidas serve de instrumento de composição no ofício do poeta".[4] Simônides também é o pai mítico das Artes da Memória [o que seria? a mnemotécnica? ficou vago- Flávia] e segundo Plutarco, ele fazia um paralelo entre a pintura e a poesia onde a ideia ou a palavra rememorada pelo indivíduo deveria ser lida a partir de sua associação a imagens. Um exemplo dessa técnica para lembrar é a associação de deuses a virtudes ou vícios.[5] Umas das formas mais tradicionais de recordação social é o culto aos mortos, evidente nas construções monumentais do antigo Egito, por exemplo.[2] O poeta Simônides é tido como primeiro poeta pago que homenageou homens mortais em cantos, em honra ao boxeador Skopas.[6] A tradição conta que durante um evento, no qual houve um desastre e Simônides foi o único a sair ileso, o poeta sabia exatamente os lugares em que as pessoas estavam sentadas, possibilitando a rememoração dos assentos aos familiares, para que estes pudessem sepultar seus entes queridos de forma correta. Diante disso, a história do poeta Simônides se perpetuou com o passar do tempo como símbolo do poder da memória sobre a morte e a destruição.[7]

Em contrapartida, na visão de Platão, apenas os filósofos seriam capazes de discursar com base na verdade. Eles eram responsáveis pela técnica dialética pela qual se alcançava a forma essencial da ideia, como aleteia. [8]Aristóteles "propõe que a técnica retórica é própria das disputas orais da vida civil da pólis". [8] Para ele, a técnica retórica é o caminho para o descobrimento das coisas, que podem ou não serem utilizadas para a persuasão. Dessa forma, a retórica pode ser adequada ao discurso público e seus bons usos podem resultar em "eficácia política".[9] [ Eu retiraria esse trecho pois não fala de memória, mas de retórica - Flávia]

Atena: deusa grega associada à sabedoria, às artes, à inteligência, à guerra e à justiça. Pintura em prato grego, c. 525 a.C. Museu do Louvre.

Platão, no Fedro, reflete sobre o mito de Tote, deus egípcio que, entre outras criações, também deu vida à escrita, importante ferramenta à sabedoria e memória dos homens. Platão questiona a criação da divindade, pois diz que a memória tem que ser trabalhada do interior para o exterior, a partir da reflexão, e não de fora pra dentro, com impulsos externos. A criação de Tote, para Platão, portanto, não serviria ao exercício da memória, mas da recordação.[10] Platão foi uma das figuras que viveu no centro da mudança de um mundo que aprendia por meio dos relatos orais para um que experimentava certo processo de popularização da escrita no qual o conhecimento passava a adquirir um formato público.[11] Antes da difusão da escrita, a verdade entre os gregos se encontrava na oralidade e na rememoração,[12] sobre as quais ancorava-se a cultura social, embasada na narração de histórias mitológicas.[13][14] A partir no surgimento da pólis e da mudança na percepção dialógica de relações, pautada no pensamento racional, as tradições míticas e heroicas perdem o seu peso, dando lugar ao questionamento dos homens sobre seus próprios costumes e incentivando-os a exercer controle sobre suas próprias ações, para além das regras de vivência social.[14] O papel da memória na crítica platônica dita, portanto, que o interlocutor precisa exercer um esforço para a recordação, identificando a natureza de sua alma.[13]

[Ao invés de Atena não seria melhor colocar a deusa Fama? https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Pheme?uselang=pt - Flávia]

É o tipo de alma que delimitará a natureza do discurso e proporcionará a essência do aprendizado. “Aprender, portanto, segundo o Fedro, é movimentar-se para dentro de si mesmo.” [15] Platão ensina que não basta apenas possuir o domínio do discurso, como faziam os sofistas, mas é necessário prezar pela veracidade do que é dito.[16] A sabedoria, nesse sentido, seria algo vivo, presente em cada palavra do discurso e formada pelo próprio pensamento. Para além do discurso proferido, Sócrates, como personagem de Platão, também critica àqueles que recebem de forma passiva às informações, relacionando aos diálogos e discursos os conceitos de saber, aprendizagem e educação.[17] [Retiraria esses trechos pois são pequenas digressões - Flávia]

Durante a antiguidade clássica, a história surgiu como registro da memória, pautada em uma percepção temporal de continuidade entre passado e presente.[18][19] Nesse sentido, a história tinha dentre outras funções a de lembrar os grandes feitos dos homens, eternizar a experiência dos mais velhos e transmiti-la às novas gerações.[20] A perpetuação da glória e o não esquecimento, ou seja, a busca pela imortalidade por meio do discurso, estava dentre suas principais funções. Nesse sentido, o reconhecimento da finitude da vida implicou a exaltação do direcionamento das narrativas, demonstrando uma forte interligação entre memória, escrita e morte.[21] A fama era a capacidade dos seres humanos de criarem um legado de glória durante seu tempo de vida. Diferente da memória religiosa, que trabalha na eternização da alma particular de cada indivíduo, a fama se constituiu como uma variante mundana desta eternização, que preconiza a perpetuação do nome diante a memória coletiva.[22] Assim, a fama se difere da piedade, que se caracteriza na responsabilidade dos descendentes de uma família em rememorar de forma honrosa os mortos de sua linhagem.[2] Por outro lado, a memória foi democratizada e virou competição, sinalizada nas lutas esportivas e artísticas, nos feitos militares e nas mortes em batalha.[23] Dentro desse contexto, as mulheres não participaram da eternização de seus nomes na posteridade[22] e passou a se constituir uma sepultura memorialística não mais voltada ao âmbito familiar, mas que atingisse uma visão de comunidade, “seja ela a pólis ou a pátria”.[23]

[Estou procurando uma imagem que possa ilustrar a fama, variante mundana da eternização diante a memória coletiva. Alguém me dá uma ajudinha?- Dani]

O importante debate na linha de pensamento de Simônides de Ceos sobre a importância da mnemotécnica na rememoração do passado foi continuado por Aristóteles. Para o estagirita, o pensamento só é possível a partir da percepção de imagens criadas pela imaginação, sendo que tais imagens se constroem por meio da captação sensorial, ou seja, o pensamento não é resultado direto da captação dos sentidos.[24] Diante disso, Aristóteles diz que a memória e a imaginação se encontram na mesma parte da alma, diferenciadas por um elemento temporal, em que "a memória não provêm da percepção das coisas presentes, mas das coisas passadas".[25] Neste caminho, a lembrança se divide em dois princípios, o de associação e o de ordem, devendo-se recuperar a ideia cronológica dos eventos ou impressões. Este método de rememoração, contudo, precisa de um ponto de partida, que se torna facilitado quando um conjunto de lembranças já foi comparado a um lugar de memória, possibilitando ao sujeito iniciar "sua busca por qualquer um dos lugares e percorrê-los em qualquer direção".[26] Esse lugar, diz Aristóteles, "nunca é repetição simples do idêntico", diferenciando-se a cada variação do discurso. Nos Tópicos e na Retórica, Aristóteles define os lugares como dialéticos e retóricos: os primeiros fazendo parte da dedução lógica e, os segundos, sendo utilizados na persuasão de causas particulares.[27] A tradição mnemônica associada à retórica foi continuada em Roma, onde Cícero postulava que os lugares comuns colocados por Aristóteles foram adaptados à oratória forense romana, definidos como sedes de argumentos, em que lugares físicos imaginários passam a ser "visitados pela memória do orador na invenção, na memorização e na proferição do discurso".[27] Dessa forma, Cícero diz que há sempre dois discursos no discurso: 1) o dos lugares comuns, que remetem à questões indeterminadas e coletivamente partilhadas e 2) o das referências particulares, que variam e se aplicam a questões determinadas.[28]

Em parâmetros gerais, a memória medieval foi fundada sobre a interpretação da mensagem bíblica, interpretada como alicerce da existência.[29] Diversos pesquisadores destacam que a memória para Santo Agostinho, por exemplo, era "a maior faculdade do intelecto e a chave para o relacionamento entre Deus e o homem". Assim, a memória era um mecanismo da recordação e a recordação era o compromisso do fiel em seu relacionamento com Deus.[30] Diante disso, a retórica passa a ser um meio de conduzir a ação humana, subentendendo-se que as regras da vida humana são celestiais e o conhecimento da regras é dado pela fé e não pela razão.[30] Na visão de Agostinho, a recordação estaria submetida a uma forma de interiorização, em que a razão trabalharia para alcançar a consciência da existência de Deus. Agostinho fez da memória parte dos três poderes da alma, junto ao Intelecto e à Vontade, fazendo florescer no homem a imagem da Santíssima Trindade.[31]

A Retórica, ilustração de manuscrito do século XV de De Nuptiis Philologiae et Mercurii.

