Saltar para o conteúdo

A Doutrina Secreta

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Doutrina Secreta, primeira edição

A Doutrina Secreta, Síntese da Ciência, Religião e Filosofia (título original: The Secret Doctrine, The Synthesis of Science, Religion, and Philosophy) é uma das principais obras de Helena Petrovna Blavatsky, publicada originalmente em dois volumes, em 1888. O volume I é dedicado à cosmogênese, e é basicamente composto sobre estudos relativos à evolução do universo, enquanto o volume II é dedicado à antropogênese, a origem e evolução da humanidade. Os dois volumes apresentam um resumo das ideias da Teosofia, movimento que Blavatsky ajudou a fundar. Um terceiro volume foi publicado pela Sociedade Teosófica após o falecimento de Blavatsky. Ele é composto de uma coletânea de vários artigos de Blavatsky.

O livro foi criticado por promover conceitos pseudocientíficos e por transplantá-los de outros sistemas.[1][2][3]

Edição em português

[editar | editar código-fonte]

Em português, a obra teve sua primeira edição em 1973, e foi publicada pela Editora Pensamento (Brasil) em seis volumes, com tradução de Raymundo Mendes Sobral. Os títulos dos seis volumes da edição em português são:

  • Volume I - Cosmogênese
  • Volume II - Simbolismo Arcaico Universal
  • Volume III - Antropogênese
  • Volume IV - O Simbolismo Arcaico das Religiões do Mundo e da Ciência
  • Volume V - Ciência, Religião e Filosofia
  • Volume VI - Objeto dos Mistérios e Prática da Filosofia Oculta

Os volumes I e II correspondem ao primeiro volume da edição original em inglês e os Volumes III e IV correspondem ao segundo volume da edição original. Os Volumes V e VI correspondem ao volume póstumo publicado pela Sociedade Teosófica.

Como a obra foi escrita

[editar | editar código-fonte]

Blavatsky alegava que não era a autora do livro, mas que este teria sido escrito pelos Mahatmas, a exemplo de Djwal Khull,[4] Kut Humi e Morya, utilizando o seu corpo físico, em um processo denominado Tulku, que, segundo a autora, não era um processo mediúnico.

Em janeiro de 1884 foi publicado no "The Theosophist" (periódico oficial da Sociedade Teosófica) a notícia de que Blavatsky iria escrever uma obra que ampliaria as informações contidas em sua grande obra anterior, Ísis Sem Véu. O trabalho de escrita foi desenvolvido entre os anos de 1884 e 1885. No início de 1886, em carta a Alfred Sinnett, Blavatsky dizia que a obra seria ampliada em relação ao plano inicial, o que implicou a reescrita de alguns dos seus capítulos.

Em setembro de 1886, remeteu da Europa para a Índia o que seria o volume I, mas resolveu reescrevê-lo logo em seguida, com acréscimos e alterações.

Na primavera de 1887, passou a residir em Londres, onde concluiu a obra, que foi publicada simultaneamente em Londres e Nova Iorque, no final do mês de outubro de 1888. As palavras finais de Blavatsky sobre a obra foram: esta obra é dedicada a todos os verdadeiros teosofistas.

Blavatsky alegava que a obra era baseada em pergaminhos antigos (as Estâncias de Dzyan), a que teria tido acesso e estudado. Segundo Blavatsky, as "Estâncias de Dzyan" seriam um manuscrito arcaico, escrito em uma coleção de folhas de palma, resistentes à água, ao fogo e ao ar, devido a um processo de fabricação desconhecido, e que conteriam registros de toda a evolução da humanidade, em uma língua desconhecida pelos filólogos denominada Senzar. Foram feitas várias tentativas, sem sucesso, de descobrir este manuscrito, durante o século XX. Assim, permanece sem resposta se estes manuscritos realmente existiram ou não.

