Ary Toledo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ary Toledo
Nome completo Ary Christoni de Toledo
Nascimento 22 de agosto de 1937 (86 anos)
Ourinhos, SP
Nacionalidade brasileiro
Cônjuge Marly Marley (c. 1968–2014)
Ocupação

Ary Christoni de Toledo[1] (Ourinhos, SP, 22 de agosto de 1937)[2] é um humorista, cantor, músico, compositor, teatrólogo, ator e dublador brasileiro.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Filho de Desolina Christoni e de Antônio de Toledo, ferroviário, Ary Toledo nasceu em Ourinhos, no estado de São Paulo, onde seu avô materno, o imigrante italiano Giusto Cristoni, era cidadão influente.[1][3] Mudou-se para São Paulo aos 22 anos, quando começou a atuar como ator no Teatro de Arena. Cinco anos mais tarde, ingressou na carreira humorística, onde permanece até os dias atuais.[4]

Cantor de estilo satírico, passou a apresentar shows, em que conta inúmeras anedotas. Antes da chegada da internet, Ary chegou a compilar mais de 90 mil piadas que contava em shows, discos, programas de TV e livros. Torcedor do Corinthians, muitas das frases de português atrapalhado atribuídas ao folclórico presidente do clube paulista Vicente Mateus, foram criadas, adaptadas e popularizadas por Ary Toledo.[4][5]

Em pleno período militar, disse em uma de suas apresentações: "Quem não tem cão, caça com gato e quem não tem gato, cassa com ato" referindo-se ao Ato Institucional V. Imediatamente, foi preso e logo liberado, devido ao grande carisma que tinha (inclusive junto a seus opressores). Ary Toledo é considerado um dos maiores humoristas brasileiros de todos os tempos.[4]

Foi casado por mais de 40 anos com a atriz, diretora de teatro, crítica musical, jurada musical Marly Marley, conhecida jurada do Programa Raul Gil, morta em 2014.[4]

Considera-se que seu início para a vida artística deve-se à mãe que, aos 12 anos, deu-lhe de presente uma gaita de boca. Posteriormente, Ary Toledo foi aluno de Jamil Neder, que lhe ministrou aulas de violão. Jamil, que também foi mestre de Vânia Bastos, é pai do professor e músico Hermelino Neder. Aos 22 anos, mudou-se para São Paulo, onde começou a carreira como ator no Teatro de Arena. Sua primeira canção foi composta no início dos anos 60, e a primeira gravação musical em disco ocorreu em 1965, com "Tiradentes", composição com a qual fez grande sucesso à época.[6] Participante assíduo de programas musicais de televisão, projetou-se como cantor com a canção "Pau de Arara", composta por Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. "Pau de Arara", que era parte da trilha musical de uma peça de teatro, conta, de uma forma bem humorada, as mazelas da dura vida de um retirante nordestino. O protagonista, para sobreviver, fazia shows em praça pública onde comia lâminas-de-barbear, cacos de vidro etc. A música unia humor e crítica às desigualdades sociais, associadas à migração de nordestinos para outras regiões.

Escreveu e atuou ainda em várias peças, tendo trabalhado com Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. Seu principal parceiro na composição de músicas é Chico de Assis.

Tendo conhecido Vinícius de Moraes e Elis Regina, foi aconselhado por estes a seguir a carreira de humorista. Mais tarde tornou-se humorista e piadista, onde permanece até os dias atuais, sendo muito identificado por suas piadas de conteúdo obsceno.[6]

Em um relato pessoal, Ary Toledo diz que o humor é um dom que lhe acompanha desde a infância: "Aos nove anos, estava jogando bola-de-gude, com meus amigos, quando o padre Arnaldo chegou e, vendo que estávamos numa rua de terra, com poeira, ele perguntou onde era o correio. Eu expliquei a ele e depois ele, sutilmente, sugeriu que nós saíssemos da rua, cheia de pó e fôssemos à Igreja para que nos ensinasse o caminho de Deus. Disse a ele que não ia coisa nenhuma, pois se ele não sabia o caminho do correio, como podia saber o caminho de Deus? Ele achou graça e disse que eu era muito espirituoso. Na época, eu não sabia que estava fazendo humor, afirmou Ary certa vez em uma entrevista.[4][7]