No medievo, o aprendizado nos monastérios se tornou comum e a arte da memória com objetivos retóricos fora perdendo sua importância.[32] De qualquer forma, Marciano Capella é reconhecido como o responsável por transmitir a arte da retórica à Idade Média através de sua obra De nuptiis Philologiae et Mercurii.[33] Além disso, a figura de Tullius foi quem influenciou o sistema escolástico em suas transformações da arte clássica da memória,[34] que concentrava-se em memorizar os saberes ligados à "salvação e à danação", aos "artigos da fé", aos "caminhos para o Paraíso, por meio das virtudes, e para o Inferno, por meio dos vícios".[35] A retórica, que toma na Idade Média uma classificação dentro dos saberes administrativos,[36] fora tratada por Alberto Magno e Tomás de Aquino, representantes dos eruditos dominicanos, com a intenção de utilizar os ensinamentos de Aristóteles para "defender a Igreja e reexaminar, à sua luz, o corpo doutrinário existente."[37] Ainda assim, os tratados de Alberto e Aquino diferem das fontes da antiguidade clássica ao colocarem que "a memória artificial passara da retórica à ética" e assim a memória é entendida como parte da Prudência.[38] Nesse sentido, Aquino, com forte tendência ciceroniana, estudou a memória na esfera dos princípios intrínsecos que guiam a ação, ou seja, as virtudes. A virtude da Prudência era dividida entre memória, inteligência e previdência, objetivando relembrar o passado, averiguar o presente e prever o futuro.[39] Igualmente a análise de Alberto, embasada na teoria de Aristóteles sobre as imagens e os lugares de memória, concluiu que "as imagens são um auxílio para a memória" por meio do ato sensível de identificação dos lugares.[40] Em outras palavras, adaptando a distinção aristotélica entre memória e reminiscência, Alberto sugere que a memória passa da parte sensorial da alma para sua parte intelectual e racional com o auxílio das imagens, pois estas carregam um forte nível de sensibilidade e reconhecimento.[41] É seguindo por este caminho que Tomás de Aquino irá reafirmar a utilidade das imagens para a memorização, "porque a cognição humana é mais forte em relação às coisas sensíveis (sensibilia) e, por isso,a alma se lembra melhor das coisassutis e espirituais quando estão em uma forma corporal."[42]

Em relação à produção histórica medieval, assim como na antiguidade clássica, a escrita historiográfica se direcionou à recordar os exemplos do passado, de forma didática, e ao não esquecimento dos acontecimentos e dos saberes aprendidos.[43] No medievo, a escrita histórica aparece como ferramenta auxiliar à memória, sem nunca tomar o seu lugar.[44] Nesse sentido, pode-se definir dois grandes eixos da memória na historiografia medieval. O primeiro deles seria a memória coletiva e oficial, que se dispõe sobre a preservação dos ensinamentos do passado para o futuro, tendo em vista "uma memória concordante com a manutenção dos interesses oficiais". O segundo a fixação de modelos de atuação, que além de retratar os grandes acontecimentos e as ações de pessoas importantes, excede o individual e procura padronizar na história determinados modelos de conduta, atuantes na preservação de valores sociais e culturais.[45]

Para além disso, Jacques Le Goff ressalta a importância do entrelaçamento da memória escrita, presente na cultura clerical relacionada à erudição da língua latina, à Igreja e às universidades, e e memória oral, vivida pelos homens comuns e nobres laicos. Nesse sentido, a cultura popular teria acesso às canções de gesta pelo jogral e pelo canto, ou seja, por meio da memorização oral. Assim, a memória se fez no intelecto medieval pela cultura oralizada ou escrita independentemente do lugar social ocupado por cada sujeito.[46][47] Por outro lado, a preservação do nome dos mortos na memória consistia no cuidado com seus restos mortais, assim como na rememoração das práticas de caridade realizadas em vida, como forma de compensação dos pecados cometidos. Nesse sentido, ambas as ações se pautavam em permanecer na memória da comunidade e assim, diminuir o tempo da pessoa no purgatório.[48] Diante disso, a memória se orienta para o passado, mas a fama visa o espectro futuro,[49] atingindo sua forma mais elevada quando passa a ser a memória que fica gravada no pensamento e não na matéria.[50] [Eu retirei esse trecho de outro lugar, mas tenho dúvidas se essa última frase é do contexto medieval.Poderia conferir? - Flávia]

Idade Moderna[editar | editar código-fonte]

No Renascimento, a preocupação com a rememoração dos mortos perde importância e exaltam-se as construções culturais da fama. Neste momento, projeta-se que os homens criaram para si um sistema próprio de memória e reconhecimento, fazendo da escrita “a ferramenta mais importante para a construção secular de tempo e memória”.[51] Diante disso, a autoria, impulsionada pela criação da imprensa, também passou a ser uma forma de constituição de memória.[52] Essa perda de importância em relação à eternização se amplia durante o século XVIII.[6] No XIX, inicia-se um processo de disposição espacial das coisas, com o estabelecimento de museus e espaços de disputa narrativa, resultando, já no século XX,[52] em disputas políticas de memória segundo o interesse de diferentes classes, como o Estado, a burguesia e os particulares.[49]

Na visão de David Hume, uma ideia se projeta na mente de duas diferentes maneiras: a memória e a imaginação, sendo ambas criadas pelas impressões humanas. Para o filósofo, a memória conteria resquícios de vivacidade e experiência, enquanto a imaginação seria uma ideia perfeita, uniforme, e sem o aspecto ativo da realidade. Além disso, a memória não teria poder de variação, enquanto a imaginação estaria livre das restrições de ordem e forma. Diante disso, a principal função da memória seria preservar a ordem e posição das ideias conforme tomada nas impressões e a imaginação seria responsável por sua transposição e modificação. A diferença entre os dois conceitos residiria na força e na vivacidade da lembrança, reavivadas pelo sentimento. Dessa forma, a memória pode perder a força sendo tomada como imaginação e a imaginação pode ser viva a ponto de ser entendida como memória, como no caso dos mentirosos submetidos à crença e ao julgamento. Nesse sentido, para Hume, existem três diferentes processos a serem sublinhados: 1) a impressão original; 2) a transição da impressão para a ideia, pautada no princípio de causalidade; e 3) a natureza e qualidade da ideia.[53]

Na perspectiva de Hegel, o curso da inteligência passa pelo mesmo curso da lembrança. Para ele, a palavra é a constituição de uma representação geral proposta pela intuição imediata. Assim, a memorização desta elevaria a representação ao âmbito universal, em que nome e significado estariam unidos objetivamente. Hegel nomeia três variações de memória: a memória retentiva, reprodutiva e mecânica. Nesse sentido, a memória retentiva giraria em torno da retenção do significado dos nomes, que trazem a capacidade de lembrar objetivamente. Diante disso, o autor propõe que só se aprende a linguagem depois ter entendido seu significado, e por isso o nome seria uma representação ideal da externalidade. Além disso, explica a definição de memória reprodutiva, que possui e reconhece as coisas, partindo de características sensíveis, representativas ou cognitivas. Em suma, a verdade concreta na linguagem é a inteligência, que vem do exterior para o interior, e neste é alterada e preservada. Na concepção de Hegel é impossível pensar sem palavras, sobre as quais a inteligência cria a existência da identidade e a partir dela encontra passagem para a função do pensamento. A palavra dá ao pensamento sua existência mais elevada e verdadeira e é por meio desta que a inteligência assume o significado e a natureza das coisas. Por fim, a distinção dessa natureza na interioridade forma a subjetividade e faz com que a as palavras percam o sentido, alienando a inteligência e transformando-a em uma simples memória mecânica.[54]

Idade Contemporânea[editar | editar código-fonte]

Na perspectiva de Pierre Nora, a memória verdadeira é aquela vivida no presente pela sociedade, esboçada na herança tradicional e não nos vestígios de uma memória transportada pela história.[55] Para vários autores, a memória só se explica pelo presente, e reafirma-se por meio do destaque de um conjunto de lembranças direcionadas à determinado grupo. Diante disso, reflete-se sobre o porquê da memória retirar do passado “apenas alguns dos elementos que possam lhe dar uma forma ordenada e sem contradições”.[56] Diferente da noção de memória verdadeira, a memória contemporânea não é mais espontânea, deixa de ser coletiva e globalizante para se tornar um dever individual e subjetivo.[57] Assim, a memória se torna um acumulado de registros do grande apanhado de informações que não se conseguiria lembrar, constituindo-se no evento que o autor chamou de “materialização da história”.[58]

Nesse sentido, a grande produção arquivística na contemporaneidade está ligada ao registro de uma memória que não mais se vive e se difere em grande medida da herança tradicional. Assim, como resultado, com o passar do tempo, menos a memória é vivida no interior e mais ela precisa de âncoras externas para ser representada.[59] Nesse processo, a memória muda de sentido, pois o arquivo é a projeção voluntária e organizada de uma memória perdida.[60]