As "Estâncias de Dzyan", segundo Blavatsky, estão relacionadas com o "Livro dos Preceitos de Ouro" e com os "livros de Kiu-te", que são uma série de tratados do budismo esotérico.

Outros textos usados como referência por Blavatsky são os Livros Mosaicos, os textos sagrados hindus (como os Vedas, Brâmanas, Upanixades, e Puranas) e arianos (como o Vendidade), e a cabala caldeia e judaica. Blavatsky também foi influenciada pela mitologia antiga.

Para Blavatsky, existiu uma Religião-Verdade, que é a raiz de todas as religiões e mitos da humanidade.

Três preposições fundamentais

[editar | editar código-fonte]

Sobre as três proposições fundamentais Blavatsky afirma:

Antes de entrar o leitor no conhecimento das Estâncias do Livro de Dzyan, que formam a base da presente obra, é absolutamente necessário que apreenda alguns conceitos fundamentais que informam e interpenetram todo o sistema de pensamento para o qual sua atenção vai ser dirigida. Estas idéias fundamentais são poucas em número, mas de sua clara percepção depende a inteligência de tudo o que se segue...[5]

A Doutrina Secreta apresenta três proposições fundamentais:

  • A existência de um Princípio Onipresente (Causa Infinita, Absoluto ou Raiz Sem Raiz), eterno, sem limites, imutável e incognoscível;[5]
  • A eternidade do universo, que passa por ciclos de atividade e inatividade que se repetem em sucessão sem início nem fim;[6]
  • A identidade de todas as almas com a alma universal, sendo esta última um aspecto da raiz desconhecida.[7]

Resumo da obra

[editar | editar código-fonte]

A cosmogênese descreve a origem do cosmo, e de tudo que existe nele, a partir do Princípio Uno, e a sua posterior evolução.

Segundo Blavatsky, o Princípio Uno (a Deidade Una ou Absoluto) é idêntico ao conceito de Parabrahman dos vedantinos (assim como esta palavra, muitas expressões no livro aparecem escritas em sânscrito) e ao Ain Soph dos cabalistas. A Deidade Una é, ao mesmo tempo, Existência Absoluta e Não-Existência Absoluta. A única percepção que nossa limitada consciência pode ter do Princípio Uno é entendê-lo como sendo o Espaço Absoluto Abstrato.

Importante observar que, para Blavatsky, este Princípio Uno não é o Deus criador das religiões monoteístas, pois sendo Absoluto e Não-Manifestado não pode criar. De acordo com o livro, o Deus "criador" é um coletivo de seres intra-cósmicos, emanados do Princípio Uno, que trabalhou sobre a matéria, ordenando-a. Blavatsky chama os seres divinos desta hierarquia de Dhyan-Chohans. Segundo ela, estes seres são chamados no livro do Gênesis e na cabala judaica de Elohim.

Segundo a autora, a existência e evolução do Universo e dos planetas é uma alternância de períodos de atividade e inatividade, que ela chama de "Dias e Noites de Brahman".

No livro, a cosmogênese é descrita iniciando com a emanação de um Princípio da Deidade Una. Este Princípio, que Blavatsky chama de Brahman, diferencia-se em duas Forças opostas, Masculino-Feminino, Positivo-Negativo, que ela chama de Brahmâ. Esta Potência é a força "criadora" que, no início de um período de atividade (chamado por Blavatsky de manvantárico), acorda o universo e inicia um novo ciclo.

Segundo a cosmogênese apresentada no livro, dois elementos inseparáveis formam o universo: a Ideação Cósmica e a Substância Primordial (chamada por Blavatsky de Mulaprakriti e, segundo ela, referenciada no livro do Gênesis como sendo o "Caos primordial"). Uma, positiva e ativa, a outra, negativa e passiva. A ideação pré-cósmica é a raiz de toda a consciência individual, e a substância pré-cósmica é o substrato da matéria em seus vários graus de manifestação.

