Corredentora

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Corredentora (em latim: Co-Redemptrix), na mariologia da Igreja Católica, se refere ao papel da Virgem Maria no processo de redenção e salvação. É um conceito distinto de Medianeira.

O conceito de Corredentora remete para uma participação indireta, mas importante da Bem-aventurada Virgem Maria na redenção, pois Maria deu à luz o Redentor, Jesus Cristo, que é o responsável por toda a redenção e salvação, assim ela foi mediadora de redenção. Os católicos creem que Cristo é o único Redentor da humanidade (1 Tim 2,5), sendo que a própria Maria teve de ser redimida e resgatada por Jesus Cristo[1] (embora ela tenha sido redimida no instante da sua concepção). Na piedade popular, este título é frequentemente invocado como "Advogada",[2] assim ele é retratado nas orações Salve Rainha,[3] de Nossa Senhora Aparecida,[4] de Nossa Senhora do Bom Conselho,[5] etc.

O conceito de Corredentora não é um dogma, embora petições para declará-lo (juntamente com Medianeira e Advogada) dogmaticamente tenham sido submetidos ao Papa por vários cardeais e bispos, para que esta crença possa tornar-se o quinto dogma mariano aprovado pela Santa Sé.[6]

Embora a declaração formal de Corredentora como um dogma mariano tenha tido tanto apoio popular e eclesiástico que milhões de assinaturas foram recolhidas, há oposição dentro de alguns círculos no Vaticano que apelam pela necessidade de maior clareza sobre o conceito.[7]

História[editar | editar código-fonte]

O conceito de Corredenção não é novo, mesmo antes do ano 200, Santo Ireneu de Lyon refere-se a Maria como "causa salutis" (causa de nossa salvação) devido ao seu filho.[8] O ensinamento tornou-se universal desde o século XV,[9] mas nunca foi declarado um dogma. São Bernardo na sua obra "Grandezas de Maria", São Luís Maria Grignion de Montfort na sua obra "Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria" e Santo Afonso Maria de Ligório na sua obra "Glórias de Maria", referem-se inúmeras vezes, e de modo detalhado, ao modo como é que Nossa Senhora exerceu e exerce o seu papel de Corredentora da Humanidade.

Muitos teólogos discutem o conceito desde o século XIX. Os principais defensores da tese no século XX foram o Pe. Frederick William Faber,[10] um mariólogo muito respeitado, e o Pe. Gabriel Roschini.[11]

Ensinamentos papais[editar | editar código-fonte]

Os Papas começaram a mencionar o conceito da Virgem Maria como Corredentora em documentos oficiais da Igreja na parte mais tenra do século XX, e continuam a fazê-lo neste século.[12] Dentre os papas que defenderam este conceito estão o Papa Leão XIII,[13] o Papa Pio X,[14] o Papa Bento XV,[15] o Papa Pio XII,[16] o Papa João Paulo II,[17] e o Papa Bento XVI.[18]

Citações na Bíblia[editar | editar código-fonte]

As Sagradas Escrituras são comumente citadas em favor deste ensinamento: [19]

  • Lucas 1:38: "E Maria disse: Eis a serva do Senhor, seja ela para mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-la".
  • Gálatas 2:20: "Eu fui crucificado com Cristo, e eu já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que eu vivo no corpo, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amava e deu a si mesmo por mim".
  • Lucas 1:26: "No sexto mês, Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, uma cidade da Galileia, a uma virgem prometeu se casar com um homem chamado José, uma descendente de Davi. O nome da virgem era Maria. O anjo foi até ela e disse: "Salve, Cheia de Graça! O Senhor é contigo."

Proposta de definição dogmática[editar | editar código-fonte]

A declaração formal de Corredentora como um dogma mariano teve tanto apoio popular e eclesiástico que milhões de assinaturas foram recolhidas, mas há oposição dentro de alguns círculos no Vaticano que apelam pela necessidade de maior clareza sobre o conceito.

Concílio Vaticano II[editar | editar código-fonte]

A definição dogmática de Nossa Senhora como Corredentora foi proposto no Concílio Vaticano II por bispos italianos, espanhóis e polacos, mas o seu pedido não foi aceito.[20]

Apoio popular e eclesiástico[editar | editar código-fonte]

No início da década de 1990 o Professor Mark Miravalle, da Universidade Franciscana de Steubenville e autor do livro "Maria: Corredentora, Medianeira e Advogada" lançou uma petição popular, dirigida ao Papa João Paulo II pedindo a este que utilizasse a infalibilidade papal para declarar Maria como corredentora. Mais de seis milhões de assinaturas foram recolhidas de 148 países, incluindo as de Madre Teresa de Calcutá, e 41 outros cardeais e 550 bispos. Porém, o pedido foi-lhes negado.