Diante desse contexto, projeta-se que a transformação no conceito de memória resultou diretamente na apropriação da psicologia individual e de uma valorização da identidade do eu, exemplificada no surgimento de demandas de memórias particulares que anseiam por sua própria história.[61]

Em suma, a memória verdadeira expressada por Nora consistia em um passado que poderia ser ressuscitado por meio da retrospecção, enquanto que a visão contemporânea de memória surge diante a descontinuidade entre presente e passado e na demonstração desse distanciamento.[62] Assim, a memória verdadeira, portanto, mutável e passível de manipulação, abre espaço à história, para a reconstrução de uma relação que já não existe mais, trabalhando de forma crítica direcionada à memória.[63] Nesse sentido, a história, por meio da crítica, do método e da teoria, realizaria uma interpretação do passado, destacando os processos e conflitos, para além dos consensos existentes. Tal postura desembocaria, portanto, não na glorificação do passado, mas na deslegitimação de um passado construído pela memória.[64]

Na visão de Jörn Rüsen, a consciência humana do tempo é definida por uma conexão complexa entre memória e expectativa.[65]Para além de um resultado cristalizado da profissionalização histórica, a memória ressalta a influência e a presentificação do passado no presente, refletindo seu lugar na orientação da vida prática,[66] essencial para a constituição de uma teoria da cultura histórica.[67] Diante disso, a consciência histórica humana parte da consciência de um passado interpretado, que exerce influência sobre os demais posicionamentos de sujeitos no presente.[68] Para Rüsen, existem três estágios de manifestação da memória na cultura histórica: 1) a comunicativa, que acumula diferentes formas e conteúdos de memória; 2) a social, que presentifica elementos do passado os quais caracterizam e identificam determinada sociedade, diferenciando-a de outras; e 3) a cultural, que engloba a diferenciação entre as várias memórias sociais existentes.[69] Longe de fazer uma diferenciação absoluta entre história e memória, Rüsen explica que a memória pode ser involuntária e receptiva, inconsciente e irreflexível, ou seja, quando o passado se impõe e mobiliza o presente, “como na superação do sentido de uma experiência religiosa ou estética, ou na destruição do sentido por uma experiência traumática”; mas também pode ser intencional e construtiva, em que criam-se narrativas, tradições e elementos normativos em torno de proposições conscientes e refletidas sobre o passado.[70] Em outras palavras, a consciência histórica expande a memória por seu caráter sistemático de recuperação da experiência histórica e aplicação de modelos reflexivos de interpretação, aliados ao caráter produtivo da memória.[67]

[Sugiro destacar a abordagem das "memórias entrelaçadas" desenvolvida por Sebastian Conrad. Trata-se deuma crítica frontal aos limites do paradigma (bem presentado por Nora) que relaciona memória e nação. Ver https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/2175-7976.2020.e71081 - Rodrigo]

Teorias e perspectivas[editar | editar código-fonte]

Lugares de Memória[editar | editar código-fonte]

Resquícios da "muralha" da penitenciária foram transformados em passarelas cercadas de aborização. No Parque da Juventude em São Paulo, zona norte da cidade/ Brasil

Lugares de Memória são formas/espaços de manifestação do passado no presente, partindo de operações de escolha e construção que operam as categorias de memória e esquecimento. O historiador Pierre Nora, um dos grandes expoentes nessa discussão, afirma que a existência destes espaços dependeria de um contexto social em que não existem mais modos de memória, ou seja, é preciso se criar lugares que provoquem a lembrança em um contexto quem que memórias são rapidamente vencidas pela velocidade do esquecimento.[71] Para serem criados, os lugares de memória depende de um sentimento de que não existência mais da memória espontânea e de um reconhecimento da necessidade de operações não naturais que provoquem as sociedades a lidarem com o passado.[72] Não sendo fixos, os lugares de memória devem ser compreendidos a partir de três sentidos: material, simbólico e funcional. Ou seja, é preciso entender que apesar de muitas vezes a dimensão material ser preponderante, todo local de memória é criado a partir de uma imaginação e de um processo de elaboração que confere a ele seu significado simbólico.[73] Entre alguns dos meios possíveis para manutenção destas memórias induzidas estão os arquivos, aniversários, celebrações, biografias, museus, memoriais.

[É importante frisar que o uso que Nora faz da expressão "Lugar de Memória", embora tenha sido banalizado, era referência erudita às artes da memória, tais como estudadas por Frances Yates (antigos e modernos) e Mary Carruthers (medievais). Lugar de memória referia-se a uma imagem mental (loci) no qual o orador dispõe 'coisas' (res) que o remetem aos elementos do discurso - Rodrigo].

Os lugares de memória ocupam papel especial nesse processo, conforme destaca o pensador Achille Mbembe[74], como modos de reforço da submissão. Sua criação está baseada na hipótese que não existem mais meios de memória e é preciso criar tais gatilhos ou espaços que presentifiquem passados no presente, em especial aqueles monumentos ligados a lembranças violentas[75], como nos debates sobre a categoria de patrimônio dissonantes, aplicado aos espaços associados ao massacre do Carandiru.[76] Nesse sentido, a memória é sempre anacrônica, dependendo da intervenção e dos testemunhos que ocorrem em um presente para convocar um passado imediatizado.[77] Ainda sobre a memória, em relação também ao testemunho e os processos de reparação, cabe destacarmos as relações existentes entre a memória individual (vivida) e a memória coletiva (transmitida), também podendo ser explicada na relação lembrar o vivido e lembrar o narrador. A memória transmitida é produzida geralmente pelas gerações posteriores ao trauma ou ao acontecimento, sendo elaborada através de discursos de terceiros, partindo de uma reconstituição memorialística da memória recente de fatos não vividos pelos sujeitos. Muito próximo do modo de fazer história. Nesses casos os vazios entre a lembrança e o fato correm o risco de serem preenchidos por operações de ficcionalização, procurando alcançar o inalcançável.

Memória Coletiva[editar | editar código-fonte]

A memória coletiva é um conceito utilizado para se definir o conjunto de experiências compartilhadas por sujeitos independente destes as terem vivido, provocando uma ideia de coletividade e comunidade[78]. A partir da articulação entre lembranças, realizada por um determinado grupo social através de quadros sociais comuns, se constroem identidades e novas memórias individuais, pois ambas as categorias são indissociáveis. Geralmente associada a experiências traumáticas ou as práticas tradicionais, esse conjunto de referencias dos indivíduos se diferencia da memória histórica, apesar dessa agir diretamente nos processos históricos.[79]

Diversos autores, abordam a importância de se caracterizar a memória como uma essência individual, um produto da mente particular de cada ser, que pode ser compartilhada e gerar uma significação coletiva que abrange o conjunto de diversas partes. Caso contrário, bastaria escutar o testemunho de uma única pessoa para construir o imaginário de uma sociedade.[80] O conceito de divisão da memória e a hierarquia existente entre eles, como a separação entre memória institucional e memória coletiva da comunidade, segundo Alessandro Portelli, por exemplo, deve ser ampliado para incorporar além da perspectiva dicotômica dessas duas vertentes. Diante disso, o autor também ressalta que mesmo dentro dos próprios conjuntos de resistência e das instituições, as memórias são diversas e até mesmo pouco homogêneas, mostrando a percepção diferenciada de cada ser sobre determinado acontecimento, ainda que os agentes o presenciem coletivamente.

Diferente da ideia corrente na primeira metade do século XX, de que a memória seria a projeção de eventos reais acontecidos no passado na mente humana, o sociólogo Maurice Halbwachs impulsionou a tese de que os homens estruturam sua lembrança a partir da rede de relações sociais que possuem com outros indivíduos.[81] Nesse sentido, o autor se destacou nos estudos memorialísticos, posteriormente consolidados por David Middleton e Derek Edwards, por considerar que a memória individual não pode ser distanciada das memórias coletivas. Para Halbwachs, essa distinção não seria possível porque os indivíduos são fruto de convenções sociais culturais e coletivas, e, apesar de possuírem uma memória única, que pode conter traços de eventos passados limitados à percepção de uma única pessoa, sua forma de ver o mundo sempre estaria sujeita aos critérios de vivência e interação em diferentes grupos da sociedade.[82]

Já na década de 80, as discussões sobre memória coletiva foram marcadas pela distinção feita por Pierre Nora entre história e memória. Na divisão do autor, a história se estabeleceria como uma narrativa lógica e linear, voltada aos eventos e à temporalidade acelerada, enquanto que as memórias coletivas estariam ligadas à permanência de ações e lembranças entre as gerações. Para Nora, ambas as definições possuiriam limitações diante a compreensão do passado, tanto por perceber os acontecimentos como fatores efêmeros e parte de um todo homogêneo, no caso da história, quanto pela falta de reconhecimento do indivíduo sobre os fatos rememorados, que são alterados pelo percepção humana, sendo a memória passível de manipulação.[83] Seguindo as considerações de Nora, Walter Benjamin foi quem notou a diminuição e descontinuidade das representações coletivas passadas entre os indivíduos de diferentes gerações.[84]