Esta cosmogênese é descrita por Blavatsky como uma "fertilização imaculada" da natureza primordial pelo Espírito Universal. Ela descreve geometricamente isto por meio de um ponto inscrito em um círculo (formando, segundo ela, a década pitagórica, o ponto representando o "1" e o círculo o "0"), e diz que "O Uno é um círculo não interrompido (anel) e sem circunferência, porque não está em parte alguma e está em toda a parte; o Uno é o plano sem limites do círculo, que manifesta um diâmetro somente durante os períodos manvantáricos; o Uno é o ponto indivisível, que não está situado em parte alguma, e percebido em toda parte durante aqueles períodos." (A Doutrina Secreta).

Uma força importante na formação do universo é Fohat, o "incessante poder formador e destruidor". Durante um período de inatividade do universo, no imanifestado antes da formação do cosmos objetivo, Fohat permanece latente e coeterno com Parabrahman e Mulaprakriti. Ele é o aglutinador de ambos, que liga e separa, sendo assim o desejo criador. No período de atividade, de manifestação do universo, Fohat torna-se o raio divino da criação que aplica a Ideação Cósmica no seio da Substância Primordial.

Ciclos e suas durações

[editar | editar código-fonte]

No esquema apresentado no livro, toda a história da existência e evolução do universo e dos planetas desenvolve-se em ciclos ou períodos de tempo. Existem períodos de atividade e inatividade, chamados de Manvantaras e Pralayas, ou "Dias e Noites de Brahman". Os Manvantaras também são chamados de Kalpas.

Um período de 360 Dias e Noites de Brahman forma um "Ano de Brahman". Finalmente, 100 "Anos de Brahman" formam uma "Vida de Brahman", também chamada de Mahamanvantara (ou Mahâ Kalpa). A cada Mahamanvantara segue-se um período de igual duração em que o universo "dorme" até ser despertado no início de um novo ciclo. Este período de inatividade é chamado de Mahapralaya. Segundo o computo dos Brâmanes, um Mahamanvantara dura cerca de de anos.

Cadeia planetária

Segundo "A Doutrina Secreta", todo corpo cósmico (planeta, estrela, cometa, etc.), é uma entidade formada por uma estrutura interna invisível e uma estrutura externa, frequentemente visível, chamada veículo físico ou corpo. Estes elementos, em número de sete (doze, se incluirmos os planos não manifestados, Rupa-Dathu), são os princípios da entidade, que Blavatsky chama de Globos. A evolução em um corpo cósmico processa-se desde o primeiro Globo (Globo A), mais etéreo, descendo até o quarto Globo (Globo D), o mais denso de todos, e daí subindo até o sétimo (Globo G), novamente etéreo. Este ciclo que percorre os sete Globos é chamado de cadeia planetária.

A evolução da cadeia planetária é composta por períodos chamados de Rondas. Quando um Globo passa por sete Raças-raiz diz-se que ocorreu uma Ronda de Globo. Quando a evolução passa por todos os sete Globos (ou doze se incluirmos os Globos localizados em planos não manifestados) de uma cadeia planetária, diz-se que ocorreu uma Ronda planetária. Segundo Blavatsky, sete Rondas planetárias formam um Kalpa (ou Manvantara).

O livro ainda apresenta ciclos menores chamados de Yugas, que se sucedem na ordem: Krita Yuga; Tetrâ Yuga; Dvâpara Yuga; e Kali Yuga.