Em 2021, Ary Toledo diz ter escrito 5 mil piadas durante o período da pandemia ocasionada pelo COVID-19.[8]

Piadista[editar | editar código-fonte]

Papagaio boca-suja: personagem frequentemente presente nas piadas contadas por Ary Toledo

Apesar de ter tido uma brilhante carreira como ator, foi na comédia que Ary Toledo tornou-se nacionalmente famoso. Interpretando piadas e anedotas de conteúdo vulgar e obsceno. Muito apreciadas pelo público por serem divertidas, o piadista arrebata em seus espetáculos, grandes plateias.[9]

Suas piadas normalmente estão baseadas em temas sexuais ou no humor negro e no politicamente incorreto. Durante a época da ditadura, havia uma espécie de acordo com os censores. Os humoristas evitavam temas políticos e podiam fazer mais humor pornográfico. "Fui detido várias vezes. Quando foi promulgado o Ato Institucional V, eu dizia no show que "quem não tem cão, caça com gato e quem não tem gato, caça com Ato." Por esta declaração, Ary foi preso, mas liberado pouco tempo depois. A relação com os censores era curiosa, pois eles eram fãs de Ary e pediam desculpas.

Dentre os temas abordados em suas anedotas e piadas, frequentemente são citados animais falantes (principalmente os papagaios). Outros temas recorrentemente tratados por Ary Toledo em seus espetáculos são a suposta ingenuidade dos portugueses,[10] a inocência (ou a falta dela) presente nas crianças, a malícia de certos profissionais, tais como médicos, a hipocrisia de líderes religiosos e a falta de decoro dos políticos brasileiros. Obviamente, trata-se de menções com propósitos humorísticos, não devendo ser levadas a sério pela plateia que acompanha a apresentação do artista.

Além dos espetáculos em salas de teatros, as piadas de Ary Toledo também podem ser ouvidas em CDs ou lidas em livros de anedotas que reúnem coletâneas de centenas de piadas do autor.[11]

Ary alega ter mais de 60 milhões de piadas no seu computador e considera-se um "garimpeiro do humor".[7] A música é o principal passatempo de Ary Toledo, que toca vários instrumentos e já teve inúmeras músicas gravadas por grandes cantores.[7] Além dos livros e discos, Ary ainda faz muitos espetáculos e convenções.[7][12]

Músicas[editar | editar código-fonte]

Ary Toledo gravou diversas canções humorísticas, destacando-se entre elas:[13]

  • A moda do Zé - Relata, de forma divertida, a história de uma jovem e bela mulher que confiou em um sujeito chamado José (Zé), que a abandonou depois de tirar a sua virgindade.[13]
  • Dona Maroca - Versa sobre o gato de uma senhora, chamada de Dona Maroca, que machucou seu gato ao tentar cruzar com o felino.[13]
  • Linda Meu Bem - Ary canta sobre um sujeito que, embora tenha uma mulher de péssima aparência, a considera uma pessoa de beleza singular.[13]
  • Mataram Meu Carneiro - Canção onde um sujeito lamenta a morte trágica de um carneiro, pelo qual tinha estima.[13]
  • Modinha da Bacena - Mais uma canção relatando a divertida história de um sujeito chamado José, que engravida uma mulher, tirando a sua virgindade.[13]
  • O Rico e o Pobre - Ary Toledo faz uma crítica social sobre como o poder aquisitivo faz com que as mesmas ações possuam denominações diferenciadas quando praticadas por ricos e pobres.[13]
  • Vendedor de Bucetas - História de um sujeito que comercializava vaginas, como se fossem frutos em uma feira livre.[13]
  • Rosinha - Canção de amor cômica.[13]

Ary Toledo a Todo Vapor[editar | editar código-fonte]

Ary Toledo a Todo Vapor é o espetáculo de piadas escrito pelo humorista para comemorar os seus 45 anos de carreira.[9]

Um dos pontos altos da peça é um monólogo que, segundo o próprio Ary, demorou seis meses para ser concluído. Trata-se de um diálogo entre um garçom e o cliente com 522 palavras, todas começadas com a letra "F".[9] No mesmo espetáculo, o humorista realiza uma apresentação denominada "A Burocratização", na qual satiriza a série de procedimentos burocráticos existentes no Brasil.