Além disso, na percepção de Reinhart Koselleck, as narrativas históricas adentram uma visão singular de novos eventos, característica marcante da modernidade, que se diferenciam de qualquer fato ocorrido anteriormente no passado. Essa exaltação do “novo” também infere a possibilidade de um futuro diferente do presente, rompendo com a narrativa da experiência coletiva comumente sinalizada nos discursos historiográficos. Dessa forma, constroi-se uma narrativa que se desprende do tradicionalismo clássico, levada ao extremo por autores como Anthony Giddens, Ulrich Beck e Scott Lash. Assim, alegando a descontinuidade do tempo moderno, estes autores se posicionaram dizendo que quanto mais o indivíduo se desprende das interações sociais, mais suas ações ganham um peso maior de decisão individual, em que se projeta uma necessidade de reconstrução da memória de um passado descontínuo, da qual surgem narrativas históricas de diferentes nichos sociais. Esta visão de descontinuidade entre presente e passado é questionada por autores como Paul Ricoeur, que vê na narrativa histórica e nos estudos de memória a continuidade de processos estruturais.[84]

Memória Individual[editar | editar código-fonte]

Influenciada pela memória coletiva, a memória individual articula experiências individuais aos processos sociais e relacionais dos indivíduos. Para alguns teóricos, como Maurice Halbwachs, a memória individual é entendida como um ponto de vista da memória coletiva, trabalhando com os processos de significação e subjetivação de momentos, lembranças e traumas compartilhados.[85] Contudo, ambas não são sinônimos, pois sempre existe aspectos vivenciados exclusivamente por uma pessoa, mesmo em ocasiões coletivas, tendo em vista que a memória individual está ancorada em uma série de referencias e pontos sobre o passado, como sons, sentimentos, espaços, pessoas e lugares.[86] Desta forma, ocorre um processo de entrelaçamento entre aquilo que é resultado de um processo social (marcado por transformações e mudanças constantes) e as experiências e individualidades das pessoas, o que resulta na própria constituição das identidades e histórias de vida de cada sujeito.[87] O aspecto relacional da memória individual, e sua articulação com as coletividades, é um dos aspectos de maior dificuldade para pesquisadores da área, tendo em vista que a transmissão e fabricação da memória, que é sempre uma produção humana no presente, pode se dar por formas de compartilhamento não diretos dos sujeitos. A memória individual é também perpassada por outros processos que envolvem histórias contadas por terceiros, construções ligadas ao estado-nação, leituras e mediações midiáticas, o cria determinadas narrativas "individuais" que não foram experenciadas pelos sujeitos, mas sim transmitidas e incorporadas durante a vida.[88]

A memória individual é constituida a partir de alguns elementos, entre eles os acontecimentos vividos pelos sujeito, que independente da vivência direta ou não, constituem seu imaginário. Esses acontecimentos são organizados pelo individuo a partir das vivência e da subjetivação, levando a construção de uma narrativa de história de vida individual.[89] Outro elemento é seu caráter relacional, marcado por pessoas e outros indivíduos com os quais os sujeitos compartilham acontecimentos e desenvolve identificações no decorrer da vida, sendo possível que isso ocorra com figuras que estão em outro espaço-tempo que não o da pessoa.[90] Processo semelhante ocorre com os lugares e espaços, que são interpretados como lugares de memória e/ou monumentos de uma lembrança pessoal, como, por exemplo, viagens de férias para outras localidades ou espaços de memória pública como praças e museus. O que unifica esses três elementos, e que é fundamental nas memórias individuais, é seu caráter de projeção ou transferência para outros tempos a partir de um olhar do sujeito, sendo esse próprio processo então seletivo. A memória individual não está isenta dos processos de escolha, seleção, esquecimento e supressão de aspectos, eventos ou traumas nas vidas dos sujeitos, sendo esse processo de seleção da memória fundamental para sua constituição e permanência.[91] Nesse sentido, a memória individual é um processo narrativo elaborado pelo sujeito que constitui sua identidade a partir do próprio ato de gravar, recalcar, suprimir, excluir, relembrar acontecimentos, pessoas e lugares a partir de uma organização própria.[89]

*Outra titulação menos específica*[editar | editar código-fonte]

[Tentar desmembrar os próximos dois títulos no texto principal] - Dany

Em meados do século XX, iniciou-se uma discussão sobre a cultura de memória no presente e como esta interferiu na imaginação de futuros alternativos. [92] Nesse sentido, a memória, que segundo Andreas Huyssen, pode ser "transformada em mercadoria, distorcida, comercializada, reelaborada, deslocada, indiciada, processada, julgada e, ainda, esquecida,[92] passa a adquirir novos tipos de interações. O autor de Culturas do passado-presente, quando fala da relação entre o Holocausto e o colonialismo, questiona "as limitações que ainda caracterizam grande parte do discurso acadêmico contemporâneo sobre a memória", no que se refere aos "usos do passado em seus conflitos transnacionais e transculturais",[93] incitando uma política que tem em seu horizonte o anseio de alimentar uma prática internacional de direitos humanos. [94] Na visão de Huyssen, existe uma interligação de diferentes campos de memória,[95] que adotam estratégias que se dividem entre 1) o entrelaçamento transnacional, como por exemplo, o discurso do Holocausto que foi usado na Guerra da Bósnia para justificar a intervenção militar e pôr fim à limpeza étnica e 2) a suplantação, que se opõe ao entrelaçamento, mas é intrinsecamente ligada a ele, dando diferentes graus ao sofrimento do indivíduo, como quando, em comparação ao Holocausto, determinado evento traumático pode elevar seu nível de vitimação ou quando este tem sua lembrança traumática minimizada, gerando ressentimento.[96] A premissa de Huyssen é abandonar o conceito de memória coletiva, que é ancorado, segundo o autor, na nacionalidade, e partir do ponto de que "fenômenos de memória costumam ser conflituosos e estar em fluxo constante no tempo."[97] Assim, ele salienta que a memória nunca é neutra e "toda lembrança está sujeita a interesses e usos funcionais específicos",[97] ainda que, no senso comum, a memória seja vista como verdadeira, subjetiva e autêntica.[98] Por fim, Huyssen propõe que a dimensão global e local dos eventos traumáticos devem ser analisadas, de forma unida e separada; e que devem ser consideradas as particularidades de cada caso, evitando-se conclusões totalizantes e precipitadas. Somente assim, segundo o autor, seria possível afastar as hierarquizações dos discursos da vitimação e suas consequentes hostilidades.[99]

Seguindo neste mesmo caminho e dialogando com autores na chave pós-colonial, como Dipesh Chakrabarty e Sanjay Seth, entre outros, Fernando Nicolazzi posicionou-se no debate sobre os limites da disciplinarização histórica,[100] entendendo que "a crítica ao eurocentrismo é igualmente uma crítica à matriz disciplinar do conhecimento histórico".[101] O autor reconhece, nesse sentido, que a história é capaz de codificar passados não-ocidentais, partindo do pressuposto de que existem diferentes culturas de passado, ou seja, esta categorização, para Nicolazzi, serviria como ferramenta ao entendimento de que a disciplinarização da história contribui para a naturalização do código, que seria apenas um entre outros modos possíveis de se entender as relações humanas.[100] Diante disso, diferentes culturas de passado não necessariamente precisariam passar pelos crivos da disciplina histórica,[102] já que "a categoria de culturas de passado carrega em si as formas variadas pelas quais o passado é usado, cuidado, cultivado, habitado, mas também as distintas modalidades pelas quais ele é significado, simbolizado, inserido em práticas determinadas que definem as modalidades segundo as quais ele funciona no e para o presente, bem como os diferentes sentidos que a ele são conferidos em uma dada sociedade". [103] Nesta chave, as diferentes culturas de passado poderiam dialogar, coincidir, colidir ou entrar em tensão,[104] interagindo ou se modificando mutuamente.[105]