Um resumo dos diversos ciclos apresentados em "A Doutrina Secreta" foi publicado no "The Theosophist" em novembro de 1885 (e reproduzido no livro), e é mostrado na seguinte tabela:

Anos mortais
360 dias mortais fazem
O Krita Yuga contém
O Tetrâ Yuga
O Dvâpara Yuga
O Kali Yuga
A soma destes 4 Yugas constitui um Mahâ Yuga, com
Setenta e um Mahâ Yugas formam o período do reinado de um Manu
Os reinados de quatorze Manus compreendem a duração de 994 Mahâ Yugas, ou
Acrescentem-se os Sandhis, ou seja, os intervalos entre os reinados dos Manus, intervalos equivalentes a seis Mahâ Yugas, ou
O total dos reinados e interregnos dos quatorze Manus é de 1 . 000 Mahâ Yugas, perfazendo um Kalpa, isto é, um Dia de Brahman
Como uma Noite de Brahman tem igual duração, um Dia e uma Noite de Brahman contém
360 de tais Dias e Noites de Brahman constituem um Ano de Brahman, que se eleva a
100 destes Anos formam o período completo da Idade de Brahman, isto é, o Mahâ Kalpa

Antropogênese

[editar | editar código-fonte]

A antropogênese descreve a origem e evolução da humanidade. Nela são descritas as diversas raças humanas (chamadas Raças-raiz) que já evoluíram neste planeta na atual Ronda.

Para Blavatsky, um mesmo elenco de almas evoluem no teatro da existência desde o início do Manvantara, até o seu final, quando então estas almas atingirão a perfeição espiritual. Assim, a Teosofia adota o conceito de transmigração das almas.

O livro afirma que evoluem em nosso Globo sete grupos humanos em sete regiões diferentes do Globo. Assim, Blavatsky defende uma origem poligenética do Homem.

A tese revolucionária de Blavatsky é, em uma época que não se supunha o Homem mais antigo que 100 mil anos, afirmar que o Homem físico tem mais de 18 milhões de anos de existência.

A antropogênese, descrita em "A Doutrina Secreta", opõe-se à evolução darwinista que era largamente aceita na época. Blavatsky não nega o mecanismo da evolução, mas não aceita que uma "força cega e sem objetivo" possa ter resultado no aparecimento do Homem. Para ela, a criação do Homem deu-se por meio de esforços conscientes de seres divinos, que ela chama de Dhyan-Chohans, que são a origem da Mônada que habita todo ser humano.

Blavatsky não nega que a evolução dos animais e do Homem estão relacionadas. No entanto, ela alega que os homens não são primatas, como afirma a teoria da evolução. Ao contrário, para Blavatsky, os primatas são descendentes de antigas raças humanas que se degeneraram, ou seja, os primatas descendem do homem.

Segundo o livro, a criação e evolução do Homem ocorre de forma semelhante à cosmogênese. Então, cada evento que ocorreu na cosmogênese tem seu equivalente na antropogênese. Assim, por exemplo, também o Homem é hermafrodita em seus primeiros estágios (como o Brahmâ Masculino-Feminino da cosmogênese), até que se divide em Macho e Fêmea no final da terceira Raça-raiz (Lemuriana) e início da quarta raça, que Blavatsky chamou de Atlante. Segundo a autora, este fato está relatado de forma alegórica no livro do Gênesis, quando ele relata o momento em que Deus retira a mulher da costela de Adão.

Como no caso da cadeia planetária, em que o ciclo de existência e evolução desce desde o primeiro Globo, mais etéreo, até o quarto Globo, o mais denso, para então retornar até o sétimo, novamente etéreo, também a evolução humana se processa em um ciclo que inicia com a primeira raça que era etérea, até a Lemuriana (a terceira raça), a primeira raça a possuir corpo físico, e então retornando até a sétima raça que será novamente etérea.

A criação do Homem é apresentada como uma "queda na matéria". Blavatsky inspira-se nos mitos de "rebelião nos céus" do Catolicismo e na mitologia grega, com Prometeu, que rouba o fogo de Vulcano para dar vida aos homens (que haviam sido criados por seu irmão Epimeteu, que não fora capaz de lhes dar a consciência) e é condenado por Zeus a ficar acorrentado no Cáucaso. Para Blavatsky, estes mitos são ecos de antigas tradições sobre a queda dos seres divinos na humanidade primitiva, para dar aos homens a alma imortal, a consciência divina.