O espetáculo conta ainda com duas canções interpretadas por Ary Toledo e uma série de piadas e sátiras políticas.[9]

Apresentações[editar | editar código-fonte]

  • Pobre menina rica (de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes).
  • A criação do mundo segundo Ary Toledo (com Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal). Teatro de Arena, SP.
  • O comportamento do homem, da mulher e do etc.
  • Tamanduá come formiga, elefante leva fama (com Chico de Assis). Teatro de Arena, SP.
  • Ary Toledo com a corda toda. Teatro Zaccaro, SP.
  • Fábrica de risos, Japão e Estados Unidos.
  • Fábrica de risos. Teatro João Caetano, RJ.

Obras[editar | editar código-fonte]

  • Descobrimento do Brasil (com Chico de Assis)
  • Modinha de ser
  • Ovos que a galinha pôs
  • Tiradentes
  • Os Textículos de Ary Toledo (A Anarquia da Filosofia) (2011)
  • 2º Textículos de Ary Toledo (Aprecie sem Moderação) (2016)

Discografia[editar | editar código-fonte]

  • Ary Toledo no Fino da Bossa (1968/1988) - RGE FERMATA LP
  • Ary Toledo - Antologia do Sexo (1979) - Copacabana LP
  • Ary Toledo Pois é (1982) - Copacabana LP
  • Ary Toledo - Na Base do Riso Explícito (1985) - Copacabana LP
  • Ary Toledo ao vivo (1968) - RGE LP
  • Ary Toledo a Todo Vapor (2008)

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Cinema[editar | editar código-fonte]

Ano Título Papel Notas
1964 Esse Mundo é Meu
1969 A Compadecida Cabra
1984 Tentação na Cama
2013 Mazzaropi Ele mesmo Documentário
2019 Ta Rindo de Que? - Humor e Ditadura Ele mesmo Documentário
2019 Inezita Ele mesmo Documentário

Televisão[editar | editar código-fonte]

Ano Título Papel Emissora
1962 O Vigilante Rodoviário Criminoso Rede Tupi
1965 Ceará contra 007 Jesuíno RecordTV
1969 Festival de Música Popular Brasileira Participante
1987/1991/2017/2019 A Praça É Nossa Ele mesmo SBT

Referências

  1. a b Oficial de registro civil do subdistrito da Consolação, São Paulo (8 de julho de 1968). «Talão do assento de registro de casamento de Ary Toledo e Marly Marley» 
  2. Marcos Antônio Marcondes (1977). Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica, popular. [S.l.]: Art Editora. p. 755 
  3. Eitor Martins. «Minha Vida, Meus Amigos, Minha Cidade, Cap. 8: Os Imigrantes e Seus Descendentes». Imobiliária Shalom. Consultado em 3 de junho de 2017 
  4. a b c d e «Biografia de Ary Toledo» 
  5. «Pequena história de Ary Toledo» [ligação inativa]
  6. a b «Ary Toledo: Biogafia» [ligação inativa]
  7. a b c d «Ary Toledo - O Garimpeiro do humor». Arquivado do original em 20 de janeiro de 2012 
  8. «Prestes a completar 84 anos, Ary Toledo conta que criou 5 mil piadas na pandemia e critica fake news sobre sua morte: 'Ridículo'». Extra Online. Consultado em 27 de outubro de 2022 
  9. a b c d «Ary Toledo é garantia de risos no Tatuapé». FolhaVP. Consultado em 14 de janeiro de 2012 
  10. «Ary Toledo - SHOW de Humor» [ligação inativa]
  11. «O mestre do humor» 
  12. «Ary Toledo é umas das atrações da agenda». A Tribuna. 1 de janeiro de 2012. Consultado em 14 de janeiro de 2012 
  13. a b c d e f g h i j k «Letras: Ary Toledo». Terra. Consultado em 13 de janeiro de 2012. Arquivado do original em 25 de novembro de 2011 
Bibliografia
  • FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Positivo, 2005

Ligações externas[editar | editar código-fonte]