Em 8 de fevereiro de 2008, cinco Cardeais da Igreja Católica emitiram uma petição solicitando ao Papa Bento XVI que declarasse dogmaticamente a Virgem Maria como Corredentora, Medianeira e Advogada. Os cardeais também incluíram um votum (ou seja, petição), que permitiria a outros cardeais e bispos também solicitarem o mesmo para o pontífice. Atualmente, mais de 500 bispos assinaram o votums enviado para o Vaticano em apoio de um quinto dogma mariano.[21]

A Fraternidade Sacerdotal São Pio X manifestou o seu apoio a proclamação deste dogma em um de seus seminários em La Reja, na Argentina, o seminário Nossa Senhora Corredentora.

Em 13 de dezembro de 2019, durante a Missa dedicada à Nossa Senhora de Guadalupe, o Papa Francisco rejeitou a ideia de um novo dogma mariano e negou a ideia de Maria ser chamada de Corredentora. O Papa declarou:

São Bernardo nos dizia que falando de Maria "nunca é suficiente louvá-la, mas nunca foi questionado o seu humilde ser discípula, fiel à seu mestre, que também é seu filho, o único redentor: ela nunca quis tomar para si mesma algo de seu filho, nunca se apresentou como corredentora, mas como uma discípula. [...] Quando alguém chega com histórias que é preciso declará-la isto ou aquilo, "é preciso dar-lhes novos dogmas" não vamos perder tempo com essas histórias: Maria é mulher, Senhora, mãe de seu filho e da Santa Mãe Igreja hierárquica [...] [22]

Na Audiência geral do dia 24 de março de 2021 o Papa repetiu sua opinião acerca do título:

Cristo é o Mediador, a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai. É o único Redentor: não existem corredentores com Cristo. [...] Nossa Senhora que, como Mãe a quem Jesus nos confiou, envolve todos nós; mas como Mãe, não como deusa, não como corredentora: como Mãe. [...]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Ott Dogmatics 256
  2. Editora Cléofas, Medianeira, Co-redentora e Advogada
  3. Site Área Jesus, Oração Salve Rainha (Eia, pois, advogada nossa)
  4. Site Paróquias, Oração a Nossa Senhora Aparecida (Advogada dos pecadores)
  5. Site Sintonia Saint Germain, Oração à Nossa Senhora do Bom Conselho (tesoureira das graças divinas e advogada dos pecadores!)
  6. News Report on the Mediatrix Petition to the Pope http://www.zenit.org/article-21743?l=english Arquivado em 17 de setembro de 2008, no Wayback Machine.
  7. «Ave Luz». aveluz.ning.com. Consultado em 20 de fevereiro de 2017 
  8. ."http://www.zenit.org/article-5650?l=english Arquivado em 28 de setembro de 2008, no Wayback Machine.
  9. Ott 256
  10. Fredrick Faber The Sorrows of Mary [1]
  11. Gabriel Roschini, Compendium Mariologiae, Roma 1946.
  12. Ott 256.
  13. Bäumer, 96
  14. Ad diem Illum 14
  15. AAS, 1918, 181
  16. Mystici Corporis Christis, n. 110
  17. (Inseg VIII/1 (1985) L'Osservatore Romano 880:12).
  18. General Audience of Pope Benedict XVI, 8 April 2009
  19. Do we find support for the proposed Dogma of Mary Coredemptrix, Mediatrix of all Graces and Advocate in Scripture?
  20. Otto Hermann Pesch Das Zweite Vatikanische Konzil, Echter, 1993, 194.
  21. «ZENIT - Cardinals' Letter Promoting Marian Dogma». Consultado em 9 de outubro de 2008. Arquivado do original em 17 de setembro de 2008 
  22. Guerini, Cristina. «Francisco: Maria não é corredentora, não são necessários novos dogmas». www.ihu.unisinos.br. Consultado em 25 de novembro de 2023 

Outras fontes[editar | editar código-fonte]

  • Ludwig Ott, Fundamentals of Catholic Dogma, Mercier Press Ltd., Cork, Ireland, 1955.
  • Acta Apostolicae Sedis, referenciada como "AAS".

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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