Para Blavatsky, a criação do Homem é dual. Primeiro foram feitos seus princípios inferiores (pelos Elohim inferiores), depois lhe foi infundido o "sopro de vida", sua Alma Imortal, sua consciência.

Seres divinos mais avançados, chamados, no livro, de Kumaras, foram incumbidos com a tarefa de criar o Homem: no entanto, eles se negaram a fazê-lo pois, sendo demasiadamente espirituais, eram incapazes de criar o Homem físico. Assim, hierarquias de seres menos avançados (os Pitris lunares) criaram o Homem, emanando-o a partir de seu próprio corpo astral (que serviu como molde). Eram, contudo, incapazes de lhe dar sua Alma Imortal, a consciência. Então, os Kumaras, associando-se a estes seres humanos primitivos, forneceram o sopro divino (como no Gênesis, quando Deus coloca o sopro de vida no Adão "feito de barro"), a Alma Imortal do Homem. Acabaram condenados a ficar presos na matéria, como o Prometeu acorrentado no Cáucaso.

Ecos destes eventos aparecem de forma alegórica, segundo Blavatsky, no mito Católico da "rebelião nos céus" e na "expulsão dos anjos maus". Estes "anjos maus" ou "rebeldes" são aqueles que se recusaram a criar e foram "expulsos dos céus" e "lançados no abismo" (a matéria). Então, no dizer de Blavatsky, os deuses tornaram-se não-deuses, os suras tornaram-se asuras.

Os sete princípios do Homem

[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Os Sete princípios do Homem

Um princípio, para a Teosofia, é um começo, um fundamento, uma fonte e uma essência de onde as coisas procedem. Princípios são assim as essências fundamentais das coisas. Estes princípios, tanto no Homem quanto na natureza, são teosoficamente enumerados como sete.

Segundo a Teosofia, o sete é o número fundamental da manifestação, frequentemente encontrado em diferentes cosmogonias, assim como nos dogmas de diversas religiões e na tradição de muitos povos antigos.

O Homem, assim como a natureza, é chamado de saptaparna (planta de sete folhas), simbolizado geometricamente por um triângulo sobre um quadrado. Nesta constituição setenária, podemos entender o Atman como a coroa que encima a constituição humana (a ponta superior do triângulo), fornecendo-lhe o seu espírito imortal.

Segundo Blavatsky, o Absoluto emana de si raios, que são chamados, no livro, de Mônadas ou Atman. Estas Mônadas são a Essência Imortal do Homem. Assim, a Essência que forma o Homem, o seu Espírito, é da mesma natureza do Absoluto, a Deidade Una.

O Atman, com o objetivo de individualizar-se, emana de si um princípio mais denso chamado Budhi. Esta díade Atman-Budhi reveste-se de princípios cada vez mais densos, e em número de sete:

  1. Sthula Sharira - O corpo físico, corpo denso;
  2. Linga Sharira - O corpo astral, duplo etérico;
  3. Prâna - O corpo vital;
  4. Kâma-Manas - Mente dominada pelo desejo.
  5. Manas - Nossa Alma Humana, tendo relação com Mahat, Mente Universal. É o elo entre a Díade Atman-Budhi e nossos princípios inferiores;
  6. Budhi - Nossa Alma Espiritual;
  7. Atman - Primeira irradiação de Atman ou Ovo Áurico. Puro Espírito, Monada, Essência Divina.
Ver artigo principal: Raças-raiz

Segundo a autora, os primeiros homens não possuíam um corpo denso. As primeiras raças tinham um corpo sutil, etéreo, imenso e ainda sem forma bem definida. À medida que avançou a evolução do Homem, o seu corpo tornou-se mais denso em uma sucessão de estágios, assumindo a forma que tem hoje.