Para além disso, cabe ressaltar algumas formas não-ocidentais de relação com o passado e lembrança dos ancestrais. Nesta perspectiva, pode-se citar a contribuição do antropólogo Victor Turner, que realizou um estudo sobre os Ndembu, população bantu da Zâmbia (antiga Rodésia do Norte), na África Central, entre 1951 e 1954, refinando o conceito de liminaridade e estruturando, então, os conceitos de drama social e communitas, com enfoque em uma visão processual da sociedade.[106] O drama social, segundo o autor, dividi-se em quatro fases: 1) a ruptura, que pode ser praticada por um indivíduo isoladamente, considerando-se que este geralmente acredita agir em nome de outros membros;[107] 2) a crise, a qual desafia a ordem estabelecida, gerando uma tensão liminar, e demonstrando um aspecto ameaçador que não pode ser ignorado;[108] 3) a ação corretiva, que se pronuncia na forma de mecanismos que afloram e variam de acordo com o grau de complexidade da ruptura trabalhada, impulsionados pela liderança da comunidade que teve sua ordem abalada;[109] e 4) a reintegração, que consiste na reparação da ordem ou reconhecimento e legitimação social entre os pares. De qualquer forma, quando a ação corretiva falha, existe um retorno à crise, que pode findar em guerras, revoluções e outros conflitos.[110] Na visão de Turner, há nos Ndembu, uma propensão ao conflito (dramas sociais), que carregam uma característica processual.[111] Diante disso, o conflito faz com que os aspectos fundamentais de uma sociedade se destaquem, quando geralmente estes ficam encobertos pelas atividade costumeiras do dia a dia. Assim, "as pessoas tem que tomar posição em termos imperativos e constrangimentos morais profundamente arraigados, muitas vezes contra suas preferências pessoais. A escolha é subjugada pelo dever".[112] Turner renega o conceito de estrutura propagado na definição estática do positivismo e significa o termo como sendo a visão dos aspectos mais estáveis de ação e inter-relacionamento em determinada sociedade.[113] Destaca, ainda, que palavras orgânicas de caráter literal e empírico, como gênero e natureza, por exemplo, aplicam-se à vida social e cultural de forma metafórica e não objetiva[114] e que a essência do mundo social é a transformação, o devir.[115] Em síntese, o autor sugere que a liminaridade é uma momento de tensão e margem durante a fase de crise, em que os sujeitos se encontram indeterminados, destituídos de suas posições sociais, em um processo de transição que possibilitará uma posterior reintegração social. Seguindo este raciocínio, a communitas seria a antiestrutura social na qual se circunscrevem os sujeitos ou grupos sociais que compartilham da condição liminar na crise. O conceito, nesse sentido, baseia-se em relações sociais e não corresponde à conjuntos territoriais.[116][117]

"estudos de performance podem contribuir para nossa compreensão das tradições de performance na América Latina ao repensar as fronteiras disciplinares e nacionais do século XIX e focalizar comportamentos incorporados." p. 26

performances funcionam como atos de transferência vitais, que transmitem conhecimento, memória ou um sentido de identidade social p. 27

objeto/processo de análise= práticas e eventos= dança, teatro, comícios políticos, funerais p. 27 a performance é simultaneamente real e construída. p. 28

Victor Turner em 1960/70 defendeu que a performance seria uma forma de compreensão das sociedades p. 28 Diferente de Turner, a autora reconhece que a performance não proporciona o conhecimento de determinada cultura social, mas fala sobre a vontade que se tem de conhecer algo e as políticas de interpretação envolvidas neste processo de compreensão. p. 32

o movimento performático é parte constitutiva da linguagem p. 30

Parei no último parágrafo da página 32




Os Griot's no continente africano e a "memória" viva[editar | editar código-fonte]

  • A memória dos velhos e a valorização da tradição na literatura africana: algumas leituras (baixado no computador)
  • VICTOR TURNER - "Social drama and stories about them" Ndembu (Zâmbia) - Rodrigo

Indígenas no Brasil, oralidade e cosmovisão[editar | editar código-fonte]

Historiografias periféricas em perspectiva global ou transnacional: eurocentrismo em questão. Pedro Afonso dos Santos, Thiago Nicodemo e Matheus Pereira.

Hiper-memória[editar | editar código-fonte]

Culturas de Memória[editar | editar código-fonte]

A relação da história e seus públicos a partir da ideia de memória pública ou patrimônios dissonantes, ou seja, aqueles que afastam-se da ideia tradicional de “herança cultural” em um contexto onde tudo se torna patrimônio e existem lugares de memória pois não existem mais meios de memória.[118] O patrimônio enquanto forma pública de história e memória contribui para pensar passados que “não passa”, ou seja, a contemporaneidade e os estratos de tempo presentes em nossa atualidade e que seriam perpassados também por abusos.[119] Parte destes abusos estariam nas próprias práticas de esquecimento, como a destruição destes espaços, e a rememoração das tragédias que atualiza e dilui as fronteiras passado/presente.[120] Esse seria o caso, por exemplo, das prisões que são lembradas apenas quando algo lhes foge a norma pois são um lugar de passagem, sendo a história do tempo presente e a história pública campos que convidam a refletir sobre espaços em renovação sem fim e que tem na seleção a configuração de uma memória pública.[121]

Ainda sobre a memória cabe apontar a sua atualização e resignificação, a partir da noção de rememoração. Os aniversários, como o do golpe de 1964, são espaços fundamentais para ativação da memória-rememoração pois nessas ocasiões o passado toma o espaço público.[122] Nos últimos anos, a ditadura brasileira viria acumulando novas pesquisas, inclusive com acesso a novas documentações através da Lei de Acesso a Informação e a localização de novos testemunhos com a Comissão Nacional da Verdade, contudo isso não significou uma sociedade democrática e ou receptiva aos direitos humanos.[123] No país ocorreu por muito tempo uma construção uma memória social de apagamentos do contexto, associada a uma possível ruptura do regime de historicidade após as ditaduras nas américas quando as utopias das lutas armadas foram enterradas em torno de novas democracias e a retórica revolucionária substituída pelos direitos humanos. Parte desse interesse público provocado pelos “aniversários” se faria presente na mídia, nas literaturas e na própria criação da Comissão Nacional da Verdade justamente na ocasião em que se completaram 50 anos do golpe de 1964.[122] A rememoração é também responsável por renovar sem fim os usos dos espaços e por diluir as fronteiras entre passado e presente,[124] sendo que o trabalho com a memória nestes casos, em especial das comemorações no espaço público, é possivelmente um dos principais desafios do papel social do historiador.[125]

Dever de Memória[editar | editar código-fonte]

As novas ondas memorialísticas, associadas a movimentos de reparação, tem se pautado também em processos de reivindicação de dever de memória e por justiça. Em locais como Brasil, Argentina, África do Sul e Alemanha a relação as duas categorias são indissociáveis quando observadas em contextos de traumas e/ou violações aos direitos humanos, pois todo dever de memória ligado a tais violências são também movimentos que visam processos de reparação e/ou justiça.[126] Esse embate em diferentes contextos tem promovido a discussão do julgamento moral e histórico, que pode levar a abusos de dever de memória que levam o historiador a ocupar o espaço público agindo não apenas como pesquisador, mas como expert e testemunha de um passado que muitas vezes o próprio não viveu.[127] Ao mesmo tempo, esse movimento tem relação direta com processos históricos no qual a testemunha passou a ocupar diferentes espaços da sociedade, tornando-se oradoras "autorizadas" a falar sobre experiências vividas em contextos do passado no presente, sendo então vistas como peças fundamentais nestes movimentos.[128]

A discussão sobre dever de memória e de justiça, conduz propõem que memória e direitos humanos, possuem interações em seus interesse.[129] Os dois preocupam-se e discutem a violação dos mesmos, recorrem a história em suas legitimações, reconhecer (se não procuram corrigir) os erros e as injustiças além de projetarem futuros baseados em suas defesas.[130] Intimamente ligados ambos se apoiam, legitimam, entram no campo um do outro nas tentativas de consolidação de suas perspectivas. Interpretada como um direito, a memória muitas vezes é reivindicada e criticada pelos movimentos sociais de busca por direitos, como é o caso das Comissões da Verdade e Justiça que se criaram nas Américas e na África do Sul.[131] Essa discussão se relaciona ao tipo de documentação que é fruto deste processo: os arquivos sensíveis, portadores de memórias sensiveis, que transmitem não apenas dores e sofrimentos, mas também atingem a memória individual e coletiva diretamente servindo como chaves de memória para traumas e violências.[132] Tais arquivos são compostos de documentos que buscam sempre atacar os oponentes, seja por parte dos governantes ou dos governados, e falam, principalmente, muito mais dos órgãos de controle social e cultural do que as próprias pessoas registradas nele, servindo como instrumento de controle que abre portas para o entendimento do funcionamento do aparato governativo.[132]

Debates[editar | editar código-fonte]

Esquecimento[editar | editar código-fonte]

Nietzsche - Considerações Intempestivas

Paul Ricoeur - Política da justa memória [Rodrigo]

Identidade[editar | editar código-fonte]

Incorporar: Pollack, Michael (1992). «Memória e identidade social» (PDF). Rio de Janeiro. Estudos Históricos. 5 (10): 200-212. Consultado em 4 de outubro de 2019 .