As cinco Raças-raiz apresentadas no livro são:

  1. "Nascidos por Si Mesmos" ou "Sem Mente" - Esta raça apareceu há 300 milhões de anos e viveu em um continente que Blavatsky chamou de "A Ilha Sagrada e Imperecível". Os homens desta raça eram imensos e não possuíam nem corpo físico (eram seres etéreos), nem mente. A reprodução ocorria por cissiparidade (algo semelhante ao que ocorre com as amebas). Como esta raça não era mortal, ela não desapareceu, apenas converteu-se na próxima, os "Nascidos do Suor";
  2. "Nascidos do Suor" ou "Sem Ossos" - Eles viveram em um continente chamado "Hiperbórea". Nesta raça apareceu um rudimento de mente, no entanto, ainda não havia uma ponte entre espírito e matéria para a mentalidade. Ao final do seu período de evolução, esta raça converteu-se na seguinte, a "Nascidos do Ovo". As duas primeiras raças são chamadas de raças semidivinas;
  3. "Nascidos do Ovo" ou "Lemuriana" - Viveram em um continente chamado "Lemúria". Esta raça era inicialmente hermafrodita e reproduziam-se por meio de um ovo que se desprendia do corpo. Esta raça passou por grandes transformações durante o seu período evolutivo. Ao final do seu período, o Homem tornou-se mortal, consolidando-se o corpo físico e a reprodução sexuada como se conhece hoje (então esta raça desapareceu, convertendo-se na raça atlante);
  4. "Atlante" - Eles são os gigantes que viveram há 18 milhões de anos, em um continente chamado "Atlântida" A raça atlante representou o ponto mediano da evolução nesta atual Ronda. A Atlântida, assim como os seus habitantes, foi destruída por um cataclismo;
  5. "Ariana" - Segundo Blavatsky, a raça Ariana, a atual raça-raiz, existe há aproximadamente 1 milhão de anos.

Respondendo por que não foram encontrados registros fósseis das raças anteriores à ariana, Blavatsky alega que as primeiras raças eram etéreas, sem corpo denso que pudesse deixar fósseis. Quanto à raça atlante, disse que os fósseis estavam no fundo do oceano, à espera de serem encontrados.

Interpretação de raças humanas

[editar | editar código-fonte]

Considerando populações contemporâneas sob o conceito de raças-raiz, a autora afirma:

A humanidade está obviamente dividida em homens informados de Deus e criaturas humanas inferiores. A diferença intelectual entre os arianos e outras nações civilizadas e selvagens como os habitantes das ilhas do Mar do Sul é inexplicável por qualquer outro motivo. Nenhuma cultura, nem gerações de treinamento em meio à civilização, poderiam elevar espécimes humanos como os bosquímanos, os Vedas do Ceilão e algumas tribos africanas ao mesmo nível intelectual que os arianos, semitas e os chamados turanianos. A "centelha sagrada" está faltando neles e são eles as únicas raças inferiores no globo, agora felizmente - devido ao ajuste sábio da natureza que sempre trabalha nessa direção - morrendo rapidamente. Na verdade, a humanidade é "de um só sangue", mas não da mesma essência. Nós somos a estufa, plantas artificialmente aceleradas na natureza, tendo em nós uma centelha, que nelas está latente.[8]

Ainda, Blavatsky observa:

Dessas criaturas semi-animais, os únicos remanescentes conhecidos pela Etnologia foram os tasmanianos, uma parte dos australianos e uma tribo das montanhas na China, cujos homens e mulheres são inteiramente cobertos de pêlos. Eles foram os últimos descendentes de uma forma direta linha dos lemurianos dos últimos dias semi-animais referidos. Há, no entanto, um número considerável de povos mistos Lemuro-Atlantes produzidos por vários cruzamentos com tais linhagens semi-humanas - por exemplo, os homens selvagens de Bornéu, os Vedas do Ceilão , classificado pelo Prof. Flower entre os arianos (!), a maioria dos australianos restantes, bosquímanos, negritos, selvagens das Ilhas Andamão, etc.[9]

Blavatsky também afirma que "a doutrina ocultista não admite divisões como o ariano e o semita, aceitando até mesmo o turaniano com amplas reservas. Os semitas, especialmente os árabes, são arianos mais tardios - degenerados em espiritualidade e perfeitos em materialidade".[10] Ela também conecta a raça física com atributos espirituais constantemente ao longo de suas obras:

A história esotérica ensina que os ídolos e sua adoração morreram com a Quarta Raça, até que os sobreviventes das raças híbridas desta (chineses, negros africanos etc.) gradualmente trouxeram a adoração de volta. Os Vedas não apresentam ídolos; todos os escritos hindus modernos apresentam.[11]

De acordo com Blavatsky, "Os mônadas dos espécimes mais baixos da humanidade (o selvagem de "cérebro estreito" das ilhas do mar do sul, o africano, o australiano) não tinham Carma para desenvolver quando nascidos como homens, como seus irmãos mais favorecidos em inteligência tinha".[12] Ela também profetiza sobre a destruição das "falhas da natureza" raciais à medida que a "raça superior" ascende:

Assim, a humanidade, raça após raça, realizará seu ciclo de peregrinação designado. Os climas vão, e já começaram, a mudar, a cada ano tropical após o outro, eliminando uma sub-raça, mas apenas para gerar outra raça superior no ciclo ascendente ; enquanto uma série de outros grupos menos favorecidos - os fracassos da natureza - irão, como alguns homens individualmente, desaparecer da família humana sem mesmo deixar um rastro para trás[13]

O historiador Ronald H. Fritze escreveu que A Doutrina Secreta apresenta uma "série de ideias rebuscadas sem o apoio de qualquer pesquisa histórica ou científica confiável".[1] De acordo com Fritze:

Infelizmente, a base factual do livro de Blavatsky não existe. Ela alegou ter recebido suas informações durante transes nos quais os Mestres dos Mahatmas do Tibete se comunicaram com ela e permitiram que ela lesse o antigo Livro de Dzyan. O Livro de Dzyan foi supostamente composto na Atlântida usando a língua perdida senzar, mas a dificuldade é que nenhum estudioso de línguas antigas na década de 1880 ou desde então encontrou a menor referência passageira ao Livro de Dzyan ou à língua senzar.[1]

Estudiosos e céticos criticaram A Doutrina Secreta por plágio.[14] Diz-se que foi fortemente influenciado por obras ocultas e orientais.[15][16]

L. Sprague de Camp em seu livro Lost Continents escreveu que as principais fontes de Blavatsky foram "a tradução de H. H. Wilson do Vishnu Purana, antiga obra indiana; World Life; or, Comparative Geology de Alexander Winchell; Atlantis, de Donnelly; outras obras científicas e pseudocientíficas contemporâneas, e trabalhos ocultos, plagiados sem crédito e usados de uma maneira desajeitada que mostrava um conhecimento profundo dos assuntos em discussão".[2] Camp descreveu o livro como uma "massa de plágio e falsidade".[3]

O livro também foi acusado de antissemitismo e criticado por sua ênfase na raça. A historiadora Hannah Newman observou que o livro "denigre a fé judaica como prejudicial à espiritualidade humana".[17] O historiador Michael Marrus escreveu que as idéias raciais de Blavatsky "poderiam ser facilmente mal utilizadas" e que seu livro ajudou a fomentar o anti-semitismo na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.[18]

Outras obras de H.P. Blavatsky

[editar | editar código-fonte]