As análises que articulam memória e identificação procuram destacar as relações destes dois campos na configuração das identidades sociais dos indivíduos. Estas abordagens compreendem a identidade como algo não estático, mas que é elaborada a partir de processos de identificação individuais e coletivos em que um sujeito se percebe pertencente ou excluido ou como parte de de um conjunto maior de elementos das sociedades.[133] Nesses processos, a memória é fundamental pois por meio de seus acionamentos e sua constituem cada individuo pode elaborar uma visão sobre si, interpretando suas trajetórias e construindo uma forma de se ver no mundo, sendo essa identidade, assim como a própria memória, processos não estáticos mas sim fluidos e em constante alteração. Neste sentido, a identidade é alterada constantemente pelo sujeito que a manifesta sempre no presente e a atualiza constantemente como forma de se situar e apresentar aos meios sociais nos quais está inserido[134].

Um dos principais campos possíveis para perceber esse processos de elaboração das identidades são as biografias e (auto)biografias. Compreendidas como formas de relato sobre trajetórias de vida que tentam abordam um determinado personagem em sua totalidade, as biografias são modos de narrar e construir um sujeito a partir de suas experiências elaborando uma memória sobre si para o presente e, principalmente, para a posteridade[135]. O gênero biográfico, constantemente atravessado por uma ilusão linear e progressista da vida[136], está então associado a construção de personalidades não necessariamente como "excepcionais", mas como figuras que se deseja lembrar e que foram fundamentais para um determinado contexto ou processo, construindo para a elaboração de memórias coletivas em torno desse personagem[137]. Já as autobiografias, como formas de narrar sobre si mesmo, são produções autorais dos próprios indivíduos sobre si mesmos, procurando construir uma narrativa sobre as suas vidas e partir da rememoração de determinados eventos e momentos de suas vidas.[138] Como mecanismo de projeção, mas também de registro, a autobiografia opera a memória como forma de elaboração de uma narrativa sobre o sujeito e de construção de sua identidade para o futuro e sempre destinada a um outro. [139] Tanto a biografia como a autobiografia são campos de estudo fundamentais para a memória, e suas interfaces com a identidade, em especial por possibilitar os pesquisadores discutir as relações entre verdade e ficção, assim como, em diálogo com os usos do passado, permite discutir o fenômeno publico de consumo no mercado editorial, assim como as tensões em torno da construção de figuras públicas.[140]

O interesse pelas identidades e suas relações com a memória também esteve associado a discussão sobre as subjetividades. Nos estudos sobre subjetividades, no campo da memória, ocorreu com a retomada do sujeito na história, em especial a partir dos anos 1970/1980 com a nova geração da escola dos Annales e do boom da memória nas sociedades.[141] Esse movimento esteve associado a pensar como a lembranças encontram encontram sentido no presente onde memória e história travam novas tensões e formulam as identidades enquanto formas de orientação dos sujeitos.[74] Essa virada subjetiva, trouxe novas ondas de debate sobre as identidades, passando a defender uma ideia onde o passado deve ser compreendido a partir de sua lógica e cotidiano, retomando assim elementos como o testemunho e a história oral, e sendo perpassada pelo imediatismo.[142] Ao mesmo tempo, esse boom é também um contexto de desinteresse pelo passado pelas novas gerações que se interessam apenas pelo presente onde o novo se impõem sob o velho. Nessa compreensão, o tempo e a memória são caminhos para a compreensão da subjetividade do individuo, ou seja, a constituição do sujeito entre memória e a recordação que são entendidas como formas de presença do passado na consciência racional e na imaginação.[143]

A noção de nação, assim como nacionalismos, está diretamente articulada a memória como pilar da construção das identidades. O sentimento de pertencimento a nação está conectado aos processos de produção de memórias coletivas de territórios, espaços e estados dos quais os sujeitos se sentem parte. A memória nacional parte da eleição de símbolos, narrativas e experiências que possibilitem a formação de uma comunidade que crie laços imaginários entre si, construindo não apenas uma ideia de pertencer a nação, mas também de compartilhar e atuar em sua própria elaboração. Um exemplo foi a escolha, na implementação da República Brasileira, da figura de Tiradentes como "herói nacional" construindo sua figura como símbolo do republicanismo ainda no período colonial, buscando retomar uma ligação entre passado e presente. Outra questão que demonstra tais relações é a própria construção das línguas nacionais, que partem de processos não apenas de escolha e discussão dos estamos, mas de elaborações coletivas e trânsitos entre culturas, grupos e sociedades. O historiador Benedict Anderson considera que as memórias são o que possibilitam construir as nações pois estas são comunidades imaginadas por meio do pertencimento a uma identidade comum, ou seja, a nação é uma produção que se baseia nas memórias coletivas para construir a própria identidade nacional, buscando uma homogenidade apesar de sua impossibilidade. Desta forma, apesar de se referir a um coletivo, a nação assim como a própria memória é uma elaboração pautada na seleção e criação de discursos oficiais que silenciam e/ou intensificam determinados aspectos das trajetórias de grupos, comunidades e países.

Narrativa[editar | editar código-fonte]

Algumas velas de luto, acho que pode ser legal pra algum trecho.

blá, blá, blá... [????????]

Os estudos sobre memória apontam que os processos de reconstrução do passado não possuem caráter natural. Diante disso, em períodos políticos de maior turbulência, nota-se uma disputa intensa pela lembrança, que sempre é construída por meio do espectro de quem contém o poder.[144] Nesses casos, as forças dominantes, sejam elas democráticas ou totalitárias, adequam a memória ou o esquecimento à serviço do discurso narrativo defendido pelo controle político vigente.[145] Entretanto, abordagens como a de Hayden White, que se distanciam de uma iniciativa de estudo do passado por causa de interesses políticos do presente [Confuso: a proposta de White é deslocar os estudos historiográficos do exame dos fatos do passado para o exame das implicações ou usos políticos do passado no presente], reinterpretando os eventos políticos da era moderna no campo da linguagem [Clichê], demonstram como os estudos de memória superam características controladoras [Ininteligível, explicar melhor], não podendo ser reduzidos a comandos políticos tomados de intenção.[146] [Em "The politics of historical interpretation", White defende o argumento construtivista de que, na prática, o que chamamos de verdade se relaciona ao poder de um discurso. Esse argumento é, ironicamente, lembrado apenas em sua forma. Mas o REFERENTE CONCRETO do argumento, ou seja, seu conteúdo, é a memória da Nakba. Em outras palavras, White defende que, já que os israelenses usam a memória do holocausto como discurso de identidade e legitimação do Estado nacional, os palestinos deveria ter o direito de fazer o mesmo. Agora explique: White se afasta mesmo da realidade? - Rodrigo]

O contexto histórico pós-Segunda Guerra não se restringe à um episódio da história judaica ou alemã, mas faz parte de forma significativa da narrativa histórica ocidental.[147] Entre os expoentes desse pensamento, Theodor Adorno e Max Horkheimer se tornaram os seus principais representantes durante a década de 40, em obras como a Dialética do Esclarecimento.[148] Na reflexão, os pensadores se afastam de uma análise marxista pragmática, segundo a qual o anti-semitismo decorreria da necessidade do sistema capitalista em lutar contra a acumulação de capital independente, representado pelos empreendimentos judeus, defendendo a permanência do monopólio nas questões econômicas. Adorno e Horkheimer, em contrapartida, críticos das tradições ocidentais e pautados em um viés filosófico, psicanalítico e etnológico, tentam encontrar qual a estrutura racional que formou os pensamentos totalitários na Europa, dando ênfase ao nazismo. Nesse sentido, a essência do pensamento dos autores seria a possibilidade de repetição de um evento traumático como o ocorrido nos campos de concentração, não a partir de uma semelhança idêntica dos acontecimentos, mas de uma reconstrução das estruturas psíquicas e racionais que levaram ao evento.[149]

Adorno e Horkheimer tentam anunciar os limites da racionalidade humana vendo para além de seu ideal emancipatório e[150] demonstrando os perigos de uma razão simples e racista, com o exemplo base da constituição nacionalista e totalitária alemã, que parte de um viés de identificação do sujeito em uma unidade para alimentar a diferença e o preconceito com o outro.[151] Dessa forma, a filosofia adorniana do pós-guerra, tanto no campo ético quanto estético,[152] assim como na percepção de outros pensadores, como Walter Benjamin, valeria-se da crítica à cultura ocidental e seu pretenso anseio de superioridade frente a materialidade humana. Para Adorno, a razão e a matéria, se separadas, reduziriam a construção cultural à mera ideologia.[153] Nesse sentido, a dimensão ética da cultura jamais deveria estar subordinada aos parâmetros estéticos da mesma. E, somente dessa forma, o sofrimento causado pela ação humana receberia constante resistência.[154]

As reflexões estéticas ressaltadas por Adorno e Horkheimer no pós-guerra giram em torno da rememoração, da luta contra o esquecimento e, principalmente, do acolhimento de um sofrimento que não pode ser descrito, narrado ou colocado como produto cultural.[155] Diante disso, a rememoração de situações traumáticas como as que ocorreram no Holocausto, no bombardeio a Hiroshima, na guerra do Vietnam ou nos massacres fratricidas da Iugoslávia, engendram-se em um discurso que ameniza os efeitos ocasionados por tais tragédias por não dimensionar de forma correta as consequências implicadas à vida humana.[146]

Na visão de Scheler, por exemplo, a rememoração do passado por uma vítima de situação traumática pode trazer novos sentimentos e emoções no presente, para além da possibilidade de conhecimento do que aconteceu no passado. Por esse motivo, o estudo de memória não pode ser considerado apenas como uma reconstrução pretérita, sinalizando também novos elementos articulados à situação presente.[156]

[Essa parte toda não faz sentido algum. Sugiro tratar Memória e Narrativa a partir de Paul Ricoeur, ou cortar toda essa parte - Rodrigo]

Recordação[editar | editar código-fonte]

Aleida Assmann sistematiza três diferentes tipos de recordação. A primeira é a memória que é a recordação proveniente de uma memória que pode ser escrita, armazenada, e acessada, remetendo ao quadro de escrever, aos pergaminhos, aos armazéns, ou seja, a segurança de uma memória materializada no espaço; 2) Recollection, quando o registro da memória passa a ser uma força de recordação, não um registro, mas um modelo de ambientação. Nesta forma de recordar, a força motriz da recordação é a culpa e a consciência moral. Aleida compara esta nova versão de recordação com uma pintura, que representa algo além da documentação, trazendo uma motivação que vem da consciência interna de recordar; e 3) Anamnesis, uma imagem ideal da recordação, que não se funda mais em culpa e que pode assumir características como tranquilidade, satisfação, jovialidade e pureza, virtudes de uma recordação que não é individualizada.[157]

Para a autora, a Memoria estaria relacionada com a tradição e a retórica, enquanto que a recordação se entrelaçaria com a subjetividade e com a escrita. No século XVI, com auge no Renascimento, a Memoria teria entrado em declínio devido ao crescimento do ideal objetivo de verdade, do aumento da importância da subjetividade — dando ênfase na figura autoral e na originalidade —, da ascensão da política e economia liberal, e da consolidação do Estado Nacional e sua mescla de culturas e identidades. Por fim, esse distanciamento da Memoria fazia parte do novo processo de mudanças da modernidade. [157]

Na perspectiva de Joël Candau, existem três diferentes tipos de memória que andam sempre interligadas: 1) a proto-memória, que seria proveniente do hábito e das socializações, existindo, portanto, no nível das ações cotidianas, como por exemplo, alimentar-se da comida típica de um determinado local ou vestir-se de acordo com os trajes de uma moda momentânea; 2) a memória propriamente dita, da qual faria parte o ato de recordar e o reconhecimento de certas situações; e 3) a metamemória, que seria a representação subjetiva que o indivíduo faz sobre o que viveu, sendo possível que o sujeito traga características que remetam a memória coletiva e histórica.[158]

Apesar de existirem vários nichos de memória, o indivíduo se coloca, geralmente, entre a memória autobiográfica e histórica. E neste ponto cabe refletir sobre a colocação de certos autores, como Maurice Halbwachs e Paul Ricoeur, para os quais a recordação se perde na subjetividade eu e na ressignificação das ações passadas, ainda que a individualidade só ganhe consciência no contato com outras pessoas.[159] Nesse sentido, o que ocorre é a reafirmação do eu com base na memória do outro.[160]

Santo Agostinho, com influência de John Locke e Edmund Husserl, enfatizou o caráter espiritual da recordação, que teria suas raízes na tensão entre passado, presente e futuro.[161] Dessa forma, como enuncia Catroga, a memória não seria somente registro do passado, ela se constituiria como a retensão afetiva que se sustenta na tensão tridimensional do tempo e passa a possuir uma relação direta com o esquecimento, resultando na recordação apenas de parte dos acontecimentos vividos.[162]

Ludmila Catela, em um estudo sobre os Centros de Detenção Clandestina na Argentina (CCD), destacou a importância da preservação da memória nos embates políticos do presente. No exemplo explorado pela autora, a Escola de Mecânica da Armada (ESMA) queria construir em seu espaço um monumento que seria símbolo da democracia. Diante disso, os parentes dos desaparecidos viram a necessidade de recorrer sobre tais anseios para preservar a memória de seus entes queridos, iniciando demandas por justiça, recuperação do espaço e abertura dos arquivos da repressão.[163] Nos anos noventa, o Estado e as organizações de direitos humanos iniciaram um processo de reconstituição da memória pautada em um princípio de reconciliação entre as partes interessadas.[164]

Entretanto, aos 20 anos do golpe, essa mesma memória estava sendo institucionalizada em memoriais, arquivos e centros culturais. Essa diferenciação nota-se a partir de características como: 1) a criação de um novo feriado nacional, 24 de março, declarado como “Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça”, que também passa a fazer parte do calendário escolar, resultando em eventos comemorativos e patrocínios estatais; 2) a inauguração oficial da reconversão do ex-CCD em sites de memória; 3) a criação do Arquivo Nacional da Memória; e 4) a reescrita do prólogo do livro Never Again.[165] Essa nova perspectiva de institucionalização da memória tirava as políticas de reconciliação de foco.[166] Diante disso, tal perspectiva fez gerar discussões no início do século, em torno de como devem ser tratados os espaços de memória, nas mãos de quem deveriam estar, quais histórias deveriam propagar e quem deveria realizar tais projetos.[166] Assim, Ludmila Catela destaca um processo em que se questiona o lugar da memória no espaço público e o caráter político da recordação,[167] tendo em vista os conflitos de representação que acontecem quando se percebe o uso do passado no presente, com tons, relevos e temporalidades diversas, que geralmente carregam visões discordantes.[168]

Testemunho[editar | editar código-fonte]

O testemunho é um dos principais meios de manifestação da memória, sendo uma forma de trazer o passado a tona a partir da subjetividade, da voz e do corpo de cada sujeito.[77] Perpassado pela experiência, o ato de testemunhar é um processo narrativo que procura olhar para o passado e para a vivência a partir de um olhar contemporâneo, conduzido pelas demandas dos contextos vividos.[169] Deste modo, o testemunho não existe sem experiência, assim como ao inverso, pois a transmissão pela oralidade e pela linguagem no presente presentifica um tempo passado em que a narração funda uma temporalidade a cada repetição.[170] Nesse caso, baseado sempre em uma manifestação no presente, o centro do ato de testemunhar é a própria memória ao rememorar o passado e comunicar suas experiências. Em diálogo com a história do tempo presente, o testemunho e a memória são formas de escuta de outras vozes sobre as experiências vividas por sujeitos em diferentes contextos e espaços, procurando muitas vezes contrastar as narrativas oficiais ao imaginários e experiências individuais/coletivas.[77] Parte dessa visão significa compreender que o exercício de testemunhar é um processo também anacrônico em que o olhar sobre o passado é uma perspectiva atual que relaciona memórias individuais (vividas) e memórias coletivas (transmitidas).[171]

Relacionado a memória, o ato de rememoração esta diretamente ligado aos usos públicos do passado e de movimentos denominados como "deveres de memória".[172] Essa relação passou a se desenvolver com maior intensidade a partir das violações aos direitos humanos ocorridas no decorrer do século XX, quando o testemunho emergiu não apenas como um exercício do dever de memória, mas também como fruto de uma tensão da sacralização da memória como impedimento a reconstrução história.[173] Os usos da memória por testemunhas em geral tem procurado conferir maior densidade aos movimentos sociais por reparação, além de reivindicação de reconhecimento a traumas causados no passado, sendo mecanismo fundamental para o que é chamado de "dever de justiça", sempre diretamente relacionado ao dever de memória.[174][175] Nesse sentido, o testemunho é visto como uma forma de trabalhar com uma memória que não foi registrada em suportes escritos, imagéticos e/ou sonoros, sendo a História Oral o principal campo que contribui para esse debate.

Na concepção de Walter Benjamin, a experiência se constitui de uma tradição compartilhada pela comunidade humana, em constante transformação entre gerações, pautada na transmissão entre as pessoas.[176] Diante disso, projeta-se um acesso simbólico e narrativo, limitado, segundo Freud, por experiências traumáticas impossíveis de serem transmitidas na construção narrativa tradicional.[177] Para Benjamin, a narração deve ser construída a partir do sofrimento e daquilo que não pode ser dito; daquilo que a história oficial não se ocupa; do anonimato relegado aos que não têm nome, nem vestígio.[178]

Trauma[editar | editar código-fonte]

Lugares traumáticos, inseridos dentro da ideia de locais de memória, são espaços voltados a uma formação de sentido específica, ligada a uma quebra da temporalidade associada à algum tipo de violência geradora de um trauma social [179]. As intenções com a criação dos locais traumáticos, apesar de muitas vezes distintas, possuem como núcleo comum um exercício de evitar que os eventos que motivaram sua criação caiam no esquecimento, evitando que esse passado desapareça, possuindo então uma função formativa das identidades nacionais e das subjetividades no presente.[180]. Deste modo, a construção de tais lugares está baseada na ideia de que tais eventos devem ficar fixados na memória coletiva e na história das comunidades onde foram instalados.[181]


[Sugiro incorporar à estrutura deste tópico a CARTOLA de "Memórias Sensíveis". Trata-se de uma chave muito estudada, inclusive no Brasil e na Latina América, no campo dos estudos sobre as ditaduras militares. Sob as Memórias Sensíveis, temos não apenas abordagens para-psicanalíticas (sob a chave do Trauma Histórico), os Usos do Passado, Reparações, Justiça de Transição, Comissões da Verdade, Questões de Gênero, Literatura de Testemunho e também as Disputas pela Memória. Quanto a esse último tema, sugiro que, em nome da NPOV, incorporemos uma secção sobre Holocausto, mas também outra sobre Nakba (aí poderia entrar não só Hayden White, como Edward Said, que é a referência do White, também Achille Mbembe com a Necropolítica). - Rodrigo]


[Eu não sabia onde encaixar muito bem essa parte, mas achei que talvez ficasse bom aqui. Fiquem à vontade para realocar se necessário. - Dany] Como exemplo, pode-se citar os diferentes posicionamentos sublinhados por Alessandro Portelli no estudo do Massacre de Civitella Val di Chiana, na Toscana. O autor discorre sobre os assassinatos feitos pelos alemães na cidade italiana, supondo que o ataque aos civis teriam ocorrido como castigo pela resistência contra a invasão e a morte de alguns soldados alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Ressalta-se então, os diferentes rumos que a memória pode tomar depois de um acontecimento traumático. Entre as narrativas que se situam na análise de Portelli, constroi-se, em primeiro lugar, uma memória “oficial” dada pelas instituições, que festeja a resistência; e, em segundo, uma memória dos indivíduos sobreviventes que culpam esta mesma resistência de causar uma retaliação que significou a perda de seus particulares.[182] A visão oficial e a dos sobreviventes entrou em choque diversas vezes, já que a comemoração da primeira era vista como desrespeito às memórias dos que morreram.[183] Além disso, menciona-se o rumo tomado pela visão dos sobreviventes do massacre, que instituía na resistência a culpa pela causa dos conflitos. Na visão do autor, tais posicionamentos fariam parte do senso comum gerado na construção política e narrativa das instituições localizadas na “zona cinzenta”, ou seja, instituições e pessoas oportunistas que defenderiam o governo ditatorial vigente, sem se importar com as consequências das ações que o envolviam.[184]

Portelli salienta que a própria memória dos sobreviventes sofreu alterações ao longo do tempo. Notou-se, primeiramente, um grande ressentimento em relação aos alemães, que em depoimentos posteriores fora transpassado pela revolta contra a própria resistência do combate. Entre as motivações para tal mudança, pontuou-se o prestígio alcançado pela resistência no período logo após a guerra, seus julgamentos posteriores e a consolidação da apropriação narrativa das instituições. Tais razões reiteram a colocação de que o luto apresentado pelos sobreviventes se coloca em uma relação direta com a história e o tempo.[184] A lei imposta pelos alemães na cidade de Civitella era a morte de 10 civis para compensar a de um soldado alemão. Porém, apesar de questionar ou culpar a resistência, Portelli coloca que nenhum dos sobreviventes se questionou porque o contingente civil em Civitella foi morto em retaliação em uma proporção de 50 para um.[185]

Os eventos traumáticos também são passíveis de assumir uma conotação mitológica, que toma uma significação maior ao passar dos anos. No caso de Civitella, destaca-se a história do pároco da cidade, que teria assumido um papel de mártir sobre o massacre de 1944. Supostamente, o clérigo teria se voluntariado para morrer no lugar de seu “rebanho”, mas acabou sendo vítima junto aos civis que se encontravam no local no momento do ocorrido. Na narrativa que se estabeleceu, ressalta-se que o soldado que recebeu a ordem de realizar os disparos de metralhadora ficou relutante diante as vítimas, tendo a arma tomada por seu comandante, que matou tanto o soldado quanto os civis que se encontravam na ocasião. Anos mais tarde, soldados alemães que participaram da retaliação do massacre vêm até a cidade para pedir perdão ao padre e ao povo. A narrativa seria símbolo da conciliação entre as partes alemãs e o povoado da Toscana, criando uma conotação pejorativa sobre os membros da resistência que não tiveram a mesma atitude de pedir certo perdão ou reconhecer seus erros no processo de defesa contra o antigo inimigo.[186] Nesse sentido, apresenta-se como desdobramento desta história a crença do “bom alemão”, que consiste no resgate da humanidade presente nos atos maléficos realizados naquele período. No caso de Civitella, o fator de memória coletiva sobre o “bom alemão” veio a se perpetuar apenas muito tempo depois do ocorrido, pois o testemunho fora contestado pela população local.[187]

Usos do passado[editar | editar código-fonte]

O discurso historiográfico, difundido pelo senso comum, que se coloca como uma ciência objetiva, não está isento de divergências políticas e estímulos sociais.[188][189] A história possui sua própria historicidade, ou seja, existe como narrativa antes de se consolidar como ciência, discorrendo sobre diferentes épocas e experiências humanas. Ela se constitui de uma pluralidade de discursos, presentes nos campos da literatura, do jornalismo, do direito, da educação, e muitos outros. Nesse sentido, elencam-se os variados usos públicos e políticos da memória e da escrita historiográfica, que se apresentam embasados nas especificidades contextuais de seu presente.[190][189]

Diante disso, surge uma preocupação com o nascimento de narrativas falsas, pautadas na responsabilidade ética da memória, que florescem mediante à interesses coletivos e contextos recíprocos, como é o caso dos discursos que se dedicam ao Holocausto e outros eventos traumáticos da história.[191] Nesse caso, testemunhos e falsificações embasadas em eventos históricos, em prol de uma construção moral e memorialista, transformam-se na evidência concreta da historicidade da história.[192] Tais construções foram importantes para a construção da ciência histórica durante o século XIX, como alvo do método crítico e a cerca das discussões sobre a verdade histórica.[193]

O conceito de rastro, que se refere a um vestígio do passado no presente, que pode ou não correr o risco de desaparecer permanentemente, sugere uma tensão nas discussões de memória, que refletem sobre a reciprocidade simultânea entre presente e passado.[194] Diante disso, a “solução final”, que engloba as discussões sobre as teses revisionistas relacionadas ao nazismo, seria um exemplo da consciência dos agentes históricos em dissipar os rastros da existência em prol de uma determinada narrativa política.[195]

A memória aparece na constituição dos diferentes discursos como uma ferramenta de legitimação,[196] um argumento que reaviva as lembranças coletivas escondidas por trás de um trauma ou conivência.[197] Dessa maneira, os discursos que exploram a memória e o testemunho assumem uma dimensão ética, uma projeção de significado coletivo, como por exemplo, o desejo de justiça por uma comunidade, mas também podem possuir uma dimensão epistemológica do conhecimento, pautados da categorização de seus argumentos como parte de um campo acadêmico historiográfico. Assim, a memória e a história científica, que se constitui no século XIX, aparecem constantemente interligadas, ainda que se instituam como diferentes formas de legitimação do discurso.[198]

Nesse sentido, na percepção de Walter Benjamin, por exemplo, em meados do século XX, critica-se a tentativa de escrita historiográfica como descrição de um objeto físico, pautando-se na articulação do passado e em um conceito de verdade que se concentra na ética da ação presente.[199] Paul Ricoeur também segue esta mesma linha de pensamento, quando reflete sobre a linguagem poética e uma descrição de mundo não objetiva. O autor discorre sobre a definição de um conceito de verdade que, para além de análises empíricas, trabalhe com as subjetividades existentes entre sujeito e objeto, sem se perder em uma definição simplista e relativista em oposição aos processos de análise científica das ciências naturais.[200]

Ver também[editar | editar código-fonte]

  • Amor cortês

Referências

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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Artigos científicos[editar | editar código-fonte]

Livros e capítulos de livros[editar | editar código-fonte]

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  • Turner, Victor (2008). «Dramas sociais e metáforas rituais». In: Turner, Victor. Dramas, Campos e Metáforas. Niterói: EDUFF. 278 páginas. ISBN 9788522804191 

Teses e dissertações[editar | editar código-fonte]

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Ligações externas[editar | editar código-fonte]