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Fritze, Ronald H. (2009). Invented knowledge : false history, fake science and pseudo-religions (em inglês). Londres: Reaktion Books. pp. 43–44. OCLC 280440957 
  2. a b De Camp, L. Sprague (1970). Lost continents : the Atlantis theme in history, science, and literature. New York, N.Y.: Dover Publications. p. 57. OCLC 141898. The Secret Doctrine, alas, is neither so ancient, so erudite, nor so authentic as it pretends to be. When it appeared, an elderly Californian scholar named William Emmette Coleman, outraged by Mme. Blavatsky's false pretensions to oriental learning, made an exegesis of her works. He showed that her main sources were H. H. Wilson's translation of the ancient Indian Vishnu Purana; Alexander Winchell's World Life; or, Comparative Geology; Donnelly's Atlantis; and other contemporary scientific, pseudo-scientific, and occult works, plagiarized without credit and used in a blundering manner that showed but skin-deep acquaintance with the subjects under discussion. 
  3. a b De Camp, L. Sprague (1983). The fringe of the unknown (em inglês). Buffalo, N.Y.: Prometheus Books. p. 193. OCLC 1035148258. Three years later, she published her chef d'oeuvre, The Secret Doctrine, in which her credo took permanent, if wildly confused, shape. This work, in six volumes, is a mass of plagiarism and fakery, based upon contemporary scientific, pseudoscientific, mythological, and occult works, cribbed without credit and used in a blundering way that showed only skin-deep acquaintance with the subjects discussed. 
  4. Aun Weor, Samael - As Sete Palavras, pg.27
  5. a b Blavatsky 1980, p. 124.
  6. Blavatsky 1980, p. 128.
  7. Blavatsky 1980, p. 129.
  8. Blavatsky 1888, p. 440 do Vol. 2.
  9. Blavatsky 1888, p. 195-196 do Vol. 2.
  10. Blavatsky 1888, p. 200 do Vol. 2.
  11. Blavatsky 1888, p. 723 do Vol. 2.
  12. Blavatsky 1888, p. 168 do Vol. 2.
  13. Blavatsky 1888, p. 446 do Vol. 2.
  14. Floyd, E. Randall (2005). The good, the bad and the mad : some weird people in American history (em inglês). New York: Barnes & Noble Books. p. 23. OCLC 60843243. Scholars and critics were quick to claim that much of the work was stolen from books by other occultists and crank scholars like Ignatius Loyola Donnelly's book on Atlantis. 
  15. Cohen, Daniel (1989). The encyclopedia of the strange (em inglês). New York: Dorset Press. p. 108. OCLC 1033597960. When the book was finally published, critics snickered, Oriental scholars were outraged, and other scholars pointed out that the work was largely stolen from books by other occultists and crank scholars like Ignatius Donnelly's book on Atlantis. 
  16. Sedgwick, Mark J. (2004). Against the modern world : traditionalism and the secret intellectual history of the twentieth century (em inglês). Oxford: Oxford University Press. p. 44. OCLC 61330168. The Secret Doctrine drew heavily on John Dowson's Classical Dictionary of Hindu Mythology and Religion, Horace Wilson's annotated translation of the Vishnu Purana, and other such works. 
  17. Newman, Hannah (2005). «Helena P. (1831-1891)». In: Levy, Richard S. Antisemitism : a historical encyclopedia of prejudice and persecution (em inglês). Santa Barbara, Calif.: ABC-CLIO. p. 73. OCLC 58830958 
  18. Marrus, Michael (1989). The Nazi Holocaust : historical articles on the destruction of European Jews. Westport: Meckler. pp. 85–87. OCLC 19815248. In her esoteric work, especially The Secret Doctrine, originally published in 1888, Blavatsky emphasized the concept of races as paramount in the development of human history... Blavatsky herself did not identify the Aryan race with the Germanic peoples. And although her racial doctrine clearly entailed belief in superior and inferior races and hence could be easily misused, she placed no emphasis on the domination of one race over another... Nevertheless, in her work Blavatsky had helped to foster antisemitism, which is perhaps one the reasons her esoteric work was so rapidly accepted in Germanic